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domingo, 1 de janeiro de 2017

3 de janeiro

3 de janeiro

1865 – Tropas paraguaias ocupam Corumbá
                                 Francisco Solano Lopes, ditador paraguaio



Após a tomada do forte de Coimbra no dia 28 de dezembro, as forças paraguaias, sem resistência, entram triunfalmente em Corumbá. O episódio é acompanhado pelo historiador Other de Mendonça:

A coluna paraguaia ao mando do Coronel Vicente Barrios, cunhado do marechal Solano Lopez, a 3 de janeiro de 1865, efetua desembarque e ocupação de Corumbá, abandonada desde o dia anterior.

Do navio-chefe, fundeado junto à Mesa de Rendas, o comandante da expedição assistiu ao desfilar das tropas, divididas em duas seções, sobressaindo o fardamento novo, de um vermelho vivo, dos batalhões sexto e sétimo, este ocupando a vanguarda. Parte da expedição já havia ocupado a povoação do Ladário.

Pelas ladeiras que punham em comunicação o porto com a parte alta da vila, a força invasora serpeava em marcha acelerada, armas em prontidão, penetrando desembaraçadamente nas poucas ruas então existentes na localidade.

De quando em quando ponteando aqui e ali, raros moradores apareciam, confiantes nas suas imunidades de estrangeiros e abrigados sob as bandeiras das respectivas nacionalidades; os naturais que não puderam fugir por água internaram-se, desamparados, pelos matos vizinhos, sem guia e sem recursos".¹

Sobre o episódio, Barrios encaminha ao ministro da guerra de seu país a seguinte parte:

"Viva a Republica do Paraguay.- Sr. ministro.-
Tenho a honra de participar a V. Ex. que se acham em
nosso poder Albuquerque e Corumbá.

O pavilhão nacional tremula nesta ultima desde 3 do corrente, dia da minha chegada.

A população brasileira e guarnição destes pontos tinham-se retirado antes da nossa chegada por notícias transmitidas oportunamente pelo barão de Villa Maria, segundo declarações tomadas.  Estamos pois de posse destes pontos sem queimar um só cartucho, tendo sido a fuga do inimigo tão precipitada que deixou, como em Coimbra, toda a artilharia, armamento geral, munições e apetrechos de guerra. 

A canhoneira Anhambahy foi perseguida e tomada por abordagem no dia 6 do corrente no rio S. Lourenço pelos vapores desta divisão.

O quartel de Dourados se encontrou também abandonado.

Os vapores Ipora e Apa que fizeram o reconhecimento do Rio de S. Lourenço aprezaram o já citado vapor Anhambahy, cuja tripulação pereceu em parte, escapando-se alguns, e prisioneiros outros, comportando-se bizarramente o 1º tenente de marinha, cidadão André Herreros, a quem havia confiado esta missão e
comandava o Ipora, que deu abordagem.

Os vapores Taquari e Marquez de Olinda estão no quartel dos Dourados, onde também o inimigo abandonou um grande parque.

O povoado de Corumbá caiu em nosso poder com a maior parte de suas casas saqueadas pelos poucos habitantes que se encontraram, porém desde a chegada das nossas tropas pôs-se termo a tal desordem. 

Informado que muitas famílias fugindo deste povoado se acham metidas pelas matas, dispus que dous vapores e força de terra as recolham e devolvam ás suas casas, e neste momento me avisam que chega o Paraguai com muitas famílias, e quando as tiver desembarcado voltará ao mesmo objecto.

Enquanto dou a V. Ex. uma parte detalhada, aproveito
o regresso do 2º tenente Godoy no vapor inglês Ranger, chegado ontem, para dar a V. Ex. esta primeira noticia.

Deus guarde a V. Ex. por muitos anos. Acampamento em

Corumbá, 10 de Janeiro de 1865.- Vicente
Barrios.

A S. Ex. o Sr. ministro da guerra e marinha.

Viva a Republica do Paraguay.²

Ainda sobre a ocupação do Corumbá, o coronel Vicente Barrios inclui detalhes neste amplo relatório aos seus superiores sobre os primeiros dias da invasão ao território brasileiro: 

As 5 e 1/2 da tarde do dia seguinte, depois de haver conferido o mando do ponto ao subtenente  Feliz Vera e de haver ordenado o embarque,  pus-me em marcha sobre Corumbá, não sem antes haver-me assegurado de que Albuquerque possuía recursos suficientes em gado e estabelecimentos agrícolas para a manutenção da guarnição, julguei prudente continuar por água com as forças de meu  comando, porque, embora haja um caminho terrestre, não possuía a mobilidade suficiente para esta operação de dispunha de uma pessoa de bastante confiança para servir de guia.

Pelos informe obtidos sabia por outra parte,que, há pouco menos de 2 léguas, poderia dispor de um sdesembarcadouro.

Na tarde do dia seguinte 3 do corrente, cheguei  ao lugar citado e ordenei  que a tropa do desembarque saltasse à terra, operação que se deu com brevidade. Pelo silêncio observado nas choças situadas na imediação se via o abandono do local e na noite foram feitas explorações que na manhã do dia seguinte levaram o capitão Fleitas com as 4 companhias de infantaria encarregadas por este serviço, adquirindo a notícia de que as autoridades civis e militares do lugar haviam fugido com sua guarnição e moradores para Cuiabá.

Ao mesmo tempo se observou uma bandeira branca em direção à povoação  e o Rio Apa foi despachado para saber o que importava aquele sinal no rio e encontrando pelo caminho uma canoa se apresentaram os negociantes estrangeiros D. Nicolas Canaria Manuel Cavassa e Juan Viacaba que vinham pedir auxílio e proteção a esta divisão contra os saqueadores de casas, que vinham destroçando a cidade abandonada e sendo trazidos à minha presença deram informes circunstanciados sobre o acontecido em Corumbá.

Tão pronto como recebi esta notícia mandei a competente ordem ao capitão Fleitas, destinando ao tenente Gorostiaga com sua companhia para restabelecer a ordem.

Segundo dados obtidos os vapores brasileiros Anhambay e Jauru e a escuna Jacobina haviam saído com tropas do porto de Corumbá, somente um dia antes de nossa chegada. Com esta notícia despachei os vapores Yporã e Rio Apa, que por seu calado permitiam subir o rio São Lourenço em perseguição dos navios brasileiros, assim como reconhecer e explorar aquele rio, porém, por falta de combustível suficiente estas embarcações não puderam partir se não na manhã do dia 4.

Confiei o comando desta expedição de exploração ao tenente de marinha Andres Herrero.

O tenente Jara não tendo encontrado colonos nem cavalos e somente gado trouxe informação de que o barão de Vila Maria tem cavalos e mulas.

A fuga dos chefes brasileiros foi tão precipitada que abandonaram todos os seus recursos, até seus próprios soldados, dispersos em diferentes direções.

A artilharia tomada aqui compõe-se de 23 peças de bronze das quais remeto 17, ficando 6.

A comissão naval de perseguição e exploração encontrou a 6 léguas mais ou menos acima de Corumbá a escuna Jacobina abandonada e atracada em terra. O tenente Herreros mandou tripular e navegar águas abaixo e apresentar-se ao capitão Meza, chefe da frota.

Das averiguações feitas a este respeito, resulta que esta embarcação é de propriedade estrangeira , a mesma em que haviam saído águas acima as tropas de Corumbá, razão porque a conservo para serviços ulteriores, como embarcação tomada em serviço do inimigo.

Para ter notícias de Albuquerque e principalmente para ver se tinha alguns cavalos, despachei no dia 5 o subtenente Manuel Delgado com 20 de tropa, que regressou dando conta de que não viu novidade daquela guarnição e de que não havia encontrado cavalos e somente gado bovino em abundância.

Não sendo de fácil vigilância a embocadura do rio Mbotetey, mandei apostar ali a guarda conveniente.

Quando nossas forças chegaram aqui, a maior parte das casas estavam abertas e saqueadas e em presença e em função disso foram tomadas medidas severas, estabelecendo uma polícia que responde pela segurança e tranquilidade pública. Foram apreendidos quatro criminosos estrangeiros no ato de roubar casas, que serão julgados segundo as leis militares.

Na tarde do dia 6 chegaram um cabo e 2 soldados brasileiros que vinham  de Miranda em canoa e foram tomados com as correspondências oficiais de que estavam encarregados, entre as quais três referentes à tomada das colônias de Miranda e Dourados por forças paraguaias, como o verá E. Exa.

Este chasque foi despachado da vila de Miranda no dia 1°, encontrou-se com outro que levava a notícia da tomada de Coimbra e Albuquerque.

Como o quartel de Dourados, situado a poucas léguas da embocadura do São Lourenço à coisa de 30 acima deste lugar, pudesse haver resistência o Yporã e o Rio Apa, no caso menos provável de que houvesse sido abandonado este lugar, que se pode chamar de arsenal militar, dispus que os vapores Taquari e Marquês de Olinda arribassem até lá para dele apoderar-se.

Das declarações indagatórias tomadas a estrangeiros e brasileiros, resultam que o tenente-coronel Porto Carreiro, comandante de Coimbra, no momento em que chegou a Corumbá havia sido posto em prisão e enviado na qualidade de réu a Cuiabá a bordo do vapor Corumbá pelo comandante de armas Carlos Augusto de Oliveira.

Os vapores Anhambay e Jauru partiram daqui na véspera de nossa chegada, transportando famílias e tropas. Um pailebot brasileiro, uma escuna e uma chalana de propriedade estrangeira serviram também para o transporte de pólvora e de mais de 3.000 homens de tropa.

Os canhões, munições  e demais petrechos de guerra que estão aqui havia sido trazidos, segundo parece, recentemente de Miranda por disposição do comandante de armas.

Segundo a declaração do cabo vindo de Miranda aquele ponto está guarnecido pelo 14 de Caçadores com nove oficiais, sob o comando do capitão Motta, contando com duas peças de artilharia.

A guarnição de brasileira de Corumbá havia feito preparativos de defesa, colocando baterias no barranco em frente à cidade e a três quartos de légua abaixo, estendendo correntes através  dó rio para impedir a passagem de nossos vapores.

Na tarde do dia 8 chegou aqui de regresso o Yporã trazendo a notícia do encontro e tomada do vapor inimigo Anhambay que ganhando a embocadura do rio São Lourenço foi perseguido águas acima em sua precipitada fuga pelo Yporã, sendo mais lenta a marcha do Rio Apa que o IYporã.

Nesta perseguição e durante seis léguas o Anhambay havia feito forte fogo sobre o Ypora que sem contestá-lo procurava dar-lhe caça, como  com efeito lhe deu, tomando-lhe por abordagem por sua tripulação e os poucos infantes comandados pelo alferes Pedro Garay.  O último tiro dado pelo Anhambay antes das abordagem acertou o subtenente  Gregório Benitez que guardava bem seu posto, sendo esta a única baixa que tivemos.

A maior parte da tripulação do Anhambay foi morta atirando-se n’água , de onde escaparam alguns, fazendo-se sete prisioneiros entre eles o 2° comandante.

Imediatamente que o tenente Herreros tomou o Anhambay içou em seu topo a bandeira nacional e tripulando seguiu adiante em perseguição aos demais vapores brasileiros depois de haver despachado o Ypora a trazer-me a notícia do sucesso, os prisioneiros feitos e o aviso do recente abandono do quartel de Dourados com muitos artigos de guerra.

O Taquari e o Olinda estão atualmente no quartel de Dourados, de onde o alferes Fernandez, comandante do Ypora trouxe também quatro canhões e seis lanchões carregados de pólvora e outros objetos bélicos.

O Rio Apa acompanha agora o Anhambay e dentro de breves dias espero notícias da exploração e perseguição encomendada ao tenente Herreros.

Vão chegando as famílias que se buscam nos desertos destes arredores. A população deste lugar foi extraviada nos morros e pantanais pelas aterradoras notícias que lhes foram trazidas pelo barão de Vila Maria e confirmadas pelos fugitivos de Coimbra.³


FONTE: ¹Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2ª edição, Governo de Mato Grosso, página 19; ² Antonio Correa do Couto, Dissertação sobre o atual governo da República do Paraguai, Tipografia do Imperial Instituto Artístico, Rio de Janeiro, 1865, página 44. ³El Semanário (PY) Assunção, 14 de janeiro de 1865.


3 de janeiro

1866: Condecorados defensores de Coimbra

Hermenegildo Porto Carreiro, o comendante da resistência


Decreto do governo imperial condecora os defensores brasileiros que resistiram ao ataque das forças inimigas na guerra do Paraguai. Foram agraciados os seguintes cidadãos:

Ordem Imperial do Cruzeiro
Oficial: tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carreiro.
Cavaleiros: Capitão Antonio José Augusto Conrado, segundo tenente João de Oliveira Melo, segundo cadete Manoel Eugênio Barbosa e o segundo sargento Firmino Cesário Monteiro.
Ordem da Rosa: primeiro-sargento Antonio Luiz Vieira, o amanuense da polícia Manoel Nonato da Costa Franco, os guardas da alfândega Justino Urbano de Araújo. Laurindo Antonio da Costa, Manoel Sabino Melo, Evaristo Paes de Barros, o paisano Américo de Albuquerque Porto Carreiro, os componentes da guarda nacional Estêvão Antonio, Caetanos Paes Rodrigues e Francisco Campos e o operário contratado Amaro Francisco dos Santos.

A justificativa para o reconhecimento pelo Marquês de Olinda, ministro do Império, nos seguintes termos:

Atendendo aos relevantes serviços prestados no ataque do forte de Coimbra, nos dias 27 e 28 de dezembro de 1864, pelos oficiais e praças do exército e da guarda nacional e paisanos, cujos nomes constam da relação que com este baixa, assinada pelo marquês de Olinda, conselheiro de estado, presidente do conselho de ministros e ministro e secretário dos negócios do Império, e de conformidade com os §§ 1º e 3º do art. 9° do decreto n. 2.858 de 7 de dezembro de 1861, hei por bem conferir-lhes as condecorações que se acham designadas na mesma relação.

Palácio do Rio de Janeiro, em 3 de janeiro de 1866, 45° da independência e do Império. - Com a rubrica do S.M. o Imperador. - Marquêz de Olinda.

FONTE: Diário do Rio de Janeiro (RJ) 11 de janeiro de 1866


3 de janeiro

1888 – Nasce em Cuiabá, Antero Pais de Barros



Nasce em Cuiabá, Antero Paes de Barros. Professor primário público e particular. Inspetor de ensino primário no Sul do Estado, coletor federal e estadual de Campo Grande, inspetor de Fazenda, vereador e presidente da Câmara Municipal, intendente geral de Campo Grande deposto pela revolução de 30. Fundador do jornal “Correio do Sul”, empastelado por ocasião da vitória da revolução de 30.


FONTE: Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Matogrossense, edição do autor, Cuiabá, 1971.



3 de janeiro

1961 - Criada companhia administradora da construção da hidrelétrica de Jupiá




É criada em São Paulo a empresa interestadual, destinada a administrar a construção da hidrelétrica de Jupiá, no rio Paraná. O evento, pela importância econômica da obra, teve ampla repercussão:

Em solenidade realizada no Palácio dos Campos Elísios, sob a presidência do governador Carvalho Pinto, foi constituída, em 3 do corrente mês, a empresa que se encarregará do aproveitamento do Salto de Urubupungá: Centrais Elétricas do Urupupungá S.A. - CELUSA. Com exceção do sr. Bias Fortes, de Minas Gerais, estiveram presentes todos os demais governadores dos Estados participantes da Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai: srs. João Ponce de Arruda, de Mato Grosso; José Feliciano Ferreira, de Goiás; Moisés Lupion, do Paraná; Heriberto Hulse, de Santa Catarina e Leonel Brizola, do Rio Grande do Sul. Compareceram também à solenidade os governadores eleitos de Minas Gerais, sr. Magalhães Pinto; do Paraná, major Ney Braga; de Santa Catarina, sr. Celso Ramos; de Mato Grosso, Fernando Correa da Costa, bem como o sr. Walfrido do Carmo, representando o novo governador de Goiás, sr. Mauro Teixeira.

As Centrais Elétricas de Urubupungá constituem o maior aproveitamento hidrelétrico projetado no país e mesmo um dos maiores do mundo: cerca de 4 milhões de HP, beneficiando vasta região dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná, dentro de um raio de 600 quilômetros.

A diretoria da empresa ficou assim constituída: Presidente, sr. Hélio Bicudo; Diretores: sr Diogo Nunes Gaspar, eng. Souza Dias, sr. Nilde Ribeiro dos Santos e sr. Demóstenes Martins. - Conselho Fiscal: titulares - srs. Plínio Queiroz, Fernando de Oliveira e José Pauloni Neto: suplentes - srs. Mário Laranjeira de Mendonça e Antonio Ponzio.

Demóstenes Martins era o representante de Mato Grosso na diretoria da empresa. Iniciada em abril desse mesmo ano, a usina de Jupiá iniciou suas operações em 14 de abril de 1969.

FONTE: revista Brasil-Oeste (SP), janeiro de 1969, página 20.

Coluna brasileira tem novo comandante

1° de janeiro

1867 – Coluna brasileira tem novo comandante


O coronel Carlos Camisão, vindo de Cuiabá, assume o comando da força expedicionária, procedente do
Rio de Janeiro, que invadiria nos próximos meses a fazenda Laguna, no Paraguai, próxima à Bela Vista, resultando no episódio celebrizado por Taunay no clássico Retirada da Laguna.

FONTE: Taunay, Retirada da Laguna, 14ª. Edição, Editora Melhoramentos, SP, página 33.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

22 de dezembro

22 de dezembro

1936 – Vespasiano reage e escapa de atentado em Cuiabá
Senador João Vilasboas, deputado Estevão Alves Correa e senador Vespasiano
Em luta aberta contra o governador Mário Correa, os senadores oposicionistas Vespasiano Barbosa Martins e João Vilasboas sofrem atentando, de repercussão em todo o Estado:

A nossa pacata cidade de Cuiabá assistiu estarrecida e indignada, na noite de 22 do mês passado, a execução de um plano tenebroso, que visava a eliminação dos dois preclaros chefes da ‘Aliança Mato-Grossense’, senadores João Vilasboas e Vespasiano Martins, ultimamente chegados a esta capital.


Por volta das 22 horas daquele dia, depois da saída da última visita, dispunham-se já aqueles dois ilustres representantes matogrossenses no Senado da República a recolherem-se aos seus aposentos, quando a casa em que se hospedavam foi inopinadamente invadida por numeroso grupo de perigosos facínoras, arrebanhados em diversas localidades.


Penetrando na casa, o primeiro a ser visto foi o senador João Vilasboas que recebeu o primeiro tiro, ferindo-o no ombro direito.


Aos disparos desse primeiro tiro, acode o senador Vespasiano com o seu revólver em punho, recebendo logo a cerrada fuzilaria dos assaltantes.
Com uma coragem indômita, deteve o nosso valoroso chefe, um dos celerados, ferindo dois deles, obrigando-os a sair em debandada.


Terminada aquela luta infrene, desigual, estava a esvair-se em sangue o destemido chefe. Havia recebido três ferimentos: um na região acromial esquerda, com fratura do osso; um outro no terso superior da coxa direita, mais um outro na região deltoidiana direita e ainda mais um raspão de bala no antebraço direito, sendo que destes ferimentos só o da coxa apresentava orifício de entrada e saída.


FONTERubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato GrossoAssembléia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 239

FOTO: do livro História do poder legislativo de Mato Grosso, de Rubens de Mendonça.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

15 de dezembro

15 de dezembro

1851 – Nasce em Cuiabá, Antonio Paes de Barros, o Totó Paes

Produtor de açúcar entrou na política no início do século XIX, chegando ao governo do Estado, cujo poder assumira em 1900, como chefe de polícia e em 1903, como presidente eleito. Teve um governo tumultuado, interrompido em 1906, com a revolta da oposição, comandada por Generoso Ponce. Totó foi morto no dia 6 de julho de 1906.

FONTE:  Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Mato-Grossense, edição do autor, Cuiabá, 1971, página 27

sábado, 14 de dezembro de 2013

30 de janeiro

30 de janeiro

1827 – Langsdorff chega a Cuiabá


Aporta, finalmente na capital da província a expedição científica, chefiada pelo barão Jorge Henrique de Langsdorff, cônsul da Rússia no Rio de Janeiro, incumbida de efetuar exploração em Mato Grosso e Amazônia, patrocinada pelo czar Alexandre I.

A chegada da missão a Cuiabá é descrita pelo desenhista Hercules Florence em suas anotações de viagem:

Enfim a 30 de janeiro de 1827, atingimos o porto tão desejado de Cuiabá. Aproamos ao troar das salvas de mosquetaria que partiam de entre os nossos e eram correspondidas de terra. O guarda da alfândega levou-nos para o seu escritório, enquanto esperávamos os animais que deviam evar-nos até à cidade, distante um quarto de légua.Os Srs. Riedel e Taunay tiveram a bondade de mandá-los com prontidão, avisando que viriam receber-nos. Com efeito não tardaram a chegar em companhia de várias pessoas da localidade e de um negociante italiano chamado Angelini.

Fomos imediatamente ter com o presidente e dele tivemos mais cortês e amável tratamento durante os oito ou dez dias que nos reteve em seu palácio como hóspedes.

Florence aproveita a estada na capital da província para mostrar o que viu na cidade:

A cidade de Cuiabá é cercada de colinas que com ex­ceção da parte ocidental limitam-lhe o horizonte. O plano em que assenta é inclinado até à base dos outeiros do lado meridional, onde corre um riacho chamado Prainha que em direção quase reta vai para oeste e, separando a cidade de um de seus arrabaldes, atravessa uma planície de quarto de légua, com curso paralelo ao caminho do porto, até cair no rio Cuiabá. No tempo seco fica todo cortado e chega a desaparecer.

As ruas que de este vão para oeste têm pequeno declive de subida e descida, mas as que lhe são perpendiculares, de sul a norte, o têm mais sensível, bem que em geral suave. Ao sair da cidade para o lado norte, eleva-se o terreno ainda por espaço de 300 a 400 passos, formando um campo chamado de Boa Morte, por aí existir uma igreja desse nome.A cidade pode ter meio quarto de légua de poente a nascente e dois terços dessa distância de norte a sul. Não há senão 18 ou 20 casas de sobrado, esse mesmo pequeno: todas as mais são térreas. Cada casa tem nos fundos um jardim plantado de laranjeiras, limoeiros, goiabeiras, cajueiros e tamarindeiros, árvore cuja folhagem densa e escura
forma no meio das outras agradável contraste, concorrendo todas elas para darem à povoação aspecto risonho e pitoresco.

Rebocam-se por fora as habitações com tabatinga, que lhes dá extrema alvura: entretanto muitas há, principalmente nos arredores, que conservam a cor sombria da taipa de que são feitas, bem como todos os muros e cercados. Não há uma só casa que tenha chaminé: a cozinha faz-se no jardim debaixo de um telheiro.

O edifício em que estão o presidente e a intendência chama-se palácio: é térreo; as janelas, únicas na cidade, têm caixilhos com vidros. Há uma cadeia, em cujo sobrado trabalha a câmara municipal; um quartel para a tropa, uma casa da moeda e quatro igrejas: a de Bom Jesus que é a catedral, sem nada exteriormente que a recomende, a de Nossa Senhora do Bom Despacho, a de Nosso Senhor dos Passos, e a da Boa Morte, além de uma capela consagrada a Nossa Senhora do Rosário. Outra capela fica no Hospital da Misericórdia, edifício não concluído e onde mora o bispo. Para os morféticos há uma casa, situada a meia légua sul da cidade. A meio quarto este vê-se perto do porto uma grande
construção que havia sido começada para quartel. Por enquanto não é senão
um corpo de guarda.

Na casa da moeda bate-se somente o cobre que é mandado do Rio de Janeiro e ao qual se dá valor duplo do que tem no resto do Império. Há também uma fundição para pôr em barras o ouro. O único passeio que tem a cidade é o caminho de meio quarto de légua de extensão que vai ter ao porto. Aí só se vêem 15 ou 20 casas, algumas canoas, guanás, caburés, negros e mulatos.
Quando chove, as crianças entretêm-se em procurar ouro no meio das ruas, porque nos regos d’água que se formam descobrem sempre algumas palhetas. Por toda a parte anda-se aqui por cima dele; nas ruas, nas casas que não são ladrilhadas, nos jardins, não há polegada de terra que deixe de o conter. O pescador na sua choupana pisa o precioso metal; metade de um dia, porém, de trabalho em buscar arrancá-lo do solo lhe traz menos vantagem que a pesca de um único pacu. É contudo o objeto de extração que os habitantes conseguem. 

Os diamantes se acham no Quilombo, distante 14 léguas e daí a 30 no distrito Diamantino. Estes dois artigos, ouro e diamantes, constituem a riqueza da província; nada mais se exporta a não ser diminuta porção de açúcar e de tecidos de algodão, com destino ao Pará.

Não tratam da agricultura nem da criação de animais senão para Não tratam da agricultura nem da criação de animais senão para acudir às necessidades da alimentação. Por toda a parte cercados de desertos, dos quais o menos vasto tem 100 léguas de largo, não poderiam os cultivadores exportar o sobressalente de suas colheitas ou os resultados de sua indústria sem gastos que elevariam o preço dos produtos de medo a não suportarem a mais ligeira concorrência. As produções do país são a cana, da qual se extrai o melhor açúcar do Império; o fumo que é excelente; o algodão, o café, feijão, milho, mandioca e tamarindo que aí se acha mais abundante que em qualquer outra parte e do qual se fazuma massa para exportação.

Limita-se a indústria à exploração de minas e ao fabrico de peças de algodão grosso de que se veste a gente pobre. Faz-se aguardente de cana de superior qualidade. É a principal bebida do país, bem que esteja também em uso o vinho, cuja procura é limitada em razão do alto preço. Cada garrafa custa com efeito de 1$200 a 1$800, o que faz com que sejam motivos de luxo e ostentação franqueá-las aos convivas por ocasião de festas de casamento
ou batizados. Assisti às bodas de um homem apatacado, nas quais se beberam
200 garrafas de vinho, o que representa uma despesa de mais de 200$000
(1.250 francos). Quase igual quantidade consumiu-se num batizado. Os
casos de embriaguez não são raros. 

Cria-se muito gado vacum que por toda a parte encontra excelentes pastos; também a carne de vaca em Cuiabá é suculenta; há muitos porcos cuja banha serve para o preparo da comida; galinhas em abundância e tão baratas que por 400 réis (50 soldos) pode-se as ter à mesa do almoço, jantar e ceia; carneiros e cabras, estes em menor quantidade, etc. Não há falta de cavalos; a qualidade, porém, é inferior. Parte deles vem dos guaicurus. As bestas são mandadas
de São Paulo. Em viagem, é de uso servirem os bois mansos de animal de carga.

Não se acha ouro em porção que dê algum lucro, senão nos arredores da cidade ou a algumas léguas de distância. Se, porém, se empregassem os meios de que usa a companhia inglesa em Minas Gerais, cavar-se-ia melhor a terra, achando-se ainda tesouros imensos. Hoje o dia de trabalho de um preto não rende mais de 300 a 400 réis, salvo o caso de algum achado feliz.

Cuiabá deve sua fundação à grande quantidade de ouro que deu o terreno em que assenta, cujas escavações e buracos atestam hoje quanto foi revolvido. Nos primeiros tempos dos descobrimentos dos paulistas encontraram-se folhetas que pesavam até uma arroba, único incentivo que chamou uns sertanistas ávidos de riquezas e os impeliu em solidões desconhecidas, levando tão-somente espingardas, pólvora, bala e sal. Embarcaram em Porto Feliz e seguiram a rede de rios que lhes pôde proporcionar dilatadíssima viagem. Chegados ao ponto onde hoje é Cuiabá, a um caçador depararam-se grandes pedaços de ouro no alto da colina em que se ergue presentemente a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Parou então a caravana. Meteram as canoas no ribeirão Prainha, que nesse tempo era navegável e hoje não por terem sido desviadas as águas, levaram quanto puderam do encantado tesouro e voltaram
para São Paulo, contando maravilhas.

Reuniram-se logo multidões de aventureiros que formaram novas expedições, ficando muitos deles no país novamente descoberto em companhia das mulheres indígenas que encontravam ou das que haviam levado consigo. O número foi crescendo e com ele aparecendo dissensões e lutas causadas pela avidez em tirar ouro. Então cuidaram de constituir uma espécie de governo e para legalizá-lo mandaram pedir chefe em São Paulo. A colônia, debaixo do nome de Cuiabá, nome dos índios que aí habitavam, fez rápidos progressos, aumentando continuadamente com a chegada de novas bandeiras, que, não se satisfazendo mais com o que encontravam, seguiram para diante e foram descobrir, a 100 léguas para O., Mato Grosso, donde provém a denominação de toda a província. Aqueles intrépidos sertanistas teriam sem dúvida ido até ao oceano Pacífico, se os espanhóis não ocupassem as costas. Suas ousadas explorações chegaram com efeito a dar cuidados à corte de Madri que se queixou à de Lisboa, mandando reclamações a tal respeito.

O modo de extrair ouro é o seguinte: fazem-se grandes escavações e transporta-se a terra, à medida que se a vai tirando, para uma área preparada à beira de um rio, córrego ou lagoa em paralelogramo de terra batida e conseguintemente dura, cujos lados são fechados por tábuas, exceto o que encosta à água. O plano é inclinado e o todo se chama uma canoa. Deposita-se a terra que se quer lavar na parte superior e sobre ela lança trabalhador de contínuo água para que facilmente corra a porção que for mais destacada e leve. Em seguida, depois de repetida esta operação, põe ele certa quantidade na beira de uma espécie de alguidar de pau chamado bateia e com um pouco d’água imprime ao todo um movimento circular, de modo que de cada vez o monte de terra seja lambido pela água. Se houver ouro, as menores partículas depositam-se logo no fundo.

Costumes dos Habitantes de Cuiabá

Descrever os costumes gerais da população de Cuiabá, é decerto descrever os de todos os brasileiros; entretanto aqui várias circunstâncias locais concorreram para dar hábitos peculiares à terra, imprimindo-lhes cunho característico e, embora pernicioso, de certo modo original.

A população não passa de 6.000 habitantes, a de toda a província de 30.000, sem contar os índios mansos e muito menos os bravios. Entretanto pelo conhecimento mais ou menos exato dos aldeamentos de uns e hordas dos outros, creio que seu número não chegará a 6 ou 7 mil almas, de modo que numa zona muito maior que toda a França não há mais de 37.000 habitantes.
Tão pouca população provém de que não há 125 anos que Cuiabá foi descoberta e todos quantos procuraram estas terras atraídos só pela posse do ouro, uma vez conseguido esse fim, trataram de se ir embora para gozarem das riquezas ganhas em país mais civilizado. Os que se deixavam ficar, ricos em pouco tempo e no meio de solidões, só cuidaram em satisfazer os sentidos. Entregaram-se a grosseiros prazeres e viveram com amásias, não se lhes dando de formar famílias e educar os filhos, quando os tinham, nos sãos princípios da religião e da moral. As mesmas causas ainda hoje persistem em Cuiabá, embora se manifeste salutar tendência para a modificação. Os casamentos ainda são
pouco freqüentes. Geralmente só se casam os homens já maduros que buscam
uma companheira para os tempos da velhice. Os mais vivem amancebados e nem se limitam a isso, entretendo intrigas amorosas com pessoas casadas e solteiras.

As mulheres de classe média e sobretudo inferior, são muito livres nas suas conversas, modos e costumes. Além do contínuo exemplo da licença geral e quase desculpada, recebem pernicioso influxo do contato dos escravos, negros
e negras, cujas paixões violentas não vêem peias à sua expansão. A fidelidade conjugal é, muitas vezes, falseada. Apesar de temerem os maridos e considerá-los como amos e senhores, sabem perfeitamente enganá-los. Não faz muito que elas começam a aparecer à mesa de jantar ao lado dos parentes e maridos. Entretanto em todas as casas do sertão, onde recebi hospitalidade, nenhuma delas se apresentou, ficando sempre no fundo dos aposentos, a menos que não seja a pessoa já muito familiar. Conheci, contudo, uma senhora muito bem falante, civilizada e espirituosa. Três outras nas mesmas condições tinham, porém, já sua idade e, apesar do muito que haviam dado que falar em sua mocidade, passavam por tipos de virtude.

As moças filhas de pais pobres nem sequer pensam em casamento. Não lhes passa pela cabeça a possibilidade de arranjarem marido sem o engodo do dote e, como ignoram os meios de uma mulher poder viver de trabalho honesto
e perseverante, são facilmente arrastadas à vida licenciosa, na qual, justiça se lhes faça, apesar de pertencerem a todos, nunca mostram a ganância e as baixezas das mulheres públicas da Europa.

Quem exercita em Cuiabá ofícios e artes são quase todos mulatos. Conheci um padre de cor parda, muito eloquente no púlpito e na conversação; outro, quase negro, era um desses raros talentos modestos, cuja ambição única é instruir-se.

O clima da cidade é muito quente, sua latitude 15°36’S. O rio é farto de pescado, sobretudo de junho até fins de dezembro. Então é o alimento principal do povo. Pescam- se muitos pacus, dourados, piracanjubas, piaus, piracachiaras, jiripocas, palmitos, cabeçudos, corimbatás, peixe-rei, etc. É tanto o peixe que os bois, cavalos e pretos ou guanás vão curvados ao seu peso vendê-los pela cidade. De todos é o pacu o mais gordo e mais abundante, bem que não seja o mais delicado; sabe, contudo, bem ao paladar e a quantidade é tal que fornece a combustível com que se iluminam todas as casas. Acontece
até que os pescadores atiram fora grandes montes, quando não querem nem mesmo dar-se ao trabalho de extraírem o azeite.

FONTE: Hercules Florence, Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas, de 1825 a 1829, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1941, página 

FOTO: Desenho de Hercules Florence, integrante da Expedição Langsdorff.



30 janeiro



1905 – Decretado o primeiro Código de Posturas de Campo Grande 

Avenida Calógeras no início do século passado

É sancionado pelo intendente geral Manuel Inácio de Souza (Manuel Taveira) e entra em vigor, o primeiro código de postura de Campo Grande, composto de 54 artigos e 12 capítulos que tratavam de economia e asseio dos açougues, instalação de curtumes, regras para a limpeza pública, vacina obrigatória de todas as pessoas que viviam na vila, administração dos cemitérios e regras para o enterro dos falecidos, venda de gêneros alimentícios e mercadorias, punições a quem alterasse ou falsificasse produtos, a quem vendesse por pesos, medidas ou balanças não aferidos, aforamento de terrenos municipais e edificações de prédios e reparos, trânsito e conservação de estradas e regras de relacionamento social.

O código de postura reordenava as relações sócio-econômicas, adotava medidas de saúde pública e outras medidas que atendiam também ao interesse do governo federal, que em 1907, reformulou o contrato de arrendamento com a Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que estabelecia a alteração da rota da ferrovia para Corumbá.

FONTE: Alisolete Antonia dos Santos Weingartner, Campo Grande, da emancipação política à atualidade, in Série Campo Grande, Ano I 1999, Funcesp/Arca, Campo Grande, 1999, página 15



30 de janeiro


1906 – Oposição vence em Mato Grosso


Totó Paes perdeu a eleição e a vida

Realizam-se eleições para renovação das bancadas de Mato Grosso no Congresso Nacional. A oposição, liderada por Generoso Ponce, o chefe da Coligação, vence apesar da repressão imposta pelo governo de seu arquiinimigo Totó Paes. Antônio Azeredo é reeleito para o Senado e elegem-se deputados federais Serzedelo Correa, Joaquim Augusto da Costa Marques e Benedito Crispiniano de Sousa.

FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá sd. Página 93.



30 de janeiro

1919 - Gripe espanhola em Cuiabá


Santa Casa de  Misericórdia de Cuiabá

A gripe espanhola que avassalou a Europa e capitais litorâneas do Brasil, chega a Cuiabá e passa sem causar estragos de pandemia, mas deixando um rastro de tragédia, conforme dados publicados pelo jornal governista, o Matto-Grosso, que tenta minimizar a situação:

É que os germes da infecção haviam, sem dúvida, aportado à nossa capital enfraquecidos na sua virulência, pela maior demora na viagem e pela desinfecção rigorosa que as embarcações sofriam no Posto do Amolar.

De 15 a 30 de dezembro chegaram algumas outras lanchas de Corumbá e trouxeram novo contingente do vírus, a reforçar a quota do que havia. Então, estalaram muitos outros casos, de sorte que o ano findou, entre nós, oferecendo a epidemia o seu maior paroxismo. Podem calcular -se em 2 a 3 mil casos, os que se contaram até 31 de dezembro. Nos quarteis do 39° e 
da Força Pública cairam doentes quase todos os soldados e muitos oficiais. No hospital da Santa Casa internaram-se algumas dezenas de enfermos. Várias famílias foram atacadas em seu domicílio. Mas foi tudo - e ainda assim com uma benignidade muito confortadora: onze óbitos apenas nos en
lutaram em todo o mês de dezembro, correndo por conta da chamada gripe epidêmica.

Cabe salientar agora o papel representado nesta quadra angustiosa pelos postos de socorros, criados durante este mês e funcionando ativamente, a fornecer medicamentos e víveres a todos que deles precisavam, minorando extraordinariamente a situação difícil da pobreza.

É de justiça salientar o nome dos dois sacerdotes beneméritos que nesses postos tão humanitários serviços prestaram: padre Manoel G. de Oliveira e frei Ambrósio Daydée.

Na primeira quinzena de janeiro, estabeleceu-se o período de estado da epidemia, mantendo-se ela com a média de um óbito por dia. Depois entrou o mal em franco declínio e agora, ao terminar o mês, são rarissimos casos novos aparecidos e nenhum falecimento por essa causa se tem mais verificado.

FONTE: jornal O Matto-Grosso (Cuiabá), 30 de janeiro de 1919.


30 de janeiro

1934 - Paranaíba é contra separatismo e defende plebiscito para divisão do Estado



Prefeito Francisco Faustino Dias

Com o movimento divisionista em plena efervescência em todo o Sul do Estado, o município de Paranaíba, por meio de suas principais autoridades constituídas, decide-se contra a separação. A posição foi formalmente definida em longo manifesto endereçado ao interventor federal em Cuiabá, Leônidas de Matos:

Como legítimos interpretes do sentir e das aspirações do povo do histórico município de Santana do Paranaíba, a sentinela avançada do nosso grandioso Estado de Mato Grosso, nas fronteiras do estados irmãos de Goiás, Minas e S. Paulo; com as responsabilidades históricas que lhe decorrem, como município e cidade primaz desta unidade do "hinterlande" brasileiro, diante da campanha impatriótica, inoportuna e improcedente, separatista iniciada na cidade de Campo Grande, por pessoas às quais faltam credenciais para falar à Nação, em nome do povo matogrossense, pois dele, em sua maioria, não são filhos, nem a ele prestaram serviços que lhes outorgassem tamanho direito, vimos, pela presente representação, trazer à Vs. Exas., lídimos e legítimos representantes do nosso querido Estado, a manifestação espontânea e sincera e entusiástica de nossa solidariedade no repúdio a tão nefasta tentativa.

Não reconhecemos motivos imperiosos de ordem histórica, social, econômica ou geográfica que traduzam o imperativo de se parcelar ou mutilar a integridade do território matogrossense, destruindo a sua unidade política no concerto do demais Estado que formam a federação brasileira. Seria trair e desonrar o inestimável legado dos nossos maiores.

Inestimável reserva econômica do nosso país, pelas suas incalculáveis riquezas naturais, pela sua riquíssima rede potamográfica, pela uberdade de suas terras feracissimas, pelo crescente desenvolvimento de suas indústrias, principalmente a pecuária, o mate e a cultura da cana de açucar, Mato Grosso será, em futuro não muito remoto, pelo trabalho construtivo de seus filhos e dos irmãos de outros estados, que lhe trazem o seu concurso, um dos mais prósperos estados da nação brasileira, contribuindo para a grandeza desta formosa e privilegiada pátria do continente sul-americano.

Não existem nem jamais existiram antagonismos de origem, entrechoques de interesses econômicos ou rivalidades justificadas entre os filhos da região Norte, Centro e Sul do Estado. Elas se integram e se completam, pela unidade de seus ideais, pelos seus comuns anseios de progresso, pelo sadios espírito de confraternização, que estão a exigir, cada vez mais, a unidade, a integridade e a intangibilidade do território matogrossense.

Unidade federada, com 1.500.000 quilômetros quadrados, para somente 400.000 habitantes, disseminados nas suas várias regiões, este reduzido número de matogrossenses e brasileiros, herdeiros da audácia e da coragem dos antigos bandeirantes, continua a desbravar sertões, a pontilhá-los de cidades, vilas e povoados, a criar indústrias, agricultura, comércio e a fazer crescente conquista no campo das profissões liberais, mantendo sempre aceso o lábaro do mais sadio e elevado patriotismo.

Não procede a disparidade alegada da contribuição para o erário estadual pelas populações do Norte e Sul do Estado, porque a ciência sociológica e política condena este critério, para manutenção ou desagregação de estados e países, pois a criar-se este precedente, a separação de Mato Grosso,hoje, justificaria, amanhã, o absurdo de se dividir o nosso grandioso Brasil, pela verificação, já não contestada, de que os estados do Sul (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul contribuem com 2/3 das rendas da União! Princípio que nenhum brasileiro digno desse título aceitaria!

Por estes e outros motivos, cada qual mais justifica, e que não escapam ao conhecimento de Vs. Excias., auscultada a opinião pública unânime deste histórico e vasto município, como a elite da sua sede, podemos assegurar a Vs. Excias., o completo repúdio a tão nefasta tentativa, afirmando mesmo que não nos arreceamos de um "plebiscito" pelo qual se afira a vontade do povo matogrossense.

Tanto mais impatriótica e inoportuna é a campanha separatista, quando o país, combalido por duas fundas comoções políticas, que o fizeram estremecer nos seus alicerces, marcha, atendendo aos justos anseios do povo brasileiro, para o retorno ao regime constitucional e para cujo desideratum se impõe um ambiente de paz, de confraternização e de conjugação de esforços de todos os bons patriotas.

O eminente chefe do governo provisório, consciente das suas enormes responsabilidades, honrando o momento histórico que vivemos, num gesto largo e nobre de patriotismo, devolveu o grande Estado de São Paulo à posse de si mesmo, vem aproveitando os verdadeiros valores, onde quer que estes se encontrem, sem estreito partidarismo, política sábia e construtiva que sem sendo seguida com elevação e firmeza pelo ilustre sr. Interventor federal neste Estado, atitudes e orientação que criaram o ambiente de tranquilidade nacional, no qual se vem processando os trabalhos da memorável 3a. constituinte do Brasil independente e 2a. do Brasil República.

Nós, matogrossenses, de nascimento ou de coração, devemos nos colocar à altura dessas atitudes e dessa elevação, estabelecer em nossas fronteiras a concórdia geral, esquecer ressentimentos, irmanarmo-nos todos num só anseio, numa só aspiração - a devolução do país ao regime legal, renovado, pela implantação de novas diretrizes, mais consentâneas com as nossas aspirações, com o ambiente brasileiro, com o nosso grau de cultura, com as conquistas liberais, dignas da civilização hodierna.

Queriam pois Vs. Excias. receber a manifestação da nossa solidariedade, pela união e integridade do nosso Estado e levá-la ao conhecimento do governo provisório e da augusta Assembleia Constituinte, como do país.

Com a segurança da nossa estima, saudamos a Vs. Excias., cordialmente.

Waldemir Neves, juiz de direito; Jorge Bodstein Filho, coletor estadual; Francisco Faustino Dias, prefeito; João Filgueiras, 2° tabelião; Arsênio Moura, escrivão da coletoria estadual; Gustavo Rodrigues da Silva, fazendeiro; Melanias Leal, 1° juiz de paz; Ubaldino Correa da Costa, negociante; Joaquim Evaristo de Queiroz, funcionário público; Antonio Garcia de Freitas, promotor de justiça; Leozoro Rodrigues de Almeida, fazendeiro, João Cassiano do Nascimento, proprietário; João Dantas Filgueiras, secretário da prefeitura; Vicente Faustino Franco, delegado de polícia; Eponino Garcia Leal M. do C. consultivo; João Valim, professor; Osvaldo Brandão, distribuidor do foro, Edu Neves, farmacêutico; Nahim Agy, comerciante, José Pereira dos Santos, carpinteiro, Olavo Filgueiras, funcionário municipal; João Inocente do Nascimento, barbeiro; Antonio Neves do Nascimento, tabelião do 1° ofício; João Ferreira Leal, escrivão do distrito; Emílio Martins Ferraz, proprietário; Ovídio Alves Pereira, fazendeiro; Salomão João, comerciante; José Severino da Cunha, funcionário municipal; João Luiz da Silva Santos, fazendeiro; Joaquim Lucas de Oliveira, fazendeiro; Cid do Espírito Santo, 2° tenente; e Manoel Gomes Otero, negociante.


FONTEJornal do Comercio (Campo Grande), 10 de março de 1934.

FOTO: reprodução do livro Santana do Paranaíba, de Hildebrando Campstrini (2002)


OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

  22 de janeiro 1918 – Dom Aquino assume o governo do Estado Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, qu...