FONTE: Raul Silveira de Melo, Para Além dos Bandeirantes, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1968. Páginas 233 e 242.
1° de janeiro
1865 - Combatentes paraguaios massacram fugitivos de Nioaque
À véspera de ocupar a vila abandonada de Nioaque, a força de ocupação do exército paraguaio, comandada pelo coronel Francisco Resquin, ataca a guarnição que abandonava o local. Muitos conseguiram escapar à perseguição inimiga, mas um grupo foi alcançado e massacrado, conforme relato do comandante paraguaio ao seu superior em Assunção:
Senhor
Ministro:
O
coronel comandante da coluna de operações sobre o rio Mbotetey, tenho a honra
de levar ao conhecimento de V.E. que prosseguindo minha marcha da colônia de
Miranda e a três léguas de distância recebi aviso de meu segundo o capitão Blas
Rojas, que seguia à vanguarda, que se apresentava à vista uma coluna de
cavalaria brasileira de 2 a 300 homens: então dei-lhe ordem para lhe bater,
acelerando minha marcha, porém havendo a coluna brasileira ganhado o monte do
riacho chamado Passo Feio, mandou dizer seu comandante que queria ver-me; e lhe
mandei que escrevesse o que lhe ocorria. A isto escreveu dizendo que desejava
falar-me sobre minha internação em território brasileiro e comunicar-me as
instruções a respeito; minha constatação foi que a entrevista seria inútil e
que assim se entregasse dentro de meia hora prisioneiro de guerra, com toda a
tropa sob seu comando, pois ao contrário seria perseguido com rigor; mas não
havendo aceito, dei ordem de ataque para o qual, enquanto a troca de
comunicações, mandei abrir várias picadas na suposição de que defenderia o
passo, porém as picadas foram inúteis, porque ao primeiro canhonaço disparado
ao rumo em que se ouvia música, abandonaram o local, disparando tiros de
carabina dos quais não conseguiram mais que uma bala que feriu no braço o
alferes Camilo Castillo.Nisto passavam alguns esquadrões de cavalaria que se
puseram em perseguição, porém debandando-se o inimigo na mais completa desordem
e sua fuga em diferentes direções, só haviam reunido dois grupos, como de algo
mais que um esquadrão, em um dos quais ia o tenente-coronel D. Antonio Dias da
Silva, comandante daquele grupamento, sendo perseguido pelo tenente Blas
Ovando, a quem não pude alcançar, porque ao passar a ponte do córrego
Desbarrancado, a destruíram, como de antemão haviam preparado, ganhando muito terreno,
motivo porque cessamos a perseguição, para não fatigar inutilmente os cavalos.
O
outro grupo, que havia tomado outra direção, foi perseguido pelo alferes
Ignacio Cabrera com os de sua classe José Pedruesa e Bautista Ramirez, com
setenta e cinco de tropa, lhes alcançou, deixando no campo cinquenta e sete
mortos e um oficial, fazendo treze prisioneiros, trinta e sete cavalos e oito
mulas, com a perda de um soldado e dois feridos de nossa parte.
Dali acampei a uma légua e
meia e prosseguindo o dia seguinte, fiz parada a quatro léguas e meia sobre o
riacho Pequeno, aproveitando na tarde, a aguada e bom pasto do lugar.
Ao amanhecer do dia
seguinte movi o campo e depois de três léguas de marcha, passei o córrego Ponte,
e com duas léguas mais o rio Nioaque a uma do dia.
FONTE: El Semanário (PY), Assunção, 17 de janeiro de 1865.
FOTO: cavalaria paraguaia, reprodução do filme Alma do Brasil,1932.
01 de janeiro
1869 - Brasileiros ocupam Assunção
A primeira divisão da esquadra brasileira ocupa a capital paraguaia, abandonada pelo governo e pela população. A comunicação ao Rio de Janeiro é oficialmente encaminhada pelo barão de Passagem, o comandante das forças de ocupação:
"Tenho a honra de levar ao alto conhecimento de V.Exa. que no primeiro dia do ano de 1869, sob os melhores auspícios, as forças brasileira de mar e terra ocuparam efetivamente a cidade de Assunção capital do Paraguai, registrando assim nos fastos luminosos desta campanha mais um feito de grande alcance para a política da guerra e por mercê de Deus, incruento! Conforme as minhas instruções achava-se pronta, às 10 horas da manhã desse dia a divisão composta dos encouraçados Bahia, Barroso e Tamandaré; monitores Pará, Alagoas, Santa Catarina, Piauí, Rio Grande e Ceará e os transportes Paissandu e Guaicuru, e a bordo destes dois últimos embarcada a 6a. brigada do exército imperial, do comando do coronel Hermes Ernesto da Fonseca. Às 10 horas e 15 minutos, de V illeta, levantaram âncora todos os navios e determinei que o Barroso e Piauí com os transportes na retaguarda da linha formassem a divisão de desembarque, e somente investiriam a capital inimiga para efetuá-lo quando eu assinalasse; os demais navios navegavam na formatura que lhes ordenei. Seguiu, pois, cheia de entusiasmo a expedição, sem contrariedade alguma, até a capital inimiga onde chegamos às 4 e meia horas da tarde, em consequência da pouca marcha dos monitores e necessidade de ter à vista todos os navios. Tendo-se transposto os pontos outrora fortificados, reconhecido não haver resistência e colocados os navios em posição de proteger a operação, assinalei a divisão de desembarque que investisse o porto, e aí procedeu-se imediatamente ao desembarque com toda a atividade, apesar do mau tempo.
Ás 6 horas da tarde essa operação estava concluída e tremulava em Assunção a bandeira imperial; ao arsenal de marinha onde mandei hastear na posição em que se achava acampada a força expedicionária sob o comando do coronel Hermes, a quem também entreguei para esse fim um emblema da nossa nacionalidade e finalmente no vasto palácio de Lopes ao próprio lugar em que fora derrubada a bandeira paraguaia por tiros deste navio no bombardeamento que esta divisão fez em 30 de novembro último, foi levantada uma nova haste, e eu, em pessoa, nela arvorei o pavilhão brasileiro.
Antes de encetar-se o desembarque viu-se uma força inimiga de cavalaria e infantaria que parecia retirar-se precipitadamente, e nessa ocasião conseguiu escapar-se do cativeiro e ser recolhido incólume um soldado nosso, voluntário de Mato Grosso, onde caíra prisioneiro. No porto encontrei fundeada uma escuna italiana com a sua respectiva bandeira. Está pois realizada uma das maiores aspirações da tríplice aliança. Assunção que revelava um aspecto horrível a que fora reduzida pelo exílio, fuzilamentos, prisões subterrâneas e entrincheiramento em suas ruas, apresenta atualmente uma nova era de redenção e esperança para o malfadado povo paraguaio, que sem dúvida alguma cobrirá de maldições o bastardo ditador Lopez que fez a sua nação seu feudo e sacrificou-a aos seus caprichos sanguinários. Ao terminar, receba V. Ex. e todos os brasileiros as nossas mais fervorosas e entusiásticas congratulações.
Deus guarde a V. Ex. - Ilmo. e Exmo. Sr. conselheiro visconde de Inhauma, vice-almirante em chefe da esquadra em operações - Barão da Passagem, chefe de divisão".
Reaberta a navegação no rio Paraguai, em 5 de janeiro, as primeiras embarcações brasileiras deixam o porto de Assunção com destino a Corumbá e Cuiabá.
FONTE: Diário do Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1869.
FOTO: Encouraçado Tamandaré.