15 de dezembro
1847
– Nasce em Cuiabá, Manoel Murtinho
Nasce em Cuiabá, Manoel Murtinho,formado em Direito
pela Faculdade de São Paulo, juiz em Poconé, Cáceres
e Cuiabá e o primeiro presidente eleito do Estado no período
republicano. Deputado estadual e ministro do Supremo Tribunal Federal,
ele e seu irmão Joaquim Murtinho, estiveram no centro do poder
em Mato Grosso e no Brasil durante as duas primeiras décadas
da República.
FONTE: Rubens de Mendonça,Dicionário Biográfico Mato-Grossense, edição
do autor, Cuiabá, 1971, página 118.
15 de dezembro
1913 – Expedição Roosevelt-Rondon chega a Corumbá
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Roosevelt e seu cicerone o sertanista coronel Cândido Rondon |
A
comissão do ex-presidente americano, Theodore Roosevelt, ciceroneada
pelo coronel Cândido Rondon, em sua viagem do Prata rumo ao norte de
Mato Grosso, chega a Corumbá. Theodore Roosevelt depõe:
A
15 de dezembro alcançamos Corumbá. Três a quatro milhas antes, começa a
elevação do solo em aflorações rochosas que terminam ao longe em fortes
escarpados. A região circunvizinha era evidentemente bastante populosa.
Vimos os gaúchos vaqueiros – que correspondem aos nossos cowboys –
cavalgando ao longo das margens. As mulheres se entregavam à lavagem da
roupa, enquanto seus filhos nuzinhos se punham a banhar nas praias.
Informaram-nos que os jacarés e as piranhas dificilmente se arriscam aos
lugares freqüentados e que os acidentes geralmente se verificam em
pontos ermos e sombrios do rio. Várias embarcações vieram ao nosso
encontro acompanhando-nos mais de vinte quilômetros, com bandas de
música e aclamações do pessoal, como se estivéssemos em alguma cidade
nas margens do Hudson.
Corumbá
se ergue na escarpa da montanha, com ruas largas e mal calçadas,
algumas arborizadas como espécimes de flores escarlates; as casas são
bem construídas, a maioria de um só pavimento, porém algumas com dois e
três andares.
Fomos alvo de manifestação do Conselho Municipal e de um banquete especial.
O
hotel, dirigido por um italiano, era o mais confortável possível, com
pisos de pedra, pé direito muito alto, vastas portas e janelas, um pátio
agradável e aberto e um chuveiro.
Naturalmente
Corumbá é ainda cidade de fronteira. Os veículos são carros puxados a
bois e burros; não há outros meios de condução; bovinos e muares são
empregados para esse fim. A água vem de grande poço central; e em torno
se agrupam os apanhadores que, em seguida, fazem a entrega do líquido
precioso nas residências. As famílias apresentam as características
gerais de mistura de raças das populações brasileiras.
Uma
senhora, após haver deixado fotografar seus filhos em trajes comuns,
pediu que voltássemos para fotografá-los em roupas domingueiras, no que
foi atendida.
Dentro
de um ano, a estrada de ferro alcançará Corumbá, e então esta cidade,
bem como toda a região que a circunda, obterá grande desenvolvimento.
Na noite de Natal a expedição deixa Corumbá com destino à sua grande aventura no Norte de Mato Grosso.
FONTE: Theodore Roosevelt, Nas selvas do Brasil, Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976, página 53.
15 de dezembro
1933 - Primeiro acidente aéreo no Estado
É registrado o primeiro acidente aéreo no Estado. A notícia é dada, sem destaque na última página do Jornal do Comércio, três dias depois:
"Ao contrário do que se esperava, não tivemos, anteontem, domingo, correspondência de Cuiabá.
Saíra daqui, sexta-feira última, o avião Pirajá para Corumbá,chegando de véspera de S. Paulo.
Nesse mesmo dia, fazendo ligação entre Corumbá e Cuiabá, viajara da primeira dessas duas cidades o hidroavião Blumenau que naquela precisa data deveria chegar à capital do Estado.
Devido, certamente, ao demasiado da carga, o Blumenau teve que afluviar inesperadamente, antes de Porto Jofre, que é uma das etapas estabelecidas na margem direita do rio Paraguai. O aparelho sofreu danos, ao que estamos informados, não podendo prosseguir viagem.
Felizmente nenhum de seus passageiros ficou ferido.
Em substituição ao Blumenau, é esperado hoje, aqui, o avião Bandeirante, procedente de S. Paulo, que seguirá logo para a Princesa de Paraguai. Naquela cidade, essa nave aérea mudará as rodas por flutuadores e viajará para Cuiabá, ficando na carreira em lugar do aparelho avariado.
Quinta-feira entrante deverá estar nesta cidade, como de costume, mantendo a carreira, o avião Pirajá, procedente da capital paulista".
O jornal campograndense encerra a notícia, justificando o acidente:
"É de justiça, salientar-se, em louvor da Condor, que este é o primeiro acidente de monta que sofre um aparelho seu, em Mato Grosso, durante centenas de viagens realizadas.
Acidente também que confessamos, com gosto, não haver determinado nenhuma vítima".
Alguns detalhes desse desastre seriam dados em março de 1934, quando o mesmo jornal noticiava o segundo acidente no mesmo trecho:
"No primeiro, ocorrido perto de Porto Jofre, ficaram feridos vários passageiros, e o aparelho ficou completamente inutilizado".
O serviço de transporte via aérea em Mato Grosso começou em 16 de setembro de 1930, com o voo entre Corumbá e Cuiabá.
FONTE: Jornal do Comercio (Campo Grande) 19 de dezembro de 1933 e 4 de março de 1934.
FOTO: O Pirajá, da frota da Condor, do acervo do Correio de Corumbá.
15 de dezembro
1943 – Baianinhos aterrorizam o sul do Estado
Os irmãos Batista, gaúchos domiciliados em Campo Grande, conhecidos como baianinhos, utilizando automóveis e até metralhadoras, aterrorizam fazendeiros em praticamente todo o território do atual Estado de Mato Grosso do Sul, especialmente no Pantanal, onde estão concentrados os maiores rebanhos bovinos no Estado. O impacto da organização criminosa teve repercussão nacional, como vemos na ampla reportagem da Agência Meridional, publicada em todos os jornais dos Diários Associados:
Diante
dos sucessivos assaltos de um bando que usa metralhadoras de mão, a
população matogrossense pergunta: Lampeão, Corisco e Silvino Jacques
terão encontrado sucessores aperfeiçoados? É o que vem acontecendo com o
aparecimento dos ‘baianinhos’, grupo de bandoleiros que fazem incursões
na região sul de Mato Grosso, tendo nos últimos dias de novembro
efetuado ataques a cerca de 11 fazendas.
Silvino
Jacques, como se sabe, assolou com sua gente o nordeste do Estado,
oferecendo combate a 3.000 homens de forças regulares até que foi morto
pela polícia estadual. Agora os irmãos Batista vão construindo uma lenda
em torno de suas façanhas. Quem são os irmãos Batista?
João
Batista, chefe supremo do bando, Rolin Batista e Cardoso Batista são
três irmãos de uma família em que só um dos quatro irmãos, cujo nome não
deve ser revelado, é um rapaz morigerado e ordeiro, servindo numa
unidade militar. Descendem de uma família de algumas posses, tendo o pai
cumprido pena de prisão por homicídio. Pessoas que conhecem a família
dizem que quando um dos filhos completa 15 anos a própria mãe lhe faz
presente de um revólver 38 com esta expressiva recomendação: "Tome este
revólver e não desmoralize o seu nome".
Na
revolução de 32 um dos irmãos Batista, segundo os que então o
conheceram, teria servido como ajudante de ordens do general Bertoldo
Klinger, sendo mais tarde morto depois de atentar contra a vida de um
oficial do Exército. Ficou assim a irmandade desfalcada de um de seus
elementos.
Ao contrário dos cangaceiros de sinistra memória, os
‘baianinhos’ são rapazes de relativa instrução e aparência simpática,
tendo frequentado a sociedade de Campo Grande, que hoje recorda, entre
revoltada e curiosa, os dias ainda recentes em que os irmãos Batista (os
chamados ‘baianinhos’) circulavam nessa cidade sem que se suspeitasse
da evolução que iriam sofrer.
Há
cerca de um ano organizaram os irmãos Batista um pequeno grupo armado,
que desde então tem aumentado, vivendo de assaltos e saques nas fazendas
e povoados e até a algumas aldeias indígenas.
Como
nos filmes de gangsters – até que ponto a influência desses filmes age
sobre a mentalidade dos ‘baianinhos’ é o que resta apurar – os irmãos
Batista e sua gente passaram dos pequenos assaltos iniciais a ações de
mais envergadura, praticando mortes e assaltando mulheres.
Seu método
pode ser assim resumido: chegam às fazendas durante a noite, amarram os
empregados e exigem dinheiro dos fazendeiros. Vários fazendeiros
alarmados, abandonaram suas propriedades, dirigindo-se para esta cidade,
Aquidauana e Campo Grande.
Avalia-se
em cerca de 300 mil cruzeiros o produto dos últimos assaltos. Na
fazenda Buriti, de propriedade do sr. Antonio Trindade, assaltada em
meados de novembro, a cerca de 3 léguas de Aquidauana, três homens do
bando extorquiram 10 mil cruzeiros, tendo o sr. Trindade dado parte mais
tarde às autoridades na referida cidade.
Em
Nhecolândia sucedem-se os assaltos, e a polícia está sendo concentrada
em Aliança, próximo a essa região. Alega-se a existência de "coiteiros" -
expressão que no nordeste designa os que escondem bandoleiros -
prestigiosos que estariam dificultando a ação das autoridades,
especialmente a das forças volantes que percorrem toda a região
infestada.
Na
região de Nhecolândia, no pantanal matogrossense, existem cerca de 400
fazendas, constituindo um dos grandes centros de criação de gado do
país.
As
zonas de Campo Grande e Aquidauana também têm sido visitadas pelos
"baianinhos" que devastam os rebanhos bovinos ali existentes. Uma parte
da extração da borracha de mangabeira tem sido dificultada pelo temor
que inspira a presença ou a alegada proximidade do bando dos irmãos
Batista.
TÁTICA MODERNA DA QUINTA-COLUNA
A
tática moderna da "Quinta Coluna" também é empregada pelos Batista, que
antes dos assaltos mandam às fazendas indivíduos à procura de trabalho e
pouso.
Com
a tradicional hospitalidade dessa região, tais indivíduos são bem
recebidos e podem então preparar melhor a entrada de seus asseclas.
Embora
não seja conhecido o total exato dos homens que compõem o bando,
calcula-se em cerca de vinte, armados, segundo afirmam os que com eles
têm lutado, de metralhadoras de mão. As "Capturas", que é o nome dado
aqui às forças volantes, já tem estabelecido contato com os
"baianinhos", resultando choques como o da fazenda "Boa Sorte", em
Nhecolândia, no qual a polícia teve de recuar diante da superioridade em
armas do "baianinhos", dotados, ao que se diz, das já mencionadas
metralhadoras de mão que todos conhecem através do cinema.
Entre
as fazendas já assaltadas pelos "baianinhos" figuram as seguinte: "Rio
Negro" de dona Tomasia Rondon, "Tupanceretan" do dr. Antonio Rondon,
"São Sebastião" do sr. Aniceto Rondon, "Boa Sorte" de José Maria,
"Divino", de Estêvão da Silva, "Pouso Alto" de Paulino de Barros, "Baia
do Braz de João Wenceslau de Barros, "Baia das Pedras" de José Coelho
Lima, "Boa Vista" de Antonio Saboia, "Figueiral" da Sociedade Barros
& Fragelli, "Aldeia" de José Nina Rodrigues, todas em
Nhecolândia. Na fazenda "Itiquira", município de Coxim, os Batista,
depois de incendiar a propriedade raptaram o proprietário.
Tratando-se
de região onde o gado é abundante e está alcançando preço até hoje
desconhecido por ali - já se paga 380 cruzeiros por boi de corte, nessa
zona - é fácil avaliar os prejuizos que a ação dos cangaceiros vem
causando. O governo estadual, reconhecendo a importância do problema,
com a colaboração do governo de Goiás, vem dando combate aos
"baianinhos", sendo dificultada a sua ação, porém, pela extensão das
terras e a escassez de comunicações, que facilitam as sortidas e manhas
dos cangaceiros, que já tem chegado até o norte do Paraná.
FONTE: Diário da Noite (RJ) 15 de dezembro de 1943.