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sexta-feira, 4 de março de 2011

28 de julho

28 de julho




1910 - Relatório otimista sobre Corumbá 



Corumbá na década de 10 do século XX 



O intendente geral do município de Corumbá, João Batista de Oliveira Brandão Júnior, dirige à Câmara Municipal relatório muito promissor sobre as atividades econômicas da cidade:

A cidade aumenta de uma maneira extraordinária. A população cresce descomunalmente. As construções prediais se realizam por centenas. O comércio expande-se e multiplica-se vertiginosamente. As pequenas indústrias merecem já menção especial e tendem a acompanhar a marcha célere do desenvolvimento dos demais ramos da atividade. Em consequência disso a fortuna particular vai também crescendo numa correspondente proporção. Ao lado de proletários, trabalhadores de todos os ofícios, entram igualmente letrados, homens de comércio, industrialistas e muitos portadores de capitais.


Tudo isso é espontâneo, provêm da nossa boa situação geográfica, resulta do fato de que Corumbá é e será em todos os tempos o entreposto comercial mais importante de todo o Estado.



Quatro anos depois, Corumbá iniciaria longo período de declínio econômico com a chegada da estrada de ferro, que desativaria gradualmente as atividades portuárias, transferindo para Campo Grande as principais atividades empresariais do Sul do Estado.



FONTE: Lúcia Salsa Correa, Corumbá, um núcleo comercial na fronteira de Mato Grosso 1870-1920, edição da autora, Corumbá,1981, página 105.

FOTO: Album Grafico de Mato Grosso, 1914.






28 de julho


1932 - Guerra civil: publicado decreto criando Tesouro do Estado


Decreto do governo revolucionário de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, cria o tesouro do Estado e adota outras medidas fiscais:

Decreto n° 3. O Dr. Vespasiano Barbosa Martins, governador do Estado de Mato Grosso decreta:


Art. 1o. - Fica criada nesta cidade, sede provisória do Governo, uma secção do Tesouro do Estado para atender aos serviços da Fazenda, até a normalização da administração pública.


Art. 2o. - A secção do Tesouro funcionará no edifício da Municipalidade tendo um inspetor, que será o tesoureiro do município; um secretário; um tesoureiro e anuenses preciso, tirados entre o funcionalismo municipal.


Art. 3o. A escrituração será feita em livros especiais, forma do Regulamento e demais leis em vigor.


Art. 4o. - A secção do Tesouro fica subordinada às coletorias, mesas de renda de Corumbá e delegacia do Norte.


Art. 5o. - Ficam suspensos os pagamentos no Tesouro em Cuiabá, conforme a ordem de 13 do corrente mês de julho e nas coletorias, mesa de renda e delegacia do Norte, tudo subordinado a esta secção. 


Art. 6o. - A gratificação dos funcionários será fixada no Regulamento complementar deste decreto.


Art. 7o. - Revogam-se as disposições em contrário. Sede provisória do Governo do Estado, em Campo Grande, 26 de julho de 1932. (aa) Dr. Vespasiano, governador do Estado, Arlindo de Andrade Gomes, secretário geral interino.” 




FONTE: Jovam Vilela da Silva, A divisão do Estado de Mato Grosso,uma visão histórica, Editora UEMT, Cuiabá, 1996, página 147.


28 de julho

1941 - Corumbá recebe o presidente Getúlio Vargas


"Corumbá, 28 (A.N.) - o 'Looked 05', pilotado pelo capitão Nero Moura, conduzindo o presidente Getúlio Vargas, acaba de descer nesta cidade. São precisamente 18.20 horas. O chefe do Governo foi recebido pelo interventor Júlio Müller, general Pinto Guedes e outras altas autoridades civis e militares. Estão sendo prestadas a S. Excia. calorosas homenagens". Assim o Jornal do Brasil (RJ) registra o desembarque do presidente na cidade branca, na sequencia de ampla reportagem da visita histórica de um primeiro chefe da nação ao município, iniciada com o clima reinante antes da chegada do presidente:

Corumbá preparou-se ativamente para receber o sr. Getúlio Vargas, o primeiro presidente da República que a visista. As ruas estão engalanadas com bandeiras e flâmulas brasileiras e bolivianas; preparou-se uma iluminação caprichosa e esta profusão de preparativos dá à longínqua cidade de Mato Grosso um aspecto festivo, próprio de uma solenidade dessa natureza. Os hoteis estão repletos, as residências particulares cheias de visitantes ilustres, os automóveis todos todos ocupados para os dias de permanência de S. Ex. Nota-se assim um movimento desusado sendo uníssonos os comentários em torno da personalidade do presidente, que realiza a marcha para o Oeste, entre inexcedíveis manifestações de estima e apreço para o grande dirigente do Brasil. Acham-se em Corumbá o ministro Aristides Guilhem, o interventor Júlio Müller, ministro Davi Alvestegni, da Bolívia, convidado especial do governo do Brasil; general Mário Pinto Guedes, comandante da 9a. Região Militar; introdutor diplomático Lauro Müller Filho, além de numerosos prefeitos dos municípios do Estado, autoridades federais, estaduais e municipais.

Ressalta dos comentários o grande empreendimento da Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, construída pela Comissão Mixta Ferroviária que impulsionará o progresso do país vizinho paralelamente ao de uma rica região brasileira
.

Mais adiante o jornal carioca passa a ocupar-se da presença do presidente em solo pantaneiro:

Esta cidade recebeu entre as mais calorosas manifestações de apreço e simpatia o presidente Getúlio Vargas. Depois de ser saudado no aeroporto pelo interventor Júlio Müller, o chefe do governo dirigiu-se para o Palácio do Estado, sendo durante todo o percurso, ovacionado pela massa popular. Da sacada do palácio, S.Ex. assistiu o desfile escolar para, em seguida, no salão nobre, receber os cumprimentos das altas autoridades federais, estaduais e municipais.

De todos os pontos de Mato Grosso têm chegado ao sr. Getúlio Vargas numerosas mensagens de saudação e boas vindas, numa significativa exaltação à marcha para o Oeste. 

Uma das principais agendas da visita de Getúlio a Corumbá foi o encontro protocolar do presidente brasileiro com o ministro das relações exteriores da Bolívia, Alberto Ostria Gutierrez, em Arroyo Concepcion, território boliviano na "Ponta dos Trilhos", da ferrovia Brasil - Bolívia, a 70 quilômetros de Corumbá.

O prefeito da cidade, Otávio da Costa Marques, ouvido pela Agência Nacional, resumiu a importância da visita presidencial:

Corumbá vive instantes inesquecíveis e de grande vibração patriótica. Engalana-se para receber com verdadeiro entusiasmo cívico o eminente presidente da República, visita que representa acontecimento de alta significação, sem dúvida o mais eloquente de toda sua vida republicana.

Pela primeira vez, Mato Grosso tem a honra de homenagear, em pessoa, o chefe da nação. Esta oportunidade é a afirmação vitoriosa da "Marcha para o Oeste, que vem integrar o sertão esquecido e abandonado, ao Brasil Novo, palpitante de fé e de esperança nos destinos da nacionalidade. É grande a minha satisfação em encontrar-me, neste momento auspicioso, na superintendência dos negócios municipais de Corumbá, para, assim, ter a honra de juntar o meu decidido apoio, a minha colaboração e justa homenagem na recepção ao Chefe da Nação. É propósito do meu prezado amigo, sr. Júlio Müller dar à visita presidencial a melhor demonstração de carinho e de reconhecimento ao eminente presidente, por tudo que já tem feito em prol do nosso Estado e, assim, estou certo, Corumbá terá ocasião de manifestar que não discrepa uma linha desse sadio objetivo o qual, aliás, é o mesmo que anima todo o Estado nesse memorável momento de sua vida.

O presidente estendeu sua viagem até Assunção, no Paraguai, e Campo Grande, encerrando o longo percurso em Cuiabá, de onde retornou ao Rio de Janeiro, no dia 8 de agosto seguinte.


FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 29 de julho de 1941.

FOTO: postagem de João Gualberto Cabral em Facebook/Memórias de Corumbá




segunda-feira, 7 de março de 2011

23 de agosto

23 de agosto


1925 Rebeldes descem o rio Paraná



Após o sangrento combate de Três Lagoas entre rebeldes e tropas legalistas, reúnem-se em Epitácio “os chefes revolucionários, inclusive o recém-chegado caudilho, já idoso, João Francisco Pereira de Souza, vindo do Rio Grande do Sul, e decidem descer o rio Paraná. Surgiu um pequeno impasse entre o comandante legalista Izidoro Dias Lopes (foto) e o caudilho gaúcho, porque ambos foram inimigos figadais um do outro, no correr da guerra civil de 1893-95, estado sulino: um ‘pica-pau’, João Francisco; outro ‘maragato’, Izidoro. Naquela revolução muitas cabeças rolaram pela degola de um lado e de outro, fazendo-os lembrarem-se daqueles trágicos e negros momentos de nossa história. Afinal, entenderam-se.

A 23 de agosto, João Francisco desce o rio Paraná comandando cerca de 500 homens, incluídos Juarez e os remanescentes do combate de Três Lagoas. Um vapor rebocava duas chatas levando cavalos e seus ginetes. Por terra, margeando o rio, com muita dificuldade, uma partida de cavalaria marchava para vencer eventuais legalistas encontrados".


Este pequeno grupo seria um dos embriões da coluna Prestes.







FONTE: Acyr Vaz Guimarães, Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica, Editora UCDB, Campo Grande, 1999, página 263. (Imagem: marxists.org http://bit.ly/etFgXl)






23 de agosto


1933 Inaugurado relógio da 14 com a Afonso Pena








É inaugurado na travessa da rua 14 de Julho com a avenida Afonso Pena, o relógio central de Campo Grande.

Foi por quase quarenta anos o principal ponto de referência da cidade. Para Paulo Coelho Machado tratava-se de “um belo monumento de uns cinco metros de altura em alvenaria e o relógio tinha quatro faces (ou mostradores). As badaladas eram ouvidas em toda a vizinhança. A construção foi contemporânea a do obelisco, durante a administração Ytrio Correa da Costa. Dois marcos que despertavam o orgulho dos campograndenses.

A iniciativa foi do comandante da Circunscrição Militar, coronel Newton Cavalcante, um militar extremanente interessado na nossa cidade, enérgico, de imaginação e realizador.” 


O relógio foi demolido na segunda gestão do prefeito Antônio Mendes Canale (1970/1973). O prefeito André Puccinelli levantou uma réplica do mesmo na avenida Afonso Pena, entre a Calógeras e a 14 de julho.




FONTE: Paulo Coelho Machado, A rua principal, Tribunal de Justiça, Campo Grande, 1991, página 23.



23 de agosto


1955 - Corumbá: entra no Brasil o primeiro trem petroleiro da Bolívia


A primeira composição com tanques de combustível da Bolívia entra em Corumbá, marcando o início do transporte do produto no Brasil, como resultado de convênio entre os dois países, firmado no dia 13 de junho desse ano. A notícia foi dada em telegrama do general Augusto Magessi, comandante da 2a. Brigada Mista, sediada em Corumbá, ao ministro da Guerra, e ganhou espaço em toda a grande imprensa nacional:

"O MINISTRO da Guerra acaba de receber telegrama do general Augusto Magessi, comandante da 2a. Brigada Mista, sediada em Corumbá, comunicando-lhe haver chegado àquela cidade o primeiro trem com 12 vagões-tanques transportando 200.000 litros de gasolina, oriundos de Santa Cruz de la Sierra, e querosene, de acordo com o Convênio assinado em 13 de junho último, no Rio de Janeiro. Uma partedestes combustíveis será remetida para Campo Grande. A notícia em apreço é auspiciosa. Depois de longa espera, o povo de Mato Grosso recebe agora o primeiro carregamento do combustível, dando-se início à nova era no intercâmbio comercial entre Brasil e Bolívia. A Estrada de Ferro Corumbá - Santa Cruz de La Sierra, construída peloo Brasil, de acordo com os protocolos firmados entre os chanceleres dos dois países, tem a finalidade precípua de carrear para o Brasil o combustível boliviano e de levar para o altiplano andino os produtos de nossa economia".

FONTE: Diário de Notícias, Rio, 23 de agosto de 1.55.




terça-feira, 1 de março de 2011

5 de julho

5 de julho

1846 - Leverger registra fenômeno espacial não identificado

Um dos mais antigos relatos de OVNIs publicados no Brasil deve-se a Leverger. Em 5 de julho de 1846, A bordo da barca-canhoneira Dezoito de Julho, que seguia para o Paraguaiacompanhada da embarcação Vinte e Três de Fevereiro, Augusto Leverger observou um fenômeno incomum nos céus, sobre o qual escreveu o seguinte relatório: :

 Observei esta noite um fenômeno como nunca antes vira. Às 5h57min, estando o céu perfeitamente limpo, calma, termômetro 60º F [o equivalente a 15º C], um globo luminoso com instantânea rapidez descreveu uma curva de como 30º, ao rumo de NNO. A direção fazia com o horizonte ângulos de, aproximadamente, 75º e 105º o agudo aberto pelo lado oeste. Deixou subsistir uma faixa de luz de 5 ou 6° de comprimento e 30 a 35° de largura, na qual distinguiam-se três corpos cujo brilho era muito mais vivo que o da faixa, e igualava, se não excedia, em intensidade, o da lua cheia em tempo claro. Estavam superpostos e separados uns dos outros. O do meio tinha a aparência quase circular; o inferior parecia um segmento de círculo de 120º com os raios extremos quebrados; a forma que apresentava o de cima era de um quadrilátero irregular; a maior dimensão dos discos seria de 20 a 25°. Enfim acima deles via-se uma lista de luz muito fraca em forma de zigue-zague de como 3° de largura e 5° ou 6° de comprimento. A altura angular da faixa grande sobre o horizonte parecia de 8° (receoso de perder alguma circunstância do fenômeno não recorri ao instrumento para medir essas dimensões). Foi tudo abaixando com não maior velocidade aparente do que os astros no seu ocaso, porém os globos luminosos mudaram de aspecto tomando a forma elíptica de cada vez mais achatada, e embaciando até parecerem pequenas nuvens. A faixa grande inclinou-se para N até ficar quase horizontal, mas o zigue-zague sempre conservou a mesma direção. Depois de 25’ tudo desapareceu, e não houve o mais leve sinal de perturbação na atmosfera. Na cidade de Assunção, conversei com o ministro do Brasil e diversas outras pessoas que testemunharam esta, para nós todos, singular aparição. Uma circunstância que me pareceu muito digna de notar-se, é a direção em que o dito Ministro observara o fenômeno; não houve engano, pois referia a observação a um muro cujo azimute era fácil verificar, e esta direção era proximamente de ONO, fazendo por tanto um angulo de 45° com a de NNO, que eu notara. Submeti ao cálculo trigonométrico esta enorme paralaxe combinada com as posições geográficas de Assunção e do lugar onde eu observei, e achei que o fenômeno devera verificar-se na região atmosférica e tão somente a 59 léguas de distância de Assunção.
 

FONTE: Gazeta Official do Império do Brasil. 26 de dezembro de 1843.


5 de julho

1867 – Varíola de Corumbá chega a Cuiabá




Levada pelos retirantes de Corumbá, aporta em Cuiabá avassaladora epidemia de varíola, conforme relata Virgílio Correa Filho:


Se, considerando apenas o desfecho militar, a expedição a Corumbá assinalou-se pelo aniquilamento da guarnição inimiga e derrota de maior contingente no combate de Alegre, o reverso lhe derivou da epidemia, que grassava na localidade e malogrou a vitória como se fora vingativa arma de ação retardada.


Quando a tropa iniciou a retirada, depois de alcançar o objetivo imediato, que lhe inspirava a investida, já se havia contaminado irremediavelmente.
Ainda se achava em Corumbá o primeiro Batalhão Provisório, quando se registraram casos fatais. Durante a morosa viagem, a convivência de bordo multiplicaria os contágios. Em Cuiabá, o soldado Joaquim de Assunção Batista iniciou a 5 de julho, a série de variliosos, cujo número montou, nesse dia, a seis. Em 17 dias contavam-se por 72 os mortos pela pestilência, que se limitava ainda ao acampamento. A 23 porém sucumbiu Januário, o primeiro bixiguento entre a população civil, logo seguido por dezenas de vítimas, 16 no dia 26 de julho, 19 no dia 27 e mantendo-se em cifras elevadas, com o mínimo de 11 no dia 29, até o fim do mês, num global de 183 para o período de 5 a 31 de julho. (...) Somente em outubro começou a declinar a mortandade, que exigiu a abertura de cemitério especial, de Nossa Senhora do Carmo, ou Cai-Cai. Não se apurou ao certo o número total, pois que o próprio registro oficial se embaralhou, após o falecimento a 7 de setembro, do cônego Jacinto, Vigário Geral, que zelosamente cuidava dos assentamentos, até que a doença o prostasse. Pelos registros pereceram 183 pessoas em julho e 484 em agosto. No mês seguinte as falhas não permitem estimativa satisfatória, embora figurem 293. Houve ocasião porém, a 7, de 52 enterramentos.¹

Testemunho ocular da tragédia, cuja família fora vitimada, Joaquim Ferreira Moutinho, descreve a epidemia com toda emoção e revolta do calor da hora:

A cidade tomou um aspecto indiscriptivel : de todas as casas via-se sahirem cadaveres, que erão condusidos em rêdes para os campos, e de muitas fecharão-se as portas, porque os seus habitantes haviam perecido, desde o chefe da familia até o ultimo escravo! Fundou-se um lazaretto no lugar denominado Coxipó, para onde eram condusidas as praças do exercito atacadas de bexigas; mas, faltando commodidade ultimamente para novos enfermos, deu-se alta a grande numero d'elles ainda no periodo da dissecação. Foi um mal sobre tantos outros. 

Em tres dias (estavamos então a 15 de Agosto) a peste tocou o extremo: cahirão, victimas d'ella, familias inteiras-velhos, crianças, moços, escravos... A cidade era toda presa do horrivel flagello ! Em nossa casa, em dous dias, tivemos vinte doentes, contando nossa familia vinte e duas pessoas! Mesmo assim não fomos dos mais infelizes; eramos duas a tratar das outras, embora sem o auxilio dos medicos que desampararão os enfermos para que podessem velar sobre suas familias. Eramos forçados a fazer toda a sorte de serviços, e tanto o rico como o pobre gemião sob o peso da extrema miseria; porque tanto não havia assucar por preço algum, nem vélas, nem galinhas e nem ao menos a lenha indispensavel para coser-se os medicamento e acudir-se ás necessidades urgentes como o caldo para os doentes. Mesmo a agua faltou, pois não se encontrava quem fosse buscal-a eis fontes. 

Não havião mais lençóes, toalhas, pano branco qualquer, e só cobertor que rasgava-se em tiras podia-se cobrir os leito. No meio da desgraça geral tivemos tambem a nossa vez de pagar um tributo ao flagello, e esse tributo foi bem pesado e cruel! Esposa e filhos ao mesmo tempo gemendo num leito de dores, sem que podessemos levar-lhes um lenitivo qualquer, porque nem a medicina ministrava mais os seus soccorros-foi o quando que offerecemos nossa casa por espaço de muitos dias, nos quaes, conscio da nossa impotencia para arredar o mal, só tínhamos conforto nas lagrimas, embora fossem ellas sangue vertido do coração! 

A vitalidade do corpo como que se enfraquece com o acabrunhamento do espirito, e então o homem se reveste da coragem que nasce do proprio desespero, e só na dôr encontra lenitivo á propria dôr ! Em poucos dias perdemos um cunhado, duas escravas, duas aggregadas, e finalmente um filho, na tenra idade de quatro mezes, e, o que é ainda mais doloroso, talvez fosse a fome a causa principal da sua morte! Aqeueles que no correr da vida não passarão ainda por trance semelhante, não podem avaliar a profundeza da ferida que nos deixa n'alma o passamento de um ente tão caro! Continuaremos a nossa narração. 

O anjo da morte continuava-incançavel-a sua obra de destruição. A policia mandou arrombar as portas de muitas casas para proceder-se ao enterramento de familias inteiras que erão encontradas já em estado de putrefacção. O numero dos mortos, crescendo extraordinariamente, montou a mais de duzentos por dia. A atmosphera da cidade estava viciada de um fetido nauseabundo que a viração do campo não conseguia dissipar, porque vinha tambem carregada de miasmas que exhalavão de centenares de corpos que lá se achavão espalhados. 

De 1.505 casas que existem na capital, não sóbe a 40 o numero das que não tiverão doentes. O chefe de policia já n'este tempo havia dado ordens para que sepultassem os corpos no celebre carrascal do Caecae, onde se reprodusião as scenas de horror começadas na cidade. Não havendo pessoal sufficiente para abrir vallas que podessem conter centenares de cadaveres, sobrepunhão uns aos outros e lançavão-lhes fogo que os não queimava, mas assava, para depois servirem de pasto aos corvos, aos porcos e aos cães, que cevavão-se n'esse estranho banquete de carne humana. 

As ruas estavão desertas, e n'ellas só se encontrava defuntos e cães que arrastavão fragmentos de corpos, ou membros inteiros arrancados violentamente. Causou tão grande horror á população esse espectaculo repulsivo, que preferia ela d'ahi em diante enterrar dentro de casa ou nos quin- taes os restos das pessoas que lhe erão caras. Não ha pena que possa descrever tão siugular quão horrenda situação! 

Creanças abandonadas-vagavão pelas ruas pedindo misericordia, porque seus paes, irmãos ou parentes havião morrido, e não lhes restava quem lhes mitigasse a fome e os padecimentos produsidos pela enfermidade que soffrião. Moças-mendigavão ao desamparo um abrigo á sua honra. Velhos-esmolavão quem lhes enterrasse os filhos, para que os mesmos não virassem pasto aos vermes dentro de suas proprias casas. Quão grande foi o crime daquelle povo! 

Em 34 a carnificina dos portuguezes, e precisamente 34 annos depois a peste ceifadora e cruel!... Estranha coincidencia ! Seria um castigo que o Senhor enviou para reparação dos crimes praticados contra irmãos? Talvez. O que é certo é que de uma população de 12.000 almas mais de metade succumbio, e parte levantou-se disforme. Cremos mesmo que succumbiria toda ella senão se achasse na capital o 2º batalhão de artilharia a pé, composto de soldados vaccinados, filhos de diferentes provincias onde a variola é conhecida, assim como o seu tratamento pratico. 

Foi este punhado de homens que praticaram os unicos serviços que por ali houverão dignos de encomios. E pelo que conta-se a respeito desses factos (infelizmente exactos) que fazem desmerecer muito o brilho d'esses serviços; que, apezar das tropelias e actos da mais requintada perversidade praticados por alguns, bradão bem alto os soccorros que prestarão, embora o interesse imediato que exigião de prompto fosse o motor que os compelisse á "caridade". Sem o auxilio desses homens, que não querião tratar de enfermos visitados por medicos, muitos morrerião ao abandono e na miseria. 

Outro serviço por elles prestado foi a conducção dos cadaveres para o Caecae. Que importa que, movidos pela mais insoffrega ambição, atirassem os corpos ao primeiro mato que encontravão, afim de poderem com brevidade receber outros, e cobrassem por esse trabalho 30, 40, 50, até 100$000, conforme a condição de cada um? O povo cuyabano, esquecendo a falta d'esses homens, deve ser-lhe extremamente grato, porque sem eles- os corpos conservados no interior da cidade infeccionarião ainda mais a atmosphera, e maior seria o numero das victimas. 

Os empregados publicos, atacados em geral pela peste, deixarão de ir ás repartições, e só o inspector da thesouraria ali comparecia por ser vaccinado. o governo creou um lazaretto no lugar denominado- May Bonifacia,- e depois o removeu para o centro da cidade, sem que possamos saber qual o motivo do seu proceder. Perece essa medida uma verdadeira aberração dos dictames da rasão. O comandando das armas, nos dia maís luctuosos, instalou peça de artilharia em diversas ruas da cidade, e dar fogo de manhã e de tarde. Ignoramos lambem o fim d'essa medida. Pretenderia afugentar a epidemia com tiros de canhão? 

Esse pretendido recurso hygienico foi a causa de tornar-se mais grave o estado  de muitos enfermos; pois ao primeiro estàmpido levantavão-se em delírio e procuravão fugir, julgàndo que erão os paraguayos que se achavão na cidade. 
Todas as casas sendo fócos de podridões, o cheiro da polvora era impotente para desinfectal-as. O mal estava feito e era já tarde para atalhal-o, o que ao principio seria facil se houvessem as autoridades sido mais previdentes. 

Para prova temos mesmo na provincia um exemplo. O então commandante de Villa Maria, tenente coronel Luiz Benedicto Pereira Leite, logo que soube do desenvolvimento da peste, colocou cordões sanitarios em todos os pontos da Villa, prohibindo expressamente, o ingresso de qualquer pessoa; e no momento em que sabia existir um bexiguento dentro ela mesma villa, mandava sem demora retiral-o para algum lugar mais ou menos remoto, onde recebia o competente tratamento. Foi assim que Villa Maria e a cidade de Matto-Grosso nada soffrerão, quando a capital, o Diamantino, Poconé e outras povoações forão completamente devastadas. 

A policia só teve em vista livrar da peste as futuras gerações, prohibindo o enterramento dos mortos no cemiterio, e ordenando que só fosse feito no campo e no Caecae, monumento eterno de sua incapacidade para o lugar que exercia. Hoje está esse lugar murado e ornado de uma capellillha sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo; mas rarissimas são as pessoas que sabem em que parte desse cemiterio descanção os restos mortaes de suas familias. Ahi procuramos a sepultura de nosso innocente filho, e não foi-nos possivel encontral-a. Seria elle enterrado? Pesa-nos até hoje não ter satisfeito o desejo que tivemos ele ir pessoalmente sepultal-o; e, a não ser pedir a um um amigo, teriamos praticado este doloroso acto. Encerramol-o, porém, em um caixão de taboas grossas; que pregamos, depois de cobrir o cadaver' com cal, e assim o entregamos ao guarda do cemiterio. Consta-nos que o sr. dr. chefe de policia lhe recomendára o nosso anjinho, e mandára colocar uma Cruz sobre a sepultura. De coração agradecemos a esse senhor, que como nós comprehende a dor que causa a perda de um filho, embora duvidemos que suas ordens fossem cumpridas. 

Voltemos ao Caecae, scenario de horrores que desejamos deixar; mas o dever que nos impozemos de narrar os factos taes quaes como se derão nos obriga ainda a algumas palavras. Os corpos, como dissemos, erão condusidos em rêdes, as quaes, unidas ás roupas que os envolvião, servião de combustivel ás fogueiras levantadas no carrascal, ou erão levados em caixões apenas chanfrados e forrados de panninho preto, orlados de cadarço branco estreito, que erão vendidos, ou antes emprestados, pelo preço de 70 a 80$OOO, e até 100$OOO se erão ornados de espiguilha amarela. Dissemos- emprestadas-porque, depois de lançado o defunto na valla ou na pyra, servião novamente para conducção de outros. O fornecedor d'esses caixões fez-se rico com a especulação, e seguia para a Europa, onde foi gosar a fortuna tão funebremente ganha. 

Os restos mortaes do velho como da moça, do innocente ou da virgem, ao chegarem ao lugar onde tinhão de ser devorados pelas chammas ou pelos vermes-recebião ainda os mais grosseiros e brutaes improperios das boccas da canalha infernal encarregada de dar-lhes um destino, o que só fazião dopois de insultaI-os da maneira a mais atroz! As immediaçães d'esse lugar, onde tantas cruezas se praticavão, sentia-se um fetido tão repellente, que diflicultosamente se podia aproximar; por isso as pessoas que ali se achavão erão obrigadas a fazer uso continuo da cachaça, o que contribuia muito para a pratica d'esses actos impiedosos de que vimos de falar. 

Se realisou-se a terrivel prophecia do sr. dr. Generoso Alves Ribeiro, que o digão o Caecae, e o tumulo que vamos regar com as nossas lagrimas. Nem ao menos esta falhou quanto á morte do sr. dr. Neves, que, não podendo suportar a dor da perda de quasi toda a sua familia, succumhio com o seu pezar. 

Altos juizos de Deus!

Alveja á entrada do cemiterio um tumulo sobre o qual se ergue uma Cruz que ahi mandamos collocar. N'elle jazem, encerrados em uma carneira de cedro, os restos mortaes de uma senhora, esposa de um nosso amigo. Mãe extremosa, esposa exemplar e virtuosa, nunca em seu coração se aninhou um sentimento que não fosse a expressão da bondade. Seus labios tinhão sempre uma palavra de animação e consolo aos infelizes que a ella recorrião, e por isso foi a sua morte por todos sentida e chorada. 

Foi um anjo, não devia viver na terra, vôou ao seio do infinito!


FONTE: ¹Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso, Fundação Júlio Campos, Varzea Grande, 1994, página 550. ²Joaquim ferreira Moutinho, Notícia sobre a província de Mato Grosso, Typographia de Henrique Schroeder, S. Paulo, 1869, página 100.

FOTO: A cidade de Cuiabá, extraída do livro de Joaquim Ferreira Moutinho.




5 de julho

1922 - Campo Grande adere à revolução de 1922






A Circunscrição Militar de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, adere ao movimento revolucionário, iniciado nessa data com o episódio no Rio de Janeiro, que ficou conhecido como “18 do Forte”. Solidário com os rebeldes cariocas, o comandante da região militar, general Clodoaldo da Fonseca, publica o seguinte manifesto:

"Matogrossenses, a situação política angustiosa e aflitiva que há muito vem atravessando a nossa querida pátria, chegou ao termo já previsto: a reação armada na capital federal. Diz-nos a consciência que, com reiterados apelos que fizemos no sentido de se conseguir uma fórmula honrosa e digna, afim de, sem grandes abalos, reivindicar à República os verdadeiros princípios, cumprimos os nossos deveres, firmes nessa resolução que visa, principalmente, evitar a anarquia em nossa pátria. Resolvemos deixar o nosso Estado, ao qual desejo de todo o coração, continue em paz e franca prosperidade, para marcharmos ao encontro dos nossos concidadãos que se batem pelo regime republicano. Tendo assim cumprido o nosso dever, esperamos que vós cumprireis o seu".¹

Ato contínuo, o general "sublevou a 9a. Circunscrição Militar, acompanhado pelos regimentos da fronteira, inclusive o 11° RCI de Ponta Porã, que fez convocação de reservistas. As tropas da Circunscrição foram todas concentradas em Campo Grande, marchando para Três Lagoas e chegaram até à barranca do rio Paraná, com o objetivo de atravessar o rio, e seguir por São Paulo até à Capital Federal. Depararam, porém, com tropas legais, que já estavam estacionadas no outro lado, guarnecendo a passagem pelo porto Jupiá.

"Veio então um grupo de oficiais a fim de parlamentarem com o general Clodoaldo, informando-lhe do fracasso da revolta no país e a conveniência da rendição de suas forças. Mostraram-lhe jornais do Estado de São Paulo e do Rio, os quais noticiavam tudo, detalhadamente.

Convencido de que o movimento havia fracassado desde o início, o general Clodoaldo da Fonseca deu a revolta em Mato Grosso por terminada, assumindo a responsabilidade por tudo, e entregou-se, seguindo com os oficiais, a fim de se apresentar no Rio de Janeiro".²


FONTE: ¹Correio da Manhã (RJ), 13 de junho de 1922. ²Pedro Ângelo da Rosa, Resenha Histórica de Mato Grosso (Fronteira com o Paraguai), Livraria Ruy Barbosa, Campo Grande, 1963, página 70.











sexta-feira, 4 de março de 2011

29 de julho

29 de julho


1866Paraguaios comunicam deportação de brasileiros de Corumbá


Charge do presidente paraguaio Francisco Solano Lopes, publicada durante a guerra



Ocupada ao final de 1864 por tropas paraguaias, no início da guerra da tríplice aliança, nessa data, o comando militar dos invasores, decide deportar para Assunção todos os homens da vila. O imigrante italiano Manoel Cavassa, sujeito desta história, ocorrida em Corumbá, faz o seu relato:

A 29 de julho de 1866, ao meio dia, chegou de Assunção um vapor paraguaio e as 2 horas da tarde o general mandou reunir no quartel-general todos os homens aqui existentes, sem distinção de nacionalidades, e disse-lhes que tinha recebido ordem do seu Supremo Governo para fazê-los seguir, os homens, todos sem exceção, para Assunção e que deviam todos estarem prontos para o dia da saída do vapor, sob pena de ser passado pelas armas aquele que então não estivesse pronto ou que opusesse obstáculo ao embarque.


Permaneciam todos calados; eu, porém, que não queria deixar aqui minha família, disse ao general que sem ela eu não embarcaria e seria o primeiro a ser passado pelas armas. Respondeu ele que minha família iria comigo se o vapor houvesse espaço. Retiramo-nos dali, cada qual o mais temeroso e preocupado pela sorte de sua família, pois que era manifesto empenho dos bárbaros, que ficassem aqui as famílias sós a mercê dos seus brutais caprichos. O meu vizinho Nicola Canale, que, além da sua família tinha a seu cargo a de seu cunhado, ausente, veio à minha casa chorando, desesperado ante a idéia de abandonar essas famílias às brutalidades daqueles homens. Repeti-lhe o que havia dito ao general: que sem minha família não embarcaria, lembrou-se então ele que tinha uma chata, na qual podiam ir nossas famílias, se eu conseguisse com o general que ela fosse a reboque do vapor. Concordei com ele e quando nos dirigíamos à residência do general, encontramo-nos com o commte., que, inteirado do que íamos fazer, disse-nos que não procurássemos naquela ocasião ao General, que estava ocupado, e que ele se encarregava de falar-lhe acerca da nossa pretensão. E de fato, no dia seguinte comunicou-me ele pessoalmente que o general, mesmo contra sua vontade, nos permitia levarmos nossas famílias na chata a reboque. Tratamos de preparar-nos, aprontamos a chata com a maior abundância de provisões de víveres, roupas, etc., levando para minhas despesas em Assunção, o dinheiro que então tinha em moeda papel brasileiro, na importância de cento e tantos contos.


A deportação ocorreu no dia 1° de agosto de 1866.



FONTE: Valmir Batista Correa e Lúcia Salsa Correa, Memorandum de Manuel Cavassa, Editora UFMS, Campo Grande, 1997, página 32.


29 de julho

1959 - Assassinado vereador que denunciou contrabandistas



É assassinado em Corumbá o vereador Edu Rocha (PSD). O principal suspeito como mandante do crime foi o chefe da alfândega da cidade, Carivaldo Salles, denunciado pelo edil como chefe de uma quadrilha de contrabandistas de automóveis. As denúncias veiculadas pela revista "O Cruzeiro", então o principal orgão da imprensa brasileira, ganharam repercussão nacional. O homicídio, segundo a revista carioca, ocorreu por volta das 21,30 h e foi descrito em detalhes:

Nessa noite havia sessão na Câmara de vereadores local. Edu Rocha era o líder da bancada pessedista e também o vereador mais votado do município. Já exercera as funções de presidente da câmara e era apontado como o mais forte candidato a prefeito da cidade. Nessa noite, Carivaldo Salles, que nunca antes comparecera à câmara, assistiu à sessão, desde o começo e quase até o fim. Estava extremamente nervoso. Fumava um cigarro após outro. Durante todo o tempo em que permaneceu no recinto pelas janelas da câmara podia-se ver, furtivamente, a cabeça de elementos notoriamente apontados como pertencentes à "gang" de contabandistas. Esses capangas olhavam para dentro do recinto, de soslaio, pelos cantos das janelas, um de cada vez, como se revezando na tarefa de dar cobertura ao "chefe" em caso de algum imprevisto. Quando Edu Rocha terminou seu discurso sobre assunto rotineiro da vida da cidade (nome a ser dado a uma praça pública), Carivaldo saiu e foi sentar-se em seu automóvel vermelho e capota cinza. Tal qual uma fera traiçoeira, ali fora esperar sua vítima. As declarações de numerosas testemunhas permitem compor fielmente o cenário do crime: o "jeep" de Edu Rocha estava estacionado diante da residência da sra. Laura Provenzano, ao lado da Câmara de Vereadores. A uns 5 metros adiante do "jeep", de frente para este e inclusive na contramão), estava parado, sob uma árvore, o carro de Carivaldo. No volante do automóvel, vigiava o capanga do inspetor, de nome César Aral, vulgo "Papito", pistoleiro de má fama e temido pela sua periculosidade. Viera do Paraguai, e em Corumbá prestava serviços a Carivaldo como guarda-costas e como motorista. No assento traseiro do veículo, meio oculto na penumbra, Carivaldo, que abandonara o recinto da Câmara antes do término da sessão, esperava a hora do drama. Quando os vereadores sairam, no final dos trabalhos, muitos deles permaneceram na calçada, conversando em grupos. Edu Rocha e seu colega Arquibaldo Andrade foram os últimos a deixar a porta da Câmara. Palestraram sozinhos durante alguns instantes, e, por fim, a convite de Edu, resolveram tomar um cafezinho. Edu passou por trás do seu "jeep" para alcançar o lado esquerdo do veículo. Quando abriu a porta para sentar-se ao volante, ouviu-se a rajada fatal, entrecortada por um gemido fraco. Arquibaldo Andrade, que se aprestava para entrar no "jeep" pela porta direita, mal teve tempo de voltar a cabeça e ainda assim sentiu grãos de pólvora bateram em seu rosto como chuvisco. Nesse momento, o porteiro da Câmara, Feliciano Rodrigues, que fechava a porta do edifício, caia ao chão, contorcendo-se em dores e pedindo socorro. Arquibaldo Andrade pode ver o carro vermelho de Carivaldo arrancar em debalada carreira, desaparecendo no fim da praça. Ao correr para pedir socorro, Arquibaldo viu, saindo de "um ponto qualquer do jardim", o lugar-tenente de Carivaldo, o valentão Artigas Vilalva, de quem tanto falamos em nossas reportagens sobre o contrabando. (...) 


Ao tombar ao solo, Edu Rocha já não tinha mais vida. Não era para menos. A rajada de metralhadora foi disparada quase à queima roupa, a mais ou menos dois metros de distância, de vez que o carro do assassino passou rente ao jipe do vereador. A metralhadora empregada foi do tipo "piripipi", muito usada na Bolívia e Paraguai. O laudo do exame cadavérico, assinado  pelos cirurgiões que autopsiaram o corpo de Edu, atesta a brutalidade do crime. O vereador foi atravessado por 5 balas que penetraram: a) na boca, destruindo os incisivos superiores;b) na região frontal esquerda; c) na região frontal direita;d) na região external (peito) no seu terço médio; e) na região paraexternal esquerda, para dentro da linha mediana.


Levado a juri em 24 de outubro de 1963, Carinaldo foi absolvido por 5 a 2.


FONTE: Revista O Cruzeiro (RJ), 27 de agosto de 1959.






29 de julho


1962 - Morre Manol Secco Thomé




Faleceu no Rio de Janeiro, aos 75 anos, de problema renal, o empresário português Manoel Secco Thomé, que chegou a Campo Grande em 1913, dedicando-se ao ramo da construção civil. Várias obras marcaram e ainda marcam sua longa passagem por Campo Grande e Sul de Mato Grosso. Em Campo Grande, os quartéis do bairro Amambaí; as vilas do oficiais do Exército na rua Barão do Rio Branco, avenida Duque de Caxias e praça Newton Cavalcanti; o Educandário Getúlio Vargas; o Hospital São Julião; a Santa Casa de Misericórdia; os Correios e Telégrafos, da avenida Calógeras com a Dom Aquino; a Associação dos Criadores, na rua 13 de Maio; o relógio da 14 com a Afonso Pena, demolido na década de 70; o canal do córrego Maracaju; e o obelisco da avenida Afonso Pena.
Em Miranda, sua firma construiu o colégio dos padres, a igreja matriz e a ponte sobre o rio para abastecimento da cidade; em Bela Vista, os quartéis do Exército; em Terenos, Ribas do Rio Pardo e Três Barras, unidades escolares no governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo”. 



FONTE: Emilcy Thomé Gomes, Campo Grande 100 anos de construção, Enersul, Campo Grande, 1999, página 310.


29 de julho

1968 - Ditadura confina ex-presidente em Corumbá

                 
Janio Quadros no Hotel Santa Mônica, sua casa no exílio


O ministro da Justiça,  Gama e Silva, por ordem do presidente Costa e Silva, assina portaria impondo confinamento de 120 dias em Corumbá, ao ex-presidente Jãnio Quadros, acusado de práticas subversivas. Nos "considerandos" o documento apresenta como base da punição, o fato do ex-presidente vir se "manifestando sobre assunto de natureza política", qualificado como delito, nos termos da legislação em vigor. Revela que o ex-presidente, segundo investigação da Polícia Federal, "não só confirmou as entrevistas de natureza política, que concedeu à imprensa do país, assim como acrescentou que após ter sido seus direitos políticos suspensos, tem mantido constantes visitas e solicitações de natureza política, envolvendo ou interessando o declarante".

A decisão do governo acrescenta ainda como justificativa, que Janio Quadros "revela o indisfarçável propósito de promover movimentos da opinião, contrariando os princípios da Revolução de 31 de Março, podendo por em risco a propria ordem política e social, cuja preservação deve ser mantida pela autoridade pública, impondo-se, portanto, no interesse geral, a aplicação conveniente e adequada medida de segurança, sem prejuízo da ação penal correspondente à infração cometida".¹ 

FONTE: Diário de Notícias - RJ - 30 de julho de 1968.  

FOTO: Jornal do Brasil, 9Rio).








terça-feira, 1 de março de 2011

8 de julho

8 de julho


1865Comenda para os heróis da resistência


É criada pelo governo da província de Mato Grosso, a medalha militar do Forte de Coimbra, “a fim de galardoar os oficiais, praças e paisanos que tomaram parte na defesa daquele ponto, em dezembro de 1864,” por ocasião da invasão do exército paraguaio ao território brasileiro. 


FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2a. edição, Governo do Estado, 1973, página 20.



8 de julho



1867 - Taunay se despede do território sulmatogrossense


Margens do rio Paranaíba (desenho a crayon de Taunay)

Egresso da célebre retirada da Laguna, depois de viajar vinte e cinco dias entre Porto Canuto, no rio Aquidauana e Paranaíba, a pequena comitiva do tenente Taunay despede-se do Estado de Mato Grosso. O registro está em seu diário de viagem:

Às 3 horas da madrugada estávamos de pé, acordado pelo sino da matriz, que anunciava a missa encomendada de véspera por nós ao vigário, e envolvidos em ponche à luz da lua,que então brilhava serena, para lá nos dirigimos acompanhados de nossos camaradas.

Eram os primeiros expedicionários ao norte do Paraguai que diante do altar de Deus agradeciam a Ele a quase milagrosa salvação, e podemos asseverar que todos nós seguimos o santo sacrifício da missa com a emoção com que assistiríamos ao mais solene Te-Deum. Era, a um só tempo, um hino de gratidão, de júbilo, uma expressão de tristeza e de luto pelos companheiros que a fatalidade nos havia roubado, por esses que ficaram cobertos da terra estrangeira ou cujas ossadas ainda branqueiam insepultas.

Às 11 horas da manhã deixamos a vila e depois de uma e meia légua de marcha passamos pela lagoa que dá nome a um pouso e entramos na mata do rio Paranaíba, a qual conservava em seus terrenos enatados,lodacentos, e nos troncos de suas árvores, sinais de uma grande cheia, não remota. Desse centro é que irradiam as febres; a putrefação vegetal, tão fatal aos homens aí se efetua incessantemente, inficionando a atmosfera três a quatro léguas ao redor.

As margens do Paranaiba são naturalmente barrancosas; as águas claras, têm velocidade considerável,que a constante inclinação e esforço dos sarandys, em em alguns pontos mais próximos das ribanceiras, indicam, a largura é de 350 a 400 braças.Para atravessá-las existe uma barcaça composta de duas estragadas canoas de tamboril mantida pela barreira provincial de Mato Grosso, que daí tira algum rendimento.

Havíamos enfim transposto aquela divisa famosa nas lendas e conversas do sertão.

A comitiva do escriba da retirada da Laguna, finalmente, ganha o território das Minas Gerais.


FONTE: Taunay, Viagens de outr'ora (segunda edição), Companhia Melhoramentos de São Paulo, São Paulo, sd, página 65.




8 de julho


1892Ponce recebe presidente do Estado em Corumbá


Havendo chegado a Corumbá no início do mês, onde fora homenageado com festas, pela derrota dos golpistas ligados ao general Antonio Maria Coelho e coronel Barbosa, o coronel Generoso Ponce recebe no porto dessa cidade, o general Ewbank, novo comandante militar do Estado e o presidente deposto Manoel Murtinho, que estavam retidos pelos rebeldes no Forte Coimbra, desde o golpe de 22 de janeiro. No dia seguinte, Ponce e Murtinho seguiram para Cuiabá, onde este reassumiria o governo. O general Ewbank permaneceu em Corumbá, sede do distrito militar de Mato Grosso. 



FONTE: Generoso Ponce Filho, Generosos Ponce, um chefe, Pongetti, Rio de Janeiro, 1952, página 126.




8 de julho


1932Klinger perde comando militar de Mato Grosso








Por discordar publicamente da nomeação do general Espírito Santo para o ministério da Guerra, o general Bertoldo Klinger é reformado administrativamente e perde o comando da Circunscrição Militar de Mato Grosso, sediada em Campo Grande. Na despedida, o general expediu o seguinte boletim:

Quartel-General em Mato Grosso, 8 de julho de 1932.


1º – Telegrama, via T. N. e rádio recebido às 14 horas e objeto também diretamente notificado pelo M. G. a todos os comandantes de corpos da Circunscrição:- Dia 8, hora 13:15 urgente.- Comunico-vos que Chefe Governo provisório vos reformou administrativamente, pelo que deveis passar comando Circunscrição ao substituto legal imediatamente.


a) General Espírito Santo
Ministro da Guerra.


2° , Em cumprimento a essa ordem passo o comando ao sr. Coronel Oscar Saturnino de Paiva.


3° –a) Ao despedir-me dos meus camaradas, que constituem o quadro da tropa da Bda. Max. do Exército e da F. P. deste Estado, não é azada a hora para agradecimento e louvores que viriam diminuídos da eiva da comoção.
Em conjunto, cada qual sabe o juízo que dele fui formando, o reconhecimento de que me sei devedor.


Em síntese, já o disse uma vez e não me farto de o sentir: orgulho-me de os haver comandado.


b) Pouco é este o meu sacrifício. Ele fora previsto, entrara plenamente em minhas previsões. Era a contribuição que eu podia dar.
Caio de pé, pois que me mantenho ereta a consciência profissional e cívica de haver cumprido um dever, na defesa duma personalidade laboriosamente formada e da seara dos interesses que me estavam confiados. Exorto os meus camaradas a que se mantenham em calma, dentro da ordem, na verdadeira disciplina, racionada e consentida, vistas em seus camaradas chefes, pensamento no Exército – a síntes das forças vivas, materiais e morais duma nação.


A susbsituição de Klinger do comando de Mato Grosso precipitou a revolução constitucionalista de São Paulo, da qual o general seria o chefe militar.



FONTE: Euclides Figueiredo, Contribuição para a História da Revolução Constitucionalista de 1932, Livraria Martins Editora, S. Paulo, 195, página 89.




sexta-feira, 4 de março de 2011

31 de julho

31 de julho


1886Bispo de Cuiabá em Ladário




Em sua primeira viagem ao Sul do Estado, dom Luis d'Amour, bispo de Cuiabá, depois de cumprir agenda em Corumbá, visita Ladário, conforme relato do cônego Bento Severiano da Luz, secretário do prelado:

Pela volta do meio dia chegamos ao Ladário, sendo S. Exa. recebido com todas as honras. Todos os oficiais tomaram seus uniformes de gala, os navios da flotilha estavam completamente empavesados e a companhia de aprendizes de marinheiros formou em continência, havendo as salvas de estilo ao saltar em terra o ilustre príncipe da igreja. Conduzido debaixo do pálio à capela, pegando as varas os mais graduados do préstito, ali o prelado fez oração, deu ao povo a bênção e o anel para beijar e recolheu-se à residência do digno comandante da flotilha, queimando-se em todo esse tempo muitas dúzias de fogos do ar.


À noite o arsenal esteve brilhantemente iluminado.
Possuídos de incomparável júbilo pela honrosa visita que recebiam, o sr. engenheiro Antonio de Abreu Coutinho com seus amigos resolveram organizar uma festa para o seguinte dia em homenagem à passagem ali do venerando pastor.

 


FONTE: Luis Philippe Pereira Leite, Bispo do Império, edição do autor, Cuiabá, sd. página 141.

FOTO: Dom Luis (segundo a esquerda) com dom Aquino (de pé) seu sucessor.



31 de julho

1980 - Albert Sabin visita Santa Casa de Campo Grande

                         
  Sabin e D'Avila (foto acervo da Santa Casa)

No Brasil desde fevereiro, onde orientou campanha de vacinação contra a poliomielite em Santa Catarina e Paraná, esteve em Campo Grande, o médico e cientista, Albert Sabin, premio Nobel de Medicina, criador da vacina da gotinha, contra a paralisia infantil. Na capital de Mato Grosso do Sul, há notícia de sua visita à Santa Casa. O registro consta dos anais daquela entidade:


Em 31 de julho de 1980, com a grandiosa obra em fase de acabamento, dr. Arthur D'Avila recebe a visita ilustre de Albert Sabin que, de passagem pela região, quis conhecer o hospital. Único vivo dos 12 benfeitores da humanidade retratados em quadros no hall de entrada, Sabin estreia o livro de ouro do hospital, redigindo um "longa e rica mensagem", nas palavras do próprio Dr. D'Avila. Durante a visita à esposa de Albert Sabin, a brasileira Heloisa Dunshee Abrantes, se dirige ao anfitrião: "Dr. D'Avila, Albert está dizendo que seu hospital é mais bonito que o do Rio de Janeiro", e ele responde, "Dona Heloisa, agradeça ao professor o elogio, e que ele leve a certeza de que não contaremos aos nada cariocas", o que se seguiu de largas gargalhadas de todos. Ao visualizar a imponência externa da obra, passando pela Rua 13 de Maio, o pesquisador refaz o comentário, traduzido pela esposa: "Dr. D'Avila, Albert está me dizendo agora que seu hospital é, de fato, o mais bonito dentre todos que eleconheceu no Brasil". Possivelmente pelo serviço de imprensa do governo, este comentário vazou e foi publicado pelos jornais da época

FONTESanta Casa de Campo Grande (santacasacg.org.br)




OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

  22 de janeiro 1918 – Dom Aquino assume o governo do Estado Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, qu...