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sábado, 5 de março de 2011

11 de agosto



11 de agosto

1797 Ricardo Franco assume o forte de Coimbra

Ao tomar posse o capitão-general Caetano Pinto de Miranda Montenegro, como governador da capitania de Mato Grosso, em 1795, “deterioravam-se as relações entre Portugal e Espanha em consequência das guerras napoleônicas, o primeiro aliado à Inglaterra e o segundo à França. Forçosamente os acontecimentos iriam repercutir nas colônias americanas. Tornava-se necessária a maior vigilância na fronteira meridional da capitania, para a qual o gabinete do reino chamava de contínuo as atenções do governo instalado em Vila Bela. De tal modo considerou-se grave a situação no setor que Caetano Pinto julgou de bom alvitre deslocar para o comando do baixo Paraguai e do presídio de Coimbra o mais competente de seus auxiliares: Ricardo Franco de Almeida Serra. Com este ato ficava-lhe também afeta a praça de Albuquerque.

Ricardo Franco partiu, sem demora, da Capital, por via terreste até Cuiabá e fluvial até Coimbra, enquanto simultaneamente desciam tropas para reforço dos efetivos. (...)


A 11 de agosto de 1797 Ricardo Franco assumia o comando do presídio, para se atirar decisivamente às obras do novo forte, com o lançamento da pedra fundamental a 3 de novembro seguinte. Substituía no posto o tenente Francisco Rodrigues do Prado que, em princípios de outubro, seguiria para o Mondego, em cuja margem direita lançaria os alicerces de Miranda, provavelmente a 3 de novembro de 1797, data que relembrava o primeiro ano da chegada de Caetano Pinto a Vila Bela e que Ricardo Franco aproveitara para homenagear o governador. Com o levantamento desses dois redutos, tivera-se em mira embargar a eventual progressão inimiga através do rio Paraguai e do vale do Miranda, como passar a denominar-se o Mbotetei e o Mondego, também em honra ao 6º governador.” 


Ricardo Franco é um dos quatro heróis do hino de Mato Grosso do Sul. Os outros são Camisão, Vespasiano e o tenente Antonio João.


FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd. Página 42. IMAGEM: http://www.br429.net/institucional.php



11 de agosto



1826 – Langsdorf chega ao rio Paraná

A entrada da missão científica russa no caudaloso rio na divisa de Mato Grosso com São Paulo é lembrada por um de seus mais famosos integrantes,o pintor francês Hercules Florence (foto):

Dia 11. De manhã partimos e, depois de uma légua de viagem, fomos abicar pouco aquém da embocadura do Tietê com o Paraná. Já estávamos então na região dos índios Caiapós, cuja aldeia fica na margem deste rio em ponto quase fronteiro à foz do Tietê, um pouco acima. (...)


Querendo visitar o salto de Urubupungá, grande queda do Paraná sita duas léguas acima da boca do Tietê e famosa entre os viajantes destes desertos, deixamos à nossa espera a monção e, levando o guia conosco, partimos em dois batelões. Quinze minutos depois, vimos o Paraná. Tínhamos na nossa frente o último estirão do Tietê e abria-se ante nós aquele caudal cuja largura é aí de um quarto de légua, parecendo ainda maior por ser a margem de lá extremamente baixa. 


O sentimento que experimentei, ao contemplar tão vasta extensão d’água e a riba distante, lembrou-me o abalo que recebe o viajante quando divisa, mar alto, as costas que demanda. Se essa é a França, então seu coração estremece jubiloso ao pensar nos gozos já próximos que lhe franqueia aquele belo país, tão adiantado em civilização; aqui, porém, só podíamos ver selvagens e míseras tocas, espetáculo ainda assim cheio de interesse e novidade para quem quer estudar o homem em seu tipo primitivo.


Para nós aquele momento foi de verdadeira festa. Além do prazer que sentíamos em descansar os olhos sobre a superfície desse grande e novo rio ao sair do penoso Tietê, na grata alegria de nossos camaradas tínhamos novos motivos de satisfação. 



FONTE: Hércules Florence, Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829, Edições Melhoramentos, SP, 1941, página 34. (imagem: Pró-Memória de Campinas http://glo.bo/h1Qilu)


11 de agosto

1899 - Assembleia proclama resultado eleitoral

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso conclui apuração de eleição extraordinária para o governo do Estado, realizada em 20 de julho, consequente da anulação do pleito que elegeu o candidato João Felix Peixoto de Azevedo, candidato apoiado por Generoso Ponce. Foram proclamados eleitos pelo presidente Joaquim Sulpício de Cerqueira Caldas os seguintes candidatos: presidente coronel Antonio Pedro Alves de Barros; 1° vice-presidente coronel João Paes de Barros; 2° vice-presidente coronel João Ferreira Mascarenhas; e 3° vice-presidente coronel Estevão Alves Correa.

Estava oficialmente inaugurada a era Totó Paes que duraria até 1906.

FONTE: Gazeta Official, (Cuiabá), 12 de agosto de 1899.



2009 - Eletrosul lança hidrelétrica em Mato Grosso do Sul






A Eletrosul Centrais Elétricas S/A e o Consórcio São Domingos (composto pelas empresas Engevix e Galvão) e o Governo do Estado, assinam no dia 11 de agosto (terça-feira), às 9h30, no auditório da Casa da Indústria – FIEMS, em Campo Grande, a Ordem de Serviço que dará inicio às obras da Usina Hidrelétrica São Domingos no Mato Grosso do Sul.
Este é o primeiro empreendimento da Eletrosul na área de geração de energia no Mato Grosso Sul desde 1980, ano em que a empresa iniciou as atividades no Estado, direcionadas para a transmissão de energia em alta tensão. A Usina Hidrelétrica São Domingos (UHSD) terá uma potência instalada de 48 MW e energia assegurada de 36,9 MW médios. Com esta potência será capaz de gerar anualmente 323,25 GWh, e segundo cálculos da empresa, a energia assegurada de 36,9 MW, é capaz de alimentar uma cidade de até 210 mil domicílios ou, atender em média, 700 mil pessoas.
Localizada a 268 quilômetros de Campo Grande, a Usina Hidrelétrica de São Domingos será construída na confluência do rio Verde e São Domingos, na divisa dos municípios de Água Clara e Ribas do Rio Pardo (região leste do MS), com acesso pela MS-324, em Água Clara.
Os investimentos previstos são da ordem de R$ 290 milhões, sendo mais um empreendimento da Eletrosul inserido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, devendo entrar em operação em 2011, já com 100% de geração, comercializada.
Características: a UHE São Domingos será uma usina de “fio d’água”. Ou seja, seu reservatório tem somente a função de manter o desnível necessário para a geração de energia. A usina será constituída de uma barragem que utilizará um canal de adução para conduzir a água até a casa de força, de forma a aproveitar a queda natural do rio Verde.
A estimativa é que com o empreendimento sejam gerados aproximadamente 1,5 mil empregos diretos e indiretos, beneficiando principalmente os municípios de Ribas do Rio Pardo e Água Clara, por serem municípios-sede da usina. Também deverá gerar aproximadamente 9 milhões anuais em ICMS.

A empresa – A Eletrosul Centrais Elétricas S.A. é a subsidiária da Eletrobrás que atua na transmissão e geração de energia elétrica nos estados do RS, SC, PR e MS. Com sede em Florianópolis (SC), a empresa possui uma série de empreendimentos em andamento, entre eles, a construção da Usina São Domingos no MS, a Usina Hidrelétrica Mauá (361 MW), que está sendo construída nos municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira no Paraná e na região de Rondônia, está construindo a Usina Jirau (3.300MW)  em parceria com outras empresas  e que abastecerá cerca de 10 milhões de residências. Também no Rio Grande do Sul estão em andamento às obras da Usina Passo São João (de 77MW) e em Santa Catarina, a empresa possuiu 10 projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas, como a Barra do Rio Chapéu, localizada no Sul catarinense, que está em construção. As demais se encontram na fase de projeto.

Veja entrevista do presidente da Eletrosul sobre o assunto:




A usina entrou em operação em 14 de junho de 2013, segundo boletim da Eletrobrás:

14/06/2013Eletrosul inicia operação de hidrelétrica no Mato Grosso do Sul

Usina São Domingos recebeu mais de R$ 485 milhões em investimento
A Eletrosul colocou em operação comercial, nesta sexta-feira (14), a primeira unidade geradora da Usina Hidrelétrica São Domingos, no Leste do Mato Grosso do Sul. Aproveitando o potencial hidrelétrico do rio Verde, nos municípios de Água Clara e Ribas do Rio Pardo, o empreendimento conta com duas unidades geradoras com capacidade instalada total de 48 megawatts (MW), suficiente para atender ao consumo de aproximadamente 550 mil habitantes.
"A Usina São Domingos foi um projeto difícil, com muitos desafios técnicos, que conseguimos superar. O início da operação da primeira unidade geradora é muito gratificante. Estamos bastante otimistas com o desempenho operacional da primeira máquina e trabalhando no comissionamento do segundo conjunto gerador para colocá-lo em operação comercial ainda em 2013. Este é o ano da consolidação da Eletrosul como geradora de energia", avaliou o diretor de Engenharia e Operação, Ronaldo dos Santos Custódio.
Com investimento na ordem de R$ 485 milhões, a Usina São Domingos é o maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Mato Grosso do Sul. Somente em projetos socioambientais, foram investidos cerca de R$ 14 milhões.
Nos próximos 30 anos, os municípios da área de abrangência da usina receberão uma compensação financeira, no valor de R$ 21,5 milhões, pela utilização dos recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica. O Estado recebe a mesma quantia e a União, R$ 4,7 milhões, totalizando R$ 47,7 milhões. Com o início da operação da usina, a expectativa é de que novos investidores se instalem na região, favorecendo o desenvolvimento socioeconômico das cidades do entorno do empreendimento. Durante as obras, foram gerados aproximadamente 2 mil empregos diretos e indiretos.
O empreendimento
Com 32 metros de altura, a barragem da usina forma um reservatório com área de aproximadamente 19 quilômetros quadrados e volume de 131 milhões de metros cúbicos. O canal, de 400 metros de comprimento por 6 metros de profundidade, e todo o barramento são revestidos em manta de polietileno de alta densidade (PEAD), dando um aspecto exclusivo à obra.
"Diferente de empreendimentos que utilizam métodos convencionais com concreto ou solo argiloso protegido por rochas, a São Domingos é a primeira usina hidrelétrica do Brasil a adotar essa técnica no barramento, que viabilizou a construção do reservatório em terreno arenoso, característico da região", detalha o engenheiro responsável pela obra, André Batistela Ribeiro. O escoamento da energia é feito por uma linha de transmissão (138 kV) de 53 quilômetros até a Subestação Água Clara, pertencente à Enersul, conectando a usina ao Sistema Interligado Nacional (SIN).


FONTE: Eletrosul:http://bit.ly/hAmU7B  Vídeohttp://viamorena.com

FOTO: Maricleyde Vasques.

1° de agosto

1º de agosto

1734 - Governo declara guerra aos paiaguás




Sob o comando do tenente-general Manoel Rodrigues de Carvalho, partiu do porto geral de Cuiabá para dar combate aos gentios paiaguás, no Pantanal, esquadra composta de 28 canoas de guerra, oitenta de bagagem, e tres balsas, que eram casas portáteis armadas sobre canoas. Oitocentos quarenta e dois homens entre brancos, pretos e pardos. 

Os detalhes do início oficial da guerra aos paiaguás e desta primeira batalha estão nos anais:

Chegou a monção do Povoado, e nelle o Thenente General Manoel Rodrigues de Carvalho por mandante da gente de Guerra para invadir os Payagoas por ordem de S. Magestade, e do General da Cidade de São Paulo. Trazia consigo quatro sentos homens de guerra; tudo o que era branco por pobre que seja digo que foce, trazia | Patente do Gnr.al De Mestre de Campo de Capitaens, Tenentes, Alferes, Ajudantes, Furrieis, Sargentos e Cabos de Esquadra e estas patentes mandavão-se lhes entregar de embarcarem na Araritaguaba, e logo lhes faziam pagar o custo dellas, humas a des moedas, outros a oito, e outros atantas dobras, conforme o posto que na patente se declarava, e nesta forma vinhão os pobres homens a dar o dinheiro que tinhão para seos aviamentos pellas patentes e fazer viagem a Divina Providencia: esta foi ajuda de custo, que se lhes deo para a viagem, mandou El Rey fazer a guerra a custa da sua fazenda. Logo nesta chegada quizerão muitas pessoas fazer viagem para Mato Grosso, a colher as rossas que lá havião deixado do anno antecedente, publicouse mando, para que ninguem sahisse do termo da Villa para parte nenhuma antes de sahir a armada debaixo de grandes penas, o que asim se executou. Preparouse nesta vila a leva p.ª a dita Guerra tudo a custa do Povo, e sem despeza da Real Fazenda sem embargo de Sua Magestade a mandar fazer a custa della, e só tiverão o adjutorio de alguma Palavra com que asistio a Camara pelloz seoz bens. Despenderão liberalmente de suas fazendas para esta acção Antonio Pinto da Fonceca, o Brigadeiro Regente Antonio de Almeida Lara, Balthazar de Sam Payo Couto, Salvador de Espinha Silva, Antonio de Pinho de Azevedo, Antonio Antunes Maciel, seo irmão Fellipe Antunes Maciel, Antonio Pires de Campos, Pedro Vás de Barros, Antonio de Moraes Navarro, Gabriel Antunes de Campos, João Macha de Lima, Manoel Dias Penteado, Pedro Taques de Almeida, e outros varios que a sua custa prepararão canoas, armas, camaradas, e mais petreixoz necessarios. Sahio a Armada do Porto Geral desta Villa no primeiro de Agosto deste anno de 1734” composta de 28 canoas de guerra, oitenta de bagage, e tres balças, que erão cazaz portateis armadas sobre canoas. Oito centos quarenta e dous homens entre brancoz, pretos, e pardoz. Tudo o que era branco levava cargo e só se dezião Soldados os negroz, pardos, Indios e mestiçoz forão p.r Capelloens o Padre Fr. Pacifico dos Anjos, Religiozo Franciscano e o Padre Manoel de Campos Bicudo do habito de São Pedro com todos os paramentoz para se selebrarem Missa como o fazião dentro nas balças. | Rodarão Cuyabá abaixo, e Paragoay sem ver couza alguma de novidade por espaço de hum mez antes de chegar a bocaina virão ao serrar da noite fogos ao longe, e rodando mança mente sem extrondo acharão no barranco da parte esquerda pouzados alguns bugres, que dormião com seus fogos acezos, e tinhão as canoas embicadas em que andavão a espia da nossa armada, de que já tinhão noticia por revelação dos seus fiticeiros. Imbicarão as nossas canoas de guerra, dispararão-se lhes alguns tiros de mosquetes, levantarão se os bugres aturdidoz, deo se lhes huma carga serrada, em que morrerão quarenta, e escaparão quatro fogidos, pelo mato, que senão seguirão, tomou se hum vivo as mãos, que falava castelhano mal limado, dizendo que era castelhano catholico, que o não matacem não lhe valeo o pretesto, fizerão-no empicado, e as canoas em pedaços. Seguirão Rio abaixo tres dias e tres noites continuas sem pouzar, seria meya noite da terceira quando virão fogos ao longe por huma Bahia dentro da parte esquerda, emcaminharão se a elles remando sem estrondo, e ao romper da alva abeirarão o arayal do Gentio, que estava em hum campeste de terra alta a beira da agoa. Tocou hum negro huma trombeta, sem ser mandado, alvorosouse o Gentio, embarcarão se os guerreiros nas suas canoas a peleijar com a nossa Armada e huma grande chusma com suas algazarras custumadas; disparou se lhes huma carga de mosquitaria serrada, com que ficarão muitos mortos, e os mais acolherão se a terra, e em quanto isto se passou, muito dos que havião ficado no arayal escaparão em canoas cozidos com a terra por hum e outro lado, as quaes não passarão de dés, e os mais meterão se pela terra dentro que hera campestre com capoens de mato carrasquenho. Imbicarão as nossas canoas de Guerra, disparando sempre mosquetaria, com que matarão ainda muitos no Arrayal, lançouse logo a nossa Soldadesca ao alcansse dos fogetivoz pelo campestre dentro a fazer prezas, que logo aprezentavão aos officiaes, no que se ocuparão thé as duas horas da tarde. Recolhidos ao Arrayal contarão se duscentos secenta e seis prizioneiroz, e seis centos mortos por terra e nas agoas, que hera Bahia aonde não havia correnteza. Ficarão ainda muitoz espalhadoz | pelo mato dentro, que os nossos Soldados os não quizerão seguir, suspendendo a sua furia, por saberem que as prezas, que se aprezentavão ao Comandante no Arrayal, logo ahi as hia repartindo com os cabos, e pessoas principaes, e que elles nada tinhão daquela empreza, disserão huns para os outros = Venhão elles apanha-los se quizerem = e com isto se retirarão. Perecerão dos nossos dous negros e hum mulato mortos, pelas nossas mesmas armas as imbicar no Arrayal. Embarcarão-se a fazer pouzo fora daquele lugar, por estar inficionado com os cadaveres, e as agoas com o sangue que delles corria.

Consultou-se no dia seguinte Sesehouvera seguir o Gentio fugitivo thé dar se lhe fim, ou dar a função por acabada; foi a mayor parte dos rastos, que se seguice, não quis o Comandante fazelo com o pretexto de não chegar as Povoações Castelhanas, para que não tinha ordem de Sua Magestade, e falando se em procurar os que ficavão dispersos pelo mato afirmou a Soldadesca, que nenhum ficava, vendo elles o contrario, sentidos de que asprezas todas estivessem com dono, e elles com o trabalho, dizendo huns com outros = vão elles se quizerem = com isto voltarão dando a empreza por finda.

FONTE: Annaes do Senado da Câmara do Cuiabá (1719-1830) folha 19.
FOTO: meramente ilustrativa.

1º de agosto


1791Em Vila Bela governo assina pacto com guaicurus 






Inimigos mortais de estrangeiros, os guaicurus celebrizaram-se por seus ataques aos portugueses, no percurso dos rios pantaneiros, nos chamados anos de ouro, de rentável exploração aurífera em Cuiabá. Por iniciativa do comandante do forte de Coimbra, os chefes da grande nação indígena foram levados à Vila Bela, capital do Estado e lá firmaram com o governo um pacto de reconhecimento e obediência ao império português. O acordo resultou no seguinte documento:

Desejando a nação Guaicuru ou Cavaleiro, que habita os terrenos que formam a margem oriental do Paraguai, desde o rio Mondego, antes denominado Imbotatiu, e mais rios intermédios até a margem boreal do rio Ipané, dar não só uma evidente prova do seu reconhecimento, gratidão e sensibilidade, pelo bom tratamento e repetidos benefícios que ultimamente tem recebido dos portugueses e consequência das ordens do Ilmo. Sr. general de Mato Grosso e Cuiabá, dadas e muito recomendadas para dito fim ao sargento-mor engenheiro Joaquim José Ferreira, comandante do presídio de Nova Coimbra, as quais ordens ele tem desempenhado com todo zelo e atividade, distribuído pela dita nação, além dos donativos que lhe tem sido determinados por conta da real fazenda de S. M., também outros seus proporcionados à sua possibilidade; desejando mesma nação dar provas do grande respeito e fidelidade que tributam a S. M. Fidelíssima e de quanto são os mesmos gentios afeiçoados aos portugueses, espontânea e ansiosamente vieram a esta capital de Vila Bela os capitães João Queima de Albuquerque e Paulo Joaquim José Ferreira, dois dos principais chefes da dita numerosa nação, com dezesseis súditos e a preta Vitória, crioula portuguesa sua cativa, que serve de língua; e depois de terem sido recebidos e hospedados com as maiores e mais sinceras demonstrações de amizade e agasalho, e serem brindados com alguns donativos de S.M. e outros do Exmo. Sr. e capitão general e das outras principais pessoas desta Vila Bela, celebram o seguinte convênio. No dia 1º de agosto de 1791, no palácio da residência do Exmo. Governador e capitão general, estando presentes por uma parte o mesmo Exmo. Sr. com os oficiais militares e demais principais pessoas desta Vila Bela e pela outra os sobreditos capitães e chefes da sua nação, João Queima de Albuquerque e Paulo Joaquim José Ferreira, com os mencionados seus soldados e a crioula Vitória, sua cativa e intérprete, disseram que, em seus nomes e no de todos os outros chefes da sua nação, seus compatriotas, e mais descendentes, protestavam e prometiam de hoje para sempre, nas mãos do Exmo. Sr. governador e capitão general João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, manter com os portugueses a mais íntima paz e amizade e inviolavelmente guardarem e tributarem à S.M. Fidelíssima a mais respeitosa obediência e fidelidade; assim e da mesma forma que lhe tributam todos os vassalos. E sendo-lhes perguntado, de ordem do mesmo Sr. pelo sargento-mor engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra, se era nascida de sua livre vontade e moto próprio a obediência que prestavam à S.M. Fidelíssima, como também se queriam ficar sujeitos da mesa augusta soberana e senhora, ficando amigos, para dessa forma gozarem livre e seguramente de todos os bens, comodidades e privilégios, que pelas leis de S. M. Fidelíssima são concedidos a todos os índios, a tudo responderam ambos os referidos capitães uniformemente que sim: protesto que o mesmo Exm. Sr. general aceitou em nome de S. M. Fidelíssima, prometendo ele também, em nome da mesma soberana e senhora, de sempre proteger a dita nação, a fim de perpetuar entre eles e os portugueses a mais íntima paz e recíproca amizade, concorrendo sempre para tudo se dirigir à felicidade espiritual e temporal dos mesmos gentios. E para firmeza de todo o referido estipulado, eu Joaquim José Cavalcanti de Albuquerque e Lins, secretário do governo, lavrei, por ordem do mesmo Exm. Sr. governador e capitão general, o presente termo. Assinaram S. Exa. e a rogo dos ditos capitães e chefes, o tenente-coronel de infantaria com exercício de ajudante de ordens deste governo, Antonio Felipe da Cunha Ponte e o dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista, encarregado da expedição filosófica por S. M. nesta capitania; e a rogo dos mais guaicurus o dr. provedor da fazenda e intendente do ouro, Antonio Soares Calheiros Gomes de Abreu; e de sua intérprete o sargento-mor de engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra. E também assinaram os oficiais da Câmara, sendo testemunhas presentes deste ato as pessoas principais desta vila capital, que todas igualmente assinaram: e eu o secretário do governo, Joaquim José Cavalcanti de Albuquerque Lins, o escrevi. Com o sinal de S. Exa. e de todos os mais circunstantes.



FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd., página 121.






1° de agosto

1863 - Goianos apostam na estrada para Coxim

Correspondente goiano do jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, ressalta a importância da navegação do ponto de Coxim para o comércio daquele estado, faz comparações com o porto de Santos e faz diagnóstico otimista sobre o futuro das relações econômicas entre Goiás e Mato Grosso:

O problema das comunicações com Cuiabá está resolvido de um modo plenamente satisfatório por via do Taquari.

As administrações de Goiás e Mato Grosso deram-se as mãos, trabalharam e continuam a trabalhar de comum acordo neste negócio. O êxito que já vai aparecendo excede à expectativa.

As últimas notícias deixam ver que esse novo e fácil escoadouro de produtos tem dado não só grande animação à agricultura do sul da província, como aos férteis sertões de Uberaba, na província de Minas. Cerca de 200 carros carregados destinam-se ao comércio do Taquari, atravessando sertões até há pouco ínvios.

Esperava-se isso, mas não com tanta rapidez.

O ponto no Taquari é o em que nele faz barra o Coxim. Daí para baixo o rio é largo, não tem uma só cachoeira e é suficientemente abastecido de águas para a navegação a vapor.

Essa estrada e a navegação desse rio fazem uma revolução na indústria de Goiás e parte de Minas. Os fatos o estão demonstrando: o primeiro ponto que tínhamos, o de Santos, dista 212 léguas desta cidade e a estrada que a ele vai passa por terrenos tais que é impossível o trânsito de carros. O do Coxim dista 90 léguas e talvez menos pela nova estrada, e o terreno a percorrer estende-se em planuras pouco acidentadas, de modo que os carros marcham completamente desimpedidos.

Os goianos vendiam no melhor dos mercados desta província, que é o desta capital, seus gêneros por um preço nimiamente baixo; por exemplo: toucinho a 2$ a arroba; açúcar de 1ª qualidade, a 1$800 e a 2$; compravam um alqueire de sal a 18$ e a 20$. Faça agora ideia da agradável surpresa que lhes proporcionou o Taquari, onde vendem: toucinho a 18$, açúcar a 12$; café a 14$ e compram um alqueire de sal a 6$. Sem querer foros de profeta, vaticino que, em menos de cinco anos, esses sertões do Rio Verde, Anicuns e Rio Claro, para onde já se têm emigrado numerosas famílias mineiras, serão populações importantíssimas.

Não será tempo do governo geral realizar a fértil ideia do sr. conselheiro Saraiva, por virtude da qual se deve preferir as comunicações para Mato Grosso pelo nosso centro, em vez de estar na dependência de quanto espanhol grita - caramba - ao sul do império!

Parece que sim.



FONTE: jornal Correio Mercantil (RJ) 14 de setembro de 1863.
1° de agosto




1866 – Paraguaios deportam varões de Corumbá





Avisados às vésperas de que todos os homens seriam deportados para o Paraguai, o comandante das tropas de ocupação cumpre as ordens superiores. Apenas três imigrantes italianos puderam embarcar com toda a família, entre eles o comerciante Manoel Cavassa, autor do seguinte relato:

Chegou finalmente o nefasto 1º de agosto de 1866, indelevelmente gravado na minha memória. Ao meio dia, quando íamos sentarmo-nos para almoçar chegaram à nossa casa, à toda pressa, alguns oficiais, que nos intimaram a ordem de embarcar na chata, que foi levada imediatamente e sem permitir-nos sequer que comêssemos ligeiramente, puseram-nos fora de casa, cujas portas fecharam e fizeram-nos embarcar na chata, que foi levada imediatamente e amarrada ao vapor, depois do que começou o embarque da tropa, que encheu o navio, ficando somente para alojamento dos prisioneiros a câmara na qual como é fácil imaginar, estavam aqueles infelizes estivados como sardinhas, em pé, sem poderem sentar-se, e, demais a mais para cúmulo de sofrimento, sem terem comido. Nós na chata íamos relativamente bem divinamente, não obstante irem ali três famílias, que eram constituídas por 32 pessoas, inclusive crianças; mas para aqueles infortunados, aglomerados na câmara dum pequeno vapor, no qual iam mil seiscentos e tantos pessoas, era a viagem um tormento, à noite especialmente.
Saímos às 4 horas da tarde desse mesmo dia, passamos relativamente bem à noite e chegamos ao amanhecer a Albuquerque, em cujo porto estavam já reunidos todos os índios varões domesticados que também deviam embarcar entre as comoventes lamentações de suas famílias e passando uns sobre os outros, pois havia gente por todas as partes, até nas enxarsias e nas vergas.



Os deportados que conseguiram sobreviver aos rigores da guerra, entre eles, o autor do memorandum acima, foram libertados pelo exército brasileiro, durante a ocupação do território inimigo.



FONTE: Valmir Batista Correa e Lúcia Salsa Correa, Memorandum de Manuel Cavassa, Editora da UFMS, Campo Grande, 1997, página 33.

FOTO: Ruinas de fortificações,extraída do Album Graphico de Matto-Grosso (1914)






1° de agosto


1903 – Inaugurado telégrafo em Aquidauana


Sede do telégrafo em Aquidauana, inaugurada por Rondon

Chega ao vilarejo de Aqudauana à margem direita do rio, a integração telegráfica com Cuiabá, via Coxim. O major Cândido Mariano da Silva Rondon, o responsável pela implantação da linha, conta como foi alcançar esse ponto:

Pouco avançávamos porque os soldados estavam esgotados, mas a 26 de maio entrávamos na vila de Aquidauana. O pique foi recebido festivamente, como prenúncio da chegada da linha. Houve foguetório e música. Mandei distribuir vinho às praças que tiveram descanso... relativo.


Devia eu, porém, conseguir uma casa onde fosse possível instalar a estação telegráfica pois, regressando ao acampamento, encontrara resposta negativa de d. Antonia Jatobá a uma proposta minha, feita por intermédio de Ciríaco: ceder ela à Comissão a casa de sua propriedade, com contrato, fazendo-se-lhe os reparos necessários.


O acampamento mudou-se para o Taboco e parti para Campo Formoso cuja estação devia ser inaugurada no mesmo dia que a de Aquidauana. Para isso se construiu uma casa junto a uma fonte de bastante água. Para proteger o manancial, mandei fazer um grande alambrado de 400 m de face, cercando a estação. Adquiriu a Comissão esse terreno do fazendeiro Zeferino Rodrigues, pela quantia de 1$500 (mil e quinhentos réis). Foi um meio de fazer pronta doação do terreno, uma vez que não havia tabelião naquelas paragens.


Segui para Aquidauana – o meu filhinho adoecera. Preocupado e aflito, tive, entretanto, a alegria de o encontrar restabelecido. Foi necessário resolver ao mesmo tempo o problema da casa para a estação telegráfica. Não havia outro recurso senão construir uma. Escolhi um lote de 36 m de frente, no único largo da vila. O acampamento, quando para cá fosse transferido, ficaria na praça ou na rua da estação.

Cuidei também de determinar a latitude por observação circumeridiana do sol, medindo duplas distâncias zenitais. 


Segui a 15 para o acampamento, a fim de tornar mais rápida a marcha do serviço e a 21 estava a construção em caminho de Limão Verde para a vila, onde chegou a 28 – chegada que o espocar de foguetes anunciou. Mudou-se então o acampamento, empregou-se todo o pessoal na limpeza, não só dele como da praça e da vila, e cuidou-se dos preparativos para a festa de inauguração, na qual tomaria parte a banda de música do 7º regimento de cavalaria.


As 9 horas de 1º de agosto inaugurava-se a estação de Aquidauana – ao mesmo tempo que a de Campo Formoso.


A chuva não permitiu que estivessem presentes muitas famílias.
Ainda assim formou o contingente: li uma ordem do dia sobre a inauguração, houve discursos – inclusive o do sr. João Augusto da Costa que, em nome da população, dava o meu nome e o do Marechal Mallet às duas principais ruas da vila e o de rua do Telégrafo àquela por onde entrara a linha.


A comissão ofereceu um baile à população e, no dia seguinte, suspendeu o acampamento, indo bivacar no córrego João Dias.




FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 163.


domingo, 6 de março de 2011

18 de agosto





18 de agosto


1826Expedição Langsdorff chega ao rio Pardo


Paisagem típica de Mato Grosso na aquarela de Adrien Taunay, o mais
jovem pintor da  Expedição Langsdorff
No 48º dia de viagem, a missão científica russa rumo a Mato Grosso e Amazônia, alcança a embocadura do Pardo no rio Paraná e passa a navegar em território sul-mato-grossense. Em seu diário de bordo, Hercules Florence anota:


Dia 18. Vimos umas laranjeiras que mão benfazeja ou o acaso havia feito nascer naqueles desertos. Colhemos alguns frutos ainda verdes, que contudo muito apreciamos.

Atingimos a embocadura do rio Pardo, célebre entre os paulistas, de um lado pelos perigos e canseiras que aí esperam o viajante ao querer vencer a força de suas correntezas e transpor numerosas cachoeiras e duas quedas; de outro afamado pela beleza das campinas em que corre e que, oferecendo à vista, já farta da monotonia de ininterrompidos matos, vastas perspectivas cortadas de outeiros, riachos e caapões, facilitam viagem terreste, enquanto as canoas sobem, lenta e custosamente, o estreito e tortuoso curso. (...)
"No meio desses campos ao caçador facilmente se deparam veados, perdizes e outros animais, cuja carne lhe enriquece a mesa, aumentando desta arte o prazer de atravessar tão bela região. O olhar não se cansa de admirar as cores várias que de todos os lados o embelezam: aqui é uma verdejante várzea; ali fica o cerrado com suas árvores baixinhas e engorovinhadas; adiante se alarga um campo de macega mais alta que um homem e de um colorido puxando a amarelo pardacento. Muitas vezes grandes áreas de terreno, colinas inteiras, apresentam um aspecto sombrio e negrejante: é que por ali passou uma chama devoradora, ateada pelo viajante. Os troncos ficam então despidos de folhas, requeimados pelo incêndio. Se, porém, medeiam quinze dias ou um mês, arrebenta viçosa verdura naquele fundo lúgubre a acinzentado.


Sobre o rio Pardo, Langsdorf, o chefe da missão registrou as seguintes impressões:

O rio Pardo tem de 25 a 30 braças de largura na foz, pelo menos quando o atravessamos hoje cedo. A água não étão clara como a do Paraná, não corre rápido, parece mais um rio morto,mas exige muito domínio por parte dos remadores ou daqueles que trabalham com as varas grandes. As margens são baixas,sobretudo a da direita. Por isso ela está sujeita a inundações, que formam lamaçais e pântanos, onde proliferam os mosquitos. Elas devem muito insalubres logo após essas enchentes. A maior parte das margens é de lamaçais e pântanos e são muito íngremes. Em alguns pontos, veêm-se algumas rochas isoladas e parecidas, formadas de conglomerados de seixos rolados, da mesma natureza das encontradas no Paraná, principalmente na margem direita do rio Pardo, perto da margem esquerda, mais alta, rio abaixo. Os mosquitos nos torturam tanto durante o dia como à noite.


FONTE: Hercules Florence, Viagem do Tietê ao Amazonas, de 1825 a 1829, Edições Melhoramentos, S. Paulo, 1941, página 39; Georg Heinrich von Langsdorff, Os Diários de Langsdorff, volume II, Fundação Oswaldo Cruz, Rio, 1997, página 195. (imagem: Peregrinacultural http://bit.ly/gFXfkC)






18 de agosto


1866 Taunay no Pantanal


Bignoniaceas da flora pantaneira


Do Taboco, à frente das tropas brasileiras, que combateriam na fronteira, na célebre retirada da Laguna, como integrante da comissão de engenheiros da expedição, Taunay escreve ao seu pai no Rio, dando as últimas notícias da guerra e do seu cotidiano: 

Envio-lhe algumas sementes interessantes de cássias e de uma magnífica bignoniácea. Esta última dá belas flores de um amarelo resplandecente, perdendo todas as folhas como o flamboyant ao lado do qual o paratudo como aqui lhe chamam, fará magnífico aspecto. Seu nome lhe inculca as importantes virtudes medicinais: entre os índios é verdadeira panacéia. A cássia floresce da mesma maneira em azul; parece um pedaço do céu entre os galhos. (...)


Já sofremos bastante, provados pelos mais cruéis padecimentos, curtindo fome, no meio da mais horrível incerteza durante muitos meses, temos direito ao descanso. O pobre Chichorro, de nossa Comissão, pagou com a vida o passeio pelos pantanais e outro de nossos companheiros o dr. Capitolino, viu-se obrigado a retirar-se para o Rio. Todas as outras partes da expedição foram assim cruelmente provadas. Os riscos de uma grande batalha são infinitamente mais desejáveis; a falta de coragem não pode existir quando se possui o sentimento firme do dever e da dignidade. No nosso reconhecimento à margem esquerda do Aquidauana, onde muitas vezes passamos para a esquerda vigilantemente ocupada pelos inimigos, com o meu bom revólver à cinta estava bem tranqüilo e disposto a tudo que nos sobreviesse. Fizemos quanto queríamos e graças a um pouco de precaução nada nos aconteceu. Por fim só tínhamos 12 índios para nos acompanhar, como já lhe contei em várias cartas.



FONTE: Taunay, Cartas de campanha de Mato Grosso (1866) in Mensário do Jornal do Commercio, Rio, janeiro de 1943, página 170.






18 de agosto


1892 Nasce em Rosário Oeste, Arnaldo Estevão de Figueiredo


Arnaldo Estevão de Figueiredo aos 27 anos
Filho de Antônio Estevão de Figueredo e de Antônia Maria Almeida de Figueiredo.Aos doze anos ingressa no Liceo Cuiabano, saindo bacharel em Ciências e Letras em 1911. Com bolsa do Estado, oferecida pelo presidente Pedro Celestino, estuda engenharia agronômica, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, formando-se em 1914. Em 1917 muda-se para Campo Grande, onde ingressa na política. Em 1920, vice-intendente, assume a intendência municipal, com a renúncia do titular, no último ano do triênio. Em 1924, volta à chefia do executivo, desta vez como intendente eleito, sucedendo ao advogado Arlindo de Andrade Gomes. Sua obra principal foi a implantação da primeira rede de água. Em 1947, elege-se primeiro governador de Mato Grosso, depois da ditadura de Vargas. 


FONTE: Lélia Rita E. Figueiredo Ribeiro, Campo Grande o homem e a terra, edição da autora, Campo Grande, sd., página 149 (foto reproduzida do mesmo livro)


18 agosto


1967 – Deputados pedem afastamento do governador Pedrossian



Por iniciativa do deputado Júlio de Castro Pinto (foto), a Assembleia Legislativa em Cuiabá, recebe projeto de resolução decretando o impeachment do governador Pedro Pedrossian:

Artigo 1º. – É reconhecido o impedimento do sr. Pedro Pedrossian para exercer o cargo de Governador do Estado, por força do decreto do presidente da República, de 28 de fevereiro de 1967, que o demitiu do cargo de engenheiro nível 22 do quadro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, do Ministério de Viação e Obras Públicas, por haver, no exercício da Superintendência dessa ferrovia, praticado as faltas graves enumeradas nos números I, VI e X do artigo 209 dessa lei impõe a cláusula ‘a bem do serviço público’ e por haver reincidido nas mesmas faltas no desempenho do governo estadual.


Artigo 2º. – Seja convocado o vice-governador do Estado, dr. Lenine de Campos Povoas, para assumir o governo em substituição ao titular impedido, cumprindo-se o que determina o § 4º. do artigo 31, combinado com o n. I do artigo 14 da Constituição do Estado, dentro do prazo de 10 dias desta data, sob pena de ser o cargo declarado vago, na forma prevista pelo § 3º do artigo 32 da mesma Constituição.


Artigo 3º. – Ao promulgar a presente Resolução, assume o exercício do governo do Estado o presidente da Assembleia, permanecendo nele até a posse do vice-governador, a quem transferirá o exercício do mandato, dentro do prazo referido no artigo anterior.


Art. 4º. – A presente Resolução obriga desde a sua promulgação, nesta data, revogadas as disposições em contrário.


Sala das sessões da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, em Cuiabá, 18 de agosto de 1967. aa) Júlio de Castro Pinto, Ubaldo Barém, Oscar Soares, Nunes Rocha, Celso Amaral, Alexandrino Marques, Nelson Ramos, Augusto Mário, Oliveira Lima, Milton Figueiredo, João de Paula Ribeiro, Reinaldo Moraes, Cleômenes Nunes, Walter de Castro, Américo Nassif, Sebastião Cunha, Valdevino Guimarães.



FONTE: Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembléia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 335.



18 de agosto

2014 - Morre padre Mário, um dos fundadores do CIMI

   




Padre Mário comemorou ano passado 60 anos de vida sacerdotal. (foto: divulgação)
Morreu em Campo Grande o padre salesiano Mário Panziera, que estava internado há cerca de duas semanas no Hospital da Unimed (antigo Miguel Couto), na Capital. De acordo com o laudo médico, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Ele foi um dos fundadores do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), pároco da São José e ajudou a criar 16 novas comunidades católicas na Capital.

Padre Mário nasceu em 7 de janeiro de 1927 em Selva del Montello, na Itália. Ele chegou ao Brasil em 1947, aos 20 anos de idade. Foi ordenado sacerdote aos 26 anos na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo (SP), pelo bispo salesiano Dom João Rezende Costa. O lema escolhido para ilustrar a sua vocação foi “conservai a unidade do espírito no vínculo da paz” (Ef: 4,3).

Depois de ordenado, atuou nas aldeias São José de Sangradouro, Sagrado Coração de Meruri Marcos, com as etnias Bororo e Xavante, no Mato Grosso. Em 1972, ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Em 1976 veio para Mato Grosso do Sul, assumindo a função de diretor da comunidade salesiana de Indápolis (Dourados) - composta por uma casa de formação, o Instituto Dom Bosco, e pela Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Atuou como pároco em Cuiabá (Paróquia São Gonçalo), São José (Campo Grande), Nossa Senhora Auxiliadora (Campo Grande) e novamente em Indápolis com a função de pároco – local onde celebrou os 60 anos de vida sacerdotal em 2013.

Na Capital, de 1995 a 2008, foi o responsável pela construção de 16 comunidades católicas, três delas elevadas à paróquia: Maria Medianeira das Graças (Vila Popular); Sagrado Coração de Jesus, que se tornou a Paróquia Coração Eucarístico de Jesus (Bairro Coophatrabalho) e a Paróquia São Francisco de Sales, antes Comunidade São Pedro (Bairro Recanto dos Pássaros). Como pároco ele sempre deu prioridade à atuação de todos os movimentos pastorais da Igreja Católica.

Neste último ano foi confessor e acompanhou os formandos do Pós-Noviciado no Instituto São Vicente, em Campo Grande.


FONTE: Michel Faustino, Campo Grande News 

FOTO: Assembleia Legislativa de MS.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

19 de setembro

19 de setembro


 
1857Frei Mariano nomeado vigário forâneo do Baixo Paraguai, com sede em Corumbá





Frei Mariano de Bagnaia é nomeado vigário da comarca eclesiástica do Baixo-Paraguai, com sede em Corumbá:

“D. José Antonio dos Reis por graça de Deus e da S. Sé apostólica, bispo desta cidade de Cuiabá, Bom Jesus de Cuiabá. Aos que esta provisão verem, saúde, paz e bênção em Jesus Cristo.

Fazemos saber que sendo necessário prover-se o lugar da sede da Vara da Comarca Eclesiástica do Baixo-Paraguai que se acha vaga e reconhecendo no reverendo frei Mariano de Bagnaia as qualidades necessárias para o bom desempenho deste emprego por isso havemos por bem e pela presente nossa provisão nomeá-lo, provê-lo e instituí-lo vigário da Vara da dita Comarca Eclesiástica enquanto bem servir e não mandarmos o contrário e para cujo exercício lhe confiamos todas as faculdades e jurisdição marcados no F. J. 9 do Regimento do auditório eclesiástico da constituição do Bispado com a restrição dos casos incompatíveis com as leis do Império devendo antes de entrar no exercício passar perante nós ou a nossa provisão e vigário geral o respectivo juramento na forma da citada constituição do bispado. Neste emprego haverá todos os emolumentos, provas e percasos que por direito lhe pertencerem. Muito exortamos aos nossos caros e prezados filhos da sobredita comarca para que conheçam com cumpre ao mencionado vigário da Vara.

Data e passada nesta cidade de Cuiabá, sob o nosso sinal e selo de nossas armas, aos 19 de setembro de 1857”.


FONTE: 35 - Frei Alfredo Sganzerla, A história do frei Mariano de Bagnaia, Edição FUCMT-MCC, Campo Grande, 1992, página 392.


19 de setembro

1963 - Morre no Rio, o general Zenóbio da Costa





Faleceu no Rio de Janeiro, o general Euclides Zenóbio da Costa nasceu em Corumbá (MS), então no estado de Mato Grosso, no dia 9 de maio de 1893, filho do general José Zenóbio da Costa e de Hermínia Mendes Gonçalves da Costa.

Realizou os primeiros estudos em sua cidade natal e, em 1905, aos 12 anos de idade, matriculou-se no Colégio Militar do Rio de Janeiro, então capital da República. Concluiu o curso em dezembro de 1911 e nesse mesmo mês assentou praça, ingressando na Escola Militar do Realengo. Realizou os cursos de cavalaria, infantaria e artilharia e em abril de 1915 foi declarado aspirante-a-oficial.

Por essa época foi convocado para integrar as tropas do governo que combatiam no Sul a Revolta do Contestado. Essa era a denominação do território disputado pelos estados do Paraná e Santa Catarina na região dos rios Saí e Iguaçu. Como as terras do Contestado fossem muito férteis, fazendeiros influentes começaram a desalojar os antigos ocupantes da área, pequenos agricultores que, por isso mesmo, passaram a se armar e a se organizar em torno de líderes messiânicos. A repercussão nacional do conflito levou o governo federal, a partir de outubro de 1912, a enviar várias expedições militares para combater os posseiros. As 13 primeiras expedições foram destroçadas, morrendo em combate 20 oficiais e perto de trezentos soldados do Exército. Cerca de três mil camponeses fanatizados perderam a vida lutando contra tropas regulares. Somente em outubro de 1916, ante o poderio de fogo das forças comandadas pelo general Fernando Setembrino de Carvalho, a revolta foi esmagada.

De regresso ao Rio de Janeiro, Zenóbio foi indicado para secretariar o 55º Batalhão de Caçadores (BC). Em julho de 1917, promovido a segundo-tenente, passou a comandar a 4ª Seção da 1ª Companhia de Metralhadoras. Em 1921 serviu na Bahia e em janeiro do ano seguinte foi promovido a primeiro-tenente voltando então ao Rio para juntar-se à 4ª Companhia de Metralhadoras Pesadas. Nessa época, os meios militares andavam agitados com a campanha presidencial que opunha os candidatos Artur Bernardes, presidente de Minas, e Nilo Peçanha, senador pelo estado do Rio. A jovem oficialidade, base do movimento tenentista, mobilizou-se contra a candidatura de Bernardes, afinal eleito em 1º de março de 1922, e inflamou-se quando o presidente Epitácio Pessoa, em 4 de julho seguinte, ordenou a prisão disciplinar do marechal Hermes da Fonseca por este ter protestado, na qualidade de presidente do Clube Militar, contra a utilização de tropas do Exército numa disputa eleitoral em Pernambuco. No dia 5 de julho, a guarnição do forte de Copacabana rebelou-se contra o governo, contando com a adesão dos cadetes da Escola Militar do Realengo e de alguns contingentes da Vila Militar. O movimento foi controlado em algumas horas, tendo Zenóbio tomado parte na repressão aos rebeldes. No dia 15 de novembro, Artur Bernardes assumiu a presidência da República.

Em 1924 Zenóbio servia como instrutor na Escola Militar do Realengo quando foi destacado pelo general João Álvares de Azevedo Costa para comandar uma coluna legalista que combatia no Sul os revolucionários que se insurgiram contra a permanência de Bernardes no poder. A Revolução de 1924 iniciou-se em São Paulo, também no dia 5 de julho, segundo aniversário da revolta do forte de Copacabana. Era comandada pelo general Isidoro Dias Lopes, cujas tropas durante vários dias mantiveram a capital paulista sob ocupação. A cidade, entretanto, foi logo inteiramente bloqueada e incessantemente bombardeada pelos legalistas. Para não sacrificar a população civil, Isidoro recuou para o Sul do país. Alguns de seus oficiais e soldados exilaram-se em Buenos Aires e Montevidéu. Outros se juntaram às tropas sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes, que marchavam de Santo Ângelo (RS) em direção a Mato Grosso com o objetivo de continuar a ação revolucionária. A junção da unidade revoltosa de Santo Ângelo com os remanescentes da tropa de Isidoro foi a origem da Coluna Prestes, que durante dois anos percorreria mais de dois mil quilômetros do território brasileiro, dando combate a destacamentos do Exército e a batalhões das polícias militares de vários estados que se movimentaram para defender o governo federal.

Colocado em 1926 à disposição do governador do Maranhão, José Pires Sexto, Zenóbio da Costa acumulou naquele estado a chefia de polícia e o comando da Força Pública, tendo exercido ainda, durante alguns dias, as funções de prefeito de São Luís. Já no posto de capitão, ao qual foi promovido em julho de 1928, retornou ao Rio de Janeiro em meados de 1930, em pleno período de agitação revolucionária contra o governo Washington Luís. Comandante, entre outubro e dezembro daquele ano, da 6ª Companhia do 1º Regimento de Infantaria, aquartelado na Vila Militar, tomou posição discreta a favor do movimento revolucionário. Com a posse do Governo Provisório de Getúlio Vargas, foi de novo enviado ao Maranhão para apurar irregularidades administrativas que teriam sido praticadas pelo governo de José Pires Sexto, deposto, como o de Washington Luís, em 24 de outubro de 1930. Encerrada sua tarefa no Maranhão, foi enviado a Belém, onde permaneceu à disposição do comandante da 8ª Região Militar (RM). Em janeiro de 1932 foi chamado novamente ao Rio para comandar a 1ª Companhia do 3º Regimento de Infantaria (RI).

Encontrava-se nesse comando quando estourou em São Paulo, no dia 9 de julho de 1932, a Revolução Constitucionalista, deflagrada pelas correntes políticas do estado em aliança com os efetivos locais do Exército e da Força Pública, com a finalidade de depor o Governo Provisório. Iniciada a contra-ofensiva governamental no vale do Paraíba, sua unidade recebeu ordens para incorporar-se ao destacamento do coronel Manuel Daltro Filho, travando contato com o inimigo nas proximidades de Itatiaia (RJ). Ocorreu, então, o primeiro recuo da vanguarda constitucionalista comandada pelo coronel Euclides Figueiredo. Na frente leste os combates entre paulistas e federais foram mais assíduos e violentos, com as forças legalistas tentando chegar a Campinas e dali abrir caminho para a ocupação militar da capital bandeirante. A atuação de Zenóbio foi posta em evidência pelos despachos do coronel Daltro, assegurando sua promoção a major no dia 5 de agosto de 1932, menos de um mês após o início das hostilidades.

A revolução paulista terminou em 2 de outubro de 1932, com o pedido de armistício dirigido ao chefe do Governo Provisório pelo general Bertoldo Klinger, comandante do chamado Exército constitucionalista. Concluída a rendição, Zenóbio regressou ao Rio e, no início de 1933, assumiu o comando do 1º Batalhão do 3º RI. Entre maio daquele ano e janeiro de 1934 freqüentou também os cursos da Escola de Infantaria.
Quando Pedro Ernesto Batista, interventor e, a partir de 1935, prefeito do Distrito Federal, decidiu criar a Polícia Municipal, Zenóbio da Costa foi convidado para comandá-la, sem prejuízo de sua condição de aluno da Escola de Estado-Maior do Exército, que cursou de fevereiro de 1935 a dezembro de 1936. Nesse período, participou da repressão ao movimento insurrecional do 3º RI, que se sublevou contra o governo em 27 de novembro de 1935. Também nessa época, em maio de 1936, foi promovido a tenente-coronel.

Em agosto de 1937, Zenóbio assumiu o comando do 8º BC, sediado em São Leopoldo (RS), por indicação do general Daltro Filho, comandante da 3ª RM, que então dava execução ao processo de deposição do governador Flores da Cunha. Desde fins de 1936, Flores vinha acentuando suas divergências com o governo federal, aumentando os efetivos da Brigada Militar gaúcha e mantendo mobilizados os chamados batalhões provisórios, grupos de voluntários que haviam sido equipados com armamentos do Exército em 1932 para combater a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Diante das posições de Flores, que apoiava a candidatura de Armando Sales à presidência da República, em oposição a José Américo de Almeida, o candidato semi-oficial, e se recusava sistematicamente a atender aos pedidos de devolução dos armamentos formulados pelo Ministério da Guerra, o governo federal foi apertando o cerco até federalizar a Brigada gaúcha em outubro de 1937, o que provocou a renúncia do governador e sua fuga para o Uruguai. A 10 de novembro seguinte, com a desarticulação de todas as resistências prováveis, Vargas instituiu o Estado Novo, suprimindo a Constituição de 1934, extinguindo todos os órgãos legislativos do país e todos os partidos políticos existentes, suspendendo as eleições marcadas para janeiro de 1938 e adotando uma Carta autoritária que iria vigorar até 1946.

Em 3 de maio de 1938 Zenóbio chegou à patente de coronel. Nessa época, tomou a defesa de Pedro Ernesto, denunciado pelo chefe de polícia do Distrito Federal, Filinto Müller, e processado pelo Tribunal de Segurança Nacional sob a acusação de cumplicidade com a revolta do 3º RI em novembro de 1935. De agosto de 1938 a janeiro de 1940, comandou o 14º RI, em São Gonçalo (RJ). Daí foi transferido, em maio deste último ano, para Campo Grande, então no estado de Mato Grosso, e hoje capital de Mato Grosso do Sul, onde ficou à disposição do comando da 9ª RM até agosto seguinte. Promovido a general-de-brigada em agosto de 1941, já em outubro foi transferido para Belém com a missão de comandar a 8ª RM.

Iniciaram-se a essa altura, em plena Segunda Guerra Mundial, as primeiras conversações entre as autoridades militares e diplomáticas do Brasil e dos Estados Unidos com vista à montagem de sistemas defensivos no Norte e Nordeste do país contra possíveis ataques alemães a partir de bases controladas no litoral da África Ocidental por franceses ligados ao governo colaboracionista de Vichy. Temia-se que os alemães pusessem em risco a segurança do tráfego marítimo no Atlântico Sul. No comando da 8ª RM, Zenóbio travou conhecimento com alguns oficiais que se encontravam em Belém na qualidade de emissários do governo norte-americano para estudar a localização das futuras bases defensivas. Em março de 1943 foi exonerado daquela função e transferido para Caçapava (SP), onde assumiu no mês seguinte o comando da Infantaria Divisionária da 2ª RM. Mas já em maio foi escolhido para exercer o cargo de diretor-geral de Pessoal do Exército.

Com a FEB na Itália

Com os entendimentos mantidos em Natal, em 28 de janeiro de 1943, entre os presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, tiveram início as primeiras providências para o envio de tropas brasileiras ao exterior em missão de guerra. Essas trocas de pontos de vista entre os dois chefes de Estado tomaram feição prática e aprofundaram-se durante o ano de 1943, com as sucessivas visitas de autoridades militares norte-americano ao Brasil e com as idas freqüentes de oficiais brasileiros aos Estados Unidos para trocas de informações e acertos de detalhes.

Vários oficiais brasileiros foram relacionados para estagiar em centros de treinamento militar norte-americanos a fim de entrar em contato com modernos armamentos e técnicas de combate. Zenóbio da Costa foi um desses oficiais, e, enquanto permaneceu nos EUA, de agosto a novembro de 1943, um decreto presidencial datado de 7 de outubro de 1943 determinou a organização e instrução da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) com unidades retiradas das regiões militares sediadas no Rio, São Paulo, Minas e Mato Grosso. A 1ª DIE constituiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB), cuja composição básica era de pesadas unidades de artilharia e infantaria.

O general Zenóbio da Costa ingressou na FEB como voluntário. Sua missão principal era preparar, com treinamento adequado, os efetivos de infantaria, de conformidade com as diretrizes de instrução dos quadros e da tropa do corpo expedicionário emitidas em 18 de agosto de 1943 pelo Estado-Maior do Exército (EME). Recebendo o prazo de 27 semanas para colocar em condições de combate a tropa sob seu comando, a 31 de março de 1944 desfilou à frente dela na avenida Rio Branco, no Rio, sendo amplamente festejado pela população. Demonstrava assim estar pronto para o embarque, cuja data vinha sendo mantida em sigilo.

Em 2 de julho de 1944, o navio-transporte norte-americano General Mann zarpou da Guanabara conduzindo o 1º Escalão da FEB composto de 5.800 homens, sob o comando de Zenóbio da Costa, e levando a bordo o comandante-em-chefe da FEB, general João Batista Mascarenhas de Morais. A tropa brasileira desembarcou em Nápoles, na Itália, a 16 de julho, e permaneceu nas proximidades até o dia 26, quando se transferiu para a Tarquínia, incorporando-se, a 5 de agosto, aos efetivos do V Exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Mark Clark. A 18 deslocou-se para a região de Vada, perto do rio Arno, onde se concentravam fortes dispositivos de tropas alemãs. Nessa área o 1º Escalão, sob o comando de Zenóbio, realizou um teste ofensivo, presenciado pelo general Mark Clark e por 270 oficiais norte-americanos, ao fim do qual foi considerado apto para entrar em combate.

No dia 16 de setembro verificou-se o primeiro contato da FEB com o inimigo. Acampado em San Rossore, o 6º RI desdobrou-se em duas frentes: o 1º Batalhão da unidade marchou na direção Filetole-Monte Ghilardona, enquanto o 2º Batalhão ingressou no percurso Bozzano-Vecoli. Dessa operação resultou a ocupação de Massarosa, Bozzano e Quiza. Dois dias depois, a FEB conquistou o reduto de Camaiore. A 26 alcançou Monte Prano, no desempenho de plano ofensivo que visava a atingir a “Linha Gótica”, constituída de pontos fortificados nas altitudes máximas da cadeia dos Apeninos.

A 6 de outubro, mais dois escalões da FEB chegaram a Nápoles: o 2º com 5.133 homens, comandado pelo general Osvaldo Cordeiro de Farias, e o 3º, com 5.243 homens, comandado pelo general Olímpio Falconière da Cunha. Com esse reforço, Mascarenhas mudou a estrutura de comando da FEB: Cordeiro de Farias passou a comandar a Artilharia Divisionária, e Zenóbio, a Infantaria. As unidades de Zenóbio foram enviadas, então, para o vale do Reno, onde a poderosa 1ª Divisão Blindada americana mantinha posições defensivas numa região montanhosa exatamente defronte às fortificações nazistas nos Apeninos, encravadas nos pontos culminantes dos montes Belvedere, Gorgolesco, Mazzancana, La Torracia, Castelo, Della Croce, Torre de Nerone e Sopropassasso.

A FEB era, estruturalmente, subordinada ao IV Corpo do Exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Willis Crittenberger, que por sua vez constituía uma grande unidade do V Exército, sob o comando do general Mark Clark. Ao contrário de Mark Clark, que mantinha excelentes relações com o general Mascarenhas, o comandante do IV Corpo exigia da tropa brasileira um ritmo de operacionalidade que estava muito além de suas disponibilidades técnicas e numéricas. O general Floriano de Lima Brayner conta em seu livro A verdade sobre a FEB que as quatro primeiras tentativas de ataque a Monte Castelo, a principal fortaleza natural da cadeia dos Apeninos, desencadeadas nos dias 24, 25 e 29 de novembro e 12 de dezembro de 1944, foram malsucedidas porque o general Crittenberger não só desviou reforços da infantaria da FEB para outros setores de ação como ainda substituiu unidades norte-americanas por efetivos brasileiros já nos limites irresistíveis da exaustão física.

O procedimento de Crittenberger, segundo Brayner nem sempre contestado devido à timidez e inexperiência de Mascarenhas, chegou a criar dúvidas a respeito da reputação profissional do general Zenóbio e, conseqüentemente, a provocar desconfianças na tropa quanto à sua capacidade de comando. A 21 de fevereiro de 1945, todavia, assumindo pessoalmente a chefia das operações na frente de Monte Castelo, contrariando inclusive as expectativas de Crittenberger, o general Zenóbio da Costa lançou em combate o 1º RI sob o comando do coronel Aguinaldo Caiado de Castro e, com apoio da Artilharia Divisionária, ocupou em 15 minutos a posição considerada quase inexpugnável. Dali por diante, a FEB tomou Castelnuovo, Montese, Zocca, Montalto, Vignola, Marano e Collechio e alcançou Turim a 1º de maio, na véspera da rendição alemã em toda a frente italiana, que marcou o fim da guerra no continente europeu. No dia 9 de maio, Zenóbio foi promovido a general-de-divisão e, no mês seguinte, designado para representar o Exército brasileiro na Parada da Vitória realizada em Londres.

De 1945 a 1954

Em julho de 1945, Zenóbio regressou ao Brasil, quando o país vivia um dos momentos mais ativos da campanha presidencial, tendo em vista as eleições marcadas para 2 de dezembro. Disputavam a chefia da nação o general Eurico Gaspar Dutra, na legenda do Partido Social Democrático (PSD), e o major-brigadeiro Eduardo Gomes, indicado pela União Democrática Nacional (UDN). Dutra era candidato das forças políticas que apoiavam Vargas, enquanto Eduardo Gomes representava a oposição. Não obstante, crescia no país inteiro o chamado movimento “queremista” (“Queremos Getúlio”), que visava ao afastamento das duas candidaturas militares em favor da permanência de Vargas no poder.

No meio político acentuava-se a desconfiança quanto à posição do presidente da República em relação aos seus compromissos com Dutra, generalizando-se a suspeita de que ele próprio incentivava a propagação do movimento queremista através da máquina sindical controlada pelo Ministério do Trabalho. Vargas não se desincompatibilizou no prazo devido para concorrer às eleições, mas no dia 10 de outubro decretou a antecipação das eleições para os governos dos estados, fazendo-as coincidir com o pleito presidencial marcado para 2 de dezembro. Os governos estaduais ficariam assim livres para serem ocupados de imediato por nomes de confiança do presidente, que dessa forma se fortaleceria politicamente em todo o país. Os militares viram nisso uma manobra continuísta e em 29 de outubro, quando Getúlio pretendeu substituir na chefia de polícia do Distrito Federal o coronel João Alberto Lins de Barros pelo seu irmão Benjamim Vargas, as forças armadas depuseram o governo através de um golpe de Estado. A chefia da nação foi entregue ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro José Linhares, e Dutra venceu as eleições de dezembro, tomando posse em janeiro do ano seguinte.

Em junho de 1946 Zenóbio assumiu o comando da 1ª Divisão de Infantaria, a mais poderosa unidade do Exército, sediada na Vila Militar, no Rio de Janeiro. No ano seguinte passou a fazer parte da comissão de promoções do Exército e, em 1949, foi nomeado comandante da Zona Militar Leste, sediada na capital da República.

Definidos os resultados das eleições presidenciais de 3 de outubro de 1950 com a expressiva vitória de Getúlio Vargas, candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sobre seus três competidores — Eduardo Gomes, da UDN, Cristiano Machado, do PSD, e João Mangabeira, do Partido Socialista Brasileiro  (PSB)  as restrições em torno da legitimidade de sua posse começaram a movimentar os meios oposicionistas no Congresso e na imprensa. A tese sustentada era a de que Vargas não alcançara a maioria absoluta de votos, exigência que seus opositores julgavam implícita no texto da Constituição de 18 de setembro de 1946. Tal alegação gerou reações violentas nos meios políticos incluindo setores dominantes do PSD, que, embora derrotados nas urnas, não encontravam fundamento constitucional para impugnar o triunfo do candidato trabalhista.

O problema, como era de se esperar, refletiu-se nos quartéis. Zenóbio, no comando da Zona Militar Leste, foi procurado pelos jornais e desestimulou publicamente a ação dos que procuravam envolver as chefias militares numa decisão que já havia sido tomada pelo voto popular. No entanto o general Newton Estillac Leal, que comandava a Zona Militar Sul e apoiara os pronunciamentos de Zenóbio, foi o escolhido por Vargas para ocupar a pasta da Guerra. A opção do presidente, não tendo sido do agrado de Zenóbio, colocou-o em conflito com o novo ministro, que exercia cumulativamente a liderança da corrente nacionalista do Exército, a qual o elegera, em maio de 1950, presidente do Clube Militar, em oposição ao grupo conservador chefiado pelo general Cordeiro de Farias. Enquanto a corrente de Estillac defendia o monopólio estatal do petróleo, a não-participação do Brasil no conflito coreano e posição autônoma no campo da política externa, o grupo de Cordeiro, ao contrário, admitia a participação do capital estrangeiro na exploração petrolífera, insistia nos compromissos do país com o mundo ocidental em oposição ao bloco soviético, e defendia um integral alinhamento com as diretrizes da política externa dos Estados Unidos.

Entre esses dois grupos, o general Zenóbio e os oficiais de seu círculo de influência figuravam numa esfera oscilante, sem fixações ideológicas e conceitos políticos estabelecidos, embora decididos, na hipótese de um confronto, a uma composição indisfarçável com o grupo do general Cordeiro. Na campanha contra Estillac, acusado de favorecer o desempenho de atividades comunistas dentro do Clube Militar, Zenóbio aparecia como precioso aliado de Cordeiro, não só pela importância do comando que exercia, como pela natural extroversão do seu temperamento, sempre predisposto a pronunciamentos de efeitos retumbantes. Dessa forma, sua posição à frente da Zona Militar Leste foi de choque permanente com o ministro da Guerra.

Promovido a general-de-exército em março de 1951, prosseguiram suas dificuldades de relacionamento com Estillac, em decorrência das questões ligadas ao Clube Militar. Para evitar uma crise, Estillac solicitou demissão do Ministério da Guerra em 25 de março de 1952, ocorrendo a Zenóbio pedir, na mesma data, sua exoneração do comando da Zona Militar Leste. Vargas aceitou as solicitações de ambos e, no dia 30 daquele mês, Zenóbio passou o posto ao general Aristóteles de Sousa Dantas, comandante da 1ª RM e da 1ª Divisão de Infantaria. Em maio, quando Estillac, já afastado do ministério, concorreu à reeleição no Clube Militar, Zenóbio denunciou a presença de influência comunista na tropa e tomou o partido da chapa Alcides Etchegoyen-Nélson de Melo, afinal vencedora do pleito. A chapa denominou-se Cruzada Democrática e foi apoiada também por Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, Juarez Távora, Ângelo Mendes de Morais, Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Canrobert Pereira da Costa, Álvaro Fiúza de Castro e Emílio Ribas Júnior. Depois de permanecer em disponibilidade por seis meses, Zenóbio foi convidado por Vargas para ocupar novamente o comando da Zona Militar Leste, que recebeu do mesmo general Sousa Dantas no dia 9 de setembro.

Ministro da Guerra

No início de 1954, os adversários de Vargas, tanto na área civil quanto na militar, deram prosseguimento à campanha antigovernamental desencadeada nos anos de 1951 e 1952 contra as atividades de Estillac Leal no Ministério da Guerra e intensificada em 1953 com a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar as transações do jornal pró-governista Última Hora com os estabelecimentos oficiais de crédito e, em especial, com o Banco do Brasil. O motivo principal do recrudescimento da luta oposicionista foi o decreto do governo que elevou em 100% o salário mínimo. Do ponto de vista dos empresários, o reajuste, atribuído à ação de João Goulart à frente do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, vinha sobrecarregar os seus compromissos sociais e agravar os índices inflacionários, que decorriam, segundo eles, de pressões exercidas nos sindicatos por elementos considerados suspeitos de atividades subversivas, em aliança com setores esquerdistas do PTB.

Na concepção dos militares, o reajuste quase fazia equivaler o salário mínimo aos vencimentos das categorias subalternas das forças armadas, pondo em risco a estabilidade do sistema hierárquico e dificultando o recrutamento, fundamental para a renovação dos quadros. Surgiu em fevereiro um documento que expressava a insatisfação militar, conhecido como Manifesto dos coronéis e assinado por cerca de 80 coronéis e tenentes-coronéis, entre os quais Amauri Kruel, Sizeno Sarmento, Euler Bentes Monteiro, Golberi do Couto e Silva, Jurandir Mamede e José Alberto Bittencourt. O manifesto teve como resultado o afastamento do general Ciro do Espírito Santo Cardoso do Ministério da Guerra e de João Goulart do Ministério do Trabalho. Zenóbio da Costa foi então convidado por Vargas para assumir o Ministério da Guerra, onde tomou posse em 22 de fevereiro de 1954.

Sua nova posição colocou-o em choque com as lideranças militares da Cruzada Democrática, com as quais se aliara em maio de 1952. Diante disso, tentou remover suas desavenças com Estillac, destinando-lhe o comando da Zona Militar Centro, com sede em São Paulo. Para a Zona Militar Leste foi designado o general Odílio Denis, numa estratégia de fortalecimento do esquema defensivo do governo, já agora sob ameaça declarada de um movimento que tinha como objetivo a interrupção do mandato constitucional de Vargas. Com apoio do que ainda restava da facção de Estillac, bastante atingida pelos inquéritos policial-militares (IPM) de dois anos antes, Zenóbio tentou conquistar o Clube Militar através da indicação do nome do general Lamartine Pais Leme, para a sua presidência, mas não obteve êxito. A Cruzada Democrática manteve-se à frente da entidade, elegendo a chapa Canrobert-Juarez Távora e acentuando dessa forma a vulnerabilidade do dispositivo de segurança do governo.

À crise política em plena efervescência juntava-se o fato de que 1954 era um ano eleitoral. No dia 3 de outubro seriam renovados 11 governos estaduais, 2/3 do Senado e a totalidade da Câmara Federal, além de todas as assembléias legislativas, prefeituras e câmaras de vereadores do país. O jornalista Carlos Lacerda, diretor da Tribuna da Imprensa, um dos principais instrumentos das forças que combatiam o governo, era candidato a deputado federal pela antiga capital da República na legenda da UDN e foi personagem de um episódio que rompeu a normalidade da disputa eleitoral, desencadeando um processo que levaria ao suicídio de Vargas.

Recusando os serviços de segurança pessoal que o governo lhe oferecera através do ministro da Justiça, Tancredo Neves, o jornalista passou a ser acompanhado em seus comícios e conferências por oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) dedicados à sua causa. Os mais freqüentes nesse acompanhamento eram os majores Américo Fontenele, Gustavo Borges e Rubens Vaz, que se revezavam na missão de dar cobertura a Lacerda. Na madrugada de 5 de agosto, voltando de uma dessas conferências, ao estacionar o carro na calçada em frente à sua residência na rua Toneleros, no Rio, Lacerda deteve-se numa conversa com o major Vaz, destacado nesse dia para acompanhá-lo, quando foi atacado a tiros por um desconhecido. O major, no cumprimento de sua tarefa, atracou-se com o pistoleiro e, durante a luta corporal em que se empenhou com ele, foi ferido mortalmente. O atacante desapareceu em seguida. Minutos depois, as emissoras de rádio davam notícia do atentado, revelando que a vítima era ligada ao grupo do brigadeiro Eduardo Gomes.

A cidade foi logo convulsionada. A delegacia policial de Copacabana abriu inquérito, identificando-se logo que o crime teria partido de elementos da guarda pessoal de Vargas, chefiada pelo “tenente” Gregório Fortunato. Desconsiderando a ação da polícia e pondo em dúvida a sua contabilidade, a Aeronáutica instituiu um IPM na base aérea do Galeão, sob a presidência do coronel João Adil de Oliveira. A investigação militar tomou, evidentemente, cunho político. Os membros da guarda presidencial suspeitos de cumplicidade, inclusive o próprio Gregório, foram sendo capturados por patrulhas da FAB e recolhidos ao Galeão. Em pouco tempo não se tratava de envolver apenas os integrantes da guarda, logo dissolvida por ordem de Vargas. Pessoas da família do presidente — seu filho Lutero e seu irmão Benjamim — passaram a ser apontadas como mandantes do crime. O inquérito militar — que, pelo poder que desfrutou, passou a ser conhecido como a “República do Galeão” — procurava comprometer ainda o ex-ministro Danton Coelho, o deputado Euvaldo Lodi e o general Ângelo Mendes de Morais.

Com o intuito de enfatizar sua imparcialidade na condução do IPM e, ao mesmo tempo, inocentar o governo de qualquer responsabilidade no atentado, o presidente da República liberou todas as dependências do palácio do Catete para as diligências dos encarregados do inquérito, que dessa forma tiveram acesso aos arquivos privados da guarda pessoal e, em especial, os de Gregório Fortunato. As facilidades concedidas pelo governo, no entanto, não aliviaram a intensidade da crise. Juntamente com o ministro da Justiça, Tancredo Neves, e com o chefe do Gabinete Militar, general Caiado de Castro, Zenóbio coordenava medidas e tomava algumas precauções para evitar que a legalidade fosse agredida. A 10 de agosto, com a concordância de Vargas e o apoio de Tancredo, propôs a substituição, na chefia de polícia, do general Armando de Morais Âncora pelo coronel Paulo Francisco Torres, reafirmando que o governo estava preparado para defender a integridade do regime constitucional.

Entre 10 e 22 de agosto o clima político não passou por alterações muito substanciais. Mas na noite de 22 os oficiais-generais da FAB, reunidos no Clube da Aeronáutica sob a presidência do brigadeiro Eduardo Gomes, voltaram a manifestar-se contra o governo, indicando a renúncia do presidente da República como única saída para a crise. A decisão dos comandos da FAB foi levada ao Catete pelo marechal Mascarenhas de Morais, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), mas o presidente Vargas repeliu a fórmula da renúncia. O ministro da Justiça sugeriu o imediato enquadramento disciplinar dos brigadeiros sublevados, mas os três militares — inclusive o brigadeiro Epaminondas Santos, que substituíra Nero Moura no Ministério da Aeronáutica — ponderaram que a medida de nada adiantaria aos propósitos do governo de preservar a legalidade, não concorrendo senão para fomentar as animosidades.

No dia seguinte, Zenóbio lançou uma advertência, reiterando que o Exército não permitiria agitações e estava pronto para garantir a normalidade política. À noite, no entanto, a posição dos brigadeiros foi fortalecida pela solidariedade do almirantado, embora não ficasse claro que a Marinha estivesse disposta a combater. Essa nova componente da crise estava sendo avaliada no Catete pelos ministros Tancredo Neves, Epaminondas Santos e Renato Guillobel (Marinha) quando chegou ao palácio o general Zenóbio da Costa acompanhado de Mascarenhas de Morais e Odílio Denis. Na oportunidade, o ministro da Guerra informou que, dos 80 generais em postos de comando no Rio, 37 haviam assinado um memorial justificando a conveniência da renúncia de Vargas.

Em face disso, o presidente da República reuniu o ministério para novas deliberações e verificou que o ânimo de Zenóbio não era o mesmo de antes. Participando da reunião, Alzira Vargas, filha do presidente, censurou o comportamento ambivalente do ministro da Guerra e procurou demonstrar que a real situação dentro do Exército não coincidia com as evasivas de Zenóbio. As discussões generalizaram-se e, no final do encontro, ficou decidido que Vargas entraria de licença, permanecendo afastado do poder enquanto durassem as averiguações em torno do atentado da rua Toneleros.

Segundo depoimento de Juarez Távora, Zenóbio seguiu então para o Ministério da Guerra, onde convocou uma reunião de generais para comunicar-lhes a resolução da licença presidencial. Como a nota expedida pela Secretaria da Presidência da República não mencionava o prazo de vigência do afastamento de Vargas, ao ser interpelado nesse sentido por alguns oficiais mais exaltados, Zenóbio disse que ele seria definitivo.

Na madrugada de 24 de agosto o país foi surpreendido com o suicídio de Vargas. Assumiu o governo o vice-presidente João Café Filho e Zenóbio foi exonerado do Ministério da Guerra, sendo substituído pelo general Henrique Teixeira Lott.

11 de novembro de 1955

Zenóbio permaneceu dez meses sem comissão e sem comando até que, com a morte de Estillac em 1º de maio de 1955, foi designado para substituí-lo no posto de inspetor-geral do Exército. Tomou posse no dia 11 e, segundo as práticas normais do Exército, constituiu seu gabinete com oficiais de sua confiança pessoal, mantendo todavia os tenentes-coronéis Nélson Werneck Sodré e Henrique Moura e Cunha, que serviam naquele órgão a partir da investidura de Estillac.

A agitação política não foi interrompida com o desaparecimento de Getúlio Vargas. Em vez disso, agravou-se diante da perspectiva de vitória da candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek, lançada pelo PSD com apoio do PTB, que dava o candidato da chapa à vice-presidência, João Goulart. A ameaça à legalidade não partia exclusivamente das correntes oposicionistas do Congresso que combateram o governo Vargas, mas contava agora com o estímulo do presidente Café Filho e de toda a cúpula militar que ascendera ao poder depois de 24 de agosto. O pretexto para a conspiração consistia na resistência que o PSD e o PTB vinham opondo às proposições da UDN, a qual, segundo aqueles dois partidos, visava a criar embaraços à realização do pleito de 3 de outubro. Entre essas proposições figuravam a adoção da cédula oficial impressa e distribuída por órgãos do governo, o que, segundo a UDN, tinha uma finalidade moralizadora; a instituição da maioria absoluta de votos como condição para eleger-se o presidente, o que não era previsto no texto constitucional, e a aprovação da emenda parlamentarista, que implicava a suspensão das eleições de 3 de outubro.

Surgiu, então, o Movimento Militar Constitucionalista (MMC), criado no estado-maior de Zenóbio e incentivado por ele, que visava, entre outras coisas, a servir de suporte à posição dos deputados e senadores do PSD e do PTB que repeliam as propostas adversárias tendentes a modificar o calendário eleitoral e a reformular as regras estabelecidas pela Constituição, o que consideravam desaconselhável num momento em que estava em curso a campanha de sucessão presidencial.

Em outubro de 1955, após o pleito, quando já estava confirmada a vitória de Juscelino e Goulart, Zenóbio repetiu suas declarações de 1950, defendendo a posse dos eleitos. O general Henrique Lott, ministro da Guerra, que adotara como norma de conduta disciplinar o não-envolvimento de militares em questões políticas, resolveu puni-lo, demitindo-o a 21 de outubro da Inspetoria Geral do Exército. Ao afastar-se do cargo, no entanto, Zenóbio já havia deixado um grupo de oficiais amigos seus suficientemente preparado para deter qualquer tentativa militar de impedir a posse dos eleitos. Com o movimento de 11 de novembro de 1955, desfechado sob o comando do general Lott, a posse de Juscelino e Goulart foi plenamente garantida em 31 de janeiro seguinte. Em virtude de sua participação naquele movimento, em janeiro de 1956 Zenóbio da Costa foi designado para a chefia do Departamento Geral de Administração do Exército, transformado em setembro do mesmo ano em Departamento de Provisão Geral. Permaneceu no cargo até maio de 1957, quando foi transferido para a reserva no posto de marechal. Na ocasião lamentou em entrevista aos jornais que o governo não tivesse aplicado em favor dele a chamada Lei Denis, que permitiria por mais dois anos sua permanência na ativa, desde que isso fosse considerado de conveniência do regime.

Em 9 de janeiro de 1958 Juscelino nomeou-o embaixador do Brasil no Paraguai, em substituição ao diplomata João Luís Guimarães Gomes. Permaneceu em Assunção até 30 de janeiro de 1961, véspera da posse do presidente eleito Jânio Quadros, quando solicitou demissão. Passou a embaixada ao encarregado de negócios Carlos Sette Gomes Pereira, que se manteve no posto até a chegada do novo embaixador, general Joaquim Justino Alves Bastos, que tomou posse em agosto de 1961.

Ao retornar da capital paraguaia, o ex-ministro da Guerra afastou-se definitivamente da vida pública.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1963.
Era casado com Darcília Ferraz Zenóbio da Costa, com quem teve três filhas.

FONTE: Plínio de Abreu Ramos, CPDOC- Fundação Getúlio Vargas.

 

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