terça-feira, 1 de março de 2011

7 de julho

7 de julho

1867 Taunay chega a Paranaíba


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Ruínas do sobrado do major Mello Taques,demolido na década de 30


Em sua viagem de volta ao Rio, depois da célebre retirada da Laguna, Taunay alcança Santana do Paranaíba, o último termo de Mato Grosso:

Do Leal, passando um corregosinho, caminhamos três léguas em cerrados, cujas árvores, à maneira de graciosos bosquetes, sombreavam agradavelmente o chão. É um pedaço bonito de estrada, e como se pode desejar numa feita pela arte, até a casa de Albino Latta; depois entra-se em campos dobrados até a vila de Santana do Paranaíba, quatro léguas distante do Albino. O aspecto da povoação pareceu-nos sumamente pitoresco, talvez pelo desejo ardente de alcançá-la como o ponto terminal do sertão de Mato Grosso ou como o último laço que nos prendia àquela província, em que tanto havíamos sofrido, talvez pela estação em que chegávamos; na realidade, metidas de permeio às casas, moitas copadas de laranjeiras, coradas de milhares de auríferos pomos, ao lado d’outras carregadas de cândidas flores, encantavam as vistas e embalsamavam ao longe os ares, trescalando o especial aroma. Tão boa recomendação não é desmentida pelo sabor dos frutos; de fato, são deliciosos e justificam a reputação de que gozam na província de Mato Grosso.


Transpondo um corregosinho e subindo uma ladeira onde há míseras casinholas, chega-se à principal rua da povoação, outrora florescente núcleo, hoje dizimada das febres intermitentes, oriundas das enchentes do Paranaíba, ou pelo menos já estigmatizada desse mal, o que quer dizer o mesmo, visto como os moradores que de lá fugiram, não voltam mais; 800 habitantes mais ou menos, três ou quatro ruas bem alinhadas, uma matriz em construção há muitos lustros, o tipo melancólico duma vila em decadência, o silêncio por todos os lados, crianças anêmicas, mulheres descoradas, homens desalentados, eis a vila de Santana, ponto controverso entre as províncias de Goiás e Mato Grosso, pretendendo esta a posse por tê-la fundado e aquela por ter-lhe dado os meios de vida, enviando-lhe a pedido dos moradores, o mestre escola, o pároco e outras autoridades. Hoje os moradores formam colégio eleitoral da última província; entretanto Goiás não desistiu de suas reclamações e a questão pende dos competentes juízes. 

Fomos pousar na casa do major Martim Francisco de Mello Taques, a única de sobrado da vila, e a maneira hospitaleira com que aquele cavalheiro nos tratou obriga-nos a sincero reconhecimento, pois não era ela a manifestação desse sentimento natural em todos os homens primitivos, era a prática duma qualidade que havia adquirido predicados só próprio do conhecimento das cidades. Tivemos um jantar delicado, bom vinho, atenções e por fim excelentes camas, onde, depois de ligeira conversa com o dono da casa, que por delicadeza a encurtou, pudemos estender os lassos membros, costumados havia muito, às duras gibas e rugas do couro estendido por terra.


FONTE: Taunay, Viagens D'outrora, 2a. edição, Companhia Melhoramentos, São Paulo, 1921, página 61.



1905 - Nasce Nelson de Araújo, médico dos índios, prefeito de Dourados



Nasce em Juiz de Fora, Minas Gerais, Nelson de Araújo. Filho de Leopoldino de Araújo e Carolina Becker de Araújo, concluiu o curso de Medicina em 1927, na Universidade do Rio de Janeiro. Em Dourados desde 1929, membro da Missão Presbiteriana, dedicou-se ao atendimento de indígenas da missão Caiuás e pessoas menos favorecidas. Em 1936 entrou na política, foi eleito presidente do Conselho Consultivo de Dourados, (que exercia as funções legislativas do município). 


"Homem culto, de fino trato - segundo seu biógrafo - tinha excelente trânsito em todas as camadas sociais da cidade. A convivência com os índios fez criar grande afinidade terminando por criar dois deles como filhos, sendo que solteiro, não teve filhos biológicos e em seus passeios de férias costumava levar os meninos". 

Presidente do Clube Social e da Associação Rural de Dourados, elegeu-se prefeito municipal no pleito de 1950 para o mandato de 1951 a 1955. 


Faleceu no Rio de Janeiro em junho de 1966. A rua Maranhão, em julho de 1966, por projeto de iniciativa do vereador Cíder Cerzósimo passou a denominar-se rua Dr. Nelson de Araújo.




FONTE: Rozemar Mattos Souza, Dourados seus pioneiros, sua história, Centro Cívico Histórico e Cultural 20 de Dezembro, Dourados, 2033, página 245.








7 de julho


1924 Governo arrenda terras ervateiras



Através de resolução n. 911, o governo de Pedro Celestino Correa da Costa é autorizado a arrendar em concorrência pública, pelo prazo de dez anos, “até área de um milhão de hectares das terras ervateiras de propriedade do Estado.” Na resolução, a primeira iniciativa de ordem legal, de se quebrar o monopólio da Mate Larangeira, disposta num de seus artigos:
“A área de arrendamento poderá ser em mais de um lote, até o máximo de cinco lotes de 200.000 mil hectares cada um, e à escolha dos proponentes, de acordo com a planta da região ervateira, levantada em 1920".

 
A Mate Larangeira, no ano seguinte, beneficiando-se da citada resolução, legitima a sua posse à toda a área de produção de erva no Estado, antes na condição de concessionária, agora como arrendatária. 





FONTE: Gilmar Arruda, Heródoto, in Ciclo da Erva-Mate em Mato Grosso do Sul 1883-1947, Instituto Euvaldo Lodi, Campo Grande, 1996, página 294. 



7 de julho


1928Maracaju é elevada a município


João Pedro Fernandes, o fundador e primeiro prefeito 


Fundado em 25 de dezembro de 1923, desmembrado de Nioaque, o distrito de Maracaju é elevado à condição de município. A cidade foi criada em 200 hectares de terra doados pelo fazendeiro Nestor Pires Barbosa, às margens do córrego Montalvão. A emancipação ocorreu através da lei no 987, sancionada pelo presidente de Mato Grosso, Mário Correa. O novo município tinha os seguintes limites: partindo da confluência do rio Nioaque com o Miranda e pelo Nioaque acima até a sua alta vertente; daí ao ribeirão Santo Antônio e por este abaixo até ao rio Brilhante e por este abaixo até a barra do rio Santa Maria, daí pelas divisas com os municípios de Ponta Porã, Bela Vista e Miranda até o ponto de partida. João Pedro Fernandes, o fundador, foi seu primeiro intendente. 


FONTE: Francisco B. Ferreira e Albino Pereira da Rosa, Maracaju e sua gente, edição dos autores, 1988, página 151.

6 de julho

6 de julho


1906Morto o presidente Totó Paes


Procedente de Corumbá, à frente de cerca de 2000 homens, Generoso Ponce toma Cuiabá e põe o governador Antonio Paes de Barros em fuga, refugiando-se com alguns companheiros nas proximidades da fábrica de pólvora no Coxipó.

 
Coronel Totó Paes
Pela madrugada de 6 de julho, sitiam o reduto onde lobrigaram indícios de acampamento suspeito.


Gisam meio de prender, ao clarear do dia, os seus ocupantes, sem que pudesse nenhum escapar. Antes de completar as providências, o disparo de um tiro imprudentemente desfechado do interior do capão, provocou a descarga cerrada dos atacantes e a dispersão da comitiva presidencial. Cada qual procurou-se sumir-se pelas sombras protetoras das árvores, evitando os lados de onde vinha a fuzilaria ameaçadora. Como os seus companheiros A. Paes também se levantou para tentar a evasão. Mas, desnorteado, saiu por uma clareira, onde se destacou o vulto para as pontarias fulminantes.

Antes que alcançasse a mata fronteira baqueou, mortalmente ferido, conforme noticiou o ofício que o vice-presidente em exercício mandou, por cópia ao General Dantas Barreto."

Totó Paes chegou ao poder em 1899, após o racha entre Generoso Ponce e os irmãos Murtinhos, com apoio destes. No Sul de Mato Grosso seu principal inimigo foi o cel. Jango Mascarenhas, de Nioaque. Na região, durante seu mandato, depois da morte de Jango e da submissão de grupos de oposição, o seu governo foi razoavelmente tranquilo.



FONTE: Virgílio Correa Filho, A República em Mato Grosso (II) in Revista do Instituto Histórico de Mato Grosso, Cuiabá, 1935, página 59.


6 de julho

1915 - Morre Marcelino Pires, um dos pioneiros de Dourados 





Natural de Jataizinho, no Paraná, onde nasceu em 18 de outubro de 1859, faleceu em Dourados, Marcelino Pires Martins, um dos pioneiros de Dourados. Em Mato Grosso desde a penúltima década do século XIX, casou-se em 1886, com Eulália Ferreira Garcia, na fazenda Passatempo, (hoje município de Rio Brilhante). Em Dourados desde 1903, tomou posse de grande área de terras, denominada Fazenda Alvorada. A área onde foi implantada a cidade é parte dessa fazenda e posses de Joaquim Teixeira Alves.

Marcelino Pires participou ativamente de todas as atividades políticas do povoado, até sua transformação em distrito, ocorrida cinco meses antes de sua morte.

A avenida principal e mais antiga de Dourados tem o seu nome.


FONTE: Rozemar Mattos Souza, Dourados, seus pioneiros, sua história, Centro Cívico, Histórico e Cultural 20 de Dezembro, Dourados, 2003, página 237.


6 de julho

2006 - Morre o ex-governador Dante de Oliveira, deputado das diretas

Morre em Cuiabá, o ex-governador Dante de Oliveira, autor da emenda das Diretas Já! Sua bem sucedida carreira política é condensada nos seguintes fatos:

"Dante Martins de Oliveira nasceu em Cuiabá em 6 de fevereiro de 1952, filho de Sebastião de Oliveira e de Maria Benedita Martins de Oliveira. Seu pai foi deputado estadual eleito na legenda da União Democrática Nacional (UDN).

No início dos anos 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro e cursou engenharia civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), passando a integrar a organização de oposi-ção Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que pregava a resistência armada ao movimento político-militar que derrubara o presidente João Goulart em 31 de março de 1964.

Em 1976 concluiu o curso na UFRJ e, retornando à cidade natal, candidatou-se a vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar, não conseguindo, contudo, se eleger. No ano seguinte, passou a ocupar a secretaria geral do MDB mato-grossense. Em 15 de novembro de 1978, foi eleito deputado estadual, vindo a assumir o mandato em fevereiro de 1979.

Com a extinção do bipartidarismo (29/11/1979) e a conseqüente reorganização partidária, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), originário do MDB.

Em 1982, deixou formalmente de integrar o MR-8, em virtude de divergências políticas, e, em novembro, concorreu a deputado federal. Eleito com a segunda votação do partido, assumiu o mandato em 1º de fevereiro de 1983, vindo a integrar como titular a Comissão do Interior e como suplente a Comissão da Agricultura e Política Rural.

O movimento das Diretas Já

O fim do bipartidarismo e do pleito indireto para governador e senador marcou o início do processo de redemocratização. No entanto, a abertura lenta e gradual, conduzida pelos governos militares, não incluiu a modificação do artigo da Constituição de 1967 que instituía a via indireta para a eleição do presidente, demais cargos executivos e 1/3 do Senado. Assim, no início da sessão legislativa, em fevereiro de 1983, apresentou projeto de emenda constitucional, que se tornaria conhecida como emenda Dante de Oliveira, propondo o restabelecimento da eleição direta em todos os níveis e marcando para 15 de novembro de 1984 a eleição para presidente.

Em abril de 1983, o diretório nacional do PMDB deliberou promover uma campanha nacional em prol da realização de eleições diretas para a presidência. Dois meses depois, o ministro das Minas e Energia, César Cals, propôs a reeleição do presidente João Figueiredo. Descartou-se, contudo, a hipótese da reeleição, propondo-se em seguida a candidatura do ministro do Interior, Mário Andreazza, pelo Partido Democrático Social (PDS). Simultaneamente, a campanha oposicionista começava a ampliar-se. Governadores do PMDB divulgaram uma declaração conjunta em que pediam ao Congresso eleições diretas para a presidência. No fim de novembro, realizou-se em São Paulo, patrocinada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), a primeira manifestação popular em favor dessa reivindicação, que reuniu cerca de dez mil pessoas.

Em 10 de janeiro de 1984, a comissão executiva do PDS repeliu oficialmente a proposta de restabelecimento das eleições diretas, reafirmando a “legitimidade do Colégio Eleitoral”. Dois dias depois, foi realizado o primeiro comício pró-diretas, no centro de Curitiba, no local conhecido como Boca Maldita, reunindo cerca de 30 mil manifestantes, segundo o jornal Folha de S. Paulo. Em seguida, foram realizados comícios, passeatas e manifestações menores em Porto Alegre, Camboriú (SC), Vitória, Salvador, João Pessoa e Fortaleza. Em 25 de janeiro, o comício da praça da Sé, em São Paulo, reuniu cerca de trezentas mil pessoas e mostrou o apelo popular da emenda.

As manifestações multiplicaram-se por todo o país. Belo Horizonte promoveu em fevereiro ato chamado Grito dos Mineiros, com cerca de trezentas mil pessoas. Em 14 de março, foi criado o comitê suprapartidário pelas diretas, reunindo integrantes dos partidos de oposição, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de outras entidades, firmando-se um acordo de negociação e entendimento pelas Diretas Já. No dia 21, o comitê suprapartidário pelas diretas promoveu uma passeata no Rio de Janeiro com 150 mil pessoas. Diante da pressão popular, em 31 de março o presidente Figueiredo divulgou comunicado oficial em rede nacional de televisão, reafirmando que o novo presidente seria escolhido por via indireta.

Aproximando-se a data prevista para a votação da emenda, em abril assistiu-se ao crescimento da campanha pelas diretas. Realizaram-se comícios em Recife e Natal e, no dia 10, uma manifestação no Rio de Janeiro reuniu cerca de um milhão de participantes. No dia 16 do mesmo mês, 1,7 milhão de pessoas compareceram ao comício pró-diretas no vale do Anhangabaú, em São Paulo, transformando-o na maior manifestação popular da história do país. Nesse mesmo dia, o Executivo enviou ao Congresso o projeto de emenda constitucional Leitão de Abreu, alternativo ao de Dante, propondo, entre outros pontos, a eleição direta para presidente em 1988 e a redução para quatro anos do mandato do candidato vencedor no Colégio Eleitoral, que se reuniria em janeiro de 1985. Em seguida, foram decretadas medidas de emergência em Brasília, Goiânia e mais nove municípios de Goiás. Também limitou-se o direito de reunião e as emissoras de rádio e televisão foram proibidas de divulgar os votos do parlamentares na votação da emenda.

Na véspera da votação, as principais cidades assistiram a “panelaços” (manifestações acompanhadas por panelas sendo batidas) a favor das Diretas Já.

A emenda foi derrotada em 25 de abril, em razão de não ter atingido o quórum para que fosse enviada à apreciação do Senado. Contaram-se 298 votos a favor, 65 contra e três abstenções e deixaram de comparecer à sessão 112 deputados.

No Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, Dante votou no candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito presidente pela Aliança Democrática, união do PMDB com a dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal, que derrotou o candidato do regime militar, Paulo Maluf. Tancredo não chegou a ser empossado na presidência, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que vinha exercendo interinamente o cargo desde 15 de março.

Após a posse de Sarney, Dante defendeu a legitimidade do governo do presidente eleito e declarou-se contrário à proposta de realização de eleição direta em 1986, com a eleição para a Assembléia Nacional Constituinte. Durante os trabalhos legislativos, manifestou-se favorável ao reatamento das relações diplomáticas do Brasil com Cuba e à reforma agrária.

Em junho de 1985 licenciou-se para dedicar-se à campanha para a prefeitura de Cuiabá, tendo sido substituído pelo primeiro suplente, Paulo Nogueira. No mês seguinte sua candidatura foi homologada pela convenção do PMDB, em detrimento das pretensões do deputado estadual Rodrigues Palma. Em novembro, foi eleito com 60% dos votos válidos.

Em dezembro, ao receber no Rio de Janeiro o título de cidadão fluminense, voltou a declarar-se contrário à eleição presidencial direta em 1986, argumentando que prejudicaria os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, que seria empossada em fevereiro de 1987.

Empossado em janeiro de 1986, conclamou os vereadores de todos os partidos para que colaborassem com seu governo, pois a prefeitura estava com os salários do funcionalismo atrasados e era devedora do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Quando da reforma ministerial, em fevereiro de 1986, iniciaram-se no PMDB discussões em torno da duração do mandato de Sarney. Declarou que a solução dependeria “do desempenho da nova equipe ministerial durante o ano de 1986 e da redução das taxas de inflação”. Defendeu, também, que o mandato de Sarney deveria ser fixado pela Constituinte, manifestando-se contrário à tese da manutenção dos seis anos, como estabelecia a Constituição de 1967.

No Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário

Em maio de 1986, foi convidado pelo presidente José Sarney e aceitou assumir o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, em substituição a Nélson Ribeiro. Ao ser empossado, afirmou a disposição para o debate com os setores ligados à questão fundiária, com exceção da União Democrática Ruralista (UDR), criada por fazendeiros e que adotara “atitudes afrontosas contra o governo e contra o presidente José Sarney”. Afirmou também que o momento era de ação e de prática e que estava incumbido de implantar a reforma agrária com urgência e sem violência, dentro da lei.

O primeiro problema foi a escolha do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), sendo indicado o gaúcho Rubens Ilgenfritz.

Em outubro de 1986, foi interpelado judicialmente no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Associação dos Magistrados do Brasil e mais 13 juízes federais de São Paulo, para que explicasse declarações à imprensa responsabilizando a Justiça de primeira instância pelo atraso na execução do Plano Nacional de Reforma Agrária. Ainda nesse mês, reconheceu a existência de corrupção no INCRA e anunciou a divulgação de resultados de investigações de comissões de inquérito, até o fim do ano. Em novembro, defendeu a redução do mandato do presidente, ressalvando que esse assunto deveria ser amplamente discutido entre a liderança da Aliança Democrática e Sarney, antes de se levar uma proposta à Assembléia Nacional Constituinte. Defendeu também a realização de eleições exclusivas para presidente, sendo contrário à convocação do pleito para 1988, com as eleições para prefeitos.

No mês seguinte, foi iniciada uma crise envolvendo dirigentes do INCRA e o porta-voz da presidência, Fernando César Mesquita, que divulgara na imprensa denúncia de corrupção no órgão. Em 15 de dezembro, apresentou seu pedido de demissão do ministério, o que não foi aceito, tendo-se solucionado a crise com o afastamento do porta-voz.

Em março de 1987, na reunião da Executiva do PMDB, propôs a realização de um plebiscito interno para consultar as bases sobre a duração do mandato de Sarney e declarou a improbidade dos seis anos: “O atual governo sempre teve caráter de transitoriedade. Assim sendo, a Constituinte deveria fixar um mandato menor para o presidente ou até mesmo concluir pela convocação de diretas já ainda este ano, sem que isso se caracterize, como afirmam alguns, um golpe legislativo. Golpe é o mandato de seis anos.”

A defesa da duração de quatro anos para o mandato presidencial e a dificuldade de gerir o programa de reforma agrária culminaram, em 21 de maio, na saída do ministério. O pronunciamento feito por Sarney dias antes foi o estopim para o pedido de demissão. No discurso, o presidente estabeleceu seu mandato em cinco anos e exigiu que seus subordinados acatassem essa decisão. Ao deixar o cargo, Dante afirmou que não mais participaria da base de Sarney e que “o presidente atropelou a Assembléia Nacional Constituinte em sua soberania”.

No balanço de sua atuação no ministério, verificou-se que algumas das metas não foram cumpridas. Assentou apenas 23 mil famílias dentro da meta de 450 mil, fixada para 1986-1987. Em compensação, desapropriou 88 áreas para fins de reforma agrária — cerca de dois milhões de hectares —, enquanto todos os governos anteriores haviam desapropriado apenas 42. Durante a sua gestão, foram criadas oito varas de Justiça agrária. A pasta da Reforma Agrária foi ocupada pelo político pernambucano Marcos Freire.

Onze dias depois de pedir demissão, Dante de Oliveira reassumiu o mandato de prefeito de Cuiabá, com uma festa que reuniu os senadores Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, o deputado catarinense Luís Henrique, líder do PMDB na Câmara, e parlamentares de diversos estados. No exercício do cargo, enfrentou uma grave crise financeira, com salários dos funcionários atrasados e mais de 90% da receita comprometidos com a folha de pagamento.
Em janeiro de 1988, em declaração ao jornal Folha de S. Paulo, manifestou-se a favor da realização de eleições presidenciais ainda naquele ano e voltou a defender a duração de quatro anos para o mandato presidencial. No fim do ano, atribuiu o mau desempenho do PMDB nas eleições municipais à “ambigüidade ideológica” do partido com relação ao governo Sarney e defendeu o confronto entre a esquerda e a direita do partido, na convenção que se realizaria em março de 1989.
Nas eleições presidenciais de 1989, combateu a proposta do deputado Ulisses Guimarães (PMDB) de formar uma frente contra os candidatos Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), e Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), e defendeu o lançamento de candidato próprio do PMDB. Em fevereiro de 1990, desligou-se do PMDB e ingressou no PDT.
Em outubro de 1990, concorreu à Câmara pela coligação Frente Popular (PDT, PMDB, PT, Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), tendo sido o mais votado do estado, com 49.889 votos. Não conseguiu ser empossado, entretanto, pois a coligação não atingira o quociente eleitoral de 90 mil votos. Impetrou recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir o mandato, não obtendo sucesso.
Em outubro de 1992, foi eleito novamente prefeito de Cuiabá, com 68,2% dos votos válidos. Tomou posse em janeiro de 1993. No primeiro ano, conseguiu regularizar o pagamento dos salários do funcionalismo, atrasados quando assumiu o mandato, e negociou a rolagem da dívida municipal.
Governador do estado
Em maio de 1994, disputou o governo, apoiado por uma ampla aliança denominada Cidadania e Desenvolvimento, integrada pela Frente Popular Democrática, formada por PDT, PMDB, Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), PCdoB, Partido Popular Socialista (PPS), PSB e PT, e pela Frentinha, integrada por Partido da Mobilização Nacional (PMN), Partido Social Cristão (PSC) e Partido Verde (PV). Embora a coligação contasse com o apoio de quatro dos candidatos à presidência — Luís Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia (PMDB) —, declarou que pedia votos apenas para Brizola, candidato de seu partido.
Em 3 de outubro de 1994, foi eleito no primeiro turno, com 471.104 votos, cerca de 67% da votação no estado. Foi empossado em janeiro de 1995, encontrando a administração praticamente falida, somando uma dívida equivalente a mais de três anos da receita líquida e com atraso de três meses no pagamento do funcionalismo. Além disso, a folha de pagamento consumia 91% da receita estadual e fora aumentada em fins de 1994, em conseqüência da aprovação de um novo plano de cargos, carreiras e salários pelo ex-governador Júlio Campos.
Em março, suspendeu o pagamento da parte dos salários do funcionalismo que excedia a mil reais.
Em maio, o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Licínio Stefani, entrou com pedido de intervenção federal no estado no Supremo Tribunal Federal (STF), em razão de não se ter verificado repasse ao Judiciário da quantia correspondente aos salários de juízes e servidores estaduais em março, abril e maio.
Em julho, pagou a parcela dos salários do funcionalismo com títulos, chamados pela população de “pantanetas”, que podiam ser usados para desconto no Banco do Estado de Mato Grosso, no comércio e no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em outubro, o Ministério Público Federal no estado apresentou ação de inconstitucionalidade contra esses títulos, por considerar que não havia garantia de liquidação dos débitos feitos pelo estado com o papel. No mesmo mês, o governo obteve empréstimo da Caixa Econômica Federal (CEF) para atender às necessidades financeiras.
Em novembro, o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso pediu novamente a intervenção federal no estado, porque o governador não estava repassando para o Judiciário os duodécimos referentes a setembro e outubro, em conseqüência dos cortes no orçamento de 1995. Em dezembro, o estado devia quatro meses de salários e não havia previsão de pagamento do 13º. Com um empréstimo na CEF, pagou parcelas devidas ao Judiciário.
Em julho de 1996, solicitou ao Tesouro a suspensão do pagamento da dívida estadual com a CEF por 90 dias. Ainda nesse mês, o estado recebeu recursos do Banco Mundial, a fim de financiar o ajuste da máquina pública. Em agosto, foi o primeiro governador a conseguir renegociar a dívida do estado com o governo federal, reduzindo de 46% da receita líquida para 15% o comprometimento mensal com o Tesouro e obtendo ainda uma antecipação de receita da privatização das Centrais Elétricas Mato-Grossenses (Cemat), de 38,5 milhões de reais. O ajuste foi conseguido com um corte de dez mil funcionários, a redução em 16% do custeio da máquina administrativa e a redução do déficit de 238 milhões de reais para 130 milhões de reais.
Em janeiro, firmou com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o protocolo do acordo de reestruturação da dívida estadual, determinando o refinanciamento de 729 milhões de reais em 30 anos. O acordo previu a realização de um programa de ajuste que impediria a contratação de novas dívidas e a redução do débito global do estado até o equivalente à arrecadação anual. O contrato para o refinanciamento da dívida, que completou a operação, seria firmado com o ministro da Fazenda em exercício, Pedro Parente, em julho.
Ainda em janeiro de 1997, a Executiva Nacional do PDT anunciou que solicitaria a expulsão de Dante, em razão do apoio do governador à aprovação, no Congresso, do projeto de emenda constitucional que permitiu a reeleição para os cargos do executivo. Quando da votação, o governador teria pressionado a bancada federal para que votasse a favor da emenda da reeleição. Antes que fosse implementada qualquer medida punitiva, deixou a agremiação e, em abril, filiou-se ao PSDB.
Em novembro, privatizou a Cemat, com o apoio das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Disputou com sucesso a reeleição em outubro de 1998, por uma coligação formada por PSDB, PSB, PMN e PV, obtendo 53,95% dos votos válidos. Em dezembro, anunciou um amplo programa de reformas com o objetivo de ajustar as contas do estado. As medidas anunciadas teriam sido decididas a partir de um estudo do ajuste fiscal proposto pelo governo federal. Foram enviadas, ainda, ao Legislativo uma nova lei para o ICMS e uma lei complementar com alteração das alíquotas para o sistema previdenciário estadual.
Nesse novo mandato à frente do Executivo estadual, por foi substituído em três ocasiões pelo vice Márcio Lacerda, mediante licenças por ele mesmo solicitadas devido a sérios problemas de saúde, causados por diabetes e por uma diverticulite aguda. Entretanto, conseguiu completar o seu segundo mandato consecutivo como governador de Mato Grosso em 31 de dezembro de 2002.



ÚLTIMOS CAPÍTULOS
Em seu último ano de mandato, o governo de Dante foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a devolver mais de 12 milhões de reais por superfaturamento nas obras de pavimentação da BR-163, que liga Mato Grosso ao Pará. Conforme a decisão do TCU, os preços chegaram a ser superfaturados em até 500%.
Além disso, o processo aberto contra ele por seu envolvimento no caso Usimar – juntamente com a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do Partido da Frente Liberal (PFL) –  levou-o a tentar justificar para a grande imprensa por que ele, como governador e membro do Conselho Deliberativo da Amazônia (Condel), em dezembro de 1999 teria aprovado o financiamento no valor de 1,38 bilhão de reais, aprovado pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para a empresa Usimar, de propriedade de Roseana Sarney.
O projeto da Usimar chegou a ser classificado, pelos procuradores da Justiça, como “a fábrica de autopeças mais cara do mundo”: a Audi, por exemplo, teria investido 800 milhões de reais na fábrica de automóveis situada no Paraná. Segundo Dante de Oliveira, nessa reunião que afinal aprovou o projeto de Roseana – com o voto favorável dele – teria sido uma “reunião relâmpago”. Outro argumento também utilizado por Dante consistiu em que, na mencionada reunião, não teria sido lido o parecer do Ministério da Fazenda que apontava irregularidades nesse financiamento.
Todavia, não foi descartado o fato de que o voto favorável dado ao empreendimento de Roseana Sarney, por parte de Dante de Oliveira, teria “laços de gratidão”: a família de Dante tinha negócios em sociedade com a família de Roseana (empresários Armando de Oliveira, irmão de Dante, e Fernando Sarney, irmão de Roseana). E mais do que isso: Dante devia, ainda, ao ex-presidente José Sarney, o favor da sua indicação, em 1986, para o Ministério Extraordinário da Reforma Agrária.
Nos bastidores dessa história política, há informações de que o então presidente Sarney teria convidado Dante para o tal ministério como solução do tipo “válvula de escape”: para que o PMDB pudesse livrar Dante, pelo menos temporariamente, da desastrada administração que vinha realizando como prefeito de Cuiabá. Segundo a imprensa local, essa estratégia adotada teria dado certo: Dante acabou ficando pouco mais de um ano no ministério. Nesse período, a prefeitura de Cuiabá foi assumida pelo vice, coronel José Meireles, e parte dos problemas financeiros então existentes foram até sanados. Assim, portanto, Dante não interessava mais ao governo do presidente Sarney, mas foi substituído por ter sido incompetente no desempenho do cargo – segundo afirmações do ex-deputado Osvaldo Sobrinho, adversário de Dante na campanha ao governo estadual em 1994.
Nas eleições realizadas em outubro de 2002, o ex-governador acabou recebendo a sua primeira “condenação”: foi rejeitado pelo povo nas urnas, fracassando em sua tentativa de tentar uma vaga no Senado Federal na legenda do PSDB.
Em um dos últimos capítulos de sua carreira política, Dante chegou a sofrer a acusação de que o "comendador" João Arcanjo Ribeiro – preso em Cuiabá após ser condenado por liderar o crime organizado em Mato Grosso – bancara sua campanha à reeleição nas eleições de outubro de 1998, na qual havia conquistado o seu primeiro mandato à frente do governo estadual. O autor da acusação, efetuada em depoimento à Justiça Federal em 2003 e sempre negada por Dante, foi o ex-gerente Arcanjo Nilson Teixeira.
Dante ainda chegou a lançar uma nova candidatura a deputado federal, pelo PSDB, nas eleições programadas para outubro de 2006, porém veio a falecer em Cuiabá, ainda em plena campanha, em decorrência de uma infecção generalizada no dia 6 de julho de 2006, aos 54 anos de idade.
Era casado com Telma Pimentel Figueiredo de Oliveira, por ele nomeada secretária de Promoção Social durante sua primeira gestão à frente da prefeitura de Cuiabá (de 1985 a 1988) e, posteriormente, deputada federal por Mato Grosso na legenda do PSDB – eleita, pela primeira vez, em outubro de 2002, para a legislatura 2003-2007, e  reeleita em outubro de 2006, para a legislatura 2007-2011".


FONTE: Cristiane Jalles, Maria Letícia Correia e Arnaldo Marques, Dante Martins de Oliveira, Dante Martins de Oliveira, CPDOC/FGV.

5 de julho

5 de julho

1846 - Leverger registra fenômeno espacial não identificado

Um dos mais antigos relatos de OVNIs publicados no Brasil deve-se a Leverger. Em 5 de julho de 1846, A bordo da barca-canhoneira Dezoito de Julho, que seguia para o Paraguaiacompanhada da embarcação Vinte e Três de Fevereiro, Augusto Leverger observou um fenômeno incomum nos céus, sobre o qual escreveu o seguinte relatório: :

 Observei esta noite um fenômeno como nunca antes vira. Às 5h57min, estando o céu perfeitamente limpo, calma, termômetro 60º F [o equivalente a 15º C], um globo luminoso com instantânea rapidez descreveu uma curva de como 30º, ao rumo de NNO. A direção fazia com o horizonte ângulos de, aproximadamente, 75º e 105º o agudo aberto pelo lado oeste. Deixou subsistir uma faixa de luz de 5 ou 6° de comprimento e 30 a 35° de largura, na qual distinguiam-se três corpos cujo brilho era muito mais vivo que o da faixa, e igualava, se não excedia, em intensidade, o da lua cheia em tempo claro. Estavam superpostos e separados uns dos outros. O do meio tinha a aparência quase circular; o inferior parecia um segmento de círculo de 120º com os raios extremos quebrados; a forma que apresentava o de cima era de um quadrilátero irregular; a maior dimensão dos discos seria de 20 a 25°. Enfim acima deles via-se uma lista de luz muito fraca em forma de zigue-zague de como 3° de largura e 5° ou 6° de comprimento. A altura angular da faixa grande sobre o horizonte parecia de 8° (receoso de perder alguma circunstância do fenômeno não recorri ao instrumento para medir essas dimensões). Foi tudo abaixando com não maior velocidade aparente do que os astros no seu ocaso, porém os globos luminosos mudaram de aspecto tomando a forma elíptica de cada vez mais achatada, e embaciando até parecerem pequenas nuvens. A faixa grande inclinou-se para N até ficar quase horizontal, mas o zigue-zague sempre conservou a mesma direção. Depois de 25’ tudo desapareceu, e não houve o mais leve sinal de perturbação na atmosfera. Na cidade de Assunção, conversei com o ministro do Brasil e diversas outras pessoas que testemunharam esta, para nós todos, singular aparição. Uma circunstância que me pareceu muito digna de notar-se, é a direção em que o dito Ministro observara o fenômeno; não houve engano, pois referia a observação a um muro cujo azimute era fácil verificar, e esta direção era proximamente de ONO, fazendo por tanto um angulo de 45° com a de NNO, que eu notara. Submeti ao cálculo trigonométrico esta enorme paralaxe combinada com as posições geográficas de Assunção e do lugar onde eu observei, e achei que o fenômeno devera verificar-se na região atmosférica e tão somente a 59 léguas de distância de Assunção.
 

FONTE: Gazeta Official do Império do Brasil. 26 de dezembro de 1843.


5 de julho

1867 – Varíola de Corumbá chega a Cuiabá




Levada pelos retirantes de Corumbá, aporta em Cuiabá avassaladora epidemia de varíola, conforme relata Virgílio Correa Filho:


Se, considerando apenas o desfecho militar, a expedição a Corumbá assinalou-se pelo aniquilamento da guarnição inimiga e derrota de maior contingente no combate de Alegre, o reverso lhe derivou da epidemia, que grassava na localidade e malogrou a vitória como se fora vingativa arma de ação retardada.


Quando a tropa iniciou a retirada, depois de alcançar o objetivo imediato, que lhe inspirava a investida, já se havia contaminado irremediavelmente.
Ainda se achava em Corumbá o primeiro Batalhão Provisório, quando se registraram casos fatais. Durante a morosa viagem, a convivência de bordo multiplicaria os contágios. Em Cuiabá, o soldado Joaquim de Assunção Batista iniciou a 5 de julho, a série de variliosos, cujo número montou, nesse dia, a seis. Em 17 dias contavam-se por 72 os mortos pela pestilência, que se limitava ainda ao acampamento. A 23 porém sucumbiu Januário, o primeiro bixiguento entre a população civil, logo seguido por dezenas de vítimas, 16 no dia 26 de julho, 19 no dia 27 e mantendo-se em cifras elevadas, com o mínimo de 11 no dia 29, até o fim do mês, num global de 183 para o período de 5 a 31 de julho. (...) Somente em outubro começou a declinar a mortandade, que exigiu a abertura de cemitério especial, de Nossa Senhora do Carmo, ou Cai-Cai. Não se apurou ao certo o número total, pois que o próprio registro oficial se embaralhou, após o falecimento a 7 de setembro, do cônego Jacinto, Vigário Geral, que zelosamente cuidava dos assentamentos, até que a doença o prostasse. Pelos registros pereceram 183 pessoas em julho e 484 em agosto. No mês seguinte as falhas não permitem estimativa satisfatória, embora figurem 293. Houve ocasião porém, a 7, de 52 enterramentos.¹

Testemunho ocular da tragédia, cuja família fora vitimada, Joaquim Ferreira Moutinho, descreve a epidemia com toda emoção e revolta do calor da hora:

A cidade tomou um aspecto indiscriptivel : de todas as casas via-se sahirem cadaveres, que erão condusidos em rêdes para os campos, e de muitas fecharão-se as portas, porque os seus habitantes haviam perecido, desde o chefe da familia até o ultimo escravo! Fundou-se um lazaretto no lugar denominado Coxipó, para onde eram condusidas as praças do exercito atacadas de bexigas; mas, faltando commodidade ultimamente para novos enfermos, deu-se alta a grande numero d'elles ainda no periodo da dissecação. Foi um mal sobre tantos outros. 

Em tres dias (estavamos então a 15 de Agosto) a peste tocou o extremo: cahirão, victimas d'ella, familias inteiras-velhos, crianças, moços, escravos... A cidade era toda presa do horrivel flagello ! Em nossa casa, em dous dias, tivemos vinte doentes, contando nossa familia vinte e duas pessoas! Mesmo assim não fomos dos mais infelizes; eramos duas a tratar das outras, embora sem o auxilio dos medicos que desampararão os enfermos para que podessem velar sobre suas familias. Eramos forçados a fazer toda a sorte de serviços, e tanto o rico como o pobre gemião sob o peso da extrema miseria; porque tanto não havia assucar por preço algum, nem vélas, nem galinhas e nem ao menos a lenha indispensavel para coser-se os medicamento e acudir-se ás necessidades urgentes como o caldo para os doentes. Mesmo a agua faltou, pois não se encontrava quem fosse buscal-a eis fontes. 

Não havião mais lençóes, toalhas, pano branco qualquer, e só cobertor que rasgava-se em tiras podia-se cobrir os leito. No meio da desgraça geral tivemos tambem a nossa vez de pagar um tributo ao flagello, e esse tributo foi bem pesado e cruel! Esposa e filhos ao mesmo tempo gemendo num leito de dores, sem que podessemos levar-lhes um lenitivo qualquer, porque nem a medicina ministrava mais os seus soccorros-foi o quando que offerecemos nossa casa por espaço de muitos dias, nos quaes, conscio da nossa impotencia para arredar o mal, só tínhamos conforto nas lagrimas, embora fossem ellas sangue vertido do coração! 

A vitalidade do corpo como que se enfraquece com o acabrunhamento do espirito, e então o homem se reveste da coragem que nasce do proprio desespero, e só na dôr encontra lenitivo á propria dôr ! Em poucos dias perdemos um cunhado, duas escravas, duas aggregadas, e finalmente um filho, na tenra idade de quatro mezes, e, o que é ainda mais doloroso, talvez fosse a fome a causa principal da sua morte! Aqeueles que no correr da vida não passarão ainda por trance semelhante, não podem avaliar a profundeza da ferida que nos deixa n'alma o passamento de um ente tão caro! Continuaremos a nossa narração. 

O anjo da morte continuava-incançavel-a sua obra de destruição. A policia mandou arrombar as portas de muitas casas para proceder-se ao enterramento de familias inteiras que erão encontradas já em estado de putrefacção. O numero dos mortos, crescendo extraordinariamente, montou a mais de duzentos por dia. A atmosphera da cidade estava viciada de um fetido nauseabundo que a viração do campo não conseguia dissipar, porque vinha tambem carregada de miasmas que exhalavão de centenares de corpos que lá se achavão espalhados. 

De 1.505 casas que existem na capital, não sóbe a 40 o numero das que não tiverão doentes. O chefe de policia já n'este tempo havia dado ordens para que sepultassem os corpos no celebre carrascal do Caecae, onde se reprodusião as scenas de horror começadas na cidade. Não havendo pessoal sufficiente para abrir vallas que podessem conter centenares de cadaveres, sobrepunhão uns aos outros e lançavão-lhes fogo que os não queimava, mas assava, para depois servirem de pasto aos corvos, aos porcos e aos cães, que cevavão-se n'esse estranho banquete de carne humana. 

As ruas estavão desertas, e n'ellas só se encontrava defuntos e cães que arrastavão fragmentos de corpos, ou membros inteiros arrancados violentamente. Causou tão grande horror á população esse espectaculo repulsivo, que preferia ela d'ahi em diante enterrar dentro de casa ou nos quin- taes os restos das pessoas que lhe erão caras. Não ha pena que possa descrever tão siugular quão horrenda situação! 

Creanças abandonadas-vagavão pelas ruas pedindo misericordia, porque seus paes, irmãos ou parentes havião morrido, e não lhes restava quem lhes mitigasse a fome e os padecimentos produsidos pela enfermidade que soffrião. Moças-mendigavão ao desamparo um abrigo á sua honra. Velhos-esmolavão quem lhes enterrasse os filhos, para que os mesmos não virassem pasto aos vermes dentro de suas proprias casas. Quão grande foi o crime daquelle povo! 

Em 34 a carnificina dos portuguezes, e precisamente 34 annos depois a peste ceifadora e cruel!... Estranha coincidencia ! Seria um castigo que o Senhor enviou para reparação dos crimes praticados contra irmãos? Talvez. O que é certo é que de uma população de 12.000 almas mais de metade succumbio, e parte levantou-se disforme. Cremos mesmo que succumbiria toda ella senão se achasse na capital o 2º batalhão de artilharia a pé, composto de soldados vaccinados, filhos de diferentes provincias onde a variola é conhecida, assim como o seu tratamento pratico. 

Foi este punhado de homens que praticaram os unicos serviços que por ali houverão dignos de encomios. E pelo que conta-se a respeito desses factos (infelizmente exactos) que fazem desmerecer muito o brilho d'esses serviços; que, apezar das tropelias e actos da mais requintada perversidade praticados por alguns, bradão bem alto os soccorros que prestarão, embora o interesse imediato que exigião de prompto fosse o motor que os compelisse á "caridade". Sem o auxilio desses homens, que não querião tratar de enfermos visitados por medicos, muitos morrerião ao abandono e na miseria. 

Outro serviço por elles prestado foi a conducção dos cadaveres para o Caecae. Que importa que, movidos pela mais insoffrega ambição, atirassem os corpos ao primeiro mato que encontravão, afim de poderem com brevidade receber outros, e cobrassem por esse trabalho 30, 40, 50, até 100$000, conforme a condição de cada um? O povo cuyabano, esquecendo a falta d'esses homens, deve ser-lhe extremamente grato, porque sem eles- os corpos conservados no interior da cidade infeccionarião ainda mais a atmosphera, e maior seria o numero das victimas. 

Os empregados publicos, atacados em geral pela peste, deixarão de ir ás repartições, e só o inspector da thesouraria ali comparecia por ser vaccinado. o governo creou um lazaretto no lugar denominado- May Bonifacia,- e depois o removeu para o centro da cidade, sem que possamos saber qual o motivo do seu proceder. Perece essa medida uma verdadeira aberração dos dictames da rasão. O comandando das armas, nos dia maís luctuosos, instalou peça de artilharia em diversas ruas da cidade, e dar fogo de manhã e de tarde. Ignoramos lambem o fim d'essa medida. Pretenderia afugentar a epidemia com tiros de canhão? 

Esse pretendido recurso hygienico foi a causa de tornar-se mais grave o estado  de muitos enfermos; pois ao primeiro estàmpido levantavão-se em delírio e procuravão fugir, julgàndo que erão os paraguayos que se achavão na cidade. 
Todas as casas sendo fócos de podridões, o cheiro da polvora era impotente para desinfectal-as. O mal estava feito e era já tarde para atalhal-o, o que ao principio seria facil se houvessem as autoridades sido mais previdentes. 

Para prova temos mesmo na provincia um exemplo. O então commandante de Villa Maria, tenente coronel Luiz Benedicto Pereira Leite, logo que soube do desenvolvimento da peste, colocou cordões sanitarios em todos os pontos da Villa, prohibindo expressamente, o ingresso de qualquer pessoa; e no momento em que sabia existir um bexiguento dentro ela mesma villa, mandava sem demora retiral-o para algum lugar mais ou menos remoto, onde recebia o competente tratamento. Foi assim que Villa Maria e a cidade de Matto-Grosso nada soffrerão, quando a capital, o Diamantino, Poconé e outras povoações forão completamente devastadas. 

A policia só teve em vista livrar da peste as futuras gerações, prohibindo o enterramento dos mortos no cemiterio, e ordenando que só fosse feito no campo e no Caecae, monumento eterno de sua incapacidade para o lugar que exercia. Hoje está esse lugar murado e ornado de uma capellillha sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo; mas rarissimas são as pessoas que sabem em que parte desse cemiterio descanção os restos mortaes de suas familias. Ahi procuramos a sepultura de nosso innocente filho, e não foi-nos possivel encontral-a. Seria elle enterrado? Pesa-nos até hoje não ter satisfeito o desejo que tivemos ele ir pessoalmente sepultal-o; e, a não ser pedir a um um amigo, teriamos praticado este doloroso acto. Encerramol-o, porém, em um caixão de taboas grossas; que pregamos, depois de cobrir o cadaver' com cal, e assim o entregamos ao guarda do cemiterio. Consta-nos que o sr. dr. chefe de policia lhe recomendára o nosso anjinho, e mandára colocar uma Cruz sobre a sepultura. De coração agradecemos a esse senhor, que como nós comprehende a dor que causa a perda de um filho, embora duvidemos que suas ordens fossem cumpridas. 

Voltemos ao Caecae, scenario de horrores que desejamos deixar; mas o dever que nos impozemos de narrar os factos taes quaes como se derão nos obriga ainda a algumas palavras. Os corpos, como dissemos, erão condusidos em rêdes, as quaes, unidas ás roupas que os envolvião, servião de combustivel ás fogueiras levantadas no carrascal, ou erão levados em caixões apenas chanfrados e forrados de panninho preto, orlados de cadarço branco estreito, que erão vendidos, ou antes emprestados, pelo preço de 70 a 80$OOO, e até 100$OOO se erão ornados de espiguilha amarela. Dissemos- emprestadas-porque, depois de lançado o defunto na valla ou na pyra, servião novamente para conducção de outros. O fornecedor d'esses caixões fez-se rico com a especulação, e seguia para a Europa, onde foi gosar a fortuna tão funebremente ganha. 

Os restos mortaes do velho como da moça, do innocente ou da virgem, ao chegarem ao lugar onde tinhão de ser devorados pelas chammas ou pelos vermes-recebião ainda os mais grosseiros e brutaes improperios das boccas da canalha infernal encarregada de dar-lhes um destino, o que só fazião dopois de insultaI-os da maneira a mais atroz! As immediaçães d'esse lugar, onde tantas cruezas se praticavão, sentia-se um fetido tão repellente, que diflicultosamente se podia aproximar; por isso as pessoas que ali se achavão erão obrigadas a fazer uso continuo da cachaça, o que contribuia muito para a pratica d'esses actos impiedosos de que vimos de falar. 

Se realisou-se a terrivel prophecia do sr. dr. Generoso Alves Ribeiro, que o digão o Caecae, e o tumulo que vamos regar com as nossas lagrimas. Nem ao menos esta falhou quanto á morte do sr. dr. Neves, que, não podendo suportar a dor da perda de quasi toda a sua familia, succumhio com o seu pezar. 

Altos juizos de Deus!

Alveja á entrada do cemiterio um tumulo sobre o qual se ergue uma Cruz que ahi mandamos collocar. N'elle jazem, encerrados em uma carneira de cedro, os restos mortaes de uma senhora, esposa de um nosso amigo. Mãe extremosa, esposa exemplar e virtuosa, nunca em seu coração se aninhou um sentimento que não fosse a expressão da bondade. Seus labios tinhão sempre uma palavra de animação e consolo aos infelizes que a ella recorrião, e por isso foi a sua morte por todos sentida e chorada. 

Foi um anjo, não devia viver na terra, vôou ao seio do infinito!


FONTE: ¹Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso, Fundação Júlio Campos, Varzea Grande, 1994, página 550. ²Joaquim ferreira Moutinho, Notícia sobre a província de Mato Grosso, Typographia de Henrique Schroeder, S. Paulo, 1869, página 100.

FOTO: A cidade de Cuiabá, extraída do livro de Joaquim Ferreira Moutinho.




5 de julho

1922 - Campo Grande adere à revolução de 1922






A Circunscrição Militar de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, adere ao movimento revolucionário, iniciado nessa data com o episódio no Rio de Janeiro, que ficou conhecido como “18 do Forte”. Solidário com os rebeldes cariocas, o comandante da região militar, general Clodoaldo da Fonseca, publica o seguinte manifesto:

"Matogrossenses, a situação política angustiosa e aflitiva que há muito vem atravessando a nossa querida pátria, chegou ao termo já previsto: a reação armada na capital federal. Diz-nos a consciência que, com reiterados apelos que fizemos no sentido de se conseguir uma fórmula honrosa e digna, afim de, sem grandes abalos, reivindicar à República os verdadeiros princípios, cumprimos os nossos deveres, firmes nessa resolução que visa, principalmente, evitar a anarquia em nossa pátria. Resolvemos deixar o nosso Estado, ao qual desejo de todo o coração, continue em paz e franca prosperidade, para marcharmos ao encontro dos nossos concidadãos que se batem pelo regime republicano. Tendo assim cumprido o nosso dever, esperamos que vós cumprireis o seu".¹

Ato contínuo, o general "sublevou a 9a. Circunscrição Militar, acompanhado pelos regimentos da fronteira, inclusive o 11° RCI de Ponta Porã, que fez convocação de reservistas. As tropas da Circunscrição foram todas concentradas em Campo Grande, marchando para Três Lagoas e chegaram até à barranca do rio Paraná, com o objetivo de atravessar o rio, e seguir por São Paulo até à Capital Federal. Depararam, porém, com tropas legais, que já estavam estacionadas no outro lado, guarnecendo a passagem pelo porto Jupiá.

"Veio então um grupo de oficiais a fim de parlamentarem com o general Clodoaldo, informando-lhe do fracasso da revolta no país e a conveniência da rendição de suas forças. Mostraram-lhe jornais do Estado de São Paulo e do Rio, os quais noticiavam tudo, detalhadamente.

Convencido de que o movimento havia fracassado desde o início, o general Clodoaldo da Fonseca deu a revolta em Mato Grosso por terminada, assumindo a responsabilidade por tudo, e entregou-se, seguindo com os oficiais, a fim de se apresentar no Rio de Janeiro".²


FONTE: ¹Correio da Manhã (RJ), 13 de junho de 1922. ²Pedro Ângelo da Rosa, Resenha Histórica de Mato Grosso (Fronteira com o Paraguai), Livraria Ruy Barbosa, Campo Grande, 1963, página 70.











OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

  22 de janeiro 1918 – Dom Aquino assume o governo do Estado Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, qu...