Restabelecida a navegação do Rio Paraguai, com a ocupação de Assunção
pelas forças aliadas em 5 de janeiro, chega a Corumbá, com destino à Cuiabá, a
primeira frota brasileira, composta das seguintes embarcações: Henrique
Martins, Fernando Vieira, Henrique Dias, Felipe Camarão e Ivay.
A frota deixou a capital paraguaia em 15 de janeiro, sob o comando
do 1° tenente Manoel José Alves Barbosa. Em Corumbá foi recebido pelo
tenente-coronel Antonio Maria Coelho, comandante do distrito militar.
Os detalhes estão no relatório do tenente aos seus superiores:
"Janeiro 25 - Às 5 horas da manhã suspenderam os navios.
A 1 hora da tarde passaram em frente da vila de Albuquerque.
Em um rancho que aí existe no porto, e onde, como depois constou-nos,
deviam achar-se algumas praças pertencentes ao destacamento de
Corumbá, nem uma só pessoa foi vista.
O inesperado aparecimento dos vapores, antes que houvesse tempo de
reconhecer a bandeira nacional arvorada no tope grande de cada um deles, fez
concentrar-se aquela pequena guarda, de cujo comandante partia imediatamente o
mais rápido aviso para Corumbá onde chegou pouco depois de terem aí os vapores
fundeado.
Não nos foi possível julgar do estado dessa vila, um pouco interior,
senão por ouvir dizer em Corumbá, ter sido a mesma completamente destruída pelo
inimigo, e incendiado o aldeamento da tribo Guanás, que aí existia.
A algumas horas acima de Albuquerque foi ainda encontrada uma canoa, que
parecia recentemente abandonada ao avistarem os vapores que nela vinham, como
depois constou-nos ao chegar em Corumbá.
Ao avistar-se a cidade parecia igualmente abandonada, não obstante, para
desvanecer qualquer suspeita, os navios aí se apresentaram com seus competentes
faróis e um sinal de tigelinha foi feito pelo Felipe Camarão, que
chegou ao porto em primeiro lugar.
A este sinal ouvia-se perguntar que vapores eram aqueles; ao que
respondendo-se serem brasileiros, e que traziam a notícia da terminação da
guerra, trocaram-se e repetidos vivas entre os navios e a terra.
Dirigimo-nos imediatamente para aí, onde encontramos alguns oficiais que
vinham cumprimentar os de bordo, da parte do comandante daquela praça, o sr.
tenente-coronel Antonio Maria Coelho.
Soubemos então,que, ao avistarem os vapores, a guarnição da cidade,
composta de 200 homens ao mando do mencionado tenente-coronel, se havia posto
em alarma; e estivera prestes a romper o fogo sobre eles, quando os sinais de
bordo fizeram crer que éramos nacionais.
Apresentando-me ao comandante da força, entreguei-lhe um boletim
dos últimos acontecimentos do teatro da guerra, e comuniquei-lhe o fim
daquela comissão, pedindo houvesse de providenciar
sobre o que nos era necessário para continuar no outro dia, visto não
encontrar-se naquele porto vapor algum para Corumbá.
Prontamente e com a maior solicitude mandou o sr. tenente-coronel que
nessa mesma noite se preparasse alguma lancha; e sendo-lhe mais requisitado um
prático do rio, ordenou que duas das praças de seu comando seguissem a bordo
nessa qualidade.
A cidade cuja população apenas se compunha da guarnição militar,
mostrava por toda parte a inexorável crueldade do inimigo: a ruína total
dos edifícios públicos, as formas incompletas das habitações demolidas, os
restos do incêndio e o mato que fora deixado à discrição da natureza, formavam
o mais estranho e doloroso contraste.
No intuito de prevenir a inquietação que podia despertar na capital
a aproximação dos vapores, fez o sr. tenente-coronel embarcar um próprio, o
qual, deixado no lugar denominado Cassange, seguisse a toda pressa com as
comunicações de sua parte".
No dia seguinte, "às 11 horas e 30 minutos da manhã,
achando-se os mesmos providos de fresco, tendo embarcado os práticos e recebido
alguma lenha, desaferraram do porto da cidade de Corumbá com
destino ao da capital da província".
FONTE: Diário do Rio de Janeiro, 17 de março de 1869.
FOTO: reprodução.
Imagem meramente ilustrativa.
1899 – Morre o visconde de Taunay
Aos 56 anos, falece no Rio de Janeiro, Alfredo D’Esgragnolle Taunay, o visconde de Taunay, herói da Guerra do Paraguai. Bacharel em ciências e letras, tenente de artilharia, estava para terminar o penúltimo ano do curso de engenharia militar quando arrebentou a guerra do Paraguai. Incorporado foi então ao corpo do exército para combate no Sul de Mato Grosso.
Membro da comissão de engenharia, enfrentou os maiores perigos na exploração realizada com o capitão Pereira do Lago para se descobrir uma passagem pela qual pudesse o corpo de exército deixar os banhados pestilentos do Coxim.
Participou do ataque à fazenda Laguna, em território paraguaio, que resultou na retirada, celebrizada em seu livro mais conhecido. De volta ao Rio, retorna à guerra, em 1869, permanecendo no Paraguai, com o generalíssimo conde d’Eu até o desfecho da campanha.
Ao final do conflito, já capitão, termina o curso de ciências físicas e militares, sendo nomeado professor da Escola Militar na cadeira de mineralogia e geologia.
Na política, iniciou a carreira como deputado federal por Goiás, Estado o qual representou por duas legislaturas (1872 e 1875). Em 1875 é nomeado presidente do Estado de Santa Catarina, cargo desempenhado até 1877. Em 1881 elege-se deputado federal por este Estado. Em 1885 deixou o exército, como capitão, ano em que foi nomeado para o governo do Paraná. No ano seguinte, após deixar a presidência do Paraná, elege-se deputado federal por Santa Catarina, Estado pelo qual se elegeria senador. A 6 de setembro de 1889 foi agraciado com o título de visconde.
FONTE: Taunay, Memórias, Edições Melhoramentos. São Paulo, 1946, página 11