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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Militares expulsam última família do Patrimônio São Carlos

27 de novembro

1980 - Militares expulsam última família do Patrimônio São Carlos



Escolinha do povoado, destruída pelos invasores


Criado oficialmente em julho de 63, o destacamento militar de São Carlos, município de Caracol, com o advento da ditadura de 64, passa a exigir a desocupação de área de 1000 hectares por moradores que residiam no lugarejo desde o final da guerra do Paraguai, para construção de um quartel. Sem ordem judicial e desconhecendo o direito dos ocupantes, legitimado por lei estadual (decreto 906, 17 de julho de 1930), os militares despejaram dezenas de famílias, usando de violência, testemunhada pela História:

"...incendiaram casas, destruíram pomares, subtraíram animais a pretexto de aluguel pela permanência em terras que afirmavam que os moradores não seriam mais donos."

As famílias despejadas foram viver na periferia de Bela Vista e Caracol e a área foi arrendada a fazendeiros para criação de gado.

Restou do antigo lugarejo o depoimento de várias pessoas que nasceram e cresceram no lugar, tomado e saqueado pelos agentes fardados da ditadura militar, como este de Maria Angélica Ferreira Valdez:

No último dia enquanto meu marido tirava a madeirama da casa que estava sendo desmanchada, ele tinha feito um pequeno tapiri tipo galpão para me abrigar do sol enquanto cozinhava, e também esperando o término do ano escolar dos seus filhos, foi quando apareceu o Sgt. Pereira (Comandante do Destacamento na época) com soldados. E foram chegando, exigindo a saída imediata. Não me respeitaram e derrubaram a cobertura de palha em cima de mim, quando fui obrigada a sair,deixando alguns pertences do qual se apoderaram posteriormente, entre eles uma ninhada de galinhas-de-angola, que morreram sufocadas com o peso da palhas de bacuri que foi derrubada em cima dos pobrezinhos dos animais.

Em consequencia das pressões para desocupar a área o mais rápido possível, ajudei meu marido a carregar pesadas madeiras num carro de boi, e por causa do excesso de peso,adquiri uma hérnia, sendo necessária uma intervenção cirúrgica com a máxima urgência.


FONTE:Nilson Britez, O Patrimônio de São Carlos, Marindress Editora Gráfica, Dourados,2011, página 198.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

15 de novembro

15 de novembro

1866 – Taunay volta a dar notícias de Miranda

Em sua série de correspondências à família no Rio, o tenente Taunay escreve à sua irmã, lamentando a permanência em Miranda:

O estado sanitário da força continua mau, a moléstia reinante ainda tem feito algumas vítimas entre as quais deploramos todos o infeliz e virtuosissimo Padre Tomaz Molina, tão estimado por todos e tão procurado, tão amigo de todos. Não pude esquivar-me ao desejo de pronunciar algumas palavras sobre o seu corpo, o que foi muito aplaudido.


Tinha excelente aplicação: descia à terra um dos humildes e falava-se diante de um dos mais orgulhosos, fôfos, despóticos, toleirões.


Fala-se muito numa ida nossa à Cuiabá , não sei com que fundamento, porém, o desânimo chega até o comandantes das forças. Provou-se desastrosamente a inconveniência de não ter ido diretamente para Nioaque, clima excelente, boa água, ponto estratégico e ter vindo internar as forças neste ponto infernal. Seja tudo pelo amor de Deus.(...)


Aqui reduzidos à inação , só em lutas com enfermidades e sofrimentos mesquinhos embora dolorosos, contemplamos as vitórias do Sul com inveja, porém com a certeza de que já que todos os brasileiros sabem bater-se, nós, em iguais circunstâncias, havíamos de cumprir com o nosso dever e saber imitar aos nossos companheiros do Sul.
 



FONTETaunay, Mensário do Jornal do ComércioRio de Janeiro, 1943, página 343



15 de novembro

1866 - Governo paraguaio "recruta" brasileiros para seu exército

Carta, datada de Cuiabá, dá conta de que "os paraguaios fizeram embarcar para Assunção, com o fim de engrossarem as fileiras do seu exército, todos os homens que havia em Corumbá, inclusive estrangeiros e indígenas, alguns do quais escapando-se na ocasião do embarque, refugiaram-se no mato. Nem a população feminina tem escapado ao furor dos bárbaros, que as conservam prisioneira, sofrendo sabe Deus, quantos maus tratos e privações".

FONTE: Correio Paulistano (SP), 18 de janeiro de 1867.



1889 – Rondon na proclamação da República


Positivista convicto e ativista do movimento contra a Monarquia, o alferes matogrossense Cândido Mariano da Silva Rondon, participa no Rio da proclamação da República, cuja participação ele relata em seu diário:

Estava cheio o quartel. Chegamos na ocasião em que era arrombada a Arrecadação. Pedi logo um dos revólveres nagan que estavam sendo distribuídos – arma que conservo, com a que me ofereceu Roosevelt, verdadeiras peças de museu.


Benjamim Constant chegou às 2 da madrugada. Conferenciavam os oficiais, entre os quais o Cel. Sólon. Ficou resolvido que se indagasse se a Marinha permitiria a saída da ‘Brigada Estratégica’ e foi, nesse sentido, redigido um ofício ao Alte. Wandenkolk.


Escolheu Benjamin Constant para portadores de tão importante mensagem os dois discípulos em quem mais confiava – os discípulos amados – Fragoso e eu. Seríamos a ligação entre a ‘Brigada Estratégica’ rebelada e os oficiais revoltados da Armada.


As 4 horas partimos em cavalos escolhidos para uma galopada de São Cristóvão ao Clube, no largo do Rossio.


O tropel dos cavalos cortava o silêncio da madrugada, mas prosseguíamos sem obstáculos. Cauteloso, propus, aos sairmos da rua Gen. Pedra para defrontar o Quartel General, que nos mantivéssemos cosidos com a grade do jardim, para não sermos percebidos.


Estava o Quartel General todo iluminado, como que para advertir que o governo vigiava.


Continuamos a cautelosa marcha, quase que sopitando o pisar dos cavalos, para que não ressoasse na calçada, até desembocar na Câmara Municipal.
Ao fazer a curva para ganhar a rua da Constituição o meu cavalo prancheou – mas o vaqueiro mimoseano galopava firme na rédea e o animal que rodara, conseguiu firmar-se.


Seguíamos insensíveis a tudo o que não fosse o pensamento de chegar o mais depressa possível ao largo do Rossio, ao Clube Naval e, quando apeamos estavam nossos cavalos brancos de espuma.


Levávamos a senha. Batemos, uma portinha que nos fora indicada, três pancadas espaçadas. Depois de alguns minutos percebemos que alguém descia. Ouvimos, de dentro, as palavras da senha a que respondemos, repetindo por três vezes a contra-senha, segundo as instruções recebidas. Abriu-se então uma fenda na portinha, por onde introduzimos o ofício. Daí a pouco voltou quem recebera de nós o documento e, repetidas as mesmas formalidades, foi-nos entregue pela fenda o ofício resposta.

O tempo de montar de novo e lá partimos para o convento de Sto. Antonio, onde estava aquartelado o 7º Batalhão de Infantaria, a fim de informar a situação o cap. Ferraz. Já encontramos todos a postos. Depois de lhe falar e de lhe transmitir a mensagem de que éramos portadores, tocamos para São Cristóvão a galope, sem acidente.

O dia despertava. Súbito, tingiu-se o oriente sob uma chuva de ouro, pálida a princípio e depois cada vez mais rubra... e sobre essa cortina surgiria em breve o sol a iluminar um novo dia, a iluminar pela primeira vez a República brasileira.


FONTEEsther de Viveiros, Rondon conta sua vidaCooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 53.


15 de novembro

1905 – Iniciada em Bauru a estrada de ferro Noroeste           

     



Projetada a princípio para ligar Bauru a Cuiabá, mudando em seguida para o atual trajeto, era iniciada em Bauru, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, com o assentamento dos trilhos em território paulista. Em setembro do ano seguinte eram abertos ao tráfego “os primeiros 92 quilômetros, com a presença de altas autoridades, recebendo a última estação do percurso, o nome de Lauro Müller, ministro da Viação, que presidira a solenidade. A 13 de maio de 1910 todo o trecho até Itapura , na margem esquerda do Tietê, próximo à desembocadura do Paraná, estava concluído".

Em 1908 foi iniciado o trecho no Sul de Mato Grosso, com duas frentes de trabalho: uma começando em Itapura e outra em Porto Esperança. Em 1914 a obra foi entregue ao tráfego, com o encontro das duas frentes em Campo Grande no dia 31 de agosto.

FONTE: Lécio G. de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd., página 104 

FOTO: Primeira estação da ferrovia em Baurú, acervo do jornal Noroeste, ferrovia da integração, de Bauru.


15 de novembro

1946 - Exonerado o primeiro governador do Território de Ponta Porã

Ato do presidente Eurico Gaspar Dutra, exonerou o coronel Ramiro Noronha, do cargo de governador do território federal de Ponta Porã, nomeando, para substituí-lo o major José Guiomard dos Santos.¹ 

No governo desde 31 de janeiro de 1944, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas, o coronel Ramiro Noronha estabeleceu as bases da nova unidade federativa, mandando construir pontes, criando colônias agrícolas em Dourados, Carapã e Itaporã. Criou uma escola normal e uma biblioteca pública em Ponta Porã, além de vário cursos noturnos em diferentes pontos do Território.

Noronha concedeu também, os primeiros títulos de terras aos lavradores, na área devoluta ocupada pela companhia Mate Larangeira, em vista do despacho do presidente da República, de 1° de fevereiro de 1944, que indeferiu a renovação do contrato de arrendamento dos ervais à Mate Larangeira.²

FONTE: ¹Jornal do Brasil (RJ), 16 de novembro de 194, ²Pedro Ângelo da Rosa, Resenha Histórica de Mato Grosso (Fronteira com o Paraguai), Livraria Ruy Barbosa, Campo Grande, 1962, página 85.



sábado, 14 de dezembro de 2013

30 de janeiro

30 de janeiro

1827 – Langsdorff chega a Cuiabá


Aporta, finalmente na capital da província a expedição científica, chefiada pelo barão Jorge Henrique de Langsdorff, cônsul da Rússia no Rio de Janeiro, incumbida de efetuar exploração em Mato Grosso e Amazônia, patrocinada pelo czar Alexandre I.

A chegada da missão a Cuiabá é descrita pelo desenhista Hercules Florence em suas anotações de viagem:

Enfim a 30 de janeiro de 1827, atingimos o porto tão desejado de Cuiabá. Aproamos ao troar das salvas de mosquetaria que partiam de entre os nossos e eram correspondidas de terra. O guarda da alfândega levou-nos para o seu escritório, enquanto esperávamos os animais que deviam evar-nos até à cidade, distante um quarto de légua.Os Srs. Riedel e Taunay tiveram a bondade de mandá-los com prontidão, avisando que viriam receber-nos. Com efeito não tardaram a chegar em companhia de várias pessoas da localidade e de um negociante italiano chamado Angelini.

Fomos imediatamente ter com o presidente e dele tivemos mais cortês e amável tratamento durante os oito ou dez dias que nos reteve em seu palácio como hóspedes.

Florence aproveita a estada na capital da província para mostrar o que viu na cidade:

A cidade de Cuiabá é cercada de colinas que com ex­ceção da parte ocidental limitam-lhe o horizonte. O plano em que assenta é inclinado até à base dos outeiros do lado meridional, onde corre um riacho chamado Prainha que em direção quase reta vai para oeste e, separando a cidade de um de seus arrabaldes, atravessa uma planície de quarto de légua, com curso paralelo ao caminho do porto, até cair no rio Cuiabá. No tempo seco fica todo cortado e chega a desaparecer.

As ruas que de este vão para oeste têm pequeno declive de subida e descida, mas as que lhe são perpendiculares, de sul a norte, o têm mais sensível, bem que em geral suave. Ao sair da cidade para o lado norte, eleva-se o terreno ainda por espaço de 300 a 400 passos, formando um campo chamado de Boa Morte, por aí existir uma igreja desse nome.A cidade pode ter meio quarto de légua de poente a nascente e dois terços dessa distância de norte a sul. Não há senão 18 ou 20 casas de sobrado, esse mesmo pequeno: todas as mais são térreas. Cada casa tem nos fundos um jardim plantado de laranjeiras, limoeiros, goiabeiras, cajueiros e tamarindeiros, árvore cuja folhagem densa e escura
forma no meio das outras agradável contraste, concorrendo todas elas para darem à povoação aspecto risonho e pitoresco.

Rebocam-se por fora as habitações com tabatinga, que lhes dá extrema alvura: entretanto muitas há, principalmente nos arredores, que conservam a cor sombria da taipa de que são feitas, bem como todos os muros e cercados. Não há uma só casa que tenha chaminé: a cozinha faz-se no jardim debaixo de um telheiro.

O edifício em que estão o presidente e a intendência chama-se palácio: é térreo; as janelas, únicas na cidade, têm caixilhos com vidros. Há uma cadeia, em cujo sobrado trabalha a câmara municipal; um quartel para a tropa, uma casa da moeda e quatro igrejas: a de Bom Jesus que é a catedral, sem nada exteriormente que a recomende, a de Nossa Senhora do Bom Despacho, a de Nosso Senhor dos Passos, e a da Boa Morte, além de uma capela consagrada a Nossa Senhora do Rosário. Outra capela fica no Hospital da Misericórdia, edifício não concluído e onde mora o bispo. Para os morféticos há uma casa, situada a meia légua sul da cidade. A meio quarto este vê-se perto do porto uma grande
construção que havia sido começada para quartel. Por enquanto não é senão
um corpo de guarda.

Na casa da moeda bate-se somente o cobre que é mandado do Rio de Janeiro e ao qual se dá valor duplo do que tem no resto do Império. Há também uma fundição para pôr em barras o ouro. O único passeio que tem a cidade é o caminho de meio quarto de légua de extensão que vai ter ao porto. Aí só se vêem 15 ou 20 casas, algumas canoas, guanás, caburés, negros e mulatos.
Quando chove, as crianças entretêm-se em procurar ouro no meio das ruas, porque nos regos d’água que se formam descobrem sempre algumas palhetas. Por toda a parte anda-se aqui por cima dele; nas ruas, nas casas que não são ladrilhadas, nos jardins, não há polegada de terra que deixe de o conter. O pescador na sua choupana pisa o precioso metal; metade de um dia, porém, de trabalho em buscar arrancá-lo do solo lhe traz menos vantagem que a pesca de um único pacu. É contudo o objeto de extração que os habitantes conseguem. 

Os diamantes se acham no Quilombo, distante 14 léguas e daí a 30 no distrito Diamantino. Estes dois artigos, ouro e diamantes, constituem a riqueza da província; nada mais se exporta a não ser diminuta porção de açúcar e de tecidos de algodão, com destino ao Pará.

Não tratam da agricultura nem da criação de animais senão para Não tratam da agricultura nem da criação de animais senão para acudir às necessidades da alimentação. Por toda a parte cercados de desertos, dos quais o menos vasto tem 100 léguas de largo, não poderiam os cultivadores exportar o sobressalente de suas colheitas ou os resultados de sua indústria sem gastos que elevariam o preço dos produtos de medo a não suportarem a mais ligeira concorrência. As produções do país são a cana, da qual se extrai o melhor açúcar do Império; o fumo que é excelente; o algodão, o café, feijão, milho, mandioca e tamarindo que aí se acha mais abundante que em qualquer outra parte e do qual se fazuma massa para exportação.

Limita-se a indústria à exploração de minas e ao fabrico de peças de algodão grosso de que se veste a gente pobre. Faz-se aguardente de cana de superior qualidade. É a principal bebida do país, bem que esteja também em uso o vinho, cuja procura é limitada em razão do alto preço. Cada garrafa custa com efeito de 1$200 a 1$800, o que faz com que sejam motivos de luxo e ostentação franqueá-las aos convivas por ocasião de festas de casamento
ou batizados. Assisti às bodas de um homem apatacado, nas quais se beberam
200 garrafas de vinho, o que representa uma despesa de mais de 200$000
(1.250 francos). Quase igual quantidade consumiu-se num batizado. Os
casos de embriaguez não são raros. 

Cria-se muito gado vacum que por toda a parte encontra excelentes pastos; também a carne de vaca em Cuiabá é suculenta; há muitos porcos cuja banha serve para o preparo da comida; galinhas em abundância e tão baratas que por 400 réis (50 soldos) pode-se as ter à mesa do almoço, jantar e ceia; carneiros e cabras, estes em menor quantidade, etc. Não há falta de cavalos; a qualidade, porém, é inferior. Parte deles vem dos guaicurus. As bestas são mandadas
de São Paulo. Em viagem, é de uso servirem os bois mansos de animal de carga.

Não se acha ouro em porção que dê algum lucro, senão nos arredores da cidade ou a algumas léguas de distância. Se, porém, se empregassem os meios de que usa a companhia inglesa em Minas Gerais, cavar-se-ia melhor a terra, achando-se ainda tesouros imensos. Hoje o dia de trabalho de um preto não rende mais de 300 a 400 réis, salvo o caso de algum achado feliz.

Cuiabá deve sua fundação à grande quantidade de ouro que deu o terreno em que assenta, cujas escavações e buracos atestam hoje quanto foi revolvido. Nos primeiros tempos dos descobrimentos dos paulistas encontraram-se folhetas que pesavam até uma arroba, único incentivo que chamou uns sertanistas ávidos de riquezas e os impeliu em solidões desconhecidas, levando tão-somente espingardas, pólvora, bala e sal. Embarcaram em Porto Feliz e seguiram a rede de rios que lhes pôde proporcionar dilatadíssima viagem. Chegados ao ponto onde hoje é Cuiabá, a um caçador depararam-se grandes pedaços de ouro no alto da colina em que se ergue presentemente a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Parou então a caravana. Meteram as canoas no ribeirão Prainha, que nesse tempo era navegável e hoje não por terem sido desviadas as águas, levaram quanto puderam do encantado tesouro e voltaram
para São Paulo, contando maravilhas.

Reuniram-se logo multidões de aventureiros que formaram novas expedições, ficando muitos deles no país novamente descoberto em companhia das mulheres indígenas que encontravam ou das que haviam levado consigo. O número foi crescendo e com ele aparecendo dissensões e lutas causadas pela avidez em tirar ouro. Então cuidaram de constituir uma espécie de governo e para legalizá-lo mandaram pedir chefe em São Paulo. A colônia, debaixo do nome de Cuiabá, nome dos índios que aí habitavam, fez rápidos progressos, aumentando continuadamente com a chegada de novas bandeiras, que, não se satisfazendo mais com o que encontravam, seguiram para diante e foram descobrir, a 100 léguas para O., Mato Grosso, donde provém a denominação de toda a província. Aqueles intrépidos sertanistas teriam sem dúvida ido até ao oceano Pacífico, se os espanhóis não ocupassem as costas. Suas ousadas explorações chegaram com efeito a dar cuidados à corte de Madri que se queixou à de Lisboa, mandando reclamações a tal respeito.

O modo de extrair ouro é o seguinte: fazem-se grandes escavações e transporta-se a terra, à medida que se a vai tirando, para uma área preparada à beira de um rio, córrego ou lagoa em paralelogramo de terra batida e conseguintemente dura, cujos lados são fechados por tábuas, exceto o que encosta à água. O plano é inclinado e o todo se chama uma canoa. Deposita-se a terra que se quer lavar na parte superior e sobre ela lança trabalhador de contínuo água para que facilmente corra a porção que for mais destacada e leve. Em seguida, depois de repetida esta operação, põe ele certa quantidade na beira de uma espécie de alguidar de pau chamado bateia e com um pouco d’água imprime ao todo um movimento circular, de modo que de cada vez o monte de terra seja lambido pela água. Se houver ouro, as menores partículas depositam-se logo no fundo.

Costumes dos Habitantes de Cuiabá

Descrever os costumes gerais da população de Cuiabá, é decerto descrever os de todos os brasileiros; entretanto aqui várias circunstâncias locais concorreram para dar hábitos peculiares à terra, imprimindo-lhes cunho característico e, embora pernicioso, de certo modo original.

A população não passa de 6.000 habitantes, a de toda a província de 30.000, sem contar os índios mansos e muito menos os bravios. Entretanto pelo conhecimento mais ou menos exato dos aldeamentos de uns e hordas dos outros, creio que seu número não chegará a 6 ou 7 mil almas, de modo que numa zona muito maior que toda a França não há mais de 37.000 habitantes.
Tão pouca população provém de que não há 125 anos que Cuiabá foi descoberta e todos quantos procuraram estas terras atraídos só pela posse do ouro, uma vez conseguido esse fim, trataram de se ir embora para gozarem das riquezas ganhas em país mais civilizado. Os que se deixavam ficar, ricos em pouco tempo e no meio de solidões, só cuidaram em satisfazer os sentidos. Entregaram-se a grosseiros prazeres e viveram com amásias, não se lhes dando de formar famílias e educar os filhos, quando os tinham, nos sãos princípios da religião e da moral. As mesmas causas ainda hoje persistem em Cuiabá, embora se manifeste salutar tendência para a modificação. Os casamentos ainda são
pouco freqüentes. Geralmente só se casam os homens já maduros que buscam
uma companheira para os tempos da velhice. Os mais vivem amancebados e nem se limitam a isso, entretendo intrigas amorosas com pessoas casadas e solteiras.

As mulheres de classe média e sobretudo inferior, são muito livres nas suas conversas, modos e costumes. Além do contínuo exemplo da licença geral e quase desculpada, recebem pernicioso influxo do contato dos escravos, negros
e negras, cujas paixões violentas não vêem peias à sua expansão. A fidelidade conjugal é, muitas vezes, falseada. Apesar de temerem os maridos e considerá-los como amos e senhores, sabem perfeitamente enganá-los. Não faz muito que elas começam a aparecer à mesa de jantar ao lado dos parentes e maridos. Entretanto em todas as casas do sertão, onde recebi hospitalidade, nenhuma delas se apresentou, ficando sempre no fundo dos aposentos, a menos que não seja a pessoa já muito familiar. Conheci, contudo, uma senhora muito bem falante, civilizada e espirituosa. Três outras nas mesmas condições tinham, porém, já sua idade e, apesar do muito que haviam dado que falar em sua mocidade, passavam por tipos de virtude.

As moças filhas de pais pobres nem sequer pensam em casamento. Não lhes passa pela cabeça a possibilidade de arranjarem marido sem o engodo do dote e, como ignoram os meios de uma mulher poder viver de trabalho honesto
e perseverante, são facilmente arrastadas à vida licenciosa, na qual, justiça se lhes faça, apesar de pertencerem a todos, nunca mostram a ganância e as baixezas das mulheres públicas da Europa.

Quem exercita em Cuiabá ofícios e artes são quase todos mulatos. Conheci um padre de cor parda, muito eloquente no púlpito e na conversação; outro, quase negro, era um desses raros talentos modestos, cuja ambição única é instruir-se.

O clima da cidade é muito quente, sua latitude 15°36’S. O rio é farto de pescado, sobretudo de junho até fins de dezembro. Então é o alimento principal do povo. Pescam- se muitos pacus, dourados, piracanjubas, piaus, piracachiaras, jiripocas, palmitos, cabeçudos, corimbatás, peixe-rei, etc. É tanto o peixe que os bois, cavalos e pretos ou guanás vão curvados ao seu peso vendê-los pela cidade. De todos é o pacu o mais gordo e mais abundante, bem que não seja o mais delicado; sabe, contudo, bem ao paladar e a quantidade é tal que fornece a combustível com que se iluminam todas as casas. Acontece
até que os pescadores atiram fora grandes montes, quando não querem nem mesmo dar-se ao trabalho de extraírem o azeite.

FONTE: Hercules Florence, Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas, de 1825 a 1829, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1941, página 

FOTO: Desenho de Hercules Florence, integrante da Expedição Langsdorff.



30 janeiro



1905 – Decretado o primeiro Código de Posturas de Campo Grande 

Avenida Calógeras no início do século passado

É sancionado pelo intendente geral Manuel Inácio de Souza (Manuel Taveira) e entra em vigor, o primeiro código de postura de Campo Grande, composto de 54 artigos e 12 capítulos que tratavam de economia e asseio dos açougues, instalação de curtumes, regras para a limpeza pública, vacina obrigatória de todas as pessoas que viviam na vila, administração dos cemitérios e regras para o enterro dos falecidos, venda de gêneros alimentícios e mercadorias, punições a quem alterasse ou falsificasse produtos, a quem vendesse por pesos, medidas ou balanças não aferidos, aforamento de terrenos municipais e edificações de prédios e reparos, trânsito e conservação de estradas e regras de relacionamento social.

O código de postura reordenava as relações sócio-econômicas, adotava medidas de saúde pública e outras medidas que atendiam também ao interesse do governo federal, que em 1907, reformulou o contrato de arrendamento com a Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que estabelecia a alteração da rota da ferrovia para Corumbá.

FONTE: Alisolete Antonia dos Santos Weingartner, Campo Grande, da emancipação política à atualidade, in Série Campo Grande, Ano I 1999, Funcesp/Arca, Campo Grande, 1999, página 15



30 de janeiro


1906 – Oposição vence em Mato Grosso


Totó Paes perdeu a eleição e a vida

Realizam-se eleições para renovação das bancadas de Mato Grosso no Congresso Nacional. A oposição, liderada por Generoso Ponce, o chefe da Coligação, vence apesar da repressão imposta pelo governo de seu arquiinimigo Totó Paes. Antônio Azeredo é reeleito para o Senado e elegem-se deputados federais Serzedelo Correa, Joaquim Augusto da Costa Marques e Benedito Crispiniano de Sousa.

FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá sd. Página 93.



30 de janeiro

1919 - Gripe espanhola em Cuiabá


Santa Casa de  Misericórdia de Cuiabá

A gripe espanhola que avassalou a Europa e capitais litorâneas do Brasil, chega a Cuiabá e passa sem causar estragos de pandemia, mas deixando um rastro de tragédia, conforme dados publicados pelo jornal governista, o Matto-Grosso, que tenta minimizar a situação:

É que os germes da infecção haviam, sem dúvida, aportado à nossa capital enfraquecidos na sua virulência, pela maior demora na viagem e pela desinfecção rigorosa que as embarcações sofriam no Posto do Amolar.

De 15 a 30 de dezembro chegaram algumas outras lanchas de Corumbá e trouxeram novo contingente do vírus, a reforçar a quota do que havia. Então, estalaram muitos outros casos, de sorte que o ano findou, entre nós, oferecendo a epidemia o seu maior paroxismo. Podem calcular -se em 2 a 3 mil casos, os que se contaram até 31 de dezembro. Nos quarteis do 39° e 
da Força Pública cairam doentes quase todos os soldados e muitos oficiais. No hospital da Santa Casa internaram-se algumas dezenas de enfermos. Várias famílias foram atacadas em seu domicílio. Mas foi tudo - e ainda assim com uma benignidade muito confortadora: onze óbitos apenas nos en
lutaram em todo o mês de dezembro, correndo por conta da chamada gripe epidêmica.

Cabe salientar agora o papel representado nesta quadra angustiosa pelos postos de socorros, criados durante este mês e funcionando ativamente, a fornecer medicamentos e víveres a todos que deles precisavam, minorando extraordinariamente a situação difícil da pobreza.

É de justiça salientar o nome dos dois sacerdotes beneméritos que nesses postos tão humanitários serviços prestaram: padre Manoel G. de Oliveira e frei Ambrósio Daydée.

Na primeira quinzena de janeiro, estabeleceu-se o período de estado da epidemia, mantendo-se ela com a média de um óbito por dia. Depois entrou o mal em franco declínio e agora, ao terminar o mês, são rarissimos casos novos aparecidos e nenhum falecimento por essa causa se tem mais verificado.

FONTE: jornal O Matto-Grosso (Cuiabá), 30 de janeiro de 1919.


30 de janeiro

1934 - Paranaíba é contra separatismo e defende plebiscito para divisão do Estado



Prefeito Francisco Faustino Dias

Com o movimento divisionista em plena efervescência em todo o Sul do Estado, o município de Paranaíba, por meio de suas principais autoridades constituídas, decide-se contra a separação. A posição foi formalmente definida em longo manifesto endereçado ao interventor federal em Cuiabá, Leônidas de Matos:

Como legítimos interpretes do sentir e das aspirações do povo do histórico município de Santana do Paranaíba, a sentinela avançada do nosso grandioso Estado de Mato Grosso, nas fronteiras do estados irmãos de Goiás, Minas e S. Paulo; com as responsabilidades históricas que lhe decorrem, como município e cidade primaz desta unidade do "hinterlande" brasileiro, diante da campanha impatriótica, inoportuna e improcedente, separatista iniciada na cidade de Campo Grande, por pessoas às quais faltam credenciais para falar à Nação, em nome do povo matogrossense, pois dele, em sua maioria, não são filhos, nem a ele prestaram serviços que lhes outorgassem tamanho direito, vimos, pela presente representação, trazer à Vs. Exas., lídimos e legítimos representantes do nosso querido Estado, a manifestação espontânea e sincera e entusiástica de nossa solidariedade no repúdio a tão nefasta tentativa.

Não reconhecemos motivos imperiosos de ordem histórica, social, econômica ou geográfica que traduzam o imperativo de se parcelar ou mutilar a integridade do território matogrossense, destruindo a sua unidade política no concerto do demais Estado que formam a federação brasileira. Seria trair e desonrar o inestimável legado dos nossos maiores.

Inestimável reserva econômica do nosso país, pelas suas incalculáveis riquezas naturais, pela sua riquíssima rede potamográfica, pela uberdade de suas terras feracissimas, pelo crescente desenvolvimento de suas indústrias, principalmente a pecuária, o mate e a cultura da cana de açucar, Mato Grosso será, em futuro não muito remoto, pelo trabalho construtivo de seus filhos e dos irmãos de outros estados, que lhe trazem o seu concurso, um dos mais prósperos estados da nação brasileira, contribuindo para a grandeza desta formosa e privilegiada pátria do continente sul-americano.

Não existem nem jamais existiram antagonismos de origem, entrechoques de interesses econômicos ou rivalidades justificadas entre os filhos da região Norte, Centro e Sul do Estado. Elas se integram e se completam, pela unidade de seus ideais, pelos seus comuns anseios de progresso, pelo sadios espírito de confraternização, que estão a exigir, cada vez mais, a unidade, a integridade e a intangibilidade do território matogrossense.

Unidade federada, com 1.500.000 quilômetros quadrados, para somente 400.000 habitantes, disseminados nas suas várias regiões, este reduzido número de matogrossenses e brasileiros, herdeiros da audácia e da coragem dos antigos bandeirantes, continua a desbravar sertões, a pontilhá-los de cidades, vilas e povoados, a criar indústrias, agricultura, comércio e a fazer crescente conquista no campo das profissões liberais, mantendo sempre aceso o lábaro do mais sadio e elevado patriotismo.

Não procede a disparidade alegada da contribuição para o erário estadual pelas populações do Norte e Sul do Estado, porque a ciência sociológica e política condena este critério, para manutenção ou desagregação de estados e países, pois a criar-se este precedente, a separação de Mato Grosso,hoje, justificaria, amanhã, o absurdo de se dividir o nosso grandioso Brasil, pela verificação, já não contestada, de que os estados do Sul (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul contribuem com 2/3 das rendas da União! Princípio que nenhum brasileiro digno desse título aceitaria!

Por estes e outros motivos, cada qual mais justifica, e que não escapam ao conhecimento de Vs. Excias., auscultada a opinião pública unânime deste histórico e vasto município, como a elite da sua sede, podemos assegurar a Vs. Excias., o completo repúdio a tão nefasta tentativa, afirmando mesmo que não nos arreceamos de um "plebiscito" pelo qual se afira a vontade do povo matogrossense.

Tanto mais impatriótica e inoportuna é a campanha separatista, quando o país, combalido por duas fundas comoções políticas, que o fizeram estremecer nos seus alicerces, marcha, atendendo aos justos anseios do povo brasileiro, para o retorno ao regime constitucional e para cujo desideratum se impõe um ambiente de paz, de confraternização e de conjugação de esforços de todos os bons patriotas.

O eminente chefe do governo provisório, consciente das suas enormes responsabilidades, honrando o momento histórico que vivemos, num gesto largo e nobre de patriotismo, devolveu o grande Estado de São Paulo à posse de si mesmo, vem aproveitando os verdadeiros valores, onde quer que estes se encontrem, sem estreito partidarismo, política sábia e construtiva que sem sendo seguida com elevação e firmeza pelo ilustre sr. Interventor federal neste Estado, atitudes e orientação que criaram o ambiente de tranquilidade nacional, no qual se vem processando os trabalhos da memorável 3a. constituinte do Brasil independente e 2a. do Brasil República.

Nós, matogrossenses, de nascimento ou de coração, devemos nos colocar à altura dessas atitudes e dessa elevação, estabelecer em nossas fronteiras a concórdia geral, esquecer ressentimentos, irmanarmo-nos todos num só anseio, numa só aspiração - a devolução do país ao regime legal, renovado, pela implantação de novas diretrizes, mais consentâneas com as nossas aspirações, com o ambiente brasileiro, com o nosso grau de cultura, com as conquistas liberais, dignas da civilização hodierna.

Queriam pois Vs. Excias. receber a manifestação da nossa solidariedade, pela união e integridade do nosso Estado e levá-la ao conhecimento do governo provisório e da augusta Assembleia Constituinte, como do país.

Com a segurança da nossa estima, saudamos a Vs. Excias., cordialmente.

Waldemir Neves, juiz de direito; Jorge Bodstein Filho, coletor estadual; Francisco Faustino Dias, prefeito; João Filgueiras, 2° tabelião; Arsênio Moura, escrivão da coletoria estadual; Gustavo Rodrigues da Silva, fazendeiro; Melanias Leal, 1° juiz de paz; Ubaldino Correa da Costa, negociante; Joaquim Evaristo de Queiroz, funcionário público; Antonio Garcia de Freitas, promotor de justiça; Leozoro Rodrigues de Almeida, fazendeiro, João Cassiano do Nascimento, proprietário; João Dantas Filgueiras, secretário da prefeitura; Vicente Faustino Franco, delegado de polícia; Eponino Garcia Leal M. do C. consultivo; João Valim, professor; Osvaldo Brandão, distribuidor do foro, Edu Neves, farmacêutico; Nahim Agy, comerciante, José Pereira dos Santos, carpinteiro, Olavo Filgueiras, funcionário municipal; João Inocente do Nascimento, barbeiro; Antonio Neves do Nascimento, tabelião do 1° ofício; João Ferreira Leal, escrivão do distrito; Emílio Martins Ferraz, proprietário; Ovídio Alves Pereira, fazendeiro; Salomão João, comerciante; José Severino da Cunha, funcionário municipal; João Luiz da Silva Santos, fazendeiro; Joaquim Lucas de Oliveira, fazendeiro; Cid do Espírito Santo, 2° tenente; e Manoel Gomes Otero, negociante.


FONTEJornal do Comercio (Campo Grande), 10 de março de 1934.

FOTO: reprodução do livro Santana do Paranaíba, de Hildebrando Campstrini (2002)


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