23 de junho
1859 - Delamare contra a mudança do nome de Albuquerque
Rua De Lamare, no centro de Corumbá |
Responsável pelo arruamento do povoado, presidente da província de Mato Grosso, de 1858 a 1859, Joaquim Rodrigues de Lamare se opôs à mudança do nome de Albuquerque para Corumbá:
O Corumbá é a povoação de Albuquerque, solenemente erigida em 21 de setembro de 1778 e cujo auto de fundação foi cuidadosamente mandado registrar nos livros das Câmaras e outras repartições públicas. É, ao meu ver, inconsideravelmente que, de há pouco tempo a esta parte, tem-se introduzido nas relações oficiais este nome de Corumbá, com o risco de tornar para o futuro ininteligíveis documentos políticos e históricos que não são sem valor.
Outro que também se opôs e protestou contra a mudança de denominação foi Augusto Leverger, o barão de Melgaço.
Oficialmente, a mudança definitiva do nome ocorreu apenas em 10 de julho de 1862.
FONTE: Lécio G. de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd, página 34; Terezinha Lima Tolentino, Ocupação do Sul de Mato Grosso antes e depois da guerra da tríplice aliança, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1986, página 110.
23 de junho
1890 - Nova concessão para exploração da erva mate
Parte hachurada, área de concessão de Thomaz Larangeira |
Thomaz Larangeira, concessionário da exploração dos ervais do Sul de Mato Grosso, desde 1882, ainda no Império, consegue sua primeira autorização do governo republicano para continuar suas atividades e ampliar sua área de atuação. Pelo decreto n° 520, assinado pelo presidente Marechal Deodoro, Larangeira tem renovada a permissão por mais dez anos, nos seguintes limites: desde as cabeceiras do ribeirão das Onças na serra do Amambai, pelo ribeirão São João e rios Dourados, Brilhante, Ivinhema e Paraná até ao Iguatemi e por este até as suas cabeceiras na serra Maracaju e pela crista de ambas as serras até as referidas cabeceiras do ribeirão das Onças.
FONTE: Gilmar Arruda, Heródoto, in Ciclo da Erva-Mate em Mato Grosso do Sul 1883-1947, Instituto Euvaldo Lodi, Campo Grande, 1986. Página 278.
23 de junho
1911 - Batidas as forças de Bento Xavier
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O major Gomes consegue, finalmente derrotar as forças do rebelde Bento Xavier, que incluía a divisão do Estado no programa de sua revolução. Eis a versão do vencedor:
A 22, mandei diversas descobertas, pois estávamos nas zonas inimigas, já perto da fronteira e Ponta Porã. Regressando algumas descobertas, me informaram da marcha da força rebelde com direção a Ponta Porã. Apressei-me em dar proteção às forças amigas ali estacionadas, e a 23, pela madrugada, prossegui a marcha e às 7 horas da manhã, passava o Rio Dourados na antiga Colônia desse nome, e aí, enquanto mandei dar água aos cavalos e arrumar a força, tive um pressentimento, próprio da guerra, que os inimigos estavam perto. Em seguida, destaquei dois piquetes de polícia, um ao mando do bravo Tenente Wladislau Lima e outros do Alferes Irineu Mendes, para fazerem a retaguarda e flanqueadores, com ordem de se encontrassem qualquer força inimiga, depois de bem reconhecida, irem tiroteando e chamando-os, em retirada, ao centro de minhas forças. Momentos depois marchou toda a pequena coluna e, às 9 horas mais ou menos sentiu-se disparos de tiros, acerca de um quilômetro de distância, na vanguarda da força.
O terreno era próprio: descobertas campanhas; e a força na fralda de uma coxilha, e como era natural, o inimigo que se limitou simplesmente a atacar os piquetes, vieram cair nos centros de nossas forças, sem mais poderem se organizar, recebendo nessa ocasião um vivo fogo, de 50 homens, que mandei apear, e dos dois flancos. Vendo-se o inimigo perdido tentou levar uma carga que não só foi rechaçada, como teve logo de retaguarda uma bem organizada carga de nossa força que os destroçou completamente, deixando eles no campo 15 mortos, alguns prisioneiros, muitos cavalos encilhados, algumas armas, a tropa sobressalente em nº de 51 cavalos.
Da nossa força saíram simplesmente feridos alguns soldados que nem baixaram à enfermaria. Deste ponto da derrota, Bento Xavier, seus filhos, alguns amigos, todos em nº somente de 19 homens, fugiram em retirada procurando o Paraguai pela Cabeceira do Estrela, e a duas léguas dessa retirada um piquete das nossas forças correu-os a bala até na divisa do Paraguai e só se escaparam por estarem bem montados em cavalos que naqueles dias haviam roubado do sr. Manoel Moreira, fazendeiro no Brasil, que havia passado uma cavalhada para o Paraguai e ali mesmo foi arrebanhado pelos bandos Bentistas.
Reunida toda minha força mandei dar almoço, isso já às 3 horas da tarde, e aí fomos muito visitados, não só pelos nossos patrícios emigrados no Paraguai, na Fazenda Estrela, como pelos próprios cidadãos paraguaios empregados daquele importante estabelecimento paraguaio da firma Quevedo e Companhia, fortes negociantes da Vila Conceição, e protetores de Bento Xavier. Por eles e pelos prisioneiros nos foi contado que Bento havia saído um dia antes de Ponta Porã (Paraguai) e que ali arranjara bastante dinheiro, gente, armamentos, arrebanhara as tropas emigradas e se pusera em campo, trazendo recursos para os companheiros fugidos com ele do combate de 16 nas Areias, e que se encontraram naquela manhã na cabeceira do Estrela, formando já uma força de cento e muitos homens, todos bem armados e espontâneos, cavalhada muito boa, gorda e que levavam desta vez certeza de derrotar as forças do meu comando, por ter-lhes constado a minha morte no combate das Areias.
Ainda informaram-me os visitantes que Bento havia mandado um próprio a toda força para baixo da serra ordenando a um seu irmão de nome Antônio Xavier, que comandava um grupo de 70 homens mais ou menos, que se reunisse a eles com a máxima urgência, fazendo-o até responsável por qualquer desastre que houvesse. Não sabendo ele que este grupo já havia corrido em debandada para o Paraguai acossado por uma força legal comandada pelo Capitão Macias e chefiado pelo abnegado patriota Militão Loureiro, chefe do nosso partido
Nesta mesma tarde de 23 fiz um próprio a Ponta Porã, comunicando ao comandante do 17º Regimento de Cavalaria, ao Delegado de Polícia e ao comandante das forças patrióticas dali, que naquele momento havia derrotado completamente a força de Bento e que eu descia a serra com destino a Bela Vista a fim de observar dali a marcha dos rebeldes, ordenando ao Delegado de polícia que congregasse mais alguns elementos e rondasse a fronteira do Ipehum à Cabeceira do Apa, a fim de pacificar logo esta zona para não transcorrer complicações para todo o Estado. No mesmo dia regressei passando no lugar do teatro da luta e acampei na margem esquerda do Dourados.¹
Bento Xavier exila-se definitivamente no Paraguai, onde faleceu em 1915. A fase insurreicional do movimento divisionista de Mato Grosso, entretanto, seria encerrada somente com a revolta do regimento de Ponta Porã em 6 de maio de 1912. De Vila Conceição, onde se refugiou, Bento Xavier, em publicação no jornal O Tempo, de Assunção, transcrita pelo Correio do Estado (de Corumbá), explica a incursão, detalha os confrontos e reconhece a derrota:
No dia 1° de junho,
a 1 hora da madrugada, passei a fronteira com 19 companheiros. A 1 hora da
tarde desse mesmo dia, encontramo-nos com um piquete da polícia do Estado,
comandado pelo capitão Reginaldo de Mattos. Travou-se a luta, ficando morto o
capitão Mattos e ferido um de seus soldados, com a perna quebrada. Ficaram dois
prisioneiros em meu poder, aos quais pus em liberdade para que conduzissem seu
companheiro ferido até a casa mais próxima.
Daí seguimos em
direção a Aquidauana, onde chegamos a 11 do mesmo mês de junho. A 16,
encontrando-nos no lugar denominado Areias, dando pasto aos nossos cavalos
encilhados, fomos surpreendidos pelos governistas. Toda nossa cavalhada fugiu,
ficando a pé os meus soldados, em número de 120 homens mal armados. Apesar
disto, consegui organizar 50 de meus antigos companheiros com armas e empreendi
a retirada, perdendo apenas um homem e fazendo várias baixas no inimigo.
Consegui também recolher 33 dos meus cavalos encilhados.
Depois, acompanhado
de um de meus amigos, dirigi-me ao encontro de uma força de 80 homens,
comandada pelo capitão Ozório de Baires, que era meu partidário, para ir em
busca do inimigo. Como não encontrei Baires, segui até Ponta Porã, onde também
contava com alguns elementos. Estando já de regresso, a 21 fui informado por
meu filho mais velho Antonio Xavier da Silva, que se tinha encontrado nas
imediações de Bela Vista, na estância de minha propriedade, com uma força de 78
homens comandados pelo delegado de polícia Álvaro Brandão.
Assim que avistei-me
com essa força travamos luta. O delegado viu-se obrigado a retirar-se
precipitadamente, alcançando os currais da estância onde entrincheirou-se.
Entretanto teve de abandonar também a posição, deixando cinco mortos e onze
armas de fogo com algumas munições. Não foi mais perseguida essa força porque
as minhas tinham ordem terminante de não perseguir o inimigo já derrotado.
Nesse mesmo dia
segui para incorporar-me à minha gente acampada na Estrela, defronte da
estância dos srs. Quevedo. Desse ponto fui para adiante comandando 50 homens. A
23 encontrei-me com uma força adversária de 200 soldados, mais ou menos, e como
o encontro deu-se em uma lombada limpa e as tropas estavam muito perto uma da
outra, não pude evitar o combate. Mandei, então, carregar sobre o inimigo para
ver se conseguia envolver a cabeça da coluna.
Meu plano foi
burlado pelo inimigo que já nos tinha descoberto e era muito superior a nós em
número e armamento. Assim é que os governistas, não podendo retroceder,
carregaram também sobre nós, dando-se uma pequena refrega da qual resultaram
várias baixas de ambas as partes.
Vi-me, assim,
obrigado a retirar-me, deixando a vitória aos adversários.
Esta é a expressão
da verdade.²
FONTE -¹Major Gomes, parte ao presidente Costa Marques,
11- 09-1911. ²Correio do Estado (Corumbá) 20-07-1911
23 de junho
1925 - Coluna Prestes deixa Mato Grosso
Fustigados pelo exército legalista os rebeldes “abandonam Mato Grosso e entram em Goiás, através da região conhecida como Cabeceira Alta, onde decidem acampar, depois da obstinada opressão imposta pelo major Klinger. Eles caminharam cerca de dois mil quilômetros em terras mato-grossenses. Os canhões que trouxeram de Foz do Iguaçu não foram abandonados no Paraguai, como ordenara Miguel Costa, mas enterrados dias depois na fazenda Jacareí, em território brasileiro, quando os oficiais paulistas se convenceram definitivamente de que a artilharia é incompatível com a guerra de movimento. A tropa revolucionária, despojada de seus canhões, está agora armada apenas com revólveres, fuzis e metralhadoras”.
FONTE: Domingos Meirelles, A noite das grandes fogueiras, Editora Record, Rio, 1995. Página 402.
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