sexta-feira, 4 de março de 2011

29 de julho

29 de julho


1866Paraguaios comunicam deportação de brasileiros de Corumbá


Charge do presidente paraguaio Francisco Solano Lopes, publicada durante a guerra



Ocupada ao final de 1864 por tropas paraguaias, no início da guerra da tríplice aliança, nessa data, o comando militar dos invasores, decide deportar para Assunção todos os homens da vila. O imigrante italiano Manoel Cavassa, sujeito desta história, ocorrida em Corumbá, faz o seu relato:

A 29 de julho de 1866, ao meio dia, chegou de Assunção um vapor paraguaio e as 2 horas da tarde o general mandou reunir no quartel-general todos os homens aqui existentes, sem distinção de nacionalidades, e disse-lhes que tinha recebido ordem do seu Supremo Governo para fazê-los seguir, os homens, todos sem exceção, para Assunção e que deviam todos estarem prontos para o dia da saída do vapor, sob pena de ser passado pelas armas aquele que então não estivesse pronto ou que opusesse obstáculo ao embarque.


Permaneciam todos calados; eu, porém, que não queria deixar aqui minha família, disse ao general que sem ela eu não embarcaria e seria o primeiro a ser passado pelas armas. Respondeu ele que minha família iria comigo se o vapor houvesse espaço. Retiramo-nos dali, cada qual o mais temeroso e preocupado pela sorte de sua família, pois que era manifesto empenho dos bárbaros, que ficassem aqui as famílias sós a mercê dos seus brutais caprichos. O meu vizinho Nicola Canale, que, além da sua família tinha a seu cargo a de seu cunhado, ausente, veio à minha casa chorando, desesperado ante a idéia de abandonar essas famílias às brutalidades daqueles homens. Repeti-lhe o que havia dito ao general: que sem minha família não embarcaria, lembrou-se então ele que tinha uma chata, na qual podiam ir nossas famílias, se eu conseguisse com o general que ela fosse a reboque do vapor. Concordei com ele e quando nos dirigíamos à residência do general, encontramo-nos com o commte., que, inteirado do que íamos fazer, disse-nos que não procurássemos naquela ocasião ao General, que estava ocupado, e que ele se encarregava de falar-lhe acerca da nossa pretensão. E de fato, no dia seguinte comunicou-me ele pessoalmente que o general, mesmo contra sua vontade, nos permitia levarmos nossas famílias na chata a reboque. Tratamos de preparar-nos, aprontamos a chata com a maior abundância de provisões de víveres, roupas, etc., levando para minhas despesas em Assunção, o dinheiro que então tinha em moeda papel brasileiro, na importância de cento e tantos contos.


A deportação ocorreu no dia 1° de agosto de 1866.



FONTE: Valmir Batista Correa e Lúcia Salsa Correa, Memorandum de Manuel Cavassa, Editora UFMS, Campo Grande, 1997, página 32.


29 de julho

1959 - Assassinado vereador que denunciou contrabandistas



É assassinado em Corumbá o vereador Edu Rocha (PSD). O principal suspeito como mandante do crime foi o chefe da alfândega da cidade, Carivaldo Salles, denunciado pelo edil como chefe de uma quadrilha de contrabandistas de automóveis. As denúncias veiculadas pela revista "O Cruzeiro", então o principal orgão da imprensa brasileira, ganharam repercussão nacional. O homicídio, segundo a revista carioca, ocorreu por volta das 21,30 h e foi descrito em detalhes:

Nessa noite havia sessão na Câmara de vereadores local. Edu Rocha era o líder da bancada pessedista e também o vereador mais votado do município. Já exercera as funções de presidente da câmara e era apontado como o mais forte candidato a prefeito da cidade. Nessa noite, Carivaldo Salles, que nunca antes comparecera à câmara, assistiu à sessão, desde o começo e quase até o fim. Estava extremamente nervoso. Fumava um cigarro após outro. Durante todo o tempo em que permaneceu no recinto pelas janelas da câmara podia-se ver, furtivamente, a cabeça de elementos notoriamente apontados como pertencentes à "gang" de contabandistas. Esses capangas olhavam para dentro do recinto, de soslaio, pelos cantos das janelas, um de cada vez, como se revezando na tarefa de dar cobertura ao "chefe" em caso de algum imprevisto. Quando Edu Rocha terminou seu discurso sobre assunto rotineiro da vida da cidade (nome a ser dado a uma praça pública), Carivaldo saiu e foi sentar-se em seu automóvel vermelho e capota cinza. Tal qual uma fera traiçoeira, ali fora esperar sua vítima. As declarações de numerosas testemunhas permitem compor fielmente o cenário do crime: o "jeep" de Edu Rocha estava estacionado diante da residência da sra. Laura Provenzano, ao lado da Câmara de Vereadores. A uns 5 metros adiante do "jeep", de frente para este e inclusive na contramão), estava parado, sob uma árvore, o carro de Carivaldo. No volante do automóvel, vigiava o capanga do inspetor, de nome César Aral, vulgo "Papito", pistoleiro de má fama e temido pela sua periculosidade. Viera do Paraguai, e em Corumbá prestava serviços a Carivaldo como guarda-costas e como motorista. No assento traseiro do veículo, meio oculto na penumbra, Carivaldo, que abandonara o recinto da Câmara antes do término da sessão, esperava a hora do drama. Quando os vereadores sairam, no final dos trabalhos, muitos deles permaneceram na calçada, conversando em grupos. Edu Rocha e seu colega Arquibaldo Andrade foram os últimos a deixar a porta da Câmara. Palestraram sozinhos durante alguns instantes, e, por fim, a convite de Edu, resolveram tomar um cafezinho. Edu passou por trás do seu "jeep" para alcançar o lado esquerdo do veículo. Quando abriu a porta para sentar-se ao volante, ouviu-se a rajada fatal, entrecortada por um gemido fraco. Arquibaldo Andrade, que se aprestava para entrar no "jeep" pela porta direita, mal teve tempo de voltar a cabeça e ainda assim sentiu grãos de pólvora bateram em seu rosto como chuvisco. Nesse momento, o porteiro da Câmara, Feliciano Rodrigues, que fechava a porta do edifício, caia ao chão, contorcendo-se em dores e pedindo socorro. Arquibaldo Andrade pode ver o carro vermelho de Carivaldo arrancar em debalada carreira, desaparecendo no fim da praça. Ao correr para pedir socorro, Arquibaldo viu, saindo de "um ponto qualquer do jardim", o lugar-tenente de Carivaldo, o valentão Artigas Vilalva, de quem tanto falamos em nossas reportagens sobre o contrabando. (...) 


Ao tombar ao solo, Edu Rocha já não tinha mais vida. Não era para menos. A rajada de metralhadora foi disparada quase à queima roupa, a mais ou menos dois metros de distância, de vez que o carro do assassino passou rente ao jipe do vereador. A metralhadora empregada foi do tipo "piripipi", muito usada na Bolívia e Paraguai. O laudo do exame cadavérico, assinado  pelos cirurgiões que autopsiaram o corpo de Edu, atesta a brutalidade do crime. O vereador foi atravessado por 5 balas que penetraram: a) na boca, destruindo os incisivos superiores;b) na região frontal esquerda; c) na região frontal direita;d) na região external (peito) no seu terço médio; e) na região paraexternal esquerda, para dentro da linha mediana.


Levado a juri em 24 de outubro de 1963, Carinaldo foi absolvido por 5 a 2.


FONTE: Revista O Cruzeiro (RJ), 27 de agosto de 1959.






29 de julho


1962 - Morre Manol Secco Thomé




Faleceu no Rio de Janeiro, aos 75 anos, de problema renal, o empresário português Manoel Secco Thomé, que chegou a Campo Grande em 1913, dedicando-se ao ramo da construção civil. Várias obras marcaram e ainda marcam sua longa passagem por Campo Grande e Sul de Mato Grosso. Em Campo Grande, os quartéis do bairro Amambaí; as vilas do oficiais do Exército na rua Barão do Rio Branco, avenida Duque de Caxias e praça Newton Cavalcanti; o Educandário Getúlio Vargas; o Hospital São Julião; a Santa Casa de Misericórdia; os Correios e Telégrafos, da avenida Calógeras com a Dom Aquino; a Associação dos Criadores, na rua 13 de Maio; o relógio da 14 com a Afonso Pena, demolido na década de 70; o canal do córrego Maracaju; e o obelisco da avenida Afonso Pena.
Em Miranda, sua firma construiu o colégio dos padres, a igreja matriz e a ponte sobre o rio para abastecimento da cidade; em Bela Vista, os quartéis do Exército; em Terenos, Ribas do Rio Pardo e Três Barras, unidades escolares no governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo”. 



FONTE: Emilcy Thomé Gomes, Campo Grande 100 anos de construção, Enersul, Campo Grande, 1999, página 310.


29 de julho

1968 - Ditadura confina ex-presidente em Corumbá

                 
Janio Quadros no Hotel Santa Mônica, sua casa no exílio


O ministro da Justiça,  Gama e Silva, por ordem do presidente Costa e Silva, assina portaria impondo confinamento de 120 dias em Corumbá, ao ex-presidente Jãnio Quadros, acusado de práticas subversivas. Nos "considerandos" o documento apresenta como base da punição, o fato do ex-presidente vir se "manifestando sobre assunto de natureza política", qualificado como delito, nos termos da legislação em vigor. Revela que o ex-presidente, segundo investigação da Polícia Federal, "não só confirmou as entrevistas de natureza política, que concedeu à imprensa do país, assim como acrescentou que após ter sido seus direitos políticos suspensos, tem mantido constantes visitas e solicitações de natureza política, envolvendo ou interessando o declarante".

A decisão do governo acrescenta ainda como justificativa, que Janio Quadros "revela o indisfarçável propósito de promover movimentos da opinião, contrariando os princípios da Revolução de 31 de Março, podendo por em risco a propria ordem política e social, cuja preservação deve ser mantida pela autoridade pública, impondo-se, portanto, no interesse geral, a aplicação conveniente e adequada medida de segurança, sem prejuízo da ação penal correspondente à infração cometida".¹ 

FONTE: Diário de Notícias - RJ - 30 de julho de 1968.  

FOTO: Jornal do Brasil, 9Rio).








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