sexta-feira, 20 de setembro de 2013

22 de setembro

22 de setembro
 

1748Nomeado primeiro governador de Mato Grosso 






Criada em 9 de maio de 1748, dá-se a escolha pelo rei D. João V de Portugal, do primeiro mandatário da capitania de Mato Grosso recai sobre d. Antônio Rolim de Moura, conde de Azambuja, através da seguinte carta patente:

Faço saber aos que esta minha carta patente virem, que tendo consideração às qualidades, merecimentos e serviços que concorrem na pessoa de D. Antônio Rolim de Moura e a que dará inteira satisfação a tudo o que for encarregado do meu serviço, conforme a confiança que dele faço:


Hei por bem de o nomear como pela presente nomeio no cargo de governador e capitão general da capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos e o mais enquanto lhe não mandar sucessor, com o qual haverá o soldo de doze mil cruzados cada ano pago na forma de minhas ordens, e com o mesmo cargo gozará de todas as honras, poderes, mando, jurisdição e alçada que tem e de que usam os governadores do Rio de Janeiro e do mais que por minhas ordens e instruções lhe for concedido, com subordinação somente ao vice-rei e capitão-general de mar e terra do Estado do Brasil, como o tem os mais governadores dele.


FONTE: Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso, Fundação Júlio Campos, Várzea Grande, 1994; Mato Grosso, Coeditora Brasílica, Rio de Janeiro, 1922; página 307 e 356


 
22 de setembro

1872 Inaugurado primeiro marco divisório entre Brasil e Paraguai 




Em cumprimento ao art. 1º do tratado de limites firmado entre o Brasil e República do Paraguai é assentado à margem direita do rio Apa, junto à sua foz, o primeiro marco divisório entre as duas nações.¹

A comissão demarcadora era chefiada, por parte do Brasil, pelo coronel de engenheiros Rufino Enéas Gustavo Galvão, depois barão e visconde de Maracaju (foto), e por parte do Paraguai, o capitão de fragata d. Domingos Antonio Ortiz. Compunham ainda a delegação brasileira o major Francisco Xavier Lopes de Araújo, capitães Guilherme Carlos Lassance e Joaquim V. de Oliveira Pimentel e o médico Augusto W. da Silva Lisboa e a paraguaia, secretariada pelo capitão D.José Dolores Spinosa.


A comissão mista era apoiada por 50 praças de infantaria e 10 de cavalaria, sob o comando do major Antonio Maria Coelho. Acompanhara a comissão, como seu fornecedor contratado e das forças militares, Tomaz Larangeira, brasileiro que se encontrava no Paraguai.²
Os trabalhos de demarcação seriam concluídos em 14 de novembro de 1874.


FONTE:  ¹Estevão de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 163; ²Mario Monteiro de Almeida, Episódios Históricos da Formação Geográfica do Brasil, Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010, página 102.


22 de setembro 

1947 - Presidente Dutra em Aquidauana e Campo Grande








Depois da cumprir extensa programação em Corumbá, onde inaugurou a ponte ferroviária sobre o rio Paraguai, o presidente Eurico Gaspar Dutra, embarca em trem especial, em Porto Esperança com destino a Campo Grande, sempre acompanhado por O Jornal, diário da imprensa carioca:

AQUIDAUANA - O trem que conduz o presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra, chegou a esta cidade às 0,40 horas de hoje.

O general Dutra foi recebido entusiasticamente pela população e autoridades, sendo saudado na gare.

O trem presidencial partiu a 1 hora e 33 minutos.

EM CAMPO GRANDE - O trem em que viaja o presidente Dutra e sua comitiva chegou a esta cidade, precisamente às 9 horas e 15minutos.

O chefe do governo recebeu a maior ovação que se tem na memória nesta cidade.

Destacou-se especialmente a homenagem que lhe prestaram os colégios locais, cujos alunos, transbordantes de satisfação, o aplaudiram ao longo da avenida 14 de Julho. Após passar revista à tropa da 9a. Região Militar, em companhia do general Zacarias de Assumpção e dos demais membros da comitiva, o chefe do governo se encaminhou para o Rádio Clube de Campo Grande, cujas dependências percorreu, tendo então um cordial encontro com a população. O chefe do governo deverá embarcar de volta ao Rio às 11 horas.

REGRESSO - Nas poucas horas que passou nesta cidade, o presidente Dutra procurou conhecer alguns dos melhoramentos recentemente introduzidos em Campo Grande. Assim, após ser homenageado no Rádio Clube local, visitou a Escola Profissional 26 de agosto, que ministra o ensino industrial à cerca de 162 crianças. Em seguida, dirigiu-se ao bairro Amambaí, onde passou em revista as tropas aqui sediadas.

O avião que conduz o presidente da República e sua comitiva de regresso ao Rio de Janeiro, partiu desta cidade às 16 horas em ponto (hora local).


FONTE: O Jornal (RJ) 23 de setembro de 1947.


FOTO: meramente ilustrativa.


22 de setembro

1975 - ADESG defende a divisão de Mato Grosso


Grupo da coordenação de Campo Grande da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), publica estudo favorável à divisão de Mato Grosso. Priorizando o desenvolvimento e a segurança, o trabalho conclui que a "divisão permitirá a adequação das estruturas do setor governo a níveis regionais, através da implantação de administrações compatíveis com os níveis necessários de eficiência, racionalizando a ação governamental através da perfeita articulação de seus diferentes orgãos,sintonizados com a programação e atuação dos organismos federais e municipais."

Como recomendação final o relatório propunha:

"Antes de se efetivar a divisão do Estado há necessidade de adotar, com antecedência, medidas de natureza psicossocial visando o esclarecimento das populações interessadas. Conhecendo previamente à nova situação a ser criada,teriam elas melhores condições de se integrar a nova realidade de seus respectivos estados e de contribuir para o seu desenvolvimento."  

O curso foi coordenado pelo coronel aviador Octávio Luiz Tude de Souza, comandante da Base Aérea de Campo Grande, Afonso Simões Correa foi o dirigente, Luiz Carlos Iglesias o relator. Integraram o grupo de estudos Hirose Adania, João Carlos Marinho Luta, Francisco Giordano Neto, Braulio Secco Thomé, Assima Abdo, Terezinha Silvana Arruda Castro, Antonio de Pádua Vasconcelos, Rogério Fernandes Neto, Eduardo Contar Filho e Cândido de Castro Rondon. 

FONTE: Ciclo de Estudos I/75, Divisão Político-Administrativa de Mato Grosso, Adesg - Delegação de Mato Grosso - Coordenação de Campo Grande, Campo Grande, 1975.

21 de setembro


 
21 de setembro

1778 – Fundação de Corumbá



Por ordem do governador da capitania de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, é fundada Albuquerque (hoje Corumbá) , à margem direita do rio Paraguai:

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta e oito aos vinte e um dias do mês de setembro do dito ano nesta povoação de Albuquerque situada na margem ocidental do rio Paraguai em um assento de terra que decorre para o rio abaixo, e dista a mesma formalidade uma légua pouco mais ou menos aonde o sargento Mor comandante Marcelino Roiz Camponez em observância das ordens do Ilmo. e Exmo. Sr. Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, governador e capitão mór das capitanias de Mato Grosso e Cuiabá, tendo consigo o capitão mór das Conquistas João Leme do Prado e as pessoas abaixo nomeadas e assinadas e o dito sargento mór comandante tomou posse para a Coroa de Portugal mandando levantar uma cruz de pau de lei, limpar terreiro, fazer quartel e acender fogo, caçar nos matos vizinhos, pescar no rio e passear de uma e outra parte do dito terreno dizendo em vozes altas, primeira, segunda e terceira vez: ‘viva el Rei de Portugal’; cujas palavras em igual voz todos os circunstantes repetimos outras tantas vezes. E para de tudo constar aos vindouros mandou ele dito sargento mór comandante fazer este auto que assinou adjunto o capitão mór das Conquistas com os assistentes o alferes dos granadeiros Salvador Roiz de Siqueira, o sarg. da ordenança Manoel Pereira da Silva e os soldados dragões Manoel Jose Correa, Joseph Joaquim de Almeida, Manoel Barbosa e o sargento da Companhia de Pedestres Alexandre Ferreira Neto: Jose Fontoura de Oliveira, que o escrevi e assinei nesta povoação de Albuquerque aos vinte e um dias do mês de setembro de 1778.

Somente a 10 de julho de 1852, Albuquerque passou a ser oficialmente chamada de Corumbá.


FONTE:  Lecio G. de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd; página 120.

FOTO: Imagem do acervo de Assis Oliveira.




21 de setembro

1870 - Alferes recebe medalha por salvar frei Mariano de afogamento

Decreto do Ministério do Império, concede medalha de 2a. classe de comissão do 19° batalhão de infantaria Antonio Correa de Oliveira, por ter salvo, com risco da própria vida, a de frei Mariano de Bagnaia, vigário de Corumbá, que, caindo alta noite no rio Cuiabá, pereceria a não serem os esforços do mesmo alferes.

FONTE: Jornal do Comercio (RJ), 23 de setembro de 1870.



21 de setembro

1929 – Circula o primeiro jornal diário de Campo Grande 


Tendo como diretor o advogado Eduardo Olímpio Machado, circula a primeira edição de O Diário do Sul, de propriedade da Empresa Jornalística Diário do Sul Ltda. O jornal dedicava-se à propaganda do Centro Cívico Campo-Grandense.


FONTE: Rubens de Mendonça, História do Jornalismo em Mato Grosso, edição do autor, Cuiabá, 1963, página 72. 


21 de setembro

2016 - Ex-vereador é morto e incinerado em Campo Grande




Foi encontrado o corpo do ex-vereador de Campo Grande, Alceu Bueno. O corpo estava incinerado e mostrava sinais de estrangulamento. Estava numa rua deserta no Jardim Veraneio, região do Parque dos Poderes. Imagens de uma câmera de segurança de um condomínio mostraram o momento em que o corpo jogado no local.

O Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) seguiu em investigações até a prisão dos três envolvidos, Elpídio Cesar Macena do Amaral, Kátia de Almeida Rocha e Josian Edson Cuando Macena fem 29 de dezembro do mesmo ano. A princípio chegou a ser cogitada uma ligação entre a morte do ex-vereador e o escândalo sexual em que esteve envolvido, que revelou esquema de extorsão de políticos em 2015, e que o levou à renúncia do cargo de vereador.

Após trabalhos da polícia, foi descoberto que  mantinha um relacionamento com Kátia e que a assediava pelo WhatsApp. Elpídio também teria um relacionamento com ela e estaria com ciúmes, uma das possíveis motivações do crime. Os autores chegaram a alegar que a ideia inicial era reprimir o ex-evereador.

Quando o trio percebeu que Bueno costumava andar com muito dinheiro, planejou o roubo. Elpídio pediu para Kátia marcar um encontro com ele na casa dela, no Jardim Seminário. Ele teria sido assassinado ainda no quarto da mulher, a golpes de martelo e de uma tábua de carne. Alceu foi enforcado em seguida com a alça de uma bolsa.

O corpo da vítima foi levado até a região do Parque no próprio carro, uma Land Rover Freelander, onde foi incendiado. O trio roubou R$ 600 de Bueno no dia do crime e após não conseguirem vender o carro no Paraguai, também incendiaram o veículo na região de fronteira do Estado.

No dia 20 de julho de 2017 foram condenados os autores do latrocínio – roubo seguido de morte – e ocultação do corpo de cadáver, foram sentenciados a mais de 20 anos de reclusão.

FONTE: Midiamax,  25/07/2019



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

20 de Setembro

20 de setembro

1869 - Varíola em Corumbá: governo critica negacionistas


Em sua mensagem aos deputados, o presidente do Estado de Mato Grosso dava notícia de uma epidemia de varíola que grassava em Corumbá, recomendava as prevenções para evitar a proliferação da doença e condena o negacionismo:

"BEXIGAS - Graça novamnte esta epidemia em Corumbá; as causas procedentes daquele lugar são à requisição do inspetor de saúde, sujeitas a um exame e desinfetadas antes de chegarem no porto desta cidade.

Bem triste foi a quadra porque passamos em 1867, a experiência foi dolorosa, e por isso não haverá desculpa para aqueles que tendo atravessado incólume tão lutuosa época continuem ainda hoje a desprezar a vacina, único preservativo de tão tremenda enfermidade".

FONTE: Presidente Barão de Melgaço, Mensagem à Assembleia Legislativa, 1869.


20 de setembro

1884 - Abolicionistas indenizam e libertam escrava








A Sociedade Abolicionista Corumbaense consegue a liberdade de uma escrava, indenizando sua proprietária com a quantia de quantia de 400 mil réis, nos seguintes termos:

Registro de uma carta de Liberdade de Vicencia, escrava de Carolina Alves Correa, como abaixo se declara: Eu abaixo assinada senhora e possuidora de uma escrava parda de nome Vicencia, solteira, com vinte anos de idade, natural desta província e matriculada no município de Rosário, no ano de 1872, com o número 1721 de ordem da matrícula e registrada na Alfândega de Albuquerque em 1875, declaro que por este título de manumissão, lhe concede de hoje para sempre, plena e irrevogável liberdade, por ter recebido da Sociedade Abolicionista Corumbaense - como indenização do valor da mesma escrava a quantia de quatrocentos mil réis e mais cem mil réis que a libertada obteve de donativos que com o meu consentimento andou pedindo para sua liberdade; o que perfaz a importância de quinhentos mil réis em que ambos combinamos. E para que conste onde convier,mandei passar a presente carta de liberdade, que assino nesta cidade, aos 20 dias do mês de setembro de 1884 - (assinado) Carolina Alves Correa = Como testemunha- Joaquim Antonio Ferreira da Cunha, = Joaquim Joséde Sª Guimarães - Nada mais se continha em dita carta e ao original que entrgo a parte me reporto e dou fé. Eu, Emilio Ponsolle, primeiro Tabelião interino qeu escrevi e assinei.

FONTE: Fundação Cultural Palmares (DF), "Como se de ventre livre fosse...", Arquivo Público Estadual, Campo Grande,1994, página 41.

FOTO: meramente ilustrativa.


20 de setembro

1886 - Bispo de Cuiabá chega à fazenda Passatempo na Vacaria

Na última última parada de sua viagem ao Sul do Estado, antes de chegar a Campo Grande, termo da viagem, o bispo dom Luis, de Cuiabá, chega à fazenda Passatempo, reduto da família Barbosa, hoje município de Rio Brilhante. A passagem do prelado está no diário do cônego Bento Severiano da Luz:

Ao meio dia paramos no sítio Bela Vista, em casa do Sr. João José Pires Martins, onde almoçamos. O local não corresponde à força etimológica do nome. Saímos às 2 e 20 e às 5 e maia chegamos ao Passa Tempo, com um numerosíssimo acompanhamento em que se via uns trajando palas, outros sobretudo, outros...Na frente da casa havia duas ordens de arcos de folhas e flores, estando o último assentado sobre colunetas pintadas de azul entrelaçadas de ramos verdes, dos quais esta inscrição: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor. Deste arco partia uma rua de arvoredos até a entrada da casa e duas alas de senhoras no mesmo sentido, por onde S. Exa. passou a pé lançando a bênção. Havia muita gente e o aperto era enorme e espantoso o fervilhar de homens, mulheres e crianças indo e vindo até alta noite.

O dono da fazenda Sr. Tenente Joaquim Gonçalves Barbosa Marques e sua digna consorte a Exma. Sra. Eufrosina Garcia Leal rodearam o Sr. Bispo de grandes atenções, muita bondade e franqueza. A hospedagem preparada foi tão boa quanto é alegre a alma e bom o coração do Sr. Barbosa.

Os quatro dias que ali estivemos foi de excessivo trabalho, tanto para S. Exa. Rvma. como para mim. S. Exa. confessou grande parte do povo, celebrou uma vez, pregou três e administrou o crisma a 347 pessoas, sendo 189 do sexo masculino e 158 do feminino. Eu também confessei a muita gente e de mais a mais celebrei três vezes, preguei duas, e fiz 28 batizados e 9 casamentos. Pela primeira vez queixei-me de cansaço, pois todos os meus cinco sentidos recusavam serviço.

Na tarde do dia 23 S. Exa. Rvma. dignou-se a fazer o casamento do Sr. Marcelino José Pires Martins, com a Exma. Sra. Eulália Ferreira Garcia, neta da Exma. Sra. D. Luiza Garcia Leal. O bondoso Prelado mostrou-lhe com toda clareza a individuação os deveres sagrados dos esposos e imprimiu-lhes no espírito a mais alta ideia das obrigações consequentes do matrimônio, instituição fundamental de toda sociedade. Terminada a cerimônia os circunstantes demonstraram a sua satisfação aos novos casados abraçando-os cordialmente. Por tão justo motivo e atenção ao pedido do Sr. Bispo a Sra. D. Luiza concedeu, sem ônus algum, carta de liberdade a um seu escravo. Aforriou-se também uma escrava idenizando-se pecuniariamente o seu senhor com o resultado de uma subscrição que elevou-se a 400$800, entrando o caridoso Sr. Coelho, com metade dessa quantia.

Houve à noite uma serenata em casa do Sr. Barnabé Gonçalves Barbosa, irmão e vizinho do Sr. Joaquim Barbosa. Fui convidado para esta festa familiar e lá fui por insistência do dono da casa. O instrumental compunha-se de um violão e uma gaita e tudo correu na melhor ordem e simplicidade, mostrando os tocadores ter suficientemente desenvolvido o gosto pelo canto e pela música.

Muitos mimos foram oferecidos a S. Exa. durante a viagem, mas entre eles avultou muito o que recebeu do povo Vacariense, que pareceu querer igualar , senão exceder, os outros povos nos certames de generosidade, ofertando a S. Exa. como lembrança de sua visita, um cálice de ouro de primoroso lavor, cravejado de ametistas no valor de 1:400$000, que mandaram fazer na Corte e entregar a S. Exa. por intermédio do muito estimado e prestimoso Sr. Capitão Muzi, que saiu com muito bom êxito de tão importante comissão.

Às 8 horas da manhã do dia 25 a comitiva deixou a fazenda Passa Tempo rumo a Campo Grande, onde chegou no dia 28 de setembro.

FONTE: Luis-Philippe Pereira Leite, O Bispo do Império, edição do autor, Cuiabá, sd., página 175.



20 de setembro
 
1935 – Centenário da Revolução Farroupilha comemorado em Mato Grosso


Na sessão ordinária da Assembleia de Mato Grosso, o deputado Francisco Pinto de Oliveira apresentou a seguinte mensagem:

O povo mato-grossense pelos seus legítimos representantes, nesta Assembleia Constituinte envia ao heróico povo do Rio Grande do Sul, na pessoa de seu eminente governador e de seus ilustres representantes na Assembleia Legislativa, as mais calorosas e cordiais congratulações nesta hora histórica em que a epopeia de 35 iluminando a terra gaúcha com o brilho imperecível de cem anos de glorias, desperta no nosso espírito os mesmos ideais de brasilidade, de bravura e de civismo, que constituíram a flâmula invencível dos leões farroupilhas.

Sobre a data usaram ainda da palavra os deputados Rosário Congro, Nicolau Frageli, Filogônio e Joaquim Cesário. 


FONTE: Rubens de Mendonça,  História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 179



20 de setembro

1947 - Presidente Dutra inaugura ponte do rio Paraguai




Em sua primeira visita ao seu Estado natal, no cargo de presidente da República, o general Eurico Gaspar Dutra (filho de Cuiabá), inaugura em Corumbá a ponte ferroviária sobre o rio Paraguai e o alto forno da siderúrgica local. O Jornal (do Rio) acompanhou o presidente em sua viagem ao Sul de Mato Grosso. O ponto alto da agenda presidencial foi a entrega a do que o matutino carioca intitulou de "a maior ponte do continente":

O chefe do governo, em ato a que estiveram presentes altas autoridades da República, inaugurou solenemente a ponte internacional "Presidente Eurico Gaspar Dutra", sobre o rio Paraguai. Revestiu-se de brilhantismo e imponência a significativa solenidade inaugural do grande empreendimento, que contou com a presença, além das autoridades, da população local, declarando pouco depois inaugurada a importante obra que deverá deverá desempenhar um grande papel no tráfego internacional do futuro, nesta região, com os trabalhos que se ativam na Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, para a ligação transcontinental Santos-Arica.


A ponte é toda de cimento armado e do tipo mais moderno e de rara beleza. A grande obra possui, no canal do rio, para permitir a navegação, 25 metros de altura acima do nível das cheias, e para conseguir tal altura foram construídos dois grandes viadutos inclinados sendo um de ascensão e outro de descida.

2.000 METROS DE COMPRIMENTO - Seu comprimento total é de quase dois mil metros, dos quais novecentos constituem o viaduto de acesso do lado do Porto Esperança, com 4 arcos de noventa metros e um de cento e dez no leito do rio, sendo mais de quinhentos metros de descida nos patamares da margem direita do Paraguai, onde prosseguirão os trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil rumo a Corumbá e ligação à E. F. Brasil-Bolívia, consubstanciando o velho dos dois povos irmãos. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passará, com a inauguração da "Ponte Presidente Eurico Dutra", a desempenhar função da maior relevância, cooperando no setor ligado aos transportes nacionais, evidenciando-se do mesmo modo a ação dos nossos homens públicos, no empenho de servir cada vez melhor aos interesses do Brasil
.

A ponte inaugurada pelo presidente Dutra foi iniciada em 1938 no governo de Getúlio Vargas.

O primeiro compromisso do presidente Gaspar Dutra em Corumbá foi a sua recepção pela população na praça central da cidade:

Um dos espetáculos mais imponentes a que assistimos, na tarde de ante-ontem, nesta próspera cidade foi a espontânea e ruidosa manifestação que o povo corumbaense prestou ao presidente Eurico G. Dutra, na praça da Independência.

Nesta atmosfera de civismo o presidente da República depositou uma coroa de flores no pedestal da estátua do marechal Antonio Maria Coelho, herói da batalha que resultou na retomada da cidade de Corumbá das mãos do paraguaios em 1867.

Antes da entrega oficial da ponte sobre o rio Paraguai, o presidente participou da inauguração do alto-forno da siderúrgica local:

Por ocasião da visita presidencial à Sociedade Brasileira de Siderurgia, foi inaugurado o alto-forno "General Eurico Dutra". Falando no ato o presidente daquele estabelecimento industrial, sr. Jorge Chamma, salientou perante o chefe do executivo a importância do arrojado empreendimento para a economia matogrossense. Entre outras coisas afirmou o sr. Chamma que a Sociedade Brasileira de Siderurgia contribuiu para dar emprego a mais de 3.000 operários que antes dedicavam as suas atividades em ocupações menos rendosas. Frisou ainda o orador as dificuldades que se opõem ao incremento dos trabalhos industriais nesta área do território de Mato Grosso em virtude da carência de transportes e de outros subsídios indispensáveis.

Adiantou que foi ponderando exatamente tudo isso que o presidente Eurico Gaspar Dutra resolveu inspecionar os trabalhos em curso, a fim de conhece-lo de perto, bem como com o fito de apressar a solução para determinados e urgentes problemas. Finalizou, declarando que a Sociedade Brasileira de Siderurgia fora criada exclusivamente para servir o Brasil.

Antes de se retirarem o presidente e sua comitiva assistiram a uma "corrida" de ferro gusa.

De Porto Esperança, em trem especial o presidente Dutra seguiu para Aquidauana e Campo Grande, onde encerrou sua viagem ao Sul de Mato Grosso.

Em Corumbá o anfitrião do presidente Eurico Gaspar Dutra foi o prefeito Artur Marinho.

FONTE: O Jornal (RJ) 23 de setembro de 1947.



20 de setembro

1999Fundada a Liga Pró-Estado do Pantanal 





Quarenta e oito pessoas entre empresários, jornalistas, profissionais liberais reunidos no auditório da Associação do Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul) decidiram fundar a Liga Pró-Estado do Pantanal, organização não governamental destinada a dar estrutura orgânica ao movimento mudancista. A assembléia decidiu constituir um grupo de trabalho para elaboração do estatuto da entidade; definiu a data de 11 de outubro (dia da Divisão) para lançamento do Manifesto do Estado do Pantanal, cuja redação foi coordenada pelo artista plástico Humberto Espíndola (foto); criou quatro comissões provisórias: estatutária, de implantação, de comunicação e a de redação do Manifesto.

FONTE: Jornal Primeira Hora, 21 de setembro de 1999.


20 de setembro

2001 - Ramez Tebet assume presidência do Senado

Ramez dá posse ao presidente Lula e ao vice José Alencar


Para completar o mandato do senador Jader Barbalho, que renunciou à presidência, envolvido em uma crise interna do Senado, é eleito o senador Ramez Tebet (PMDB/MS). Na bancada do PMDB derrotou José Alencar, José Sarney e José Fogaça e no plenário,supera reações do PFL e consegue 41 votos dos 75 senadores presentes. No seu discurso de posse um compromisso:

Quero e haverei de honrar o Senado da República de uma só forma, da forma como sei fazer: trabalhando incansavelmente, lutando bravamente para atingir esses objetivos, para fazer desta Casa verdadeiramente uma casa da federação brasileira, uma casa de reflexão. Vamos fazer desta Casa uma Casa onde possamos conciliar os diversos interesses, desde que tenhamos uma meta, qual seja, a consecução do bem comum, pelo qual todos temos de lutar em favor da grandeza e do progresso da nossa Pátria.


FONTE: Coaraci Nogueira Castilho, Simplesmente Ramez Tebet:biografia autorizada, Life Editora Ltda., Campo Grande, página 148. 

19 de setembro

19 de setembro


 
1857Frei Mariano nomeado vigário forâneo do Baixo Paraguai, com sede em Corumbá





Frei Mariano de Bagnaia é nomeado vigário da comarca eclesiástica do Baixo-Paraguai, com sede em Corumbá:

“D. José Antonio dos Reis por graça de Deus e da S. Sé apostólica, bispo desta cidade de Cuiabá, Bom Jesus de Cuiabá. Aos que esta provisão verem, saúde, paz e bênção em Jesus Cristo.

Fazemos saber que sendo necessário prover-se o lugar da sede da Vara da Comarca Eclesiástica do Baixo-Paraguai que se acha vaga e reconhecendo no reverendo frei Mariano de Bagnaia as qualidades necessárias para o bom desempenho deste emprego por isso havemos por bem e pela presente nossa provisão nomeá-lo, provê-lo e instituí-lo vigário da Vara da dita Comarca Eclesiástica enquanto bem servir e não mandarmos o contrário e para cujo exercício lhe confiamos todas as faculdades e jurisdição marcados no F. J. 9 do Regimento do auditório eclesiástico da constituição do Bispado com a restrição dos casos incompatíveis com as leis do Império devendo antes de entrar no exercício passar perante nós ou a nossa provisão e vigário geral o respectivo juramento na forma da citada constituição do bispado. Neste emprego haverá todos os emolumentos, provas e percasos que por direito lhe pertencerem. Muito exortamos aos nossos caros e prezados filhos da sobredita comarca para que conheçam com cumpre ao mencionado vigário da Vara.

Data e passada nesta cidade de Cuiabá, sob o nosso sinal e selo de nossas armas, aos 19 de setembro de 1857”.


FONTE: 35 - Frei Alfredo Sganzerla, A história do frei Mariano de Bagnaia, Edição FUCMT-MCC, Campo Grande, 1992, página 392.


19 de setembro

1963 - Morre no Rio, o general Zenóbio da Costa





Faleceu no Rio de Janeiro, o general Euclides Zenóbio da Costa nasceu em Corumbá (MS), então no estado de Mato Grosso, no dia 9 de maio de 1893, filho do general José Zenóbio da Costa e de Hermínia Mendes Gonçalves da Costa.

Realizou os primeiros estudos em sua cidade natal e, em 1905, aos 12 anos de idade, matriculou-se no Colégio Militar do Rio de Janeiro, então capital da República. Concluiu o curso em dezembro de 1911 e nesse mesmo mês assentou praça, ingressando na Escola Militar do Realengo. Realizou os cursos de cavalaria, infantaria e artilharia e em abril de 1915 foi declarado aspirante-a-oficial.

Por essa época foi convocado para integrar as tropas do governo que combatiam no Sul a Revolta do Contestado. Essa era a denominação do território disputado pelos estados do Paraná e Santa Catarina na região dos rios Saí e Iguaçu. Como as terras do Contestado fossem muito férteis, fazendeiros influentes começaram a desalojar os antigos ocupantes da área, pequenos agricultores que, por isso mesmo, passaram a se armar e a se organizar em torno de líderes messiânicos. A repercussão nacional do conflito levou o governo federal, a partir de outubro de 1912, a enviar várias expedições militares para combater os posseiros. As 13 primeiras expedições foram destroçadas, morrendo em combate 20 oficiais e perto de trezentos soldados do Exército. Cerca de três mil camponeses fanatizados perderam a vida lutando contra tropas regulares. Somente em outubro de 1916, ante o poderio de fogo das forças comandadas pelo general Fernando Setembrino de Carvalho, a revolta foi esmagada.

De regresso ao Rio de Janeiro, Zenóbio foi indicado para secretariar o 55º Batalhão de Caçadores (BC). Em julho de 1917, promovido a segundo-tenente, passou a comandar a 4ª Seção da 1ª Companhia de Metralhadoras. Em 1921 serviu na Bahia e em janeiro do ano seguinte foi promovido a primeiro-tenente voltando então ao Rio para juntar-se à 4ª Companhia de Metralhadoras Pesadas. Nessa época, os meios militares andavam agitados com a campanha presidencial que opunha os candidatos Artur Bernardes, presidente de Minas, e Nilo Peçanha, senador pelo estado do Rio. A jovem oficialidade, base do movimento tenentista, mobilizou-se contra a candidatura de Bernardes, afinal eleito em 1º de março de 1922, e inflamou-se quando o presidente Epitácio Pessoa, em 4 de julho seguinte, ordenou a prisão disciplinar do marechal Hermes da Fonseca por este ter protestado, na qualidade de presidente do Clube Militar, contra a utilização de tropas do Exército numa disputa eleitoral em Pernambuco. No dia 5 de julho, a guarnição do forte de Copacabana rebelou-se contra o governo, contando com a adesão dos cadetes da Escola Militar do Realengo e de alguns contingentes da Vila Militar. O movimento foi controlado em algumas horas, tendo Zenóbio tomado parte na repressão aos rebeldes. No dia 15 de novembro, Artur Bernardes assumiu a presidência da República.

Em 1924 Zenóbio servia como instrutor na Escola Militar do Realengo quando foi destacado pelo general João Álvares de Azevedo Costa para comandar uma coluna legalista que combatia no Sul os revolucionários que se insurgiram contra a permanência de Bernardes no poder. A Revolução de 1924 iniciou-se em São Paulo, também no dia 5 de julho, segundo aniversário da revolta do forte de Copacabana. Era comandada pelo general Isidoro Dias Lopes, cujas tropas durante vários dias mantiveram a capital paulista sob ocupação. A cidade, entretanto, foi logo inteiramente bloqueada e incessantemente bombardeada pelos legalistas. Para não sacrificar a população civil, Isidoro recuou para o Sul do país. Alguns de seus oficiais e soldados exilaram-se em Buenos Aires e Montevidéu. Outros se juntaram às tropas sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes, que marchavam de Santo Ângelo (RS) em direção a Mato Grosso com o objetivo de continuar a ação revolucionária. A junção da unidade revoltosa de Santo Ângelo com os remanescentes da tropa de Isidoro foi a origem da Coluna Prestes, que durante dois anos percorreria mais de dois mil quilômetros do território brasileiro, dando combate a destacamentos do Exército e a batalhões das polícias militares de vários estados que se movimentaram para defender o governo federal.

Colocado em 1926 à disposição do governador do Maranhão, José Pires Sexto, Zenóbio da Costa acumulou naquele estado a chefia de polícia e o comando da Força Pública, tendo exercido ainda, durante alguns dias, as funções de prefeito de São Luís. Já no posto de capitão, ao qual foi promovido em julho de 1928, retornou ao Rio de Janeiro em meados de 1930, em pleno período de agitação revolucionária contra o governo Washington Luís. Comandante, entre outubro e dezembro daquele ano, da 6ª Companhia do 1º Regimento de Infantaria, aquartelado na Vila Militar, tomou posição discreta a favor do movimento revolucionário. Com a posse do Governo Provisório de Getúlio Vargas, foi de novo enviado ao Maranhão para apurar irregularidades administrativas que teriam sido praticadas pelo governo de José Pires Sexto, deposto, como o de Washington Luís, em 24 de outubro de 1930. Encerrada sua tarefa no Maranhão, foi enviado a Belém, onde permaneceu à disposição do comandante da 8ª Região Militar (RM). Em janeiro de 1932 foi chamado novamente ao Rio para comandar a 1ª Companhia do 3º Regimento de Infantaria (RI).

Encontrava-se nesse comando quando estourou em São Paulo, no dia 9 de julho de 1932, a Revolução Constitucionalista, deflagrada pelas correntes políticas do estado em aliança com os efetivos locais do Exército e da Força Pública, com a finalidade de depor o Governo Provisório. Iniciada a contra-ofensiva governamental no vale do Paraíba, sua unidade recebeu ordens para incorporar-se ao destacamento do coronel Manuel Daltro Filho, travando contato com o inimigo nas proximidades de Itatiaia (RJ). Ocorreu, então, o primeiro recuo da vanguarda constitucionalista comandada pelo coronel Euclides Figueiredo. Na frente leste os combates entre paulistas e federais foram mais assíduos e violentos, com as forças legalistas tentando chegar a Campinas e dali abrir caminho para a ocupação militar da capital bandeirante. A atuação de Zenóbio foi posta em evidência pelos despachos do coronel Daltro, assegurando sua promoção a major no dia 5 de agosto de 1932, menos de um mês após o início das hostilidades.

A revolução paulista terminou em 2 de outubro de 1932, com o pedido de armistício dirigido ao chefe do Governo Provisório pelo general Bertoldo Klinger, comandante do chamado Exército constitucionalista. Concluída a rendição, Zenóbio regressou ao Rio e, no início de 1933, assumiu o comando do 1º Batalhão do 3º RI. Entre maio daquele ano e janeiro de 1934 freqüentou também os cursos da Escola de Infantaria.
Quando Pedro Ernesto Batista, interventor e, a partir de 1935, prefeito do Distrito Federal, decidiu criar a Polícia Municipal, Zenóbio da Costa foi convidado para comandá-la, sem prejuízo de sua condição de aluno da Escola de Estado-Maior do Exército, que cursou de fevereiro de 1935 a dezembro de 1936. Nesse período, participou da repressão ao movimento insurrecional do 3º RI, que se sublevou contra o governo em 27 de novembro de 1935. Também nessa época, em maio de 1936, foi promovido a tenente-coronel.

Em agosto de 1937, Zenóbio assumiu o comando do 8º BC, sediado em São Leopoldo (RS), por indicação do general Daltro Filho, comandante da 3ª RM, que então dava execução ao processo de deposição do governador Flores da Cunha. Desde fins de 1936, Flores vinha acentuando suas divergências com o governo federal, aumentando os efetivos da Brigada Militar gaúcha e mantendo mobilizados os chamados batalhões provisórios, grupos de voluntários que haviam sido equipados com armamentos do Exército em 1932 para combater a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Diante das posições de Flores, que apoiava a candidatura de Armando Sales à presidência da República, em oposição a José Américo de Almeida, o candidato semi-oficial, e se recusava sistematicamente a atender aos pedidos de devolução dos armamentos formulados pelo Ministério da Guerra, o governo federal foi apertando o cerco até federalizar a Brigada gaúcha em outubro de 1937, o que provocou a renúncia do governador e sua fuga para o Uruguai. A 10 de novembro seguinte, com a desarticulação de todas as resistências prováveis, Vargas instituiu o Estado Novo, suprimindo a Constituição de 1934, extinguindo todos os órgãos legislativos do país e todos os partidos políticos existentes, suspendendo as eleições marcadas para janeiro de 1938 e adotando uma Carta autoritária que iria vigorar até 1946.

Em 3 de maio de 1938 Zenóbio chegou à patente de coronel. Nessa época, tomou a defesa de Pedro Ernesto, denunciado pelo chefe de polícia do Distrito Federal, Filinto Müller, e processado pelo Tribunal de Segurança Nacional sob a acusação de cumplicidade com a revolta do 3º RI em novembro de 1935. De agosto de 1938 a janeiro de 1940, comandou o 14º RI, em São Gonçalo (RJ). Daí foi transferido, em maio deste último ano, para Campo Grande, então no estado de Mato Grosso, e hoje capital de Mato Grosso do Sul, onde ficou à disposição do comando da 9ª RM até agosto seguinte. Promovido a general-de-brigada em agosto de 1941, já em outubro foi transferido para Belém com a missão de comandar a 8ª RM.

Iniciaram-se a essa altura, em plena Segunda Guerra Mundial, as primeiras conversações entre as autoridades militares e diplomáticas do Brasil e dos Estados Unidos com vista à montagem de sistemas defensivos no Norte e Nordeste do país contra possíveis ataques alemães a partir de bases controladas no litoral da África Ocidental por franceses ligados ao governo colaboracionista de Vichy. Temia-se que os alemães pusessem em risco a segurança do tráfego marítimo no Atlântico Sul. No comando da 8ª RM, Zenóbio travou conhecimento com alguns oficiais que se encontravam em Belém na qualidade de emissários do governo norte-americano para estudar a localização das futuras bases defensivas. Em março de 1943 foi exonerado daquela função e transferido para Caçapava (SP), onde assumiu no mês seguinte o comando da Infantaria Divisionária da 2ª RM. Mas já em maio foi escolhido para exercer o cargo de diretor-geral de Pessoal do Exército.

Com a FEB na Itália

Com os entendimentos mantidos em Natal, em 28 de janeiro de 1943, entre os presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, tiveram início as primeiras providências para o envio de tropas brasileiras ao exterior em missão de guerra. Essas trocas de pontos de vista entre os dois chefes de Estado tomaram feição prática e aprofundaram-se durante o ano de 1943, com as sucessivas visitas de autoridades militares norte-americano ao Brasil e com as idas freqüentes de oficiais brasileiros aos Estados Unidos para trocas de informações e acertos de detalhes.

Vários oficiais brasileiros foram relacionados para estagiar em centros de treinamento militar norte-americanos a fim de entrar em contato com modernos armamentos e técnicas de combate. Zenóbio da Costa foi um desses oficiais, e, enquanto permaneceu nos EUA, de agosto a novembro de 1943, um decreto presidencial datado de 7 de outubro de 1943 determinou a organização e instrução da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) com unidades retiradas das regiões militares sediadas no Rio, São Paulo, Minas e Mato Grosso. A 1ª DIE constituiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB), cuja composição básica era de pesadas unidades de artilharia e infantaria.

O general Zenóbio da Costa ingressou na FEB como voluntário. Sua missão principal era preparar, com treinamento adequado, os efetivos de infantaria, de conformidade com as diretrizes de instrução dos quadros e da tropa do corpo expedicionário emitidas em 18 de agosto de 1943 pelo Estado-Maior do Exército (EME). Recebendo o prazo de 27 semanas para colocar em condições de combate a tropa sob seu comando, a 31 de março de 1944 desfilou à frente dela na avenida Rio Branco, no Rio, sendo amplamente festejado pela população. Demonstrava assim estar pronto para o embarque, cuja data vinha sendo mantida em sigilo.

Em 2 de julho de 1944, o navio-transporte norte-americano General Mann zarpou da Guanabara conduzindo o 1º Escalão da FEB composto de 5.800 homens, sob o comando de Zenóbio da Costa, e levando a bordo o comandante-em-chefe da FEB, general João Batista Mascarenhas de Morais. A tropa brasileira desembarcou em Nápoles, na Itália, a 16 de julho, e permaneceu nas proximidades até o dia 26, quando se transferiu para a Tarquínia, incorporando-se, a 5 de agosto, aos efetivos do V Exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Mark Clark. A 18 deslocou-se para a região de Vada, perto do rio Arno, onde se concentravam fortes dispositivos de tropas alemãs. Nessa área o 1º Escalão, sob o comando de Zenóbio, realizou um teste ofensivo, presenciado pelo general Mark Clark e por 270 oficiais norte-americanos, ao fim do qual foi considerado apto para entrar em combate.

No dia 16 de setembro verificou-se o primeiro contato da FEB com o inimigo. Acampado em San Rossore, o 6º RI desdobrou-se em duas frentes: o 1º Batalhão da unidade marchou na direção Filetole-Monte Ghilardona, enquanto o 2º Batalhão ingressou no percurso Bozzano-Vecoli. Dessa operação resultou a ocupação de Massarosa, Bozzano e Quiza. Dois dias depois, a FEB conquistou o reduto de Camaiore. A 26 alcançou Monte Prano, no desempenho de plano ofensivo que visava a atingir a “Linha Gótica”, constituída de pontos fortificados nas altitudes máximas da cadeia dos Apeninos.

A 6 de outubro, mais dois escalões da FEB chegaram a Nápoles: o 2º com 5.133 homens, comandado pelo general Osvaldo Cordeiro de Farias, e o 3º, com 5.243 homens, comandado pelo general Olímpio Falconière da Cunha. Com esse reforço, Mascarenhas mudou a estrutura de comando da FEB: Cordeiro de Farias passou a comandar a Artilharia Divisionária, e Zenóbio, a Infantaria. As unidades de Zenóbio foram enviadas, então, para o vale do Reno, onde a poderosa 1ª Divisão Blindada americana mantinha posições defensivas numa região montanhosa exatamente defronte às fortificações nazistas nos Apeninos, encravadas nos pontos culminantes dos montes Belvedere, Gorgolesco, Mazzancana, La Torracia, Castelo, Della Croce, Torre de Nerone e Sopropassasso.

A FEB era, estruturalmente, subordinada ao IV Corpo do Exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Willis Crittenberger, que por sua vez constituía uma grande unidade do V Exército, sob o comando do general Mark Clark. Ao contrário de Mark Clark, que mantinha excelentes relações com o general Mascarenhas, o comandante do IV Corpo exigia da tropa brasileira um ritmo de operacionalidade que estava muito além de suas disponibilidades técnicas e numéricas. O general Floriano de Lima Brayner conta em seu livro A verdade sobre a FEB que as quatro primeiras tentativas de ataque a Monte Castelo, a principal fortaleza natural da cadeia dos Apeninos, desencadeadas nos dias 24, 25 e 29 de novembro e 12 de dezembro de 1944, foram malsucedidas porque o general Crittenberger não só desviou reforços da infantaria da FEB para outros setores de ação como ainda substituiu unidades norte-americanas por efetivos brasileiros já nos limites irresistíveis da exaustão física.

O procedimento de Crittenberger, segundo Brayner nem sempre contestado devido à timidez e inexperiência de Mascarenhas, chegou a criar dúvidas a respeito da reputação profissional do general Zenóbio e, conseqüentemente, a provocar desconfianças na tropa quanto à sua capacidade de comando. A 21 de fevereiro de 1945, todavia, assumindo pessoalmente a chefia das operações na frente de Monte Castelo, contrariando inclusive as expectativas de Crittenberger, o general Zenóbio da Costa lançou em combate o 1º RI sob o comando do coronel Aguinaldo Caiado de Castro e, com apoio da Artilharia Divisionária, ocupou em 15 minutos a posição considerada quase inexpugnável. Dali por diante, a FEB tomou Castelnuovo, Montese, Zocca, Montalto, Vignola, Marano e Collechio e alcançou Turim a 1º de maio, na véspera da rendição alemã em toda a frente italiana, que marcou o fim da guerra no continente europeu. No dia 9 de maio, Zenóbio foi promovido a general-de-divisão e, no mês seguinte, designado para representar o Exército brasileiro na Parada da Vitória realizada em Londres.

De 1945 a 1954

Em julho de 1945, Zenóbio regressou ao Brasil, quando o país vivia um dos momentos mais ativos da campanha presidencial, tendo em vista as eleições marcadas para 2 de dezembro. Disputavam a chefia da nação o general Eurico Gaspar Dutra, na legenda do Partido Social Democrático (PSD), e o major-brigadeiro Eduardo Gomes, indicado pela União Democrática Nacional (UDN). Dutra era candidato das forças políticas que apoiavam Vargas, enquanto Eduardo Gomes representava a oposição. Não obstante, crescia no país inteiro o chamado movimento “queremista” (“Queremos Getúlio”), que visava ao afastamento das duas candidaturas militares em favor da permanência de Vargas no poder.

No meio político acentuava-se a desconfiança quanto à posição do presidente da República em relação aos seus compromissos com Dutra, generalizando-se a suspeita de que ele próprio incentivava a propagação do movimento queremista através da máquina sindical controlada pelo Ministério do Trabalho. Vargas não se desincompatibilizou no prazo devido para concorrer às eleições, mas no dia 10 de outubro decretou a antecipação das eleições para os governos dos estados, fazendo-as coincidir com o pleito presidencial marcado para 2 de dezembro. Os governos estaduais ficariam assim livres para serem ocupados de imediato por nomes de confiança do presidente, que dessa forma se fortaleceria politicamente em todo o país. Os militares viram nisso uma manobra continuísta e em 29 de outubro, quando Getúlio pretendeu substituir na chefia de polícia do Distrito Federal o coronel João Alberto Lins de Barros pelo seu irmão Benjamim Vargas, as forças armadas depuseram o governo através de um golpe de Estado. A chefia da nação foi entregue ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro José Linhares, e Dutra venceu as eleições de dezembro, tomando posse em janeiro do ano seguinte.

Em junho de 1946 Zenóbio assumiu o comando da 1ª Divisão de Infantaria, a mais poderosa unidade do Exército, sediada na Vila Militar, no Rio de Janeiro. No ano seguinte passou a fazer parte da comissão de promoções do Exército e, em 1949, foi nomeado comandante da Zona Militar Leste, sediada na capital da República.

Definidos os resultados das eleições presidenciais de 3 de outubro de 1950 com a expressiva vitória de Getúlio Vargas, candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sobre seus três competidores — Eduardo Gomes, da UDN, Cristiano Machado, do PSD, e João Mangabeira, do Partido Socialista Brasileiro  (PSB)  as restrições em torno da legitimidade de sua posse começaram a movimentar os meios oposicionistas no Congresso e na imprensa. A tese sustentada era a de que Vargas não alcançara a maioria absoluta de votos, exigência que seus opositores julgavam implícita no texto da Constituição de 18 de setembro de 1946. Tal alegação gerou reações violentas nos meios políticos incluindo setores dominantes do PSD, que, embora derrotados nas urnas, não encontravam fundamento constitucional para impugnar o triunfo do candidato trabalhista.

O problema, como era de se esperar, refletiu-se nos quartéis. Zenóbio, no comando da Zona Militar Leste, foi procurado pelos jornais e desestimulou publicamente a ação dos que procuravam envolver as chefias militares numa decisão que já havia sido tomada pelo voto popular. No entanto o general Newton Estillac Leal, que comandava a Zona Militar Sul e apoiara os pronunciamentos de Zenóbio, foi o escolhido por Vargas para ocupar a pasta da Guerra. A opção do presidente, não tendo sido do agrado de Zenóbio, colocou-o em conflito com o novo ministro, que exercia cumulativamente a liderança da corrente nacionalista do Exército, a qual o elegera, em maio de 1950, presidente do Clube Militar, em oposição ao grupo conservador chefiado pelo general Cordeiro de Farias. Enquanto a corrente de Estillac defendia o monopólio estatal do petróleo, a não-participação do Brasil no conflito coreano e posição autônoma no campo da política externa, o grupo de Cordeiro, ao contrário, admitia a participação do capital estrangeiro na exploração petrolífera, insistia nos compromissos do país com o mundo ocidental em oposição ao bloco soviético, e defendia um integral alinhamento com as diretrizes da política externa dos Estados Unidos.

Entre esses dois grupos, o general Zenóbio e os oficiais de seu círculo de influência figuravam numa esfera oscilante, sem fixações ideológicas e conceitos políticos estabelecidos, embora decididos, na hipótese de um confronto, a uma composição indisfarçável com o grupo do general Cordeiro. Na campanha contra Estillac, acusado de favorecer o desempenho de atividades comunistas dentro do Clube Militar, Zenóbio aparecia como precioso aliado de Cordeiro, não só pela importância do comando que exercia, como pela natural extroversão do seu temperamento, sempre predisposto a pronunciamentos de efeitos retumbantes. Dessa forma, sua posição à frente da Zona Militar Leste foi de choque permanente com o ministro da Guerra.

Promovido a general-de-exército em março de 1951, prosseguiram suas dificuldades de relacionamento com Estillac, em decorrência das questões ligadas ao Clube Militar. Para evitar uma crise, Estillac solicitou demissão do Ministério da Guerra em 25 de março de 1952, ocorrendo a Zenóbio pedir, na mesma data, sua exoneração do comando da Zona Militar Leste. Vargas aceitou as solicitações de ambos e, no dia 30 daquele mês, Zenóbio passou o posto ao general Aristóteles de Sousa Dantas, comandante da 1ª RM e da 1ª Divisão de Infantaria. Em maio, quando Estillac, já afastado do ministério, concorreu à reeleição no Clube Militar, Zenóbio denunciou a presença de influência comunista na tropa e tomou o partido da chapa Alcides Etchegoyen-Nélson de Melo, afinal vencedora do pleito. A chapa denominou-se Cruzada Democrática e foi apoiada também por Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, Juarez Távora, Ângelo Mendes de Morais, Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Canrobert Pereira da Costa, Álvaro Fiúza de Castro e Emílio Ribas Júnior. Depois de permanecer em disponibilidade por seis meses, Zenóbio foi convidado por Vargas para ocupar novamente o comando da Zona Militar Leste, que recebeu do mesmo general Sousa Dantas no dia 9 de setembro.

Ministro da Guerra

No início de 1954, os adversários de Vargas, tanto na área civil quanto na militar, deram prosseguimento à campanha antigovernamental desencadeada nos anos de 1951 e 1952 contra as atividades de Estillac Leal no Ministério da Guerra e intensificada em 1953 com a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar as transações do jornal pró-governista Última Hora com os estabelecimentos oficiais de crédito e, em especial, com o Banco do Brasil. O motivo principal do recrudescimento da luta oposicionista foi o decreto do governo que elevou em 100% o salário mínimo. Do ponto de vista dos empresários, o reajuste, atribuído à ação de João Goulart à frente do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, vinha sobrecarregar os seus compromissos sociais e agravar os índices inflacionários, que decorriam, segundo eles, de pressões exercidas nos sindicatos por elementos considerados suspeitos de atividades subversivas, em aliança com setores esquerdistas do PTB.

Na concepção dos militares, o reajuste quase fazia equivaler o salário mínimo aos vencimentos das categorias subalternas das forças armadas, pondo em risco a estabilidade do sistema hierárquico e dificultando o recrutamento, fundamental para a renovação dos quadros. Surgiu em fevereiro um documento que expressava a insatisfação militar, conhecido como Manifesto dos coronéis e assinado por cerca de 80 coronéis e tenentes-coronéis, entre os quais Amauri Kruel, Sizeno Sarmento, Euler Bentes Monteiro, Golberi do Couto e Silva, Jurandir Mamede e José Alberto Bittencourt. O manifesto teve como resultado o afastamento do general Ciro do Espírito Santo Cardoso do Ministério da Guerra e de João Goulart do Ministério do Trabalho. Zenóbio da Costa foi então convidado por Vargas para assumir o Ministério da Guerra, onde tomou posse em 22 de fevereiro de 1954.

Sua nova posição colocou-o em choque com as lideranças militares da Cruzada Democrática, com as quais se aliara em maio de 1952. Diante disso, tentou remover suas desavenças com Estillac, destinando-lhe o comando da Zona Militar Centro, com sede em São Paulo. Para a Zona Militar Leste foi designado o general Odílio Denis, numa estratégia de fortalecimento do esquema defensivo do governo, já agora sob ameaça declarada de um movimento que tinha como objetivo a interrupção do mandato constitucional de Vargas. Com apoio do que ainda restava da facção de Estillac, bastante atingida pelos inquéritos policial-militares (IPM) de dois anos antes, Zenóbio tentou conquistar o Clube Militar através da indicação do nome do general Lamartine Pais Leme, para a sua presidência, mas não obteve êxito. A Cruzada Democrática manteve-se à frente da entidade, elegendo a chapa Canrobert-Juarez Távora e acentuando dessa forma a vulnerabilidade do dispositivo de segurança do governo.

À crise política em plena efervescência juntava-se o fato de que 1954 era um ano eleitoral. No dia 3 de outubro seriam renovados 11 governos estaduais, 2/3 do Senado e a totalidade da Câmara Federal, além de todas as assembléias legislativas, prefeituras e câmaras de vereadores do país. O jornalista Carlos Lacerda, diretor da Tribuna da Imprensa, um dos principais instrumentos das forças que combatiam o governo, era candidato a deputado federal pela antiga capital da República na legenda da UDN e foi personagem de um episódio que rompeu a normalidade da disputa eleitoral, desencadeando um processo que levaria ao suicídio de Vargas.

Recusando os serviços de segurança pessoal que o governo lhe oferecera através do ministro da Justiça, Tancredo Neves, o jornalista passou a ser acompanhado em seus comícios e conferências por oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) dedicados à sua causa. Os mais freqüentes nesse acompanhamento eram os majores Américo Fontenele, Gustavo Borges e Rubens Vaz, que se revezavam na missão de dar cobertura a Lacerda. Na madrugada de 5 de agosto, voltando de uma dessas conferências, ao estacionar o carro na calçada em frente à sua residência na rua Toneleros, no Rio, Lacerda deteve-se numa conversa com o major Vaz, destacado nesse dia para acompanhá-lo, quando foi atacado a tiros por um desconhecido. O major, no cumprimento de sua tarefa, atracou-se com o pistoleiro e, durante a luta corporal em que se empenhou com ele, foi ferido mortalmente. O atacante desapareceu em seguida. Minutos depois, as emissoras de rádio davam notícia do atentado, revelando que a vítima era ligada ao grupo do brigadeiro Eduardo Gomes.

A cidade foi logo convulsionada. A delegacia policial de Copacabana abriu inquérito, identificando-se logo que o crime teria partido de elementos da guarda pessoal de Vargas, chefiada pelo “tenente” Gregório Fortunato. Desconsiderando a ação da polícia e pondo em dúvida a sua contabilidade, a Aeronáutica instituiu um IPM na base aérea do Galeão, sob a presidência do coronel João Adil de Oliveira. A investigação militar tomou, evidentemente, cunho político. Os membros da guarda presidencial suspeitos de cumplicidade, inclusive o próprio Gregório, foram sendo capturados por patrulhas da FAB e recolhidos ao Galeão. Em pouco tempo não se tratava de envolver apenas os integrantes da guarda, logo dissolvida por ordem de Vargas. Pessoas da família do presidente — seu filho Lutero e seu irmão Benjamim — passaram a ser apontadas como mandantes do crime. O inquérito militar — que, pelo poder que desfrutou, passou a ser conhecido como a “República do Galeão” — procurava comprometer ainda o ex-ministro Danton Coelho, o deputado Euvaldo Lodi e o general Ângelo Mendes de Morais.

Com o intuito de enfatizar sua imparcialidade na condução do IPM e, ao mesmo tempo, inocentar o governo de qualquer responsabilidade no atentado, o presidente da República liberou todas as dependências do palácio do Catete para as diligências dos encarregados do inquérito, que dessa forma tiveram acesso aos arquivos privados da guarda pessoal e, em especial, os de Gregório Fortunato. As facilidades concedidas pelo governo, no entanto, não aliviaram a intensidade da crise. Juntamente com o ministro da Justiça, Tancredo Neves, e com o chefe do Gabinete Militar, general Caiado de Castro, Zenóbio coordenava medidas e tomava algumas precauções para evitar que a legalidade fosse agredida. A 10 de agosto, com a concordância de Vargas e o apoio de Tancredo, propôs a substituição, na chefia de polícia, do general Armando de Morais Âncora pelo coronel Paulo Francisco Torres, reafirmando que o governo estava preparado para defender a integridade do regime constitucional.

Entre 10 e 22 de agosto o clima político não passou por alterações muito substanciais. Mas na noite de 22 os oficiais-generais da FAB, reunidos no Clube da Aeronáutica sob a presidência do brigadeiro Eduardo Gomes, voltaram a manifestar-se contra o governo, indicando a renúncia do presidente da República como única saída para a crise. A decisão dos comandos da FAB foi levada ao Catete pelo marechal Mascarenhas de Morais, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), mas o presidente Vargas repeliu a fórmula da renúncia. O ministro da Justiça sugeriu o imediato enquadramento disciplinar dos brigadeiros sublevados, mas os três militares — inclusive o brigadeiro Epaminondas Santos, que substituíra Nero Moura no Ministério da Aeronáutica — ponderaram que a medida de nada adiantaria aos propósitos do governo de preservar a legalidade, não concorrendo senão para fomentar as animosidades.

No dia seguinte, Zenóbio lançou uma advertência, reiterando que o Exército não permitiria agitações e estava pronto para garantir a normalidade política. À noite, no entanto, a posição dos brigadeiros foi fortalecida pela solidariedade do almirantado, embora não ficasse claro que a Marinha estivesse disposta a combater. Essa nova componente da crise estava sendo avaliada no Catete pelos ministros Tancredo Neves, Epaminondas Santos e Renato Guillobel (Marinha) quando chegou ao palácio o general Zenóbio da Costa acompanhado de Mascarenhas de Morais e Odílio Denis. Na oportunidade, o ministro da Guerra informou que, dos 80 generais em postos de comando no Rio, 37 haviam assinado um memorial justificando a conveniência da renúncia de Vargas.

Em face disso, o presidente da República reuniu o ministério para novas deliberações e verificou que o ânimo de Zenóbio não era o mesmo de antes. Participando da reunião, Alzira Vargas, filha do presidente, censurou o comportamento ambivalente do ministro da Guerra e procurou demonstrar que a real situação dentro do Exército não coincidia com as evasivas de Zenóbio. As discussões generalizaram-se e, no final do encontro, ficou decidido que Vargas entraria de licença, permanecendo afastado do poder enquanto durassem as averiguações em torno do atentado da rua Toneleros.

Segundo depoimento de Juarez Távora, Zenóbio seguiu então para o Ministério da Guerra, onde convocou uma reunião de generais para comunicar-lhes a resolução da licença presidencial. Como a nota expedida pela Secretaria da Presidência da República não mencionava o prazo de vigência do afastamento de Vargas, ao ser interpelado nesse sentido por alguns oficiais mais exaltados, Zenóbio disse que ele seria definitivo.

Na madrugada de 24 de agosto o país foi surpreendido com o suicídio de Vargas. Assumiu o governo o vice-presidente João Café Filho e Zenóbio foi exonerado do Ministério da Guerra, sendo substituído pelo general Henrique Teixeira Lott.

11 de novembro de 1955

Zenóbio permaneceu dez meses sem comissão e sem comando até que, com a morte de Estillac em 1º de maio de 1955, foi designado para substituí-lo no posto de inspetor-geral do Exército. Tomou posse no dia 11 e, segundo as práticas normais do Exército, constituiu seu gabinete com oficiais de sua confiança pessoal, mantendo todavia os tenentes-coronéis Nélson Werneck Sodré e Henrique Moura e Cunha, que serviam naquele órgão a partir da investidura de Estillac.

A agitação política não foi interrompida com o desaparecimento de Getúlio Vargas. Em vez disso, agravou-se diante da perspectiva de vitória da candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek, lançada pelo PSD com apoio do PTB, que dava o candidato da chapa à vice-presidência, João Goulart. A ameaça à legalidade não partia exclusivamente das correntes oposicionistas do Congresso que combateram o governo Vargas, mas contava agora com o estímulo do presidente Café Filho e de toda a cúpula militar que ascendera ao poder depois de 24 de agosto. O pretexto para a conspiração consistia na resistência que o PSD e o PTB vinham opondo às proposições da UDN, a qual, segundo aqueles dois partidos, visava a criar embaraços à realização do pleito de 3 de outubro. Entre essas proposições figuravam a adoção da cédula oficial impressa e distribuída por órgãos do governo, o que, segundo a UDN, tinha uma finalidade moralizadora; a instituição da maioria absoluta de votos como condição para eleger-se o presidente, o que não era previsto no texto constitucional, e a aprovação da emenda parlamentarista, que implicava a suspensão das eleições de 3 de outubro.

Surgiu, então, o Movimento Militar Constitucionalista (MMC), criado no estado-maior de Zenóbio e incentivado por ele, que visava, entre outras coisas, a servir de suporte à posição dos deputados e senadores do PSD e do PTB que repeliam as propostas adversárias tendentes a modificar o calendário eleitoral e a reformular as regras estabelecidas pela Constituição, o que consideravam desaconselhável num momento em que estava em curso a campanha de sucessão presidencial.

Em outubro de 1955, após o pleito, quando já estava confirmada a vitória de Juscelino e Goulart, Zenóbio repetiu suas declarações de 1950, defendendo a posse dos eleitos. O general Henrique Lott, ministro da Guerra, que adotara como norma de conduta disciplinar o não-envolvimento de militares em questões políticas, resolveu puni-lo, demitindo-o a 21 de outubro da Inspetoria Geral do Exército. Ao afastar-se do cargo, no entanto, Zenóbio já havia deixado um grupo de oficiais amigos seus suficientemente preparado para deter qualquer tentativa militar de impedir a posse dos eleitos. Com o movimento de 11 de novembro de 1955, desfechado sob o comando do general Lott, a posse de Juscelino e Goulart foi plenamente garantida em 31 de janeiro seguinte. Em virtude de sua participação naquele movimento, em janeiro de 1956 Zenóbio da Costa foi designado para a chefia do Departamento Geral de Administração do Exército, transformado em setembro do mesmo ano em Departamento de Provisão Geral. Permaneceu no cargo até maio de 1957, quando foi transferido para a reserva no posto de marechal. Na ocasião lamentou em entrevista aos jornais que o governo não tivesse aplicado em favor dele a chamada Lei Denis, que permitiria por mais dois anos sua permanência na ativa, desde que isso fosse considerado de conveniência do regime.

Em 9 de janeiro de 1958 Juscelino nomeou-o embaixador do Brasil no Paraguai, em substituição ao diplomata João Luís Guimarães Gomes. Permaneceu em Assunção até 30 de janeiro de 1961, véspera da posse do presidente eleito Jânio Quadros, quando solicitou demissão. Passou a embaixada ao encarregado de negócios Carlos Sette Gomes Pereira, que se manteve no posto até a chegada do novo embaixador, general Joaquim Justino Alves Bastos, que tomou posse em agosto de 1961.

Ao retornar da capital paraguaia, o ex-ministro da Guerra afastou-se definitivamente da vida pública.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1963.
Era casado com Darcília Ferraz Zenóbio da Costa, com quem teve três filhas.

FONTE: Plínio de Abreu Ramos, CPDOC- Fundação Getúlio Vargas.

 

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