26 de janeiro
1867
– Taunay dá as primeiras notícias de Nioaque
Em correspondência à irmã, no Rio, o tenente Taunay dá notícias da guerra, dias depois da chegada das tropas a Nioaque, procedentes de Miranda, a caminho de Bela Vista:
A 27 de dezembro último saiu o mau gênio desta expedição, o nosso ex-comandante e deixou-nos por muito tempo boquiaberto pelo seu procedimento diante de Deus e dos homens, a qual fez jus por atos revoltantes e criminosos. Poucos dias durou a interinidade do Juvêncio e chegou o coronel Camisão que me mandou em exploração, a mim e ao Catão, até Nioac, como era ardente o desejo de todos, depois da estada perniciosa de Miranda (3 meses e meio), que tantas vítimas fez. Fomos logo encontrando terrenos altos, campos lindíssimos, águas excelentes que nos deram boa aguada e bons banhos; pesarosos por passarmos por esses lugares já tão tarde para muitos. Entretanto, graças à Divina Providência, saímos de Miranda como lá havíamos entrado, isto é, com saúde vigorosa, porém, quantos haviam falecido e foram morrendo pelo caminho?
Gastamos na viagem 12 dias, por irmos construindo curraes nos pousos marcados para a força e chegamos a Nioac há mais de 14 dias, os primeiros que ocupávamos, em nome do Brasil, o ponto abandonado em julho ou agosto pelos paraguaios.
Como da primeira vez vinha eu à frente: primeiro rondei o Aquidauana, entrei em Nioac, ainda visitado por patrulhas paraguaias. Aí haviam os invasores construído grande quartel e feito grandes plantações: comemos, comemos! ótimas abóboras, aipins, maxixes, melancias, ananases, mil frutas plantadas por mão paraguaia, por tal modo que, em pouco tempo engordei sensivelmente. As roças de milho achavam-se estragadas completamente, contudo, não puderam destruir de todo as mandiocas que nos deram muito boas raízes.
O local de Nioac é excelente. A vilazinha devia ter sido linda. Um rio límpido e correntoso banha-o pelo lado O, ao passo que um famoso ribeirão, o Orumbeva, cerca-o pelo lado. E neles estão apoiados os flancos do acampamento, em cuja frente caem as estradas da Vacaria e do Apa por onde podem vir inimigos; (...) Hoje falava-se numa ida ao Apa para destruir uns fortes e voltar logo. Não sei o que te diga a respeito.
FONTE: Mensário do Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1943, página 346.
26 de janeiro
Falaceu em Bela Vista, dona Rafaela Senhorinha Maria da Conceição Barbosa Lopes, viúva de José Francisco Lopes, o Guia Lopes da Laguna. O ato, com referências à sua vida agitada, é revisto por seu contemporâneo Miguel Palermo:
Com lucidez sem igual, referia-se a quem lhe pedisse, os seus sacrifícios passados, consistentes na prisão de 18 de outubro 1849; na perda dos seus haveres naquela época; na sua segunda captura como prisioneira de Guerra de 1864-1870; na na perda de seu segundo marido e dos três filhos voluntários da Pátria, nas façanhas e crueldades praticadas contra os brasileiros prisioneiros de guerra pelo padre Romão; na sua mágoa contra os que lhe queria usurpar, sem razão, as terra, da margem direita do Apa em mil cousas que prendiam o ouvinte, estabelecendo simpatias atrativas pela nobre matrona.
Ao seu enterramento compareceu muita gente, e como tributo de derradeira homenagem pelo seu grande amor à pátria, foi acompanhada até o túmulo pelo regimento das forças federais estacionadas em Bela Vista, que cumpria esse sagrado dever em honra à madrinha de batismo da bandeira nacional, pertencente ao mesmo batalhão, cujo ato fora verificado solenemente em 15 de novembro de 1912.
FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2a. edição), Governo do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 67.
FOTO: batismo da bandeira brasileira, em Bela Vista.
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