1867 - Guerra do Paraguai: combate de Nhandipá
Homenagem aos soldados paraguaios mortos no combate de Nhandipá |
Na retirada das tropas brasileiras da fazenda Laguna, durante a travessia do rio Apa, em Bela Vista, fere-se o combate de Nhandipá, onde entraram em ação 3.000 homens de ambos os lados, caindo na batalha para mais de 100 combatentes. O confronto é descrito pelo major José Thomaz Gonçalves, comandante do Batalhão 21 de Infantaria:
“O dia 10 foi de descanso, efetuando-se a 11 de manhã a passagem do rio Apa, com a qual gastou a força mais de 4 horas pela quantidade de animais e carros que passaram de uma margem a outra. Às 9 horas começou a marcha na ordem adotada anteriormente, caminhando-se perto de três quartos de légua sem avistarem-se inimigos.
Entretanto, os terrenos prestavam-se perfeitamente ao movimento da cavalaria, por serem ligeiramente ondulados e abertos em todos os sentidos. Observou-se, por isso, o maior cuidado, prevendo qualquer tentativa em que fosse ainda experimentado o valor brasileiro. Na realidade, às 11 horas do dia foi repentinamente atacada a linha de atiradores do Batalhão n° 17 de Voluntários que marchava na frente, por infantaria inimiga, a qual se seguiu uma furiosa carga de cavalaria que veio esbarrar contra aquele batalhão, abrindo-se em duas alas, que desfilaram a todo galope de um lado e de outro de nossa força, procurando penetrar na bagagem. O fogo que sofreu então o inimigo foi terrível. Cada batalhão formou quadrado com rapidez espantosa, indo muitos cavaleiros morrer espetados nas pontas das baionetas do intrépido Batalhão 21. A artilharia, metendo em bateria com extrema velocidade, fez fogo mortífero de granadas sobre a cavalaria paraguaia que deixou o campo alastrado de mortos e feridos. A perda do inimigo não foi inferior a 70 homens; a nossa foi de 19 mortos e 29 feridos, no número dos quais contam-se os tenentes do Batalhão 17, Joaquim Mathias de Assumpção Palestino que faleceu dois dias depois, e Fernando Monteiro que portou-se com muita intrepidez.
Ainda essa vez como sempre, o campo ficou em nosso poder, dando-se sepultura aos mortos e recolhendo-se os feridos.
Um soldado paraguaio ferido declarou que o comandante da força inimiga era o major Martinho Urbieta e que o reforço esperado por este e pedido depois de conhecidos os movimentos da força brasileira, havia chegado, devendo-se reunir com brevidade, outro que já se achava em caminho.
Uma circunstância veio entristecer os espíritos depois de acabada a animação daquele glorioso combate: o gado que era trazido encostado ao flanco direito da força, havia desembestado com o estrondo das descargas, assim como os cavalos que serviam para tangê-lo. Eram os recursos de boca que repentinamente se escasseavam por modo desanimador, deixando a nossos soldados a perspectiva de 25 léguas de marcha com o inimigo sempre na frente e sem esperança de renovação da boiada".
FONTE: S.Cardoso Ayala e Feliciano Simon, Album gráfico de Mato Grosso, Corumbá/Hamburgo (Alemanha), 1914, página 77.
11 de maio
1892 - Golpe contra Murtinho: Vacaria declara neutralidade
O distrito de Vacaria, por influência de Teixeira Muzzi, adversário político de Jango Mascarenhas, recusa adesão à contra-revolução, liderada por este no Sul e que visava devolver o poder no Estado ao presidente Manoel Murtinho, deposto em fevereiro por golpe chefiado pelo coronel Barbosa, comandante militar de Corumbá:
“ Vacaria, 11 de maio de 1892.
Os abaixo assinados confiados no apoio que deverão contar do brioso povo vacariano, manifestam-se francamente em os três artigos abaixo declarados, o que pretendem respeitar e aderir em relação ao movimento político que deu lugar à reunião havida no dia 26 de abril último, criada pelos cidadãos João Ferreira Mascarenhas, Eduardo Peixoto Freire Geraldes, Antônio Vicente de Azambuja e Augusto de Oliveira César conforme autorizam-lhes o convite que vos dirigiram e que dele fizestes ostensivo a nós outros.
"1º - Mantemos e respeitamos todas as autoridades legalmente constituídas por eleições; nomeações; e aclamações oportunas formais e legais - quer sejam administrativas, judiciárias, policiais, civis ou militares uma vez no exercício dos cargos que lhe são confiados não prevaleçam das influências oficiais que os cercam, e muito menos da força armada que é destinada a assuntos mui elevados: os da garantia da federação para com o estrangeiro.
"2º - Entregam-se em pessoa, suas influências, recursos e haveres, ao direito doméstico, civil e social, uma vez que seja preciso reprimir arbitrariedades cabalmente manifestadas e tudo quanto entrar no terreno do abuso, violências e desgarantias individuais e materiais.
"3º - Não se sujeitam a algum dever partidário; reservam a liberdade de votos por ocasião de eleições, pró ou contra este ou aquele partido.
Saúde e fraternidade.
"Antônio Gonçalves Barbosa Marques, José Rodrigues Monteiro Weber, Henrique José Pires Martins, João Caetano Teixeira Muzzi, Aprígio Barbosa da Siqueira, Guilherme Reinald, João Antônio Assis”.
FONTE: Miguel A. Palermo, Nioaque evolução histórica e revolução de Mato Grosso, Tribunal de Justiça, Campo Grande, 1992, página 53.
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