domingo, 27 de fevereiro de 2011

20 de junho

20 de junho



1867 - Taunay e comitiva chegam a Campo Grande






Tendo deixado o porto Canuto, no rio Aquidauana, no último dia 17, de volta da retirada da Laguna, Taunay chega ao lugar já conhecido como Campo Grande, cujas coordenadas são as mesmas de onde hoje está localizada a vasta planície que começa em lugar que seria habitado a partir de 1872 e em 1977 se transformaria na capital do Mato Grosso do Sul. A descrição do cronista da guerra do Paraguai, começa no sítio de um dos únicos moradores de todas as redondezas, o mineiro Motta, nas imediações de Terenos:

Tomando uma trilha à esquerda, dirigimo-nos à palhoça do Motta, situada a légua e quarto do nosso ponto de partida. O caminho é nesta parte péssimo; profundos atoleiros dificultam muito o trânsito, aumentando-se cada vez mais os embaraços da passagem pela frequência de carros e tropas que demandavam as forças. Acha-se o rancho do Motta situado numa planície acidentada, que belos grupos de buritis tornam realmente encantadora. A umidade exsuda de todos os pontos e manifesta-se não só pela presença daquelas palmeiras como por um viçoso capão de pindaíbas. 


(...) Paramos no Motta, dando uma boa ração de milho aos animais. Às 2,30 horas da tarde seguimos viagem, indo, depois de duas léguas, entrar na estrada geral, da qual nos havíamos desviado no princípio do dia.
A noite começava então a cair; sem embargo fomos caminhando por desejarmos passar com o escuro a encruzilhada de Nioac, visto como existia ainda a dúvida se os paraguaios em nossa perseguição para lá haviam mandado algum destacamento. Uma légua mais entramos no Campo Grande. Esta extensa campina constitui vastíssimo chapadão de mais de 50 léguas de extensão, em que raras árvores rompem a monotonia duma planura sem fim, e nela está lançada a estrada que leva a Nioac e que é conhecida perfeitamente em toda a sua extensão pelos paraguaios.


O aspecto geral é, pois, extremamente uniforme: a marcha parece dificultosa e torna-se cansativa pela constante presença dos mesmos acidentes.

Para nós foram fatigantes o mais possível as duas léguas até chegar à encruzilhada da estrada de Nioac. Além da incerteza que nos dominava sobre a presença do inimigo, vento vivo e frigidíssimo nos açoitava o rosto, demorando-nos o andamento dos animais. A lua surgiu quando apareceu a bifurcação dos dois caminhos e estão eles tão próximos um do outro por muitas braças, que só se os distingue atendendo para uma árvore de paratudo, que foi pelos carreiros golpeada e quase lavrada. Meia légua além, fomos descansar junto ao capão do Burity, onde os paraguaios, em 1865, agarraram uma família brasileira, a qual se arranchara para fazer mate, erva que aí se acha em abundância e por diante aparece frequentemente, debaixo da forma de arbustos e não como para os lados da colônia de Dourados e norte do Paraguai, em que se encontram árvores desenvolvidas e algumas até possantes.


Sobre o Motta, único morador morador que encontrou na região de Campo Grande, Taunay dedicou uma página de suas Memórias.


FONTE: Taunay, Viagens Doutr'ora, 2a. edição, Companhia Melhoramentos, SP, 1921, página 42.






20 de junho


1923 - Demósthenes, nomeado prefeito de Bela Vista


O advogado Demósthenes Martins, que mais tarde viria a ocupar a chefia do executivo de Campo Grande, assume a intendência de Bela Vista, a convite do presidente Pedro Celestino, num processo de intervenção ocasionado por dualidade de poder entre Joaquim Francisco de Arruda Rondão e Pio Rojas. Deixou o cargo em fevereiro do ano seguinte, nomeado para a função de coletor estadual. 


FONTE: Demósthenes Martins, Poeira da Jornada, edição do autor, Campo Grande, 1980. Página 68.



20 de junho

1935 - Proposta: porto de livre comércio para Corumbá

O general Meira de Vasconcelos, comandante da Escola Militar do Rio de Janeiro, libera relatório de uma comissão em Mato Grosso, "a respeito de um porto para a Bolívia":

"O militar brasileiro sugeria a ideia de transformar Corumbá em um porto livre, a exemplo dos existentes em outros países, sobretudo na Europa.

Com essa providência o Brasil daria acesso comercial à Bolívia, o que iria dar considerável atividade comercial ao vale do Paraguai. Completando o seu plano, a Noroeste seria prolongada para o Ocidente, por Corumbá, rumo a Santa Cruz. Por esta forma, o comércio boliviano desembocaria pelo rio da Prata e por Santos. De acordo ainda com o plano, seria construída uma rodovia uma rodovia comercial Campo Grande-Ponta Porã, com o objetivo de ligar-se a rodovia que parte de Horqueta, no Paraguai, ficando assim este país com acesso ao porto de Santos, via Noroeste. Com duas outras rodovias de Ourinhos a Porto Mendes, passando por Porto Mourão, e de Campo Mourão por Tibagi, Castro e Porto de Antonina, ficaria a região N. E. da Argentina e o Paraguai com acesso também não só por aquele porto, como pelo de Santos".

FONTE: Correio Paulistano, 20 de junho de 1935.


20 de junho 

1952 - Aviadora paulista chega a Corumbá para sobrevoar os Andes




Chega em Corumbá, pilotando um monomotor "Piper Cub", Ada Rogato, a primeira mulher brasileira a receber o brevet de paraquedista. "Vivamente recepcionada" pela população corumbaense, no dia seguinte seguiu viagem para a Bolívia, onde escalou a cordilheira dos Andes, e alcançou La Paz com mais de 4.000 metros de altura, em seu minúculo aparelho.¹

Sobre Ada Rogato, escreve Eduardo Vessoni, articulista do UOL:

Aos 25 anos, já era a primeira sul-americana apta a protagonizar um voo de planador, cujo brevê era o de número 25, segundo o Aeroclube Politécnico de Planadores. Thereza di Marzo e Anésia Pinheiro Machado são as duas primeiras brasileiras a terem brevê de aviadoras, tirados com apenas um dia de diferença, em um abril de 1922. Em 1936, quando as brasileiras mal tinham conquistado o direito ao voto, Ada fazia seu primeiro voo solo a bordo de um monomotor. Aos 31 anos, era reconhecida também como a primeira paraquedista com brevê no Brasil, no Aeroclube de São Paulo. 

A vida de Ada Rogato foi cheia de acrobacias. Literalmente. A fim de promover a criação de aeroclubes brasileiros e a formação de jovens pilotos, o excêntrico empresário Assis Chateaubriand lançou em 1941 a campanha "Dê Asas à Juventude", cujos eventos incluíam saltos de paraquedas e acrobacias aéreas. E lá vai Ada, mais uma vez, provar a que veio. Ela estava entre os seis alunos do Aeroclube de São Paulo convidados pelo argelino Charles Astor, o primeiro civil a saltar de paraquedas no Brasil, que quebrariam um recorde mundial: realizar o primeiro salto coletivo noturno, em abril de 1942..

Para Ada, o céu era o limite e as alturas elevadas pareciam não ser problema, desde que o pouso não fosse nas águas enegrecidas pela noite, na Baía de Guanabara. Assim como lembra o Instituto Biológico, Ada confessaria para um colega de trabalho que "o momento em que afundou na água, em meio à escuridão, fora o de maior temor que já enfrentara na vida".

Os anos seguintes também seriam de voos altos. Ada realizou patrulhamento aéreo do litoral paulista durante a 2ª Guerra e seguiu na função até os anos 60. Também encabeçou o primeiro voo de uma brasileira sobre os Andes e foi a primeira a sobrevoar a Amazônia. Em 1951, ficaria conhecida também pela longa viagem de seis meses entre a Terra do Fogo, na Argentina, e o Alasca. A bordo de um Cessna 140, chamado de "Brasil", Ada protagonizou um pinga pinga por todas as capitais das Américas, cujos mais de 51 mil quilômetros foram vencidos em 364 horas de voo. Assim como lembra o Instituto Histórico-Cultural da Força Aérea Brasileira, o voo de Ada até o Fim do Mundo renderia o título de primeira aviadora a pousar naquele aeroporto do extremo sul do planeta. Sem falar no apelido de 'Pomba Solitária do Brasil', como anunciou o aeroclube local na chegada da piloto. 

Solitário foi também seu voo que percorreu todas as capitais dos estados brasileiros, em homenagem aos 50 anos do primeiro voo de Santos Dumont em seu 14-bis, em 1956. A nova aventura de Ada começara no dia 4 de julho, no aeroporto de Congonhas (SP), onde voltaria a pousar mais de três meses depois, trazendo na bagagem um pouso noturno forçado, por conta de uma tempestade, e uma visita aos irmãos Villas Boas na região do Xingu.

Um único acidente  Ada não só era a dona do próprio nariz, mas também do seu próprio avião. Foi com seu monomotor Paulistinha CAP-4 que Ada lançou inseticida sobre cafezais paulistas tomados por larvas de besouro, conhecidas como broca-do-café. Ela só não aceitou o desafio dos pesquisadores do Instituo Biológico como também se tornou a primeira piloto agrícola do Brasil, no final dos anos 40. Porém, sua nova habilidade aérea rendeu também seu primeiro (e único) acidente da carreira. Em Cafelândia, no interior paulista, seu monomotor adaptado se chocou contra fios telefônicos e caiu, custando a Ada meses de internação, múltiplas fraturas, cicatrizes no rosto e a perda de alguns dentes. Aquele 1948 nem tinha terminado e a piloto ainda acharia forças para ser campeã paulista de paraquedismo.

Em terra firme, esteve envolvida também na Fundação Santos-Dumont que, mais tarde, seria transferida para a Oca do Ibirapuera sob o nome de Museu da Aeronáutica e direção de Ada Rogato. O multidisciplinar Leonardo da Vinci pode até ter previsto um homem voando sob uma estrutura triangular de tecido. Mas ele só não contava que, 500 anos mais tarde, meninas comportadas também saltariam de paraquedas, entre tantas outras acrobacias possíveis. 


FONTE: UOL, 21 de março de 2021.

FOTO: Folhapress

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