1867 – Taunay chega a Paranaíba
Do Leal, passando um corregosinho, caminhamos três léguas em cerrados, cujas árvores, à maneira de graciosos bosquetes, sombreavam agradavelmente o chão. É um pedaço bonito de estrada, e como se pode desejar numa feita pela arte, até a casa de Albino Latta; depois entra-se em campos dobrados até a vila de Santana do Paranaíba, quatro léguas distante do Albino. O aspecto da povoação pareceu-nos sumamente pitoresco, talvez pelo desejo ardente de alcançá-la como o ponto terminal do sertão de Mato Grosso ou como o último laço que nos prendia àquela província, em que tanto havíamos sofrido, talvez pela estação em que chegávamos; na realidade, metidas de permeio às casas, moitas copadas de laranjeiras, coradas de milhares de auríferos pomos, ao lado d’outras carregadas de cândidas flores, encantavam as vistas e embalsamavam ao longe os ares, trescalando o especial aroma. Tão boa recomendação não é desmentida pelo sabor dos frutos; de fato, são deliciosos e justificam a reputação de que gozam na província de Mato Grosso.
Transpondo um corregosinho e subindo uma ladeira onde há míseras casinholas, chega-se à principal rua da povoação, outrora florescente núcleo, hoje dizimada das febres intermitentes, oriundas das enchentes do Paranaíba, ou pelo menos já estigmatizada desse mal, o que quer dizer o mesmo, visto como os moradores que de lá fugiram, não voltam mais; 800 habitantes mais ou menos, três ou quatro ruas bem alinhadas, uma matriz em construção há muitos lustros, o tipo melancólico duma vila em decadência, o silêncio por todos os lados, crianças anêmicas, mulheres descoradas, homens desalentados, eis a vila de Santana, ponto controverso entre as províncias de Goiás e Mato Grosso, pretendendo esta a posse por tê-la fundado e aquela por ter-lhe dado os meios de vida, enviando-lhe a pedido dos moradores, o mestre escola, o pároco e outras autoridades. Hoje os moradores formam colégio eleitoral da última província; entretanto Goiás não desistiu de suas reclamações e a questão pende dos competentes juízes.
Fomos pousar na casa do major Martim Francisco de Mello Taques, a única de sobrado da vila, e a maneira hospitaleira com que aquele cavalheiro nos tratou obriga-nos a sincero reconhecimento, pois não era ela a manifestação desse sentimento natural em todos os homens primitivos, era a prática duma qualidade que havia adquirido predicados só próprio do conhecimento das cidades. Tivemos um jantar delicado, bom vinho, atenções e por fim excelentes camas, onde, depois de ligeira conversa com o dono da casa, que por delicadeza a encurtou, pudemos estender os lassos membros, costumados havia muito, às duras gibas e rugas do couro estendido por terra.
FONTE: Taunay, Viagens D'outrora, 2a. edição, Companhia Melhoramentos, São Paulo, 1921, página 61.
1905 - Nasce Nelson de Araújo, médico dos índios, prefeito de Dourados
Nasce em Juiz de Fora, Minas Gerais, Nelson de Araújo. Filho de Leopoldino de Araújo e Carolina Becker de Araújo, concluiu o curso de Medicina em 1927, na Universidade do Rio de Janeiro. Em Dourados desde 1929, membro da Missão Presbiteriana, dedicou-se ao atendimento de indígenas da missão Caiuás e pessoas menos favorecidas. Em 1936 entrou na política, foi eleito presidente do Conselho Consultivo de Dourados, (que exercia as funções legislativas do município).
"Homem culto, de fino trato - segundo seu biógrafo - tinha excelente trânsito em todas as camadas sociais da cidade. A convivência com os índios fez criar grande afinidade terminando por criar dois deles como filhos, sendo que solteiro, não teve filhos biológicos e em seus passeios de férias costumava levar os meninos".
Presidente do Clube Social e da Associação Rural de Dourados, elegeu-se prefeito municipal no pleito de 1950 para o mandato de 1951 a 1955.
Faleceu no Rio de Janeiro em junho de 1966. A rua Maranhão, em julho de 1966, por projeto de iniciativa do vereador Cíder Cerzósimo passou a denominar-se rua Dr. Nelson de Araújo.
FONTE: Rozemar Mattos Souza, Dourados seus pioneiros, sua história, Centro Cívico Histórico e Cultural 20 de Dezembro, Dourados, 2033, página 245.
7 de julho
1924 – Governo arrenda terras ervateiras
Através de resolução n. 911, o governo de Pedro Celestino Correa da Costa é autorizado a arrendar em concorrência pública, pelo prazo de dez anos, “até área de um milhão de hectares das terras ervateiras de propriedade do Estado.” Na resolução, a primeira iniciativa de ordem legal, de se quebrar o monopólio da Mate Larangeira, disposta num de seus artigos:
“A área de arrendamento poderá ser em mais de um lote, até o máximo de cinco lotes de 200.000 mil hectares cada um, e à escolha dos proponentes, de acordo com a planta da região ervateira, levantada em
A Mate Larangeira, no ano seguinte, beneficiando-se da citada resolução, legitima a sua posse à toda a área de produção de erva no Estado, antes na condição de concessionária, agora como arrendatária.
FONTE: Gilmar Arruda, Heródoto, in Ciclo da Erva-Mate em Mato Grosso do Sul 1883-1947, Instituto Euvaldo Lodi, Campo Grande, 1996, página 294.
7 de julho
1928 – Maracaju é elevada a município
João Pedro Fernandes, o fundador e primeiro prefeito |
Fundado em 25 de dezembro de 1923, desmembrado de Nioaque, o distrito de Maracaju é elevado à condição de município. A cidade foi criada em 200 hectares de terra doados pelo fazendeiro Nestor Pires Barbosa, às margens do córrego Montalvão. A emancipação ocorreu através da lei no 987, sancionada pelo presidente de Mato Grosso, Mário Correa. O novo município tinha os seguintes limites: partindo da confluência do rio Nioaque com o Miranda e pelo Nioaque acima até a sua alta vertente; daí ao ribeirão Santo Antônio e por este abaixo até ao rio Brilhante e por este abaixo até a barra do rio Santa Maria, daí pelas divisas com os municípios de Ponta Porã, Bela Vista e Miranda até o ponto de partida. João Pedro Fernandes, o fundador, foi seu primeiro intendente.
FONTE: Francisco B. Ferreira e Albino Pereira da Rosa, Maracaju e sua gente, edição dos autores, 1988, página 151.
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