3 de janeiro
1865 – Tropas paraguaias ocupam Corumbá
Francisco Solano Lopes, ditador paraguaio
Após a tomada do forte de Coimbra no dia 28 de dezembro, as forças paraguaias, sem resistência, entram triunfalmente em Corumbá. O episódio é acompanhado pelo historiador Other de Mendonça:
A coluna paraguaia ao mando do Coronel Vicente Barrios, cunhado do marechal Solano Lopez, a 3 de janeiro de 1865, efetua desembarque e ocupação de Corumbá, abandonada desde o dia anterior.
Do navio-chefe, fundeado junto à Mesa de Rendas, o comandante da expedição assistiu ao desfilar das tropas, divididas em duas seções, sobressaindo o fardamento novo, de um vermelho vivo, dos batalhões sexto e sétimo, este ocupando a vanguarda. Parte da expedição já havia ocupado a povoação do Ladário.
Pelas ladeiras que punham em comunicação o porto com a parte alta da vila, a força invasora serpeava em marcha acelerada, armas em prontidão, penetrando desembaraçadamente nas poucas ruas então existentes na localidade.
De quando em quando ponteando aqui e ali, raros moradores apareciam, confiantes nas suas imunidades de estrangeiros e abrigados sob as bandeiras das respectivas nacionalidades; os naturais que não puderam fugir por água internaram-se, desamparados, pelos matos vizinhos, sem guia e sem recursos".¹
Sobre o episódio, Barrios encaminha ao ministro da guerra de seu país a seguinte parte:
"Viva a Republica do Paraguay.- Sr. ministro.-
Tenho a honra de participar a V. Ex. que se acham em
nosso poder Albuquerque e Corumbá.
O pavilhão nacional tremula nesta ultima desde 3 do corrente, dia da minha chegada.
A população brasileira e guarnição destes pontos tinham-se retirado antes da nossa chegada por notícias transmitidas oportunamente pelo barão de Villa Maria, segundo declarações tomadas. Estamos pois de posse destes pontos sem queimar um só cartucho, tendo sido a fuga do inimigo tão precipitada que deixou, como em Coimbra, toda a artilharia, armamento geral, munições e apetrechos de guerra.
A canhoneira Anhambahy foi perseguida e tomada por abordagem no dia 6 do corrente no rio S. Lourenço pelos vapores desta divisão.
O quartel de Dourados se encontrou também abandonado.
Os vapores Ipora e Apa que fizeram o reconhecimento do Rio de S. Lourenço aprezaram o já citado vapor Anhambahy, cuja tripulação pereceu em parte, escapando-se alguns, e prisioneiros outros, comportando-se bizarramente o 1º tenente de marinha, cidadão André Herreros, a quem havia confiado esta missão e
comandava o Ipora, que deu abordagem.
Os vapores Taquari e Marquez de Olinda estão no quartel dos Dourados, onde também o inimigo abandonou um grande parque.
O povoado de Corumbá caiu em nosso poder com a maior parte de suas casas saqueadas pelos poucos habitantes que se encontraram, porém desde a chegada das nossas tropas pôs-se termo a tal desordem.
Informado que muitas famílias fugindo deste povoado se acham metidas pelas matas, dispus que dous vapores e força de terra as recolham e devolvam ás suas casas, e neste momento me avisam que chega o Paraguai com muitas famílias, e quando as tiver desembarcado voltará ao mesmo objecto.
Enquanto dou a V. Ex. uma parte detalhada, aproveito
o regresso do 2º tenente Godoy no vapor inglês Ranger, chegado ontem, para dar a V. Ex. esta primeira noticia.
Deus guarde a V. Ex. por muitos anos. Acampamento em
Corumbá, 10 de Janeiro de 1865.- Vicente
Barrios.
A S. Ex. o Sr. ministro da guerra e marinha.
Viva a Republica do Paraguay.²
Ainda sobre a ocupação do Corumbá, o coronel Vicente Barrios inclui detalhes neste amplo relatório aos seus superiores sobre os primeiros dias da invasão ao território brasileiro:
As 5 e 1/2 da
tarde do dia seguinte, depois de haver conferido o mando do ponto ao
subtenente Feliz Vera e de haver
ordenado o embarque, pus-me em marcha
sobre Corumbá, não sem antes haver-me assegurado de que Albuquerque possuía recursos
suficientes em gado e estabelecimentos agrícolas para a manutenção da
guarnição, julguei prudente continuar por água com as forças de meu comando, porque, embora haja um caminho
terrestre, não possuía a mobilidade suficiente para esta operação de dispunha
de uma pessoa de bastante confiança para servir de guia.
Pelos informe
obtidos sabia por outra parte,que, há pouco menos de 2 léguas, poderia dispor
de um sdesembarcadouro.
Na tarde do dia
seguinte 3 do corrente, cheguei ao lugar
citado e ordenei que a tropa do
desembarque saltasse à terra, operação que se deu com brevidade. Pelo silêncio
observado nas choças situadas na imediação se via o abandono do local e na
noite foram feitas explorações que na manhã do dia seguinte levaram o capitão
Fleitas com as 4 companhias de infantaria encarregadas por este serviço,
adquirindo a notícia de que as autoridades civis e militares do lugar haviam
fugido com sua guarnição e moradores para Cuiabá.
Ao mesmo tempo
se observou uma bandeira branca em direção à povoação e o Rio Apa foi despachado para saber o que
importava aquele sinal no rio e encontrando pelo caminho uma canoa se
apresentaram os negociantes estrangeiros D. Nicolas Canaria Manuel Cavassa e
Juan Viacaba que vinham pedir auxílio e proteção a esta divisão contra os saqueadores
de casas, que vinham destroçando a cidade abandonada e sendo trazidos à minha
presença deram informes circunstanciados sobre o acontecido em Corumbá.
Tão pronto como
recebi esta notícia mandei a competente ordem ao capitão Fleitas, destinando ao
tenente Gorostiaga com sua companhia para restabelecer a ordem.
Segundo dados
obtidos os vapores brasileiros Anhambay e Jauru e a escuna Jacobina haviam
saído com tropas do porto de Corumbá, somente um dia antes de nossa chegada.
Com esta notícia despachei os vapores Yporã e Rio Apa, que por seu calado
permitiam subir o rio São Lourenço em perseguição dos navios brasileiros, assim
como reconhecer e explorar aquele rio, porém, por falta de combustível
suficiente estas embarcações não puderam partir se não na manhã do dia 4.
Confiei o
comando desta expedição de exploração ao tenente de marinha Andres Herrero.
O tenente Jara
não tendo encontrado colonos nem cavalos e somente gado trouxe informação de
que o barão de Vila Maria tem cavalos e mulas.
A fuga dos
chefes brasileiros foi tão precipitada que abandonaram todos os seus recursos,
até seus próprios soldados, dispersos em diferentes direções.
A artilharia
tomada aqui compõe-se de 23 peças de bronze das quais remeto 17, ficando 6.
A comissão naval
de perseguição e exploração encontrou a 6 léguas mais ou menos acima de Corumbá
a escuna Jacobina abandonada e atracada em terra. O tenente Herreros mandou
tripular e navegar águas abaixo e apresentar-se ao capitão Meza, chefe da
frota.
Das averiguações
feitas a este respeito, resulta que esta embarcação é de propriedade
estrangeira , a mesma em que haviam saído águas acima as tropas de Corumbá, razão
porque a conservo para serviços ulteriores, como embarcação tomada em serviço
do inimigo.
Para ter
notícias de Albuquerque e principalmente para ver se tinha alguns cavalos,
despachei no dia 5 o subtenente Manuel Delgado com 20 de tropa, que regressou
dando conta de que não viu novidade daquela guarnição e de que não havia
encontrado cavalos e somente gado bovino em abundância.
Não sendo de
fácil vigilância a embocadura do rio Mbotetey, mandei apostar ali a guarda
conveniente.
Quando nossas
forças chegaram aqui, a maior parte das casas estavam abertas e saqueadas e em
presença e em função disso foram tomadas medidas severas, estabelecendo uma
polícia que responde pela segurança e tranquilidade pública. Foram apreendidos
quatro criminosos estrangeiros no ato de roubar casas, que serão julgados
segundo as leis militares.
Na tarde do dia
6 chegaram um cabo e 2 soldados brasileiros que vinham de Miranda em canoa e foram tomados com as correspondências
oficiais de que estavam encarregados, entre as quais três referentes à tomada
das colônias de Miranda e Dourados por forças paraguaias, como o verá E. Exa.
Este chasque foi
despachado da vila de Miranda no dia 1°, encontrou-se com outro que levava a
notícia da tomada de Coimbra e Albuquerque.
Como o quartel
de Dourados, situado a poucas léguas da embocadura do São Lourenço à coisa de
30 acima deste lugar, pudesse haver resistência o Yporã e o Rio Apa, no caso
menos provável de que houvesse sido abandonado este lugar, que se pode chamar
de arsenal militar, dispus que os vapores Taquari e Marquês de Olinda
arribassem até lá para dele apoderar-se.
Das declarações indagatórias
tomadas a estrangeiros e brasileiros, resultam que o tenente-coronel Porto
Carreiro, comandante de Coimbra, no momento em que chegou a Corumbá havia sido
posto em prisão e enviado na qualidade de réu a Cuiabá a bordo do vapor Corumbá
pelo comandante de armas Carlos Augusto de Oliveira.
Os vapores
Anhambay e Jauru partiram daqui na véspera de nossa chegada, transportando
famílias e tropas. Um pailebot brasileiro, uma escuna e uma chalana de
propriedade estrangeira serviram também para o transporte de pólvora e de mais
de 3.000 homens de tropa.
Os canhões,
munições e demais petrechos de guerra
que estão aqui havia sido trazidos, segundo parece, recentemente de Miranda por
disposição do comandante de armas.
Segundo a
declaração do cabo vindo de Miranda aquele ponto está guarnecido pelo 14 de
Caçadores com nove oficiais, sob o comando do capitão Motta, contando com duas
peças de artilharia.
A guarnição de
brasileira de Corumbá havia feito preparativos de defesa, colocando baterias no
barranco em frente à cidade e a três quartos de légua abaixo, estendendo
correntes através dó rio para impedir a
passagem de nossos vapores.
Na tarde do dia
8 chegou aqui de regresso o Yporã trazendo a notícia do encontro e tomada do
vapor inimigo Anhambay que ganhando a embocadura do rio São Lourenço foi
perseguido águas acima em sua precipitada fuga pelo Yporã, sendo mais lenta a
marcha do Rio Apa que o IYporã.
Nesta
perseguição e durante seis léguas o Anhambay havia feito forte fogo sobre o
Ypora que sem contestá-lo procurava dar-lhe caça, como com efeito lhe deu, tomando-lhe por abordagem
por sua tripulação e os poucos infantes comandados pelo alferes Pedro Garay. O último tiro dado pelo Anhambay antes das
abordagem acertou o subtenente Gregório
Benitez que guardava bem seu posto, sendo esta a única baixa que tivemos.
A maior parte da
tripulação do Anhambay foi morta atirando-se n’água , de onde escaparam alguns,
fazendo-se sete prisioneiros entre eles o 2° comandante.
Imediatamente
que o tenente Herreros tomou o Anhambay içou em seu topo a bandeira nacional e
tripulando seguiu adiante em perseguição aos demais vapores brasileiros depois
de haver despachado o Ypora a trazer-me a notícia do sucesso, os prisioneiros
feitos e o aviso do recente abandono do quartel de Dourados com muitos artigos
de guerra.
O Taquari e o
Olinda estão atualmente no quartel de Dourados, de onde o alferes Fernandez, comandante
do Ypora trouxe também quatro canhões e seis lanchões carregados de pólvora e
outros objetos bélicos.
O Rio Apa
acompanha agora o Anhambay e dentro de breves dias espero notícias da
exploração e perseguição encomendada ao tenente Herreros.
Vão chegando as
famílias que se buscam nos desertos destes arredores. A população deste lugar
foi extraviada nos morros e pantanais pelas aterradoras notícias que lhes foram
trazidas pelo barão de Vila Maria e confirmadas pelos fugitivos de Coimbra.³
FONTE: ¹Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2ª edição, Governo de Mato Grosso, página 19; ² Antonio Correa do Couto, Dissertação sobre o atual governo da República do Paraguai, Tipografia do Imperial Instituto Artístico, Rio de Janeiro, 1865, página 44. ³El
Semanário (PY) Assunção, 14 de janeiro de 1865.
1865 – Tropas paraguaias ocupam Corumbá
Francisco Solano Lopes, ditador paraguaio
Após a tomada do forte de Coimbra no dia 28 de dezembro, as forças paraguaias, sem resistência, entram triunfalmente em Corumbá. O episódio é acompanhado pelo historiador Other de Mendonça:
A coluna paraguaia ao mando do Coronel Vicente Barrios, cunhado do marechal Solano Lopez, a 3 de janeiro de 1865, efetua desembarque e ocupação de Corumbá, abandonada desde o dia anterior.
Do navio-chefe, fundeado junto à Mesa de Rendas, o comandante da expedição assistiu ao desfilar das tropas, divididas em duas seções, sobressaindo o fardamento novo, de um vermelho vivo, dos batalhões sexto e sétimo, este ocupando a vanguarda. Parte da expedição já havia ocupado a povoação do Ladário.
Pelas ladeiras que punham em comunicação o porto com a parte alta da vila, a força invasora serpeava em marcha acelerada, armas em prontidão, penetrando desembaraçadamente nas poucas ruas então existentes na localidade.
De quando em quando ponteando aqui e ali, raros moradores apareciam, confiantes nas suas imunidades de estrangeiros e abrigados sob as bandeiras das respectivas nacionalidades; os naturais que não puderam fugir por água internaram-se, desamparados, pelos matos vizinhos, sem guia e sem recursos".¹
Sobre o episódio, Barrios encaminha ao ministro da guerra de seu país a seguinte parte:
"Viva a Republica do Paraguay.- Sr. ministro.-
Tenho a honra de participar a V. Ex. que se acham em
nosso poder Albuquerque e Corumbá.
O pavilhão nacional tremula nesta ultima desde 3 do corrente, dia da minha chegada.
A população brasileira e guarnição destes pontos tinham-se retirado antes da nossa chegada por notícias transmitidas oportunamente pelo barão de Villa Maria, segundo declarações tomadas. Estamos pois de posse destes pontos sem queimar um só cartucho, tendo sido a fuga do inimigo tão precipitada que deixou, como em Coimbra, toda a artilharia, armamento geral, munições e apetrechos de guerra.
A canhoneira Anhambahy foi perseguida e tomada por abordagem no dia 6 do corrente no rio S. Lourenço pelos vapores desta divisão.
O quartel de Dourados se encontrou também abandonado.
Os vapores Ipora e Apa que fizeram o reconhecimento do Rio de S. Lourenço aprezaram o já citado vapor Anhambahy, cuja tripulação pereceu em parte, escapando-se alguns, e prisioneiros outros, comportando-se bizarramente o 1º tenente de marinha, cidadão André Herreros, a quem havia confiado esta missão e
comandava o Ipora, que deu abordagem.
Os vapores Taquari e Marquez de Olinda estão no quartel dos Dourados, onde também o inimigo abandonou um grande parque.
O povoado de Corumbá caiu em nosso poder com a maior parte de suas casas saqueadas pelos poucos habitantes que se encontraram, porém desde a chegada das nossas tropas pôs-se termo a tal desordem.
Informado que muitas famílias fugindo deste povoado se acham metidas pelas matas, dispus que dous vapores e força de terra as recolham e devolvam ás suas casas, e neste momento me avisam que chega o Paraguai com muitas famílias, e quando as tiver desembarcado voltará ao mesmo objecto.
Enquanto dou a V. Ex. uma parte detalhada, aproveito
o regresso do 2º tenente Godoy no vapor inglês Ranger, chegado ontem, para dar a V. Ex. esta primeira noticia.
Deus guarde a V. Ex. por muitos anos. Acampamento em
Corumbá, 10 de Janeiro de 1865.- Vicente
Barrios.
A S. Ex. o Sr. ministro da guerra e marinha.
Viva a Republica do Paraguay.²
Ainda sobre a ocupação do Corumbá, o coronel Vicente Barrios inclui detalhes neste amplo relatório aos seus superiores sobre os primeiros dias da invasão ao território brasileiro:
As 5 e 1/2 da
tarde do dia seguinte, depois de haver conferido o mando do ponto ao
subtenente Feliz Vera e de haver
ordenado o embarque, pus-me em marcha
sobre Corumbá, não sem antes haver-me assegurado de que Albuquerque possuía recursos
suficientes em gado e estabelecimentos agrícolas para a manutenção da
guarnição, julguei prudente continuar por água com as forças de meu comando, porque, embora haja um caminho
terrestre, não possuía a mobilidade suficiente para esta operação de dispunha
de uma pessoa de bastante confiança para servir de guia.
Pelos informe
obtidos sabia por outra parte,que, há pouco menos de 2 léguas, poderia dispor
de um sdesembarcadouro.
Na tarde do dia
seguinte 3 do corrente, cheguei ao lugar
citado e ordenei que a tropa do
desembarque saltasse à terra, operação que se deu com brevidade. Pelo silêncio
observado nas choças situadas na imediação se via o abandono do local e na
noite foram feitas explorações que na manhã do dia seguinte levaram o capitão
Fleitas com as 4 companhias de infantaria encarregadas por este serviço,
adquirindo a notícia de que as autoridades civis e militares do lugar haviam
fugido com sua guarnição e moradores para Cuiabá.
Ao mesmo tempo
se observou uma bandeira branca em direção à povoação e o Rio Apa foi despachado para saber o que
importava aquele sinal no rio e encontrando pelo caminho uma canoa se
apresentaram os negociantes estrangeiros D. Nicolas Canaria Manuel Cavassa e
Juan Viacaba que vinham pedir auxílio e proteção a esta divisão contra os saqueadores
de casas, que vinham destroçando a cidade abandonada e sendo trazidos à minha
presença deram informes circunstanciados sobre o acontecido em Corumbá.
Tão pronto como
recebi esta notícia mandei a competente ordem ao capitão Fleitas, destinando ao
tenente Gorostiaga com sua companhia para restabelecer a ordem.
Segundo dados
obtidos os vapores brasileiros Anhambay e Jauru e a escuna Jacobina haviam
saído com tropas do porto de Corumbá, somente um dia antes de nossa chegada.
Com esta notícia despachei os vapores Yporã e Rio Apa, que por seu calado
permitiam subir o rio São Lourenço em perseguição dos navios brasileiros, assim
como reconhecer e explorar aquele rio, porém, por falta de combustível
suficiente estas embarcações não puderam partir se não na manhã do dia 4.
Confiei o
comando desta expedição de exploração ao tenente de marinha Andres Herrero.
O tenente Jara
não tendo encontrado colonos nem cavalos e somente gado trouxe informação de
que o barão de Vila Maria tem cavalos e mulas.
A fuga dos
chefes brasileiros foi tão precipitada que abandonaram todos os seus recursos,
até seus próprios soldados, dispersos em diferentes direções.
A artilharia
tomada aqui compõe-se de 23 peças de bronze das quais remeto 17, ficando 6.
A comissão naval
de perseguição e exploração encontrou a 6 léguas mais ou menos acima de Corumbá
a escuna Jacobina abandonada e atracada em terra. O tenente Herreros mandou
tripular e navegar águas abaixo e apresentar-se ao capitão Meza, chefe da
frota.
Das averiguações
feitas a este respeito, resulta que esta embarcação é de propriedade
estrangeira , a mesma em que haviam saído águas acima as tropas de Corumbá, razão
porque a conservo para serviços ulteriores, como embarcação tomada em serviço
do inimigo.
Para ter
notícias de Albuquerque e principalmente para ver se tinha alguns cavalos,
despachei no dia 5 o subtenente Manuel Delgado com 20 de tropa, que regressou
dando conta de que não viu novidade daquela guarnição e de que não havia
encontrado cavalos e somente gado bovino em abundância.
Não sendo de
fácil vigilância a embocadura do rio Mbotetey, mandei apostar ali a guarda
conveniente.
Quando nossas
forças chegaram aqui, a maior parte das casas estavam abertas e saqueadas e em
presença e em função disso foram tomadas medidas severas, estabelecendo uma
polícia que responde pela segurança e tranquilidade pública. Foram apreendidos
quatro criminosos estrangeiros no ato de roubar casas, que serão julgados
segundo as leis militares.
Na tarde do dia
6 chegaram um cabo e 2 soldados brasileiros que vinham de Miranda em canoa e foram tomados com as correspondências
oficiais de que estavam encarregados, entre as quais três referentes à tomada
das colônias de Miranda e Dourados por forças paraguaias, como o verá E. Exa.
Este chasque foi
despachado da vila de Miranda no dia 1°, encontrou-se com outro que levava a
notícia da tomada de Coimbra e Albuquerque.
Como o quartel
de Dourados, situado a poucas léguas da embocadura do São Lourenço à coisa de
30 acima deste lugar, pudesse haver resistência o Yporã e o Rio Apa, no caso
menos provável de que houvesse sido abandonado este lugar, que se pode chamar
de arsenal militar, dispus que os vapores Taquari e Marquês de Olinda
arribassem até lá para dele apoderar-se.
Das declarações indagatórias
tomadas a estrangeiros e brasileiros, resultam que o tenente-coronel Porto
Carreiro, comandante de Coimbra, no momento em que chegou a Corumbá havia sido
posto em prisão e enviado na qualidade de réu a Cuiabá a bordo do vapor Corumbá
pelo comandante de armas Carlos Augusto de Oliveira.
Os vapores
Anhambay e Jauru partiram daqui na véspera de nossa chegada, transportando
famílias e tropas. Um pailebot brasileiro, uma escuna e uma chalana de
propriedade estrangeira serviram também para o transporte de pólvora e de mais
de 3.000 homens de tropa.
Os canhões,
munições e demais petrechos de guerra
que estão aqui havia sido trazidos, segundo parece, recentemente de Miranda por
disposição do comandante de armas.
Segundo a
declaração do cabo vindo de Miranda aquele ponto está guarnecido pelo 14 de
Caçadores com nove oficiais, sob o comando do capitão Motta, contando com duas
peças de artilharia.
A guarnição de
brasileira de Corumbá havia feito preparativos de defesa, colocando baterias no
barranco em frente à cidade e a três quartos de légua abaixo, estendendo
correntes através dó rio para impedir a
passagem de nossos vapores.
Na tarde do dia
8 chegou aqui de regresso o Yporã trazendo a notícia do encontro e tomada do
vapor inimigo Anhambay que ganhando a embocadura do rio São Lourenço foi
perseguido águas acima em sua precipitada fuga pelo Yporã, sendo mais lenta a
marcha do Rio Apa que o IYporã.
Nesta
perseguição e durante seis léguas o Anhambay havia feito forte fogo sobre o
Ypora que sem contestá-lo procurava dar-lhe caça, como com efeito lhe deu, tomando-lhe por abordagem
por sua tripulação e os poucos infantes comandados pelo alferes Pedro Garay. O último tiro dado pelo Anhambay antes das
abordagem acertou o subtenente Gregório
Benitez que guardava bem seu posto, sendo esta a única baixa que tivemos.
A maior parte da
tripulação do Anhambay foi morta atirando-se n’água , de onde escaparam alguns,
fazendo-se sete prisioneiros entre eles o 2° comandante.
Imediatamente
que o tenente Herreros tomou o Anhambay içou em seu topo a bandeira nacional e
tripulando seguiu adiante em perseguição aos demais vapores brasileiros depois
de haver despachado o Ypora a trazer-me a notícia do sucesso, os prisioneiros
feitos e o aviso do recente abandono do quartel de Dourados com muitos artigos
de guerra.
O Taquari e o
Olinda estão atualmente no quartel de Dourados, de onde o alferes Fernandez, comandante
do Ypora trouxe também quatro canhões e seis lanchões carregados de pólvora e
outros objetos bélicos.
O Rio Apa
acompanha agora o Anhambay e dentro de breves dias espero notícias da
exploração e perseguição encomendada ao tenente Herreros.
Vão chegando as
famílias que se buscam nos desertos destes arredores. A população deste lugar
foi extraviada nos morros e pantanais pelas aterradoras notícias que lhes foram
trazidas pelo barão de Vila Maria e confirmadas pelos fugitivos de Coimbra.³
FONTE: ¹Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2ª edição, Governo de Mato Grosso, página 19; ² Antonio Correa do Couto, Dissertação sobre o atual governo da República do Paraguai, Tipografia do Imperial Instituto Artístico, Rio de Janeiro, 1865, página 44. ³El Semanário (PY) Assunção, 14 de janeiro de 1865.
3 de janeiro
1866: Condecorados defensores de Coimbra
Hermenegildo Porto Carreiro, o comendante da resistência |
Decreto do governo imperial condecora os defensores brasileiros que resistiram ao ataque das forças inimigas na guerra do Paraguai. Foram agraciados os seguintes cidadãos:
Ordem Imperial do Cruzeiro
Oficial: tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carreiro.
Cavaleiros: Capitão Antonio José Augusto Conrado, segundo tenente João de Oliveira Melo, segundo cadete Manoel Eugênio Barbosa e o segundo sargento Firmino Cesário Monteiro.
Ordem da Rosa: primeiro-sargento Antonio Luiz Vieira, o amanuense da polícia Manoel Nonato da Costa Franco, os guardas da alfândega Justino Urbano de Araújo. Laurindo Antonio da Costa, Manoel Sabino Melo, Evaristo Paes de Barros, o paisano Américo de Albuquerque Porto Carreiro, os componentes da guarda nacional Estêvão Antonio, Caetanos Paes Rodrigues e Francisco Campos e o operário contratado Amaro Francisco dos Santos.
A justificativa para o reconhecimento pelo Marquês de Olinda, ministro do Império, nos seguintes termos:
Atendendo aos relevantes serviços prestados no ataque do forte de Coimbra, nos dias 27 e 28 de dezembro de 1864, pelos oficiais e praças do exército e da guarda nacional e paisanos, cujos nomes constam da relação que com este baixa, assinada pelo marquês de Olinda, conselheiro de estado, presidente do conselho de ministros e ministro e secretário dos negócios do Império, e de conformidade com os §§ 1º e 3º do art. 9° do decreto n. 2.858 de 7 de dezembro de 1861, hei por bem conferir-lhes as condecorações que se acham designadas na mesma relação.
Palácio do Rio de Janeiro, em 3 de janeiro de 1866, 45° da independência e do Império. - Com a rubrica do S.M. o Imperador. - Marquêz de Olinda.
FONTE: Diário do Rio de Janeiro (RJ) 11 de janeiro de 1866
3 de janeiro
Nasce em Cuiabá, Antero Paes de Barros. Professor primário público e particular. Inspetor de ensino primário no Sul do Estado, coletor federal e estadual de Campo Grande, inspetor de Fazenda, vereador e presidente da Câmara Municipal, intendente geral de Campo Grande deposto pela revolução de 30. Fundador do jornal “Correio do Sul”, empastelado por ocasião da vitória da revolução de 30.
FONTE: Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Matogrossense, edição do autor, Cuiabá, 1971.
3 de janeiro
É criada em São Paulo a empresa interestadual, destinada a administrar a construção da hidrelétrica de Jupiá, no rio Paraná. O evento, pela importância econômica da obra, teve ampla repercussão:
Em solenidade realizada no Palácio dos Campos Elísios, sob a presidência do governador Carvalho Pinto, foi constituída, em 3 do corrente mês, a empresa que se encarregará do aproveitamento do Salto de Urubupungá: Centrais Elétricas do Urupupungá S.A. - CELUSA. Com exceção do sr. Bias Fortes, de Minas Gerais, estiveram presentes todos os demais governadores dos Estados participantes da Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai: srs. João Ponce de Arruda, de Mato Grosso; José Feliciano Ferreira, de Goiás; Moisés Lupion, do Paraná; Heriberto Hulse, de Santa Catarina e Leonel Brizola, do Rio Grande do Sul. Compareceram também à solenidade os governadores eleitos de Minas Gerais, sr. Magalhães Pinto; do Paraná, major Ney Braga; de Santa Catarina, sr. Celso Ramos; de Mato Grosso, Fernando Correa da Costa, bem como o sr. Walfrido do Carmo, representando o novo governador de Goiás, sr. Mauro Teixeira.
As Centrais Elétricas de Urubupungá constituem o maior aproveitamento hidrelétrico projetado no país e mesmo um dos maiores do mundo: cerca de 4 milhões de HP, beneficiando vasta região dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná, dentro de um raio de 600 quilômetros.
A diretoria da empresa ficou assim constituída: Presidente, sr. Hélio Bicudo; Diretores: sr Diogo Nunes Gaspar, eng. Souza Dias, sr. Nilde Ribeiro dos Santos e sr. Demóstenes Martins. - Conselho Fiscal: titulares - srs. Plínio Queiroz, Fernando de Oliveira e José Pauloni Neto: suplentes - srs. Mário Laranjeira de Mendonça e Antonio Ponzio.
Demóstenes Martins era o representante de Mato Grosso na diretoria da empresa. Iniciada em abril desse mesmo ano, a usina de Jupiá iniciou suas operações em 14 de abril de 1969.
FONTE: revista Brasil-Oeste (SP), janeiro de 1969, página 20.
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