1865 - Fugindo da guerra, barão de Vila Maria chega ao Rio
Chega ao Rio, com a família o pecuarista Joaquim José Gomes da Silva, Barão de Vila Maria, proprietário da fazenda Firme, no município de Corumbá. O barão fugia da guerra do Paraguai, que chegara a Corumbá nos primeiros dias desse ano. O Diário do Rio de Janeiro faz o registro:
"Chegou ontem a esta corte o sr. Barão de Vila Maria, trazendo 29 dias de viagem de sua fazenda à margem do Paraguai, no distrito de Corumbá.
Esta rápida viagem feita pelo sr. barão de Vila Maria, que trouxe consigo sua família, foi determinada não só pelo desejo de vir entender-se com o governo a respeito dos negócios da sua província, como também pela necessidade de salvar-se a si e à sua família.
O sr. barão só tem conhecimento das ocorrências havidas entre 26 de dezembro e o dia 3 de janeiro.
Confirmam-se as notícias sobre a tomada de Coimbra e sobre a crueldade dos paraguaios.
Infelizmente, porém, que reformar o nosso juízo sobre a defesa do forte de Coimbra.
Parece que houve uma culposa fraqueza na sustentação desse forte abandonado, quando podia resistir com eficácia.
Das autoridades incumbidas de zelarem pela defesa e segurança do império, nenhuma se preveniu, nenhuma acreditou na possibilidade da invasão paraguaia.
Foi a esforços e diligências do sr. barão de Vila Maria que as comunicações relativas a essa invasão foram feitas às povoações e as autoridades desacauteladas.
A força invasora era numerosa, mas sobre a sua disciplina e bravura, confirma-se os conceitos aqui propalados.
No ataque de Coimbra, perderam muita gente e a esta hora o forte estaria ainda em nosso poder, se não fosse a fraqueza a que acima nos referimos.
Mais algumas horas que se tivesse prolongado a defesa, teria chegado o reforço que foi encontrado pelo comandante e que com as munições que levava, podia determinar a derrota ou a retirada dos paraguaios.
O resultado dessa fraqueza está hoje patente. A nossa fronteira está dominada pelos paraguaios, que por toda parte incendeiam e saqueiam as propriedades; sublevando os escravos que em grande número têm abandonado as fazendas e tomado armas.
Foi um fato que determinou a pronta viagem do sr. barão de Vila Maria que, tendo a comunicação fluvial interceptada e a retirada para a capital da província também impedida, tomou a resolução de vir para o Rio de Janeiro.
Pessoas que conversaram com o sr. barão, dizem-nos que Cuiabá conta apenas com 600 homens da tropa de linha para base da sua defesa. Que a guarda nacional está armada e pode reunir-se; mas que não é provável o ataque dessa cidade porque aos paraguaios faltam vapores apropriados para empreender essa operação.
Miranda foi atacada e tomada pela expedição que marchou por terra.
E parece que grande cópia de munições de guerra há sido abandonada ao inimigo.
Para compensar estas tristes notícias sabemos que acha-se em Cuiabá são e salvo o sr.chefe de esquadra Leverger, cidadão este que por sua inteligência, por seu patriotismo e pelo conhecimento que tem da província, muito pode concorrer para sua defesa.
O sr. barão de Vila Maria nada pode assegurar, quanto de notícias propaladas de haverem sofrido os paraguaios alguns reveses.
Contudo acredita neles por boatos que chegaram ao seu conhecimento.
Em todo caso a paralisação dos movimentos empreendidos pelo vitorioso exército dá claramente a entender que está finda a missão do Paraguai por esse lado de suas operações".
FONTE: Diário do Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 1865.
21 de fevereiro
1912 - Anthrax mata ex-prefeito de Corumbá
Acometido por uma bacteria Anthrax faleceu em Corumbá, o tenente-coronel Pedro Paulo de Medeiros, ex-intendente geral e delegado do município. A notícia aprece com destaque na edição do dia seguinte do Correio do Estado:
"A sociedade corumbaense foi ontem acerbamente surpreendida com o inesperado falecimento do ilustre coronel Pedro Paulo de Medeiros.
É verdade que há bastante dias achava-se ele gravemente acamado, acometido repentinamente de um rebelde anthrax e curtindo horrível mal estar em consequência da delicada operação e dolorosos curativos que sofreu, porém ninguém previa tão fatal desenlace quando era público e notório entre os seus numerosos amigos e parentes achar-se o estimado enfermo fora de perigo.
A notícia, pois, desse triste acontecimento causou, como não podia deixar de causar, profunda surpresa e consternação geral. É que o coronel Medeiros era justamente considerado um homem útil a esta sociedade, a qual, como a comunhão matogrossense em geral, dedicou metade de sua preciosa existência, todo o seu ardor de patriota, toda sua inteligência, todos os seus esforços e energias, quer como político, pontificando contínua e prestigiosamente na política local e do estado, quer como administrador municipal, comerciante e simples cidadão em que sempre revelou um espírito prático atilado, ativo, refletido e tolerante para com todos, tendo conquistado assim o apreço e a estima desta população que nunca lhe faltou com homenagens ruidosas em muitas ocasiões de oportunos acontecimentos.
É cedo ainda para se escrever a biografia, toda a ação social do ilustre cidadão que a coletividade acaba de perder, porém o que não se pode negar é que o coronel Pedro Paulo de Medeiros deixou um claro dificílimo de preencher como estrenuo lutador voltado ao bem desta terra, que ele escolheu para constituir família e que tanto amou.
O finado era de Santa Catarina e contava 42 anos de idade. Deixa viúva e numerosa prole entrelaçada à distintíssimas famílias desta cidade, cumprimos o doloroso dever de apresentar as nossas mais expressões de pesar".
FONTE: Correio do Estado (Corumbá), 22 de fevereiro 1912.
21 de fevereiro
1923 - Inaugurado telégrafo em Ponta Porã
De Bela Vista, onde chegou em 1905, pelo major Rondon, alcança Ponta Porã a rede telegráfica. As 15 horas foi festivamente inaugurada a estação do telégrafo nacional naquela cidade fronteiriça.
No ato inaugural falaram o major Nicolau Horta Barbosa, que dirigiu a construção da linha telegráfica, fazendo a entrega da mesma à repartição geral dos telégrafos; o dr. Seixas Neto, engenheiro-chefe do Distrito, recebendo a nova linha e incorporando-a à rede do telégrafo nacional e, em nome do município, o advogado e jornalista Rangel Torres, congratulando-se com as autoridades e o povo, pelo importante melhoramento.
FONTE: Jornal do Commercio (de Campo Grande) 28-2-1923.
FOTO: Ponta Porã, no início do século XX. Do Album Graphico de Matto-Grosso (1914).
21 de fevereiro
1956 - Deputados denunciam violência na fronteira
Sob o título “Violência em Bela Vista (instituído o processo rapa-coco, uma vergonha em pleno século XX)" o jornal Correio do Estado publicou a seguinte notícia:
Bela Vista (do correspondente) Teve grande repercussão nesta cidade a atitude desassombrada dos deputados Ruben de Castro Pinto e Rachid Saldanha Derzi (foto), o primeiro denunciando ao comando da 9a. Região Militar as violências e as arbitrariedades do cel. Jaques, comandante da guarnição federal, nesta cidade, contra humildes e pacatos cidadãos e o segundo denunciando à nação, através da tribuna da Câmara Federal esses tristes e lamentáveis acontecimentos.
O povo que se sente sem garantias está confiante na ação enérgica desenvolvida por seus dois representantes no legislativo estadual e federal, para que termine, quanto antes os desmandos do cel. Jaques que continua a praticá-los, tendo-se a registrar, após o que já foi divulgado, mais novas prisões todas em recinto celular, das seguintes pessoas: José Balbuena, Duarte-Y, Xisto Santandell, Nestor Nogueira e os dois jovens irmãos Aguirre Denis, irmãos da professora Olga Aguirre Denis, que depois de presos, tiveram suas cabeças raspadas a máquina zero, por ordem do cel. Jaques, num flagrante desrespeito à pessoa humana.
FONTE: Correio do Estado, Campo Grande, 21/02/1956
21 de fevereiro
1964 - Guimarães Rosa relembra o Sul de Mato Grosso
Em carta dessa data ao seu amigo Emílio Garcia Barbosa, autor de vários livros sobre o Sul de Mato Grosso, Guimarães Rosa, que visitara Mato Grosso em 1947, relembra os campos de Vacaria, reduto dos Barbosas Marques, pioneiros da região. Na íntegra a missiva do autor de Grande Sertão, Veredas:
Rio, 21 de fevereiro de 1964
Muito prezado amigo Emílio G. Barbosa
Pelo nosso caro Raul Floriano, tive a alegria de receber, com a simpática e cordial dedicatória, meu exemplar do Panoramas do Sul de Mato Grosso.
E nem sei bem agradecer-lhe a gentileza da lembrança, o delicioso, valioso presente.
Comecei imediatamente a leitura, devorei-o logo, já o reli quase todo, tomei muitas notas, vou guardá-lo perto de mim com cuidado. E duvido que alguém tenha gostado mais dele do que eu. Lembrei-me daquela conversa , aqui, em casa do Raul: o livro, que naquela ocasião, eu lhe pedia que escrevesse, é justamente este, que tão excelentemente realizou.
Nas suas páginas, percorri a forte e bela terra da Vacaria, de sua infância até hoje, "vivi" aquilo tudo.. Vi-me com o massapê da saudade, na Barbosalândia, em encontro com o tenente Galinha, reverenciando o genearca Joaquim Gonçalves Barbosa Marques, rindo-me do bom inglês James Burr, assustando-me com os índios que se concentram para o ataque mediante simulados pios de mutum e avançam pondo a macega a movimentar-se sem vento. Viajei com o menino que demandava, para o estudo, Barbacena; estive na revolução com o fazendeiro patriota mato-grossense.
Sorvi o bafo do campo largo, o berro dos bois, toda a vivência de uma gente sadia e brava, ao longo do tropear das boiadas, esse mundo autêntico de sentimento, pitoresco, variado e sincero. Comi leitão assado com mandioca, e entrei em bailes rústicos e madrugadas trabalhosas. Não me esquecerei dessas pessoas, paisagens e bichos. Não esqueço o boi Laranjo. Apreciei imenso as passagens no genuíno linguajar nativo - gostoso como o tererê, como a guavira. Deu-me vontade de voltar um dia a esse Mato Grosso meridional, que me deslumbrou tanto: rever Aquidauana, Nioaque, Miranda, Dourados, a fazenda Jardim e o 'buraco do Perdido'. Tudo isto lhe devo à sua fidelidade sentimental ao chão seu e à sua capacidade de reproduzi-lo e retratar seus fastos, através da memória do coração. Continue, peço-lhe. Escreva mais assim. Dê-me tudo da Vacaria. Obrigado, muito obrigado.
Com o melhor abraço amigo,
do seu
Guimarães Rosa.
A visita de Guimarães Rosa ao Sul de Mato Grosso teve um breve registro no jornal "O Estado de Mato Grosso", (Cuiabá) na edição de 21 de setembro de 1947:
"Guimarães Rosa, já hoje um grande nome na literatura brasileira, esteve em Mato Grosso, numa caravana de gente curiosa. E voltou de Corumbá com uma definição de NHANDUTI tão bela quanto a própria renda paraguaia: NHANDUTI - fios de amido e amor, rijo aranhol constelado, espuma em estrias".
A viagem do autor de Sagarana e Grandes Sertões:veredas, por outro lado, foi pormenorizada pelo próprio visitante em artigo publicado em 17 de agosto de 1947, no Correio da Manhã (RJ). CLIQUE AQUI e leia o artigo na íntegra.
FONTE: Emilio Garcia Barbosa, Esboço histórico e divagações sobre Campo Grande (2a. edição), Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010, página 209.
1923 - Inaugurado telégrafo em Ponta Porã
De Bela Vista, onde chegou em 1905, pelo major Rondon, alcança Ponta Porã a rede telegráfica. As 15 horas foi festivamente inaugurada a estação do telégrafo nacional naquela cidade fronteiriça.
No ato inaugural falaram o major Nicolau Horta Barbosa, que dirigiu a construção da linha telegráfica, fazendo a entrega da mesma à repartição geral dos telégrafos; o dr. Seixas Neto, engenheiro-chefe do Distrito, recebendo a nova linha e incorporando-a à rede do telégrafo nacional e, em nome do município, o advogado e jornalista Rangel Torres, congratulando-se com as autoridades e o povo, pelo importante melhoramento.
FONTE: Jornal do Commercio (de Campo Grande) 28-2-1923.
FOTO: Ponta Porã, no início do século XX. Do Album Graphico de Matto-Grosso (1914).
21 de fevereiro
1956 - Deputados denunciam violência na fronteira
Sob o título “Violência em Bela Vista (instituído o processo rapa-coco, uma vergonha em pleno século XX)" o jornal Correio do Estado publicou a seguinte notícia:
Bela Vista (do correspondente) Teve grande repercussão nesta cidade a atitude desassombrada dos deputados Ruben de Castro Pinto e Rachid Saldanha Derzi (foto), o primeiro denunciando ao comando da 9a. Região Militar as violências e as arbitrariedades do cel. Jaques, comandante da guarnição federal, nesta cidade, contra humildes e pacatos cidadãos e o segundo denunciando à nação, através da tribuna da Câmara Federal esses tristes e lamentáveis acontecimentos.
O povo que se sente sem garantias está confiante na ação enérgica desenvolvida por seus dois representantes no legislativo estadual e federal, para que termine, quanto antes os desmandos do cel. Jaques que continua a praticá-los, tendo-se a registrar, após o que já foi divulgado, mais novas prisões todas em recinto celular, das seguintes pessoas: José Balbuena, Duarte-Y, Xisto Santandell, Nestor Nogueira e os dois jovens irmãos Aguirre Denis, irmãos da professora Olga Aguirre Denis, que depois de presos, tiveram suas cabeças raspadas a máquina zero, por ordem do cel. Jaques, num flagrante desrespeito à pessoa humana.
FONTE: Correio do Estado, Campo Grande, 21/02/1956
21 de fevereiro
1964 - Guimarães Rosa relembra o Sul de Mato Grosso
Em carta dessa data ao seu amigo Emílio Garcia Barbosa, autor de vários livros sobre o Sul de Mato Grosso, Guimarães Rosa, que visitara Mato Grosso em 1947, relembra os campos de Vacaria, reduto dos Barbosas Marques, pioneiros da região. Na íntegra a missiva do autor de Grande Sertão, Veredas:
Rio, 21 de fevereiro de 1964
Muito prezado amigo Emílio G. Barbosa
Pelo nosso caro Raul Floriano, tive a alegria de receber, com a simpática e cordial dedicatória, meu exemplar do Panoramas do Sul de Mato Grosso.
E nem sei bem agradecer-lhe a gentileza da lembrança, o delicioso, valioso presente.
Comecei imediatamente a leitura, devorei-o logo, já o reli quase todo, tomei muitas notas, vou guardá-lo perto de mim com cuidado. E duvido que alguém tenha gostado mais dele do que eu. Lembrei-me daquela conversa , aqui, em casa do Raul: o livro, que naquela ocasião, eu lhe pedia que escrevesse, é justamente este, que tão excelentemente realizou.
Nas suas páginas, percorri a forte e bela terra da Vacaria, de sua infância até hoje, "vivi" aquilo tudo.. Vi-me com o massapê da saudade, na Barbosalândia, em encontro com o tenente Galinha, reverenciando o genearca Joaquim Gonçalves Barbosa Marques, rindo-me do bom inglês James Burr, assustando-me com os índios que se concentram para o ataque mediante simulados pios de mutum e avançam pondo a macega a movimentar-se sem vento. Viajei com o menino que demandava, para o estudo, Barbacena; estive na revolução com o fazendeiro patriota mato-grossense.
Sorvi o bafo do campo largo, o berro dos bois, toda a vivência de uma gente sadia e brava, ao longo do tropear das boiadas, esse mundo autêntico de sentimento, pitoresco, variado e sincero. Comi leitão assado com mandioca, e entrei em bailes rústicos e madrugadas trabalhosas. Não me esquecerei dessas pessoas, paisagens e bichos. Não esqueço o boi Laranjo. Apreciei imenso as passagens no genuíno linguajar nativo - gostoso como o tererê, como a guavira. Deu-me vontade de voltar um dia a esse Mato Grosso meridional, que me deslumbrou tanto: rever Aquidauana, Nioaque, Miranda, Dourados, a fazenda Jardim e o 'buraco do Perdido'. Tudo isto lhe devo à sua fidelidade sentimental ao chão seu e à sua capacidade de reproduzi-lo e retratar seus fastos, através da memória do coração. Continue, peço-lhe. Escreva mais assim. Dê-me tudo da Vacaria. Obrigado, muito obrigado.
Com o melhor abraço amigo,
do seu
Guimarães Rosa.
A visita de Guimarães Rosa ao Sul de Mato Grosso teve um breve registro no jornal "O Estado de Mato Grosso", (Cuiabá) na edição de 21 de setembro de 1947:
"Guimarães Rosa, já hoje um grande nome na literatura brasileira, esteve em Mato Grosso, numa caravana de gente curiosa. E voltou de Corumbá com uma definição de NHANDUTI tão bela quanto a própria renda paraguaia: NHANDUTI - fios de amido e amor, rijo aranhol constelado, espuma em estrias".
A viagem do autor de Sagarana e Grandes Sertões:veredas, por outro lado, foi pormenorizada pelo próprio visitante em artigo publicado em 17 de agosto de 1947, no Correio da Manhã (RJ). CLIQUE AQUI e leia o artigo na íntegra.
FONTE: Emilio Garcia Barbosa, Esboço histórico e divagações sobre Campo Grande (2a. edição), Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010, página 209.
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