sábado, 5 de março de 2011

3 de agosto

3 de agosto


1887Frei Mariano faz doação à padroeira da cidade



Frei Mariano de Bagnaia à direita

Ata da Câmara Municipal de Corumbá dá conta de concessão de bens de sua propriedade à Nossa Senhora da Candelária, padroeira da cidade, feita pelo frei Mariano, nos seguintes termos:

Certifico que revendo o livro de atas desta câmara municipal em que atualmente se lavram as atas das sessões da mesma câmara, lê-se à folha vinte e sete versos e vinte e oito, e encontrei na última ata lavrada em sessão extraordinária do dia 4 de julho finda a parte de que trata a louvação do reverendo frei Mariano de Bagnaia, parte de que trata petição cujo o despacho ordena a presente certidão e é de teor seguinte pelo sr. tenente Luiz Augusto Esteves foi apresentada um dia, cópia da louvação feita pelo reverendo frei Mariano de Bagnaia vice-prefeito apostólico e pregador imperial, a Nossa Senhora da Candelária padroeira dessa cidade. Como uma casa de sua propriedade, isto é na rua Santa Tereza desta mesma cidade e também a de mais objetos presentes a dita casa, exceto as que a preta Isabel que lhe serviu de criada, para cujo direito na referida doação lhe outorga assim como de residir na mesma casa quanto ela viver ou quiser, pede ainda ao mesmo escrito mencionada propriedade seja denominada casa paroquial, considerada como única condição de doação rezar uma missa para a sua alma tão logo se tenha notícia e certeza de sua morte. O sr. presidente pondo em discussão esse escrito da doação e depois a nota foi anunciante mandado arquivá-la e que na presente ata fica consignada, como ato de louvor e outro de gratidão dessa câmara municipal em nome de seus munícipes ao frei Mariano de Bagnaia pela doação que fez a Nossa Senhora da Candelária. Nada mais havendo a tratar-se foi lida e aprovada e assinada esta ata pelo sr. presidente João Antônio Rodrigues, Jacinto Moreira Felipe, José da Assunção, Constantino Gonçalves Pereira, Bento João de Carvalho. Nada mais havendo a tratar na referida seção, que o bem e fielmente fica transcrita nessa. O secretário da câmara Manoel da Costa Pedreira, 3 de agosto de mil oitocentos e oitenta e sete.




FONTE: Frei Alfredo Sganzerla, A história de Frei Mariano de Bagnaia, Edição FUCMAT/MCC, Campo Grande, 1992, página 423.





3 de agosto


1953Glauce Rocha faz sucesso no teatro do Rio



Sob o título “Uma campograndense brilhando nos palcos cariocas” e ainda grafando o seu nome de batismo, o Jornal do Comércio de Campo Grande dá uma das primeiras notícias sobre a ascensão artística da saudosa Glauce Rocha:

Há seis meses consecutivos que o Teatro Rival, do Rio de Janeiro, vem levando com extraordinário sucesso a peça teatral Dona Xepa, estrelada pela veterana e consagrada Alda Garrido.


E dentre os que se destacam na representação da maravilhosa peça de Pedro Block, já levada em cena cerca de 300 vezes, figura com justiça a simpática jovem Gláucia Rocha, filha da viúva Edelweis Ilgenfritz da Rocha, cujo desempenho artístico é realmente notável, como tivemos recentemente oportunidade de presenciar e aplaudir.


À Gláucia pois, nossas calorosas felicitações.


Glauce Rocha, falecida prematuramente aos 40 anos, em 1971, foi uma das maiores artistas do teatro, do cinema e da televisão brasileira. Conheça um pouco mais do seu talento. Veja o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=d3sn19Goo24



FONTE: Jornal do Comércio, Campo Grande, 3 de agosto de 1953.

FOTO: www.meucinemabrasileiro.com.br


2 de agosto

2 de agosto
 


1866Paraguaios deixam Nioaque





Após ocupar a vila por quase dois anos, o exército de Solano Lopes abandona-a, não sem antes incendiá-la. Quando, a 24 de janeiro do ano seguinte, as tropas brasileiras rumo à fronteira, chegaram ao local, Taunay viu por toda parte vestígios do incêndio, poupadas “apenas duas casas e uma pequena igreja de pitoresca aparência. À primeira vista - observa Taunay - agrada o aspecto geral do lugar. De um lado, o povoado e o ribeirão chamado Urumbeva; do outro, o rio Nioac, cujas águas confluem cerca de 900 metros para trás da igreja, deixando livre, em torno desta, à direita e à esquerda, um espaço duas vezes maior. Pequena colina fica-lhe em frente, a pouca distância".  



FONTE:Taunay, A Retirada da Laguna, 14a. edição, Melhoramentos, São Paulo, 1942. Página 37.

IMAGEM: Reprodução do livro Epopéa da Laguna, de Lobo Viana, Imprensa Militar, Rio de Janeiro, 1920, in José Vicente Dalmolin.



2 de agosto


1876 - Baronesa tem concessão para explorar metais em Corumbá




Pelo decreto n° 6273, o governo imperial dá concessão à viúva baronesa de Vila Maria para explorar ferro e outros metais na sua propriedade de Piraputangas e São Domingos, em Corumbá. Esse foi o resultado das idas e vindas do latifundiário Joaquim José Gomes da Silva, o barão de Vila Maria, ao Rio de Janeiro, desde 1870, onde o proprietário da antiga fazenda das Piraputangas fora ao governo "tratar de ver os meios de desenvolver a mineração do ferro na sua propriedade, refere-se às camadas de itabirito dos arredores de Corumbá e diz ter colhido do leito do Piraputangas amostras de ferro e manganês".

O Barão de Vila Maria, de volta da Corte, faleceu em viagem, cabendo à viúva, dona Maria da Glória, a concessão, sucessivamente prorrogada em 1878 e 1882.

A exploração predatória chegou a exaurir o minério e a própria vitalidade do solo de Piraputangas. Alguns córregos secaram por alterações causadas por mineradores, algumas condenadas pela justiça. O local foi transformado em parque ecológico em 2003, administrado pelo município. Pesquisas indicam que o parque abriga 94 espécies entre a flora e a fauna, com 39 plantas, 25 mamíferos e 13 répteis, numa área de 1300 hectares.


FONTE: Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, Oeste de São Paulo, Sul de Mato Grosso, Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010, página 110. 




2 de agosto



1894Mate Larangeira incorpora banco



O Banco do Rio Mato Grosso, criado pelos irmãos Murtinho para explorar o ervais do Sul de Mato Grosso entra em liquidação e seu espólio é arrematado por 2.250 contos de réis pelo acionista minoritário Thomaz Larangeira, que retoma o controle da empresa que, “continuou naquilo que sabia fazer: colher, transportar e exportar a erva-mate, através de suas associadas platinas. Em vários exercícios financeiros acusou receitas superiores a de Mato Grosso, tendo mais de uma vez socorrido com empréstimos de vulto ao Tesouro Estadual.”



FONTE: Otávio Gonçalves Gomes, Dom Tomaz, in Ciclo da Erva-Mate em Mato Grosso do Sul 1883-1947, Instituto Euvaldo Lodi, Campo Grande, 1986, página 412.




2 de agosto


1916 – Morre em Corumbá, o coronel João Antônio Rodrigues


Aos 72 anos, gaúcho de Porto Alegre, herói da guerra do Paraguai, mudou-se para o Sul de Mato Grosso, em 1876, por recomendação médica. Em 1879 foi nomeado delegado de polícia, função em que permaneceu por 8 anos, juntamente com sua dedicação ao jornalismo. Em 1884 fundou o semanário A Gazeta Liberal, órgão do Partido Liberal ao qual se filiou. Em 1888 fundou o jornal O Escravo, dedicado à causa abolicionista. Em 1893 criou O Eco do Povo e 1904, O Autonomista. Provisionado em 1889, “exerceu a advocacia com bastante inteligência, sendo apontado em Corumbá como um dos mais hábeis profissionais.” 


FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2a. edição, Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 70.

1° de agosto

1º de agosto

1734 - Governo declara guerra aos paiaguás




Sob o comando do tenente-general Manoel Rodrigues de Carvalho, partiu do porto geral de Cuiabá para dar combate aos gentios paiaguás, no Pantanal, esquadra composta de 28 canoas de guerra, oitenta de bagagem, e tres balsas, que eram casas portáteis armadas sobre canoas. Oitocentos quarenta e dois homens entre brancos, pretos e pardos. 

Os detalhes do início oficial da guerra aos paiaguás e desta primeira batalha estão nos anais:

Chegou a monção do Povoado, e nelle o Thenente General Manoel Rodrigues de Carvalho por mandante da gente de Guerra para invadir os Payagoas por ordem de S. Magestade, e do General da Cidade de São Paulo. Trazia consigo quatro sentos homens de guerra; tudo o que era branco por pobre que seja digo que foce, trazia | Patente do Gnr.al De Mestre de Campo de Capitaens, Tenentes, Alferes, Ajudantes, Furrieis, Sargentos e Cabos de Esquadra e estas patentes mandavão-se lhes entregar de embarcarem na Araritaguaba, e logo lhes faziam pagar o custo dellas, humas a des moedas, outros a oito, e outros atantas dobras, conforme o posto que na patente se declarava, e nesta forma vinhão os pobres homens a dar o dinheiro que tinhão para seos aviamentos pellas patentes e fazer viagem a Divina Providencia: esta foi ajuda de custo, que se lhes deo para a viagem, mandou El Rey fazer a guerra a custa da sua fazenda. Logo nesta chegada quizerão muitas pessoas fazer viagem para Mato Grosso, a colher as rossas que lá havião deixado do anno antecedente, publicouse mando, para que ninguem sahisse do termo da Villa para parte nenhuma antes de sahir a armada debaixo de grandes penas, o que asim se executou. Preparouse nesta vila a leva p.ª a dita Guerra tudo a custa do Povo, e sem despeza da Real Fazenda sem embargo de Sua Magestade a mandar fazer a custa della, e só tiverão o adjutorio de alguma Palavra com que asistio a Camara pelloz seoz bens. Despenderão liberalmente de suas fazendas para esta acção Antonio Pinto da Fonceca, o Brigadeiro Regente Antonio de Almeida Lara, Balthazar de Sam Payo Couto, Salvador de Espinha Silva, Antonio de Pinho de Azevedo, Antonio Antunes Maciel, seo irmão Fellipe Antunes Maciel, Antonio Pires de Campos, Pedro Vás de Barros, Antonio de Moraes Navarro, Gabriel Antunes de Campos, João Macha de Lima, Manoel Dias Penteado, Pedro Taques de Almeida, e outros varios que a sua custa prepararão canoas, armas, camaradas, e mais petreixoz necessarios. Sahio a Armada do Porto Geral desta Villa no primeiro de Agosto deste anno de 1734” composta de 28 canoas de guerra, oitenta de bagage, e tres balças, que erão cazaz portateis armadas sobre canoas. Oito centos quarenta e dous homens entre brancoz, pretos, e pardoz. Tudo o que era branco levava cargo e só se dezião Soldados os negroz, pardos, Indios e mestiçoz forão p.r Capelloens o Padre Fr. Pacifico dos Anjos, Religiozo Franciscano e o Padre Manoel de Campos Bicudo do habito de São Pedro com todos os paramentoz para se selebrarem Missa como o fazião dentro nas balças. | Rodarão Cuyabá abaixo, e Paragoay sem ver couza alguma de novidade por espaço de hum mez antes de chegar a bocaina virão ao serrar da noite fogos ao longe, e rodando mança mente sem extrondo acharão no barranco da parte esquerda pouzados alguns bugres, que dormião com seus fogos acezos, e tinhão as canoas embicadas em que andavão a espia da nossa armada, de que já tinhão noticia por revelação dos seus fiticeiros. Imbicarão as nossas canoas de guerra, dispararão-se lhes alguns tiros de mosquetes, levantarão se os bugres aturdidoz, deo se lhes huma carga serrada, em que morrerão quarenta, e escaparão quatro fogidos, pelo mato, que senão seguirão, tomou se hum vivo as mãos, que falava castelhano mal limado, dizendo que era castelhano catholico, que o não matacem não lhe valeo o pretesto, fizerão-no empicado, e as canoas em pedaços. Seguirão Rio abaixo tres dias e tres noites continuas sem pouzar, seria meya noite da terceira quando virão fogos ao longe por huma Bahia dentro da parte esquerda, emcaminharão se a elles remando sem estrondo, e ao romper da alva abeirarão o arayal do Gentio, que estava em hum campeste de terra alta a beira da agoa. Tocou hum negro huma trombeta, sem ser mandado, alvorosouse o Gentio, embarcarão se os guerreiros nas suas canoas a peleijar com a nossa Armada e huma grande chusma com suas algazarras custumadas; disparou se lhes huma carga de mosquitaria serrada, com que ficarão muitos mortos, e os mais acolherão se a terra, e em quanto isto se passou, muito dos que havião ficado no arayal escaparão em canoas cozidos com a terra por hum e outro lado, as quaes não passarão de dés, e os mais meterão se pela terra dentro que hera campestre com capoens de mato carrasquenho. Imbicarão as nossas canoas de Guerra, disparando sempre mosquetaria, com que matarão ainda muitos no Arrayal, lançouse logo a nossa Soldadesca ao alcansse dos fogetivoz pelo campestre dentro a fazer prezas, que logo aprezentavão aos officiaes, no que se ocuparão thé as duas horas da tarde. Recolhidos ao Arrayal contarão se duscentos secenta e seis prizioneiroz, e seis centos mortos por terra e nas agoas, que hera Bahia aonde não havia correnteza. Ficarão ainda muitoz espalhadoz | pelo mato dentro, que os nossos Soldados os não quizerão seguir, suspendendo a sua furia, por saberem que as prezas, que se aprezentavão ao Comandante no Arrayal, logo ahi as hia repartindo com os cabos, e pessoas principaes, e que elles nada tinhão daquela empreza, disserão huns para os outros = Venhão elles apanha-los se quizerem = e com isto se retirarão. Perecerão dos nossos dous negros e hum mulato mortos, pelas nossas mesmas armas as imbicar no Arrayal. Embarcarão-se a fazer pouzo fora daquele lugar, por estar inficionado com os cadaveres, e as agoas com o sangue que delles corria.

Consultou-se no dia seguinte Sesehouvera seguir o Gentio fugitivo thé dar se lhe fim, ou dar a função por acabada; foi a mayor parte dos rastos, que se seguice, não quis o Comandante fazelo com o pretexto de não chegar as Povoações Castelhanas, para que não tinha ordem de Sua Magestade, e falando se em procurar os que ficavão dispersos pelo mato afirmou a Soldadesca, que nenhum ficava, vendo elles o contrario, sentidos de que asprezas todas estivessem com dono, e elles com o trabalho, dizendo huns com outros = vão elles se quizerem = com isto voltarão dando a empreza por finda.

FONTE: Annaes do Senado da Câmara do Cuiabá (1719-1830) folha 19.
FOTO: meramente ilustrativa.

1º de agosto


1791Em Vila Bela governo assina pacto com guaicurus 






Inimigos mortais de estrangeiros, os guaicurus celebrizaram-se por seus ataques aos portugueses, no percurso dos rios pantaneiros, nos chamados anos de ouro, de rentável exploração aurífera em Cuiabá. Por iniciativa do comandante do forte de Coimbra, os chefes da grande nação indígena foram levados à Vila Bela, capital do Estado e lá firmaram com o governo um pacto de reconhecimento e obediência ao império português. O acordo resultou no seguinte documento:

Desejando a nação Guaicuru ou Cavaleiro, que habita os terrenos que formam a margem oriental do Paraguai, desde o rio Mondego, antes denominado Imbotatiu, e mais rios intermédios até a margem boreal do rio Ipané, dar não só uma evidente prova do seu reconhecimento, gratidão e sensibilidade, pelo bom tratamento e repetidos benefícios que ultimamente tem recebido dos portugueses e consequência das ordens do Ilmo. Sr. general de Mato Grosso e Cuiabá, dadas e muito recomendadas para dito fim ao sargento-mor engenheiro Joaquim José Ferreira, comandante do presídio de Nova Coimbra, as quais ordens ele tem desempenhado com todo zelo e atividade, distribuído pela dita nação, além dos donativos que lhe tem sido determinados por conta da real fazenda de S. M., também outros seus proporcionados à sua possibilidade; desejando mesma nação dar provas do grande respeito e fidelidade que tributam a S. M. Fidelíssima e de quanto são os mesmos gentios afeiçoados aos portugueses, espontânea e ansiosamente vieram a esta capital de Vila Bela os capitães João Queima de Albuquerque e Paulo Joaquim José Ferreira, dois dos principais chefes da dita numerosa nação, com dezesseis súditos e a preta Vitória, crioula portuguesa sua cativa, que serve de língua; e depois de terem sido recebidos e hospedados com as maiores e mais sinceras demonstrações de amizade e agasalho, e serem brindados com alguns donativos de S.M. e outros do Exmo. Sr. e capitão general e das outras principais pessoas desta Vila Bela, celebram o seguinte convênio. No dia 1º de agosto de 1791, no palácio da residência do Exmo. Governador e capitão general, estando presentes por uma parte o mesmo Exmo. Sr. com os oficiais militares e demais principais pessoas desta Vila Bela e pela outra os sobreditos capitães e chefes da sua nação, João Queima de Albuquerque e Paulo Joaquim José Ferreira, com os mencionados seus soldados e a crioula Vitória, sua cativa e intérprete, disseram que, em seus nomes e no de todos os outros chefes da sua nação, seus compatriotas, e mais descendentes, protestavam e prometiam de hoje para sempre, nas mãos do Exmo. Sr. governador e capitão general João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, manter com os portugueses a mais íntima paz e amizade e inviolavelmente guardarem e tributarem à S.M. Fidelíssima a mais respeitosa obediência e fidelidade; assim e da mesma forma que lhe tributam todos os vassalos. E sendo-lhes perguntado, de ordem do mesmo Sr. pelo sargento-mor engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra, se era nascida de sua livre vontade e moto próprio a obediência que prestavam à S.M. Fidelíssima, como também se queriam ficar sujeitos da mesa augusta soberana e senhora, ficando amigos, para dessa forma gozarem livre e seguramente de todos os bens, comodidades e privilégios, que pelas leis de S. M. Fidelíssima são concedidos a todos os índios, a tudo responderam ambos os referidos capitães uniformemente que sim: protesto que o mesmo Exm. Sr. general aceitou em nome de S. M. Fidelíssima, prometendo ele também, em nome da mesma soberana e senhora, de sempre proteger a dita nação, a fim de perpetuar entre eles e os portugueses a mais íntima paz e recíproca amizade, concorrendo sempre para tudo se dirigir à felicidade espiritual e temporal dos mesmos gentios. E para firmeza de todo o referido estipulado, eu Joaquim José Cavalcanti de Albuquerque e Lins, secretário do governo, lavrei, por ordem do mesmo Exm. Sr. governador e capitão general, o presente termo. Assinaram S. Exa. e a rogo dos ditos capitães e chefes, o tenente-coronel de infantaria com exercício de ajudante de ordens deste governo, Antonio Felipe da Cunha Ponte e o dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista, encarregado da expedição filosófica por S. M. nesta capitania; e a rogo dos mais guaicurus o dr. provedor da fazenda e intendente do ouro, Antonio Soares Calheiros Gomes de Abreu; e de sua intérprete o sargento-mor de engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra. E também assinaram os oficiais da Câmara, sendo testemunhas presentes deste ato as pessoas principais desta vila capital, que todas igualmente assinaram: e eu o secretário do governo, Joaquim José Cavalcanti de Albuquerque Lins, o escrevi. Com o sinal de S. Exa. e de todos os mais circunstantes.



FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd., página 121.






1° de agosto

1863 - Goianos apostam na estrada para Coxim

Correspondente goiano do jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, ressalta a importância da navegação do ponto de Coxim para o comércio daquele estado, faz comparações com o porto de Santos e faz diagnóstico otimista sobre o futuro das relações econômicas entre Goiás e Mato Grosso:

O problema das comunicações com Cuiabá está resolvido de um modo plenamente satisfatório por via do Taquari.

As administrações de Goiás e Mato Grosso deram-se as mãos, trabalharam e continuam a trabalhar de comum acordo neste negócio. O êxito que já vai aparecendo excede à expectativa.

As últimas notícias deixam ver que esse novo e fácil escoadouro de produtos tem dado não só grande animação à agricultura do sul da província, como aos férteis sertões de Uberaba, na província de Minas. Cerca de 200 carros carregados destinam-se ao comércio do Taquari, atravessando sertões até há pouco ínvios.

Esperava-se isso, mas não com tanta rapidez.

O ponto no Taquari é o em que nele faz barra o Coxim. Daí para baixo o rio é largo, não tem uma só cachoeira e é suficientemente abastecido de águas para a navegação a vapor.

Essa estrada e a navegação desse rio fazem uma revolução na indústria de Goiás e parte de Minas. Os fatos o estão demonstrando: o primeiro ponto que tínhamos, o de Santos, dista 212 léguas desta cidade e a estrada que a ele vai passa por terrenos tais que é impossível o trânsito de carros. O do Coxim dista 90 léguas e talvez menos pela nova estrada, e o terreno a percorrer estende-se em planuras pouco acidentadas, de modo que os carros marcham completamente desimpedidos.

Os goianos vendiam no melhor dos mercados desta província, que é o desta capital, seus gêneros por um preço nimiamente baixo; por exemplo: toucinho a 2$ a arroba; açúcar de 1ª qualidade, a 1$800 e a 2$; compravam um alqueire de sal a 18$ e a 20$. Faça agora ideia da agradável surpresa que lhes proporcionou o Taquari, onde vendem: toucinho a 18$, açúcar a 12$; café a 14$ e compram um alqueire de sal a 6$. Sem querer foros de profeta, vaticino que, em menos de cinco anos, esses sertões do Rio Verde, Anicuns e Rio Claro, para onde já se têm emigrado numerosas famílias mineiras, serão populações importantíssimas.

Não será tempo do governo geral realizar a fértil ideia do sr. conselheiro Saraiva, por virtude da qual se deve preferir as comunicações para Mato Grosso pelo nosso centro, em vez de estar na dependência de quanto espanhol grita - caramba - ao sul do império!

Parece que sim.



FONTE: jornal Correio Mercantil (RJ) 14 de setembro de 1863.
1° de agosto




1866 – Paraguaios deportam varões de Corumbá





Avisados às vésperas de que todos os homens seriam deportados para o Paraguai, o comandante das tropas de ocupação cumpre as ordens superiores. Apenas três imigrantes italianos puderam embarcar com toda a família, entre eles o comerciante Manoel Cavassa, autor do seguinte relato:

Chegou finalmente o nefasto 1º de agosto de 1866, indelevelmente gravado na minha memória. Ao meio dia, quando íamos sentarmo-nos para almoçar chegaram à nossa casa, à toda pressa, alguns oficiais, que nos intimaram a ordem de embarcar na chata, que foi levada imediatamente e sem permitir-nos sequer que comêssemos ligeiramente, puseram-nos fora de casa, cujas portas fecharam e fizeram-nos embarcar na chata, que foi levada imediatamente e amarrada ao vapor, depois do que começou o embarque da tropa, que encheu o navio, ficando somente para alojamento dos prisioneiros a câmara na qual como é fácil imaginar, estavam aqueles infelizes estivados como sardinhas, em pé, sem poderem sentar-se, e, demais a mais para cúmulo de sofrimento, sem terem comido. Nós na chata íamos relativamente bem divinamente, não obstante irem ali três famílias, que eram constituídas por 32 pessoas, inclusive crianças; mas para aqueles infortunados, aglomerados na câmara dum pequeno vapor, no qual iam mil seiscentos e tantos pessoas, era a viagem um tormento, à noite especialmente.
Saímos às 4 horas da tarde desse mesmo dia, passamos relativamente bem à noite e chegamos ao amanhecer a Albuquerque, em cujo porto estavam já reunidos todos os índios varões domesticados que também deviam embarcar entre as comoventes lamentações de suas famílias e passando uns sobre os outros, pois havia gente por todas as partes, até nas enxarsias e nas vergas.



Os deportados que conseguiram sobreviver aos rigores da guerra, entre eles, o autor do memorandum acima, foram libertados pelo exército brasileiro, durante a ocupação do território inimigo.



FONTE: Valmir Batista Correa e Lúcia Salsa Correa, Memorandum de Manuel Cavassa, Editora da UFMS, Campo Grande, 1997, página 33.

FOTO: Ruinas de fortificações,extraída do Album Graphico de Matto-Grosso (1914)






1° de agosto


1903 – Inaugurado telégrafo em Aquidauana


Sede do telégrafo em Aquidauana, inaugurada por Rondon

Chega ao vilarejo de Aqudauana à margem direita do rio, a integração telegráfica com Cuiabá, via Coxim. O major Cândido Mariano da Silva Rondon, o responsável pela implantação da linha, conta como foi alcançar esse ponto:

Pouco avançávamos porque os soldados estavam esgotados, mas a 26 de maio entrávamos na vila de Aquidauana. O pique foi recebido festivamente, como prenúncio da chegada da linha. Houve foguetório e música. Mandei distribuir vinho às praças que tiveram descanso... relativo.


Devia eu, porém, conseguir uma casa onde fosse possível instalar a estação telegráfica pois, regressando ao acampamento, encontrara resposta negativa de d. Antonia Jatobá a uma proposta minha, feita por intermédio de Ciríaco: ceder ela à Comissão a casa de sua propriedade, com contrato, fazendo-se-lhe os reparos necessários.


O acampamento mudou-se para o Taboco e parti para Campo Formoso cuja estação devia ser inaugurada no mesmo dia que a de Aquidauana. Para isso se construiu uma casa junto a uma fonte de bastante água. Para proteger o manancial, mandei fazer um grande alambrado de 400 m de face, cercando a estação. Adquiriu a Comissão esse terreno do fazendeiro Zeferino Rodrigues, pela quantia de 1$500 (mil e quinhentos réis). Foi um meio de fazer pronta doação do terreno, uma vez que não havia tabelião naquelas paragens.


Segui para Aquidauana – o meu filhinho adoecera. Preocupado e aflito, tive, entretanto, a alegria de o encontrar restabelecido. Foi necessário resolver ao mesmo tempo o problema da casa para a estação telegráfica. Não havia outro recurso senão construir uma. Escolhi um lote de 36 m de frente, no único largo da vila. O acampamento, quando para cá fosse transferido, ficaria na praça ou na rua da estação.

Cuidei também de determinar a latitude por observação circumeridiana do sol, medindo duplas distâncias zenitais. 


Segui a 15 para o acampamento, a fim de tornar mais rápida a marcha do serviço e a 21 estava a construção em caminho de Limão Verde para a vila, onde chegou a 28 – chegada que o espocar de foguetes anunciou. Mudou-se então o acampamento, empregou-se todo o pessoal na limpeza, não só dele como da praça e da vila, e cuidou-se dos preparativos para a festa de inauguração, na qual tomaria parte a banda de música do 7º regimento de cavalaria.


As 9 horas de 1º de agosto inaugurava-se a estação de Aquidauana – ao mesmo tempo que a de Campo Formoso.


A chuva não permitiu que estivessem presentes muitas famílias.
Ainda assim formou o contingente: li uma ordem do dia sobre a inauguração, houve discursos – inclusive o do sr. João Augusto da Costa que, em nome da população, dava o meu nome e o do Marechal Mallet às duas principais ruas da vila e o de rua do Telégrafo àquela por onde entrara a linha.


A comissão ofereceu um baile à população e, no dia seguinte, suspendeu o acampamento, indo bivacar no córrego João Dias.




FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 163.


sexta-feira, 4 de março de 2011

31 de julho

31 de julho


1886Bispo de Cuiabá em Ladário




Em sua primeira viagem ao Sul do Estado, dom Luis d'Amour, bispo de Cuiabá, depois de cumprir agenda em Corumbá, visita Ladário, conforme relato do cônego Bento Severiano da Luz, secretário do prelado:

Pela volta do meio dia chegamos ao Ladário, sendo S. Exa. recebido com todas as honras. Todos os oficiais tomaram seus uniformes de gala, os navios da flotilha estavam completamente empavesados e a companhia de aprendizes de marinheiros formou em continência, havendo as salvas de estilo ao saltar em terra o ilustre príncipe da igreja. Conduzido debaixo do pálio à capela, pegando as varas os mais graduados do préstito, ali o prelado fez oração, deu ao povo a bênção e o anel para beijar e recolheu-se à residência do digno comandante da flotilha, queimando-se em todo esse tempo muitas dúzias de fogos do ar.


À noite o arsenal esteve brilhantemente iluminado.
Possuídos de incomparável júbilo pela honrosa visita que recebiam, o sr. engenheiro Antonio de Abreu Coutinho com seus amigos resolveram organizar uma festa para o seguinte dia em homenagem à passagem ali do venerando pastor.

 


FONTE: Luis Philippe Pereira Leite, Bispo do Império, edição do autor, Cuiabá, sd. página 141.

FOTO: Dom Luis (segundo a esquerda) com dom Aquino (de pé) seu sucessor.



31 de julho

1980 - Albert Sabin visita Santa Casa de Campo Grande

                         
  Sabin e D'Avila (foto acervo da Santa Casa)

No Brasil desde fevereiro, onde orientou campanha de vacinação contra a poliomielite em Santa Catarina e Paraná, esteve em Campo Grande, o médico e cientista, Albert Sabin, premio Nobel de Medicina, criador da vacina da gotinha, contra a paralisia infantil. Na capital de Mato Grosso do Sul, há notícia de sua visita à Santa Casa. O registro consta dos anais daquela entidade:


Em 31 de julho de 1980, com a grandiosa obra em fase de acabamento, dr. Arthur D'Avila recebe a visita ilustre de Albert Sabin que, de passagem pela região, quis conhecer o hospital. Único vivo dos 12 benfeitores da humanidade retratados em quadros no hall de entrada, Sabin estreia o livro de ouro do hospital, redigindo um "longa e rica mensagem", nas palavras do próprio Dr. D'Avila. Durante a visita à esposa de Albert Sabin, a brasileira Heloisa Dunshee Abrantes, se dirige ao anfitrião: "Dr. D'Avila, Albert está dizendo que seu hospital é mais bonito que o do Rio de Janeiro", e ele responde, "Dona Heloisa, agradeça ao professor o elogio, e que ele leve a certeza de que não contaremos aos nada cariocas", o que se seguiu de largas gargalhadas de todos. Ao visualizar a imponência externa da obra, passando pela Rua 13 de Maio, o pesquisador refaz o comentário, traduzido pela esposa: "Dr. D'Avila, Albert está me dizendo agora que seu hospital é, de fato, o mais bonito dentre todos que eleconheceu no Brasil". Possivelmente pelo serviço de imprensa do governo, este comentário vazou e foi publicado pelos jornais da época

FONTESanta Casa de Campo Grande (santacasacg.org.br)




30 de julho


30 de julho


1860 - Leal liberta escravos em Paranaíba


Homenagem de Paraíba a José Garcia Leal, fundador da cidade

Através de documento público o caudilho de Santana do Paranaíba, José Garcia Leal, concede liberdade a escravos:

Escritura de liberdade que passa capitão José Garcia Leal a seus escravos Francisco Benguela e sua mulher Maria Benguela, José Carapina, sua mulher Escolástica e seu filho Antonio Cezário Criolo e sua mulher Vitória Crioula e suas três filhinhas Eva, Teodora e Angélica, Valeriano Africano e sua mulher Joaquina Africana, Antonio Africano e sua mulher Matildes Crioula, José Pequeno Africano sua mulher Francisca Crioula, Rita Crioula, José Benguela, Joaquim Minas, Domingos Africano, Joaquim Novo Africano, Joaquim Crioulo, Matias Africano, Roque Africano, Manoel José Crioulo, Silvério Africano, Adão Africano, José Moçambique, João Grande, José Velho Africano, Julião Crioulo, como abaixo se declara.


Saibam quantos este público instrumento de escritura de liberdade virem que sendo no ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta, trigésimo da Independência do Império do Brasil, aos trinta dias do mês de julho do dito ano nesta vila de Santana do Paranaíba, província de Mato Grosso, em as casas de residência do capitão José Garcia Leal pessoas de mim conhecidas de que trato faço menção e dou fé aonde eu tabelião compareci e aí pelo capitão José Garcia Leal me foi dito perante as testemunhas ao diante nomeadas e assinadas que ele é senhor possuidor dos escravos Francisco Benguela e sua mulher Maria Benguela, José Carapina e sua mulher Escolástica e seu filho Antônio Cesário crioulo e sua mulher Vitória e suas três filhas Eva, Teodora e Angélica, Valeriano africano sua mulher Joaquina africana, Antonio africano sua mulher Matilde crioula, José pequeno africano sua mulher Francisca crioula, Rita crioula, José Benguela, Joaquim Minas, Domingos Africano, Joaquim novo africano, Joaquim crioulo, Matias africano, Roque africano, Manoel José crioulo, Silvério africano, Adão africano, José Moçambique, João grande, José velho africano, Julião crioulo, que os passou livres e desembargados de qualquer penhora, hipoteca ou outro qualquer ônus, e que pela presente escritura confere liberdade aos ditos escravos com a cláusula de lhe servir dois anos a contar desta data, sem mais outra cláusula ou condição do que a de lhe prestarem os serviços durante o tempo referido, e o farão como se ainda fossem seus escravos, prestando-lhe completa obediência e sujeitos a serem corrigidos por ele outorgante quando careçam, como se ainda se conservassem na escravidão e findo o dito tempo poderão usar desta alforria, que lhe é conferida gratuitamente, como lhes aprouver. Como assim o disse dou minha fé, me pediu que lançasse a presente em minha nota, o que eu tabelião o fiz como pessoa pública e aceito a presente por parte dos libertos tanto quanto a aceitar devo e a tudo foram testemunhas presentes Flávio Garcia Leal e Manoel Garcia da Silveira Leal.




FONTE: Arquivo Público de Mato Grosso do Sul, "Como se de ventre livre fosse...", Campo Grande, 1994, página 231.

29 de julho

29 de julho


1866Paraguaios comunicam deportação de brasileiros de Corumbá


Charge do presidente paraguaio Francisco Solano Lopes, publicada durante a guerra



Ocupada ao final de 1864 por tropas paraguaias, no início da guerra da tríplice aliança, nessa data, o comando militar dos invasores, decide deportar para Assunção todos os homens da vila. O imigrante italiano Manoel Cavassa, sujeito desta história, ocorrida em Corumbá, faz o seu relato:

A 29 de julho de 1866, ao meio dia, chegou de Assunção um vapor paraguaio e as 2 horas da tarde o general mandou reunir no quartel-general todos os homens aqui existentes, sem distinção de nacionalidades, e disse-lhes que tinha recebido ordem do seu Supremo Governo para fazê-los seguir, os homens, todos sem exceção, para Assunção e que deviam todos estarem prontos para o dia da saída do vapor, sob pena de ser passado pelas armas aquele que então não estivesse pronto ou que opusesse obstáculo ao embarque.


Permaneciam todos calados; eu, porém, que não queria deixar aqui minha família, disse ao general que sem ela eu não embarcaria e seria o primeiro a ser passado pelas armas. Respondeu ele que minha família iria comigo se o vapor houvesse espaço. Retiramo-nos dali, cada qual o mais temeroso e preocupado pela sorte de sua família, pois que era manifesto empenho dos bárbaros, que ficassem aqui as famílias sós a mercê dos seus brutais caprichos. O meu vizinho Nicola Canale, que, além da sua família tinha a seu cargo a de seu cunhado, ausente, veio à minha casa chorando, desesperado ante a idéia de abandonar essas famílias às brutalidades daqueles homens. Repeti-lhe o que havia dito ao general: que sem minha família não embarcaria, lembrou-se então ele que tinha uma chata, na qual podiam ir nossas famílias, se eu conseguisse com o general que ela fosse a reboque do vapor. Concordei com ele e quando nos dirigíamos à residência do general, encontramo-nos com o commte., que, inteirado do que íamos fazer, disse-nos que não procurássemos naquela ocasião ao General, que estava ocupado, e que ele se encarregava de falar-lhe acerca da nossa pretensão. E de fato, no dia seguinte comunicou-me ele pessoalmente que o general, mesmo contra sua vontade, nos permitia levarmos nossas famílias na chata a reboque. Tratamos de preparar-nos, aprontamos a chata com a maior abundância de provisões de víveres, roupas, etc., levando para minhas despesas em Assunção, o dinheiro que então tinha em moeda papel brasileiro, na importância de cento e tantos contos.


A deportação ocorreu no dia 1° de agosto de 1866.



FONTE: Valmir Batista Correa e Lúcia Salsa Correa, Memorandum de Manuel Cavassa, Editora UFMS, Campo Grande, 1997, página 32.


29 de julho

1959 - Assassinado vereador que denunciou contrabandistas



É assassinado em Corumbá o vereador Edu Rocha (PSD). O principal suspeito como mandante do crime foi o chefe da alfândega da cidade, Carivaldo Salles, denunciado pelo edil como chefe de uma quadrilha de contrabandistas de automóveis. As denúncias veiculadas pela revista "O Cruzeiro", então o principal orgão da imprensa brasileira, ganharam repercussão nacional. O homicídio, segundo a revista carioca, ocorreu por volta das 21,30 h e foi descrito em detalhes:

Nessa noite havia sessão na Câmara de vereadores local. Edu Rocha era o líder da bancada pessedista e também o vereador mais votado do município. Já exercera as funções de presidente da câmara e era apontado como o mais forte candidato a prefeito da cidade. Nessa noite, Carivaldo Salles, que nunca antes comparecera à câmara, assistiu à sessão, desde o começo e quase até o fim. Estava extremamente nervoso. Fumava um cigarro após outro. Durante todo o tempo em que permaneceu no recinto pelas janelas da câmara podia-se ver, furtivamente, a cabeça de elementos notoriamente apontados como pertencentes à "gang" de contabandistas. Esses capangas olhavam para dentro do recinto, de soslaio, pelos cantos das janelas, um de cada vez, como se revezando na tarefa de dar cobertura ao "chefe" em caso de algum imprevisto. Quando Edu Rocha terminou seu discurso sobre assunto rotineiro da vida da cidade (nome a ser dado a uma praça pública), Carivaldo saiu e foi sentar-se em seu automóvel vermelho e capota cinza. Tal qual uma fera traiçoeira, ali fora esperar sua vítima. As declarações de numerosas testemunhas permitem compor fielmente o cenário do crime: o "jeep" de Edu Rocha estava estacionado diante da residência da sra. Laura Provenzano, ao lado da Câmara de Vereadores. A uns 5 metros adiante do "jeep", de frente para este e inclusive na contramão), estava parado, sob uma árvore, o carro de Carivaldo. No volante do automóvel, vigiava o capanga do inspetor, de nome César Aral, vulgo "Papito", pistoleiro de má fama e temido pela sua periculosidade. Viera do Paraguai, e em Corumbá prestava serviços a Carivaldo como guarda-costas e como motorista. No assento traseiro do veículo, meio oculto na penumbra, Carivaldo, que abandonara o recinto da Câmara antes do término da sessão, esperava a hora do drama. Quando os vereadores sairam, no final dos trabalhos, muitos deles permaneceram na calçada, conversando em grupos. Edu Rocha e seu colega Arquibaldo Andrade foram os últimos a deixar a porta da Câmara. Palestraram sozinhos durante alguns instantes, e, por fim, a convite de Edu, resolveram tomar um cafezinho. Edu passou por trás do seu "jeep" para alcançar o lado esquerdo do veículo. Quando abriu a porta para sentar-se ao volante, ouviu-se a rajada fatal, entrecortada por um gemido fraco. Arquibaldo Andrade, que se aprestava para entrar no "jeep" pela porta direita, mal teve tempo de voltar a cabeça e ainda assim sentiu grãos de pólvora bateram em seu rosto como chuvisco. Nesse momento, o porteiro da Câmara, Feliciano Rodrigues, que fechava a porta do edifício, caia ao chão, contorcendo-se em dores e pedindo socorro. Arquibaldo Andrade pode ver o carro vermelho de Carivaldo arrancar em debalada carreira, desaparecendo no fim da praça. Ao correr para pedir socorro, Arquibaldo viu, saindo de "um ponto qualquer do jardim", o lugar-tenente de Carivaldo, o valentão Artigas Vilalva, de quem tanto falamos em nossas reportagens sobre o contrabando. (...) 


Ao tombar ao solo, Edu Rocha já não tinha mais vida. Não era para menos. A rajada de metralhadora foi disparada quase à queima roupa, a mais ou menos dois metros de distância, de vez que o carro do assassino passou rente ao jipe do vereador. A metralhadora empregada foi do tipo "piripipi", muito usada na Bolívia e Paraguai. O laudo do exame cadavérico, assinado  pelos cirurgiões que autopsiaram o corpo de Edu, atesta a brutalidade do crime. O vereador foi atravessado por 5 balas que penetraram: a) na boca, destruindo os incisivos superiores;b) na região frontal esquerda; c) na região frontal direita;d) na região external (peito) no seu terço médio; e) na região paraexternal esquerda, para dentro da linha mediana.


Levado a juri em 24 de outubro de 1963, Carinaldo foi absolvido por 5 a 2.


FONTE: Revista O Cruzeiro (RJ), 27 de agosto de 1959.






29 de julho


1962 - Morre Manol Secco Thomé




Faleceu no Rio de Janeiro, aos 75 anos, de problema renal, o empresário português Manoel Secco Thomé, que chegou a Campo Grande em 1913, dedicando-se ao ramo da construção civil. Várias obras marcaram e ainda marcam sua longa passagem por Campo Grande e Sul de Mato Grosso. Em Campo Grande, os quartéis do bairro Amambaí; as vilas do oficiais do Exército na rua Barão do Rio Branco, avenida Duque de Caxias e praça Newton Cavalcanti; o Educandário Getúlio Vargas; o Hospital São Julião; a Santa Casa de Misericórdia; os Correios e Telégrafos, da avenida Calógeras com a Dom Aquino; a Associação dos Criadores, na rua 13 de Maio; o relógio da 14 com a Afonso Pena, demolido na década de 70; o canal do córrego Maracaju; e o obelisco da avenida Afonso Pena.
Em Miranda, sua firma construiu o colégio dos padres, a igreja matriz e a ponte sobre o rio para abastecimento da cidade; em Bela Vista, os quartéis do Exército; em Terenos, Ribas do Rio Pardo e Três Barras, unidades escolares no governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo”. 



FONTE: Emilcy Thomé Gomes, Campo Grande 100 anos de construção, Enersul, Campo Grande, 1999, página 310.


29 de julho

1968 - Ditadura confina ex-presidente em Corumbá

                 
Janio Quadros no Hotel Santa Mônica, sua casa no exílio


O ministro da Justiça,  Gama e Silva, por ordem do presidente Costa e Silva, assina portaria impondo confinamento de 120 dias em Corumbá, ao ex-presidente Jãnio Quadros, acusado de práticas subversivas. Nos "considerandos" o documento apresenta como base da punição, o fato do ex-presidente vir se "manifestando sobre assunto de natureza política", qualificado como delito, nos termos da legislação em vigor. Revela que o ex-presidente, segundo investigação da Polícia Federal, "não só confirmou as entrevistas de natureza política, que concedeu à imprensa do país, assim como acrescentou que após ter sido seus direitos políticos suspensos, tem mantido constantes visitas e solicitações de natureza política, envolvendo ou interessando o declarante".

A decisão do governo acrescenta ainda como justificativa, que Janio Quadros "revela o indisfarçável propósito de promover movimentos da opinião, contrariando os princípios da Revolução de 31 de Março, podendo por em risco a propria ordem política e social, cuja preservação deve ser mantida pela autoridade pública, impondo-se, portanto, no interesse geral, a aplicação conveniente e adequada medida de segurança, sem prejuízo da ação penal correspondente à infração cometida".¹ 

FONTE: Diário de Notícias - RJ - 30 de julho de 1968.  

FOTO: Jornal do Brasil, 9Rio).








28 de julho

28 de julho




1910 - Relatório otimista sobre Corumbá 



Corumbá na década de 10 do século XX 



O intendente geral do município de Corumbá, João Batista de Oliveira Brandão Júnior, dirige à Câmara Municipal relatório muito promissor sobre as atividades econômicas da cidade:

A cidade aumenta de uma maneira extraordinária. A população cresce descomunalmente. As construções prediais se realizam por centenas. O comércio expande-se e multiplica-se vertiginosamente. As pequenas indústrias merecem já menção especial e tendem a acompanhar a marcha célere do desenvolvimento dos demais ramos da atividade. Em consequência disso a fortuna particular vai também crescendo numa correspondente proporção. Ao lado de proletários, trabalhadores de todos os ofícios, entram igualmente letrados, homens de comércio, industrialistas e muitos portadores de capitais.


Tudo isso é espontâneo, provêm da nossa boa situação geográfica, resulta do fato de que Corumbá é e será em todos os tempos o entreposto comercial mais importante de todo o Estado.



Quatro anos depois, Corumbá iniciaria longo período de declínio econômico com a chegada da estrada de ferro, que desativaria gradualmente as atividades portuárias, transferindo para Campo Grande as principais atividades empresariais do Sul do Estado.



FONTE: Lúcia Salsa Correa, Corumbá, um núcleo comercial na fronteira de Mato Grosso 1870-1920, edição da autora, Corumbá,1981, página 105.

FOTO: Album Grafico de Mato Grosso, 1914.






28 de julho


1932 - Guerra civil: publicado decreto criando Tesouro do Estado


Decreto do governo revolucionário de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, cria o tesouro do Estado e adota outras medidas fiscais:

Decreto n° 3. O Dr. Vespasiano Barbosa Martins, governador do Estado de Mato Grosso decreta:


Art. 1o. - Fica criada nesta cidade, sede provisória do Governo, uma secção do Tesouro do Estado para atender aos serviços da Fazenda, até a normalização da administração pública.


Art. 2o. - A secção do Tesouro funcionará no edifício da Municipalidade tendo um inspetor, que será o tesoureiro do município; um secretário; um tesoureiro e anuenses preciso, tirados entre o funcionalismo municipal.


Art. 3o. A escrituração será feita em livros especiais, forma do Regulamento e demais leis em vigor.


Art. 4o. - A secção do Tesouro fica subordinada às coletorias, mesas de renda de Corumbá e delegacia do Norte.


Art. 5o. - Ficam suspensos os pagamentos no Tesouro em Cuiabá, conforme a ordem de 13 do corrente mês de julho e nas coletorias, mesa de renda e delegacia do Norte, tudo subordinado a esta secção. 


Art. 6o. - A gratificação dos funcionários será fixada no Regulamento complementar deste decreto.


Art. 7o. - Revogam-se as disposições em contrário. Sede provisória do Governo do Estado, em Campo Grande, 26 de julho de 1932. (aa) Dr. Vespasiano, governador do Estado, Arlindo de Andrade Gomes, secretário geral interino.” 




FONTE: Jovam Vilela da Silva, A divisão do Estado de Mato Grosso,uma visão histórica, Editora UEMT, Cuiabá, 1996, página 147.


28 de julho

1941 - Corumbá recebe o presidente Getúlio Vargas


"Corumbá, 28 (A.N.) - o 'Looked 05', pilotado pelo capitão Nero Moura, conduzindo o presidente Getúlio Vargas, acaba de descer nesta cidade. São precisamente 18.20 horas. O chefe do Governo foi recebido pelo interventor Júlio Müller, general Pinto Guedes e outras altas autoridades civis e militares. Estão sendo prestadas a S. Excia. calorosas homenagens". Assim o Jornal do Brasil (RJ) registra o desembarque do presidente na cidade branca, na sequencia de ampla reportagem da visita histórica de um primeiro chefe da nação ao município, iniciada com o clima reinante antes da chegada do presidente:

Corumbá preparou-se ativamente para receber o sr. Getúlio Vargas, o primeiro presidente da República que a visista. As ruas estão engalanadas com bandeiras e flâmulas brasileiras e bolivianas; preparou-se uma iluminação caprichosa e esta profusão de preparativos dá à longínqua cidade de Mato Grosso um aspecto festivo, próprio de uma solenidade dessa natureza. Os hoteis estão repletos, as residências particulares cheias de visitantes ilustres, os automóveis todos todos ocupados para os dias de permanência de S. Ex. Nota-se assim um movimento desusado sendo uníssonos os comentários em torno da personalidade do presidente, que realiza a marcha para o Oeste, entre inexcedíveis manifestações de estima e apreço para o grande dirigente do Brasil. Acham-se em Corumbá o ministro Aristides Guilhem, o interventor Júlio Müller, ministro Davi Alvestegni, da Bolívia, convidado especial do governo do Brasil; general Mário Pinto Guedes, comandante da 9a. Região Militar; introdutor diplomático Lauro Müller Filho, além de numerosos prefeitos dos municípios do Estado, autoridades federais, estaduais e municipais.

Ressalta dos comentários o grande empreendimento da Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, construída pela Comissão Mixta Ferroviária que impulsionará o progresso do país vizinho paralelamente ao de uma rica região brasileira
.

Mais adiante o jornal carioca passa a ocupar-se da presença do presidente em solo pantaneiro:

Esta cidade recebeu entre as mais calorosas manifestações de apreço e simpatia o presidente Getúlio Vargas. Depois de ser saudado no aeroporto pelo interventor Júlio Müller, o chefe do governo dirigiu-se para o Palácio do Estado, sendo durante todo o percurso, ovacionado pela massa popular. Da sacada do palácio, S.Ex. assistiu o desfile escolar para, em seguida, no salão nobre, receber os cumprimentos das altas autoridades federais, estaduais e municipais.

De todos os pontos de Mato Grosso têm chegado ao sr. Getúlio Vargas numerosas mensagens de saudação e boas vindas, numa significativa exaltação à marcha para o Oeste. 

Uma das principais agendas da visita de Getúlio a Corumbá foi o encontro protocolar do presidente brasileiro com o ministro das relações exteriores da Bolívia, Alberto Ostria Gutierrez, em Arroyo Concepcion, território boliviano na "Ponta dos Trilhos", da ferrovia Brasil - Bolívia, a 70 quilômetros de Corumbá.

O prefeito da cidade, Otávio da Costa Marques, ouvido pela Agência Nacional, resumiu a importância da visita presidencial:

Corumbá vive instantes inesquecíveis e de grande vibração patriótica. Engalana-se para receber com verdadeiro entusiasmo cívico o eminente presidente da República, visita que representa acontecimento de alta significação, sem dúvida o mais eloquente de toda sua vida republicana.

Pela primeira vez, Mato Grosso tem a honra de homenagear, em pessoa, o chefe da nação. Esta oportunidade é a afirmação vitoriosa da "Marcha para o Oeste, que vem integrar o sertão esquecido e abandonado, ao Brasil Novo, palpitante de fé e de esperança nos destinos da nacionalidade. É grande a minha satisfação em encontrar-me, neste momento auspicioso, na superintendência dos negócios municipais de Corumbá, para, assim, ter a honra de juntar o meu decidido apoio, a minha colaboração e justa homenagem na recepção ao Chefe da Nação. É propósito do meu prezado amigo, sr. Júlio Müller dar à visita presidencial a melhor demonstração de carinho e de reconhecimento ao eminente presidente, por tudo que já tem feito em prol do nosso Estado e, assim, estou certo, Corumbá terá ocasião de manifestar que não discrepa uma linha desse sadio objetivo o qual, aliás, é o mesmo que anima todo o Estado nesse memorável momento de sua vida.

O presidente estendeu sua viagem até Assunção, no Paraguai, e Campo Grande, encerrando o longo percurso em Cuiabá, de onde retornou ao Rio de Janeiro, no dia 8 de agosto seguinte.


FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 29 de julho de 1941.

FOTO: postagem de João Gualberto Cabral em Facebook/Memórias de Corumbá




OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

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