sábado, 19 de fevereiro de 2011

5 de junho

5 de junho


1867 – Retirantes da Laguna deixam Nioaque rumo ao rio Aquidauana



Capitão Pedro Rufino, comandante
do 1º Corpo de Caçadores a Cavalo
Tendo chegado à devastada Nioaque no último dia 3, à frente o major José Tomás Gonçalves, deixa o povoado a força brasileira que se retira da fronteira com destino ao porto Canuto à margem esquerda do rio Aquidauana, termo da célebre retirada da Laguna. Taunay registra:

A 5, entretanto, ao raiar do dia, saímos da infeliz Nioac, afinal aniquilada com a sua igreja. Seguíamos a estrada do Aquidauana e marchávamos penalizados sob a impressão do funesto sucesso da véspera.

A todas as viscissitudes atravessadas viera ajuntar-se a angústia da véspera. Já era muito porém, era legítimo triunfo estarmos de pé e ter dominado o inimigo tão perfidamente encarniçado em nos arruinar.

Foi o Urumbeva facilmente transposto. À margem direita se nos depararam destroços de carretas que os paraguaios acabavam de queimar, muitos víveres e objetos de apetrechamento espalhados e todos sujos de terra como já na barranca do Canindé encontramos; cadernos dilacerados, folhas soltas ao vento, notas, entre as quais o autor desta narrativa reconheceu a própria letra, e agora truncadas e inúteis.

A alguma distância deste caudal aguardava-nos, tal a primeira impressão, nova cilada, cujos efeitos foram, contudo, muito diversos de um desfecho trágico. Duas pipas, daquelas em que se conserva a aguardente de cana, ocupavam o meio da estrada. Lembrando-se da explosão da igreja e temendo algum novo estratagema, da parte de um inimigo que nenhum escrúpulo parecia poder conter, apressou-se o capitão Pedro José Rufino e precipitando-se sobre os tonéis arrombou-os com os copos da espada.

À vista do líquido, que a jorros corria, alguns soldados não podendo conter-se, ajoelharam-se ou deitaram-se de bruços, para alcançar o seu quinhão, espetáculo acolhido pelas gargalhadas, que se generalizaram em toda a linha.

Não teve o incidente outras conseqüências: pacificamente continuamos a marcha até o ribeirão Formiga, perto do qual acampamos, ainda contemplados nesta nova fase de abundância pelo encontro de bom número de bois, em ótimas condições.




FONTE: Taunay, A Retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Melhoramentos, SP, 1942, página 136.

4 de junho

4 de junho


1866 – Taunay dá notícias dos morros do Aquidauana






À frente da coluna brasileira que combateria os paraguaios na fronteira, a comissão de engenheiros abre caminho e espera ordens nos Morros, nas proximidades do rio Aquidauana, onde estão os refugiados de Miranda. De lá, o tenente Taunay, integrante da citada comissão, dá notícias ao seu pai no Rio de Janeiro:

As contínuas chuvas durante este mês que findou impediram as forças de caminhar para este lado de modo que acabamos de passar ainda mais um mês a esperá-las, depois de ter preparado os meios de transposição do Aquidauana. Três excelentes barcas, que faremos descer até a barranca do rio, ao atravessar formarão uma grande balsa capaz de levar 200 a 300 soldados de cada vez, permitindo a pronta ocupação da margem esquerda onde os paraguaios construíram uma palissada bastante forte, numa posição chamada o porto do Souza.


Decidimos, Lago e eu, realizar a passagem num lugar de tal forma favorável que pequeno corpo de tropa poderá cortar as comunicações entre este ponto e outro onde os inimigos têm 200 homens.
O reconhecimento bastante completo, efetuado com felicidade e sem nenhuma novidade, permitiu-nos avaliar todas as circunstâncias necessárias para que se não tenha o impecilho de algum obstáculo de vulto, como um curso d’água de 40 a 50 braças de largo (operação sempre difícil) quando perturbada pelo fogo inimigo. (...)


Os paraguaios continuam a ocupar diversos pontos do distrito de Miranda e ali fizeram grandes plantações de milho e arroz. Mais de 30.000 cabeças de gado foram transportadas para lá do Apa, somente de uma parte do território invadido, onde se acham alguns infelizes prisioneiros que estão em comunicação conosco. (...)


Acabo de receber notícias as mais agradáveis do rio Negro, distante vinte léguas daqui, onde as forças acamparam.



FONTE: Taunay, Mensário do Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1943. Página 164





4 de junho


1925Coluna Prestes às portas de Campo Grande

Juarez Távora




Após atrair as forças legais que guarneciam a estrada de ferro Noroeste para Rio Pardo, cuja estação Siqueira Campos tomara e destruíra no último 31 de maio, a Coluna Prestes, vindo da fronteira, sem maiores problemas, alcança a vila de Jaraguari, a apenas oito léguas de Campo Grande.

Juarez Távora, em seu livro de memórias, lembra o episódio:

"A 4 de junho, a Divisão ocupou a vila de Jaraguari, situada a 8 léguas a nordeste da cidade de Campo Grande, e onde estacionou durante vinte e quatro horas. Durante o pernoite nessa vila, cerca de 100 praças - inclusive elementos da própria guarda - embriagaram-se, praticando tropelias e depredações deploráveis, que não puderam ser evitadas em tempo, pelos chefes responsáveis. O principal responsável por essa indisciplina furtou-se ao merecido castigo, desertando, em companhia de outros, durante a madrugada do dia 5. O saldo pior das desordens praticadas foi o agravamento das relações entre elementos paulistas e gaúchos das duas Brigadas revolucionárias".¹

De Jaraguari os rebeldes deslocaram-se às cabeceiras do Camapuã, onde “estruturou-se de vez a organização revolucionária. Daí por diante, Siqueira sustentou vários combates parciais, na ponte de Capela, sobre o rio Sucuriu e nas cercanias da fazenda Dois Córregos, com tropas legalistas sob comando do major Klinger. Este, no primeiro momento, repeliu o ataque à Ponte de Capela, mas não conseguindo contato com a sua retaguarda, interceptada que fora pelo 4º Destacamento, de Djalma Dutra, tentou, com duas ou três investidas, romper, pelo norte, o cerco que o constrangia. Foi, porém, repelido pelas forças de Siqueira Campos, que então contra-atacaram, tomando-lhe parte do acampamento – situado na margem direita do arroio Dois Córregos – um fuzil metralhadora e certa quantidade de munição”.²


FONTE:  ¹Juarez Távora, Memórias , Biblioteca do Exército Editora, Rio, 1974, página 181.
²Glauco Carneiro, O revolucionário Siqueira Campos, Recor Editora, Rio de Janeiro, 1966. Página 374. 

3 de junho

3 de junho


1867Tropas da retirada da Laguna chegam a Nioaque


Homenagem a Taunay, em Nioaque
A força expedicionária brasileira, em retirada da fazenda Laguna, no norte do Paraguai, chega finalmente a Nioaque. O povoado havia sido abandonado dois dias antes pela defesa brasileira, receosa de um ataque inimigo e ocupada pela cavalaria paraguaia, que durante toda a marcha, vanguardeou os retirantes:

Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes. O grande galpão que outrora nos servira de armazém de mantimentos e ainda achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero esse tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas vistas.


Aqui e acolá jaziam muitos cadáveres, todos de brasileiros. Constatamos que muitos desses infelizes mortos haviam servido em nossas fileiras. Desertando por ocasião do exacerbamento de nossas misérias, e morrendo de fome pelas matas, haviam se apressado, embora correndo o perigo de serem reconhecidos, em tomar parte do saque.
Fora um deles, de pés e mãos amarrados, sangrado como um porco. Jazia outro, crivado de feridas, e uma velha estirada a seu lado, de goela aberta e seios decepados, nadava no próprio sangue.

Foi quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali, gozamos, enfim, um pouco de verdadeiro descanso. Dupla e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstâncias; sentia-se o comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para nos por fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por excelente estrada, de Nioac ao Aquidauana, onde éramos esperados. E para tal marcha tínhamos víveres sobejos.

FONTE: Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Melhoramentos, S. Paulo, 1942, página 134.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

2 de junho




2 de junho


1847 - Circula A Gazeta Cuiabana




Impresso na tipografia do governo, passa a circular em Cuiabá, o bi-semanário A Gazeta Cuiabana, órgão destinado a publicar atos oficiais e não oficiais. Na primeira página, em todas as edições trazia as seguintes informações:

Publica-se às quartas-feiras e sábados que não forem dias santos e de festas nacionais. O preço da assinatura é 6$000 rs. por ano, 3$200 por seis meses e 1$800 por trimestre, pagos adiantados, e os números avulsos vendem-se a 100 reis na casa da tipografia. Os anúncios a 100 reis por linha.

Sua apresentação ocupa toda a primeira página da edição n° 1:

"A administração do Exm. Sr. Doutor João Crispiniano Soares, que desde o dia 5 de abril último parece modelada para trazer tantos bens à Província de Mato Grosso, já pelo que respeita a sua não desconhecida ilustração, já porque os seus atos só respiram a religiosa observância da Constituição e das leis e o desejo incansável de concorrer no desempenho da Imperial confiança quanto em si couber para a prosperidade de uma província, que a imperícia das passadas solipsas administrações há tornado decadente, acaba de dar um passo que assaz demonstra não serem infrutíferas as esperanças que os cuiabanos nutrem de irem os melhoramentos da Província de Mato Grosso em progresso, tanto quanto permitem suas tristes circunstâncias peculiares, com a publicação da Gazeta Cuiabana, que tendo por fim o dar publicidade aos atos do Governo de Sua Magestade o Imperador tendentes à Província, da respectiva Presidência, Assembleia Legislativa e mais autoridades secundárias, conseguirá sem dúvida o instruir a todos daquilo que a todos interessa.

Não temos para tanto a obrigação de mexer-nos com ninguém na arena política, porque não só falta-nos para isso a necessária aptidão, como também por ser-nos inibidos pela leis orgânicas do estabelecimento tipográfico da Província o tratar em seu jornalismo de semelhante objeto. Temos pois de nos contentar em satisfazer somente aos leitores com a publicação de algumas boas ideias acerca da literatura, história, moral, religião, ciências, artes e indústria, que nos forem transmitidas por pessoas inteligentes ou que depararmos nos autores clássicos, e mesmo em outros jornais, além das notícias relativas aos melhoramentos e tranquilidade pública da Corte e mais províncias do Império. Se isto não for suficiente para preencher a expectação pública sempre ávida de grandes coisas, seja-nos permitido dizer que aguardem por elas, depois de havermos trabalhado para obtê-las, pois grandes resultados são só consequências de grandes esforços e sacrifícios, e que melhor é satisfazermos com o pouco, que ficarmos com coisa nenhuma, desejando-se somente o muito.

Do Redator".


FONTE: jornal A Gazeta Cuiabana, 2 de junho de 1847.


2 de junho


1867 – Retirada da Laguna: tropas chegam ao Canindé





Após a sofrida travessia do Rio Miranda, completada no dia anterior e que durou três dias, a coluna brasileira que se retira da Laguna, chega a Canindé, a três léguas de Nioaque:

Esta marcha forçada efetuou-se maravilhosamente, apesar da chuva copiosíssima que caiu durante todo o trajeto, levando então cada corpo os seus doentes. No Canindé achei sinais da passagem dos paraguaios. Carros queimados existiam no caminho, estando o chão coberto de farinha e arroz.
A soldadesca comeu, enfim, apanhando tudo que foi encontrando, depois de 22 dias de cruel fome, durante os quais a ração de simples carne era tão diminuta, que repartiam-se 4 a 8 reses em lugar das 21, que habitualmente iam para o corte.




FONTE: Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Melhoramentos, SP, 1942, página 182.

FOTO: cena da retirada da Laguna. Meramente ilustrativa.


1º de junho


1º de junho



1860 – Branco doa terra a índio em Paranaíba

Retrato atribuído a José Garcia Leal


Ironicamente, o chefe político de Paranaíba, José Garcia Leal, doa aos Caiapós, antigos senhores absolutos de toda a região, que chegou a chamar-se Caiapônia, um pedaço de terra de sua propriedade:

Entre nós abaixo assinados eu José Garcia Leal e minha mulher dona Maria Umbelina Leal, possuindo livre e desembaraçada uma sorte de terras nas margens do rio Paranaíba no distrito desta vila, na barra do ribeirão denominado Barreiro a qual houvemos por compra como consta dos títulos que delas temos, muito de nossas livres vontades e sem constrangimento de pessoa alguma cedemos delas e fazemos doação aos índios Caiapós que se acham morando nas mesmas por nosso consentimento há mais de vinte anos, as quais terras se compõem de campos e matas e têm sua divisa de aldeia para cima pela parte do poente divisando com a fazenda da Arara meia légua pela parte do Nascente, um quarto divisando com as terras do Porto, e pela parte do Sul pelo espigão da lagoa e pelo Norte meia légua e poderão os ditos índios e seus descendentes possuírem as ditas terras sem que nem nós e nem nossos herdeiros possamos em tempo algum revogar a presente doação, e pedimos às justiças de Sua Majestade Imperial dêem a este todo o inteiro vigor como se fora escritura pública, e para seu titular (?) e firmeza de tudo mandamos passar a presente em que nós assinamos. Fazenda da Serra primeiro de junho de mil oitocentos sessenta. Declaramos ainda que a parte de terras é da quantia de quatrocentos mil réis dia hera ut supra. José Garcia Leal. A rogo Dona Maria Umbelina Leal – Joaquim digo José Joaquim de Lacerda Cintra. Testemunha João Victoriano de Melo Zeferino. Martins Marques. Coletoria-Geral de Santana do Paranaíba mil oitocentos e sessenta. Réis oito mil. Os índios Caiapós pagarão de novos e velhos direitos a quantia de oito mil réis pela doação do presente título.




FONTE: Hildebrando Campestrini, Santana de Paranaíba de 1700 a 2002, 2a. edição, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2002, página 127.




1° de junho


1867 – Retirantes da Laguna completam a travessia do Miranda


Os três dias anteriores foram todos empregados na passagem do rio que, segundo parte do major comandante José Tomás Gonçalves, “conservou-se sempre cheio, dando apenas péssimo e perigoso vau. Com dificuldade passaram as nossas 4 peças e armões, havendo sido queimados os carros manchegos, forja e galera, para dar carne às praças como haviam decidido os comandantes de corpos em reunião...(...) Esforcei-me em trazer as quatro bocas de fogo e consegui-o com grande satisfação. Assim pois, no dia 1º de junho achavam-se as forças do lado direito do rio Miranda, com 9 léguas diante de si em boa estrada para chegarem a Nioac. Os paraguaios haviam efetuado a passagem antes de nós e já se achavam em nossa frente”.

FONTE: Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Mehoramentos, São Paulo, 1942, página 182.


1° de junho


1893 - Desenterrado tesouro entre Campo Grande e Nioaque



  


Sob o título "Goyaz e Matto Grosso", a Gazeta de Notícias (RJ) publica notícia de um viajante goiano que encontrou e desenterrou um tesouro, contendo duas arcas, na estrada entre Campo Grande e Nioaque. O detalhe é que o sortudo ainda colocou-se à disposição de eventual dono do tesouro para possível resgate do mesmo:


"De viagem pela estrada que conduz de Campo Grande a Nioaque, distante sete léguas do primeiro povoado, o cidadão José Carvalho de Azevedo encontrou uma pedra lavrada por três faces e fincada, notando que aquela pedra só podia ter ali ido parar conduzida por alguém e que devia assinalar alguma coisa, resolveu aí ficar e cavar o lugar, e de fato, depois de uma cova de mais de oito palmos, encontrou um e depois outro caixão contendo valores em ouro, bem como ouro em pó. Por esta estrada passou a força para o Paraguai, havendo aí um grande fogo.

Se alguém se julgar com direito ao achado e dando os sinais certos se lhe indicará, dirigindo-se ao capitão José Carvalho de Azevedo - cidade de Rio Verde, Estado de Goiás".

FONTE: Gazeta de Notícias (RJ) em 1° de junho de 1893.


1905 – Iniciada linha telegráfica para Bela Vista




Depois da inauguração da estação de Porto Murtinho, a 24 de maio, Rondon inicia a extensão da linha desta vila para Bela Vista. Os trabalhos demoraram exatamente 30 dias. O próprio Rondon dá detalhes dessa obra:

A temperatura caiu terrivelmente, descendo o termômetro abaixo de zero, sem que frio tão rigoroso constituísse obstáculo. A 15 passamos para Guavirá, onde matei uma onça parda. Em cada um dos pontos onde nos detínhamos, caçava eu três ou quatro onças, a ponto de já ter perdido a conta.


(...) Não foi possível traçar um só alinhamento ligando dois pontos, porque extenso e formidável brejo se lhes interpunha. Foi necessário projetar diversos alinhamentos, a fim de contornar as cabeceiras do brejão, entre os córregos de Guavirá e Derrota.


A linha chegou à Bela Vista em 30 de junho. Estava terminada a missão Rondon no Sul de Mato Grosso, relativa à extensão de rede telegráfica:


Coroamos, assim, nossos trabalhos no sul do Estado com um golpe de ação, construindo essa linha em um mês, com 100 praças apenas – 61 quilômetros e 590 metros de linha assentada de Bela Vista até Margarida.


FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 193.




1° de junho

1911 – Bento Xavier invade fronteira


Bento Xavier, primeiro à esquerda, na revolução federalista do Rio Grande do Sul

Continuando sua campanha contra o governo do Estado, iniciada em 1907, o fazendeiro gaúcho Bento Xavier, que se encontrava exilado no Paraguai, retorna ao Brasil, com um forte grupo armado e inicia sua “guerra” com o major Gomes, comandante de polícia em Bela Vista, que relata a investida rebelde e delata a cumplicidade do comandante da guarnição do Exército naquela cidade fronteiriça com o chefe revolucionário:

Relatório - Ao Exmº Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques. D. D. Presidente do Estado de Mato Grosso - 1911.


Cumpre-me levar ao conhecimento de V. Exª os fatos ocorridos com a praça policial e civis sob meu comando durante o último Movimento Revolucionário havido no Sul do Estado. A 1º de junho do corrente ano, pela manhã, tive conhecimento de que Bento Xavier da Silva, seus filhos, irmãos e adeptos indivíduos estes processados, inimigos do Governo, das autoridades e povo, invadiram nossas fronteiras, por duas partes com grupos armados, vindos do Paraguai, arrebanhando cavalos, recrutando gente e cortando fio telegráfico. Neste mesmo dia, um grupo de gente armada, comandado pelo próprio Bento Xavier, atacou a vivo fogo as imediações da fazenda denominada “Vaquilha”, uma escolta de seis praças e um civil que se dirigiam para a serra a fim de efetuar a captura dos criminosos Ananias Mello e seus companheiros; resultando desse ataque a morte do civil Reginaldo de Mattos e extravio das praças que, milagrosamente, se escaparam. Em seguida, Bento Xavier e seus sequazes dirigiram-se à Fazenda do Sr. Afonso Loureiro e aí praticaram as maiores depredações, procurando aprisionar o dono da fazenda, que conseguiu fugir à sanha daqueles vândalos. Ainda nesse dia, procurando fazer a defesa dos interesses do passo violado, congreguei elementos, convidando amigos, comprando alguns cavalos e outros petrechos indispensáveis para a organização da força, visto nessa ocasião só existirem em quartel 28 praças de polícia, tendo então me dirigido ao Sr. Cap. Antero Aprígio Gualberto de Mattos, comandante interino do Regimento de Cavalaria a fim de solicitar recursos de armamento e munição, visto não haver suficiente na polícia para armar o pessoal voluntário que se me apresentou. Qual não foi a minha surpresa quando eu soube que o dito Capitão Antero se achava no território paraguaio em conferência com o criminoso militar José Vicente Pereira Netto, pessoa que tinha delegações de Bento Xavier para entrar em arreglos com o já referido Cap. Antero de Mattos, comandante do 3º Regimento. Nada mais esperando desta autoridade, que levada por baixos sentimentos políticos, deixava de cumprir com seus deveres de comandante de guarnição e fronteira, para ir confabular com uma horda de salteadores, que todos os anos invadem, a nossa fronteira com proteção das autoridades anarquizadas do Paraguai. Limitado aos meus únicos recursos e dos amigos, comprei algumas armas, munições de guerra, etc.


Outro confronto entre a força de Bento Xavier e as tropas policiais do major Gomes dar-se-ia a 11 de junho.

Uma das bandeiras de Bento Xavier era a divisão de Mato Grosso.

FONTE: Major Gomes, Relatório do Governo do Estado de Mato Grosso, 11-09-1911.
FOTO: acervo Museu Dom Diogo de Souza, Bagé, RS.



1º de junho

1912 - Nasce em Nioaque, Hélio Serejo, o menestrel dos ervais


                                                                                             FUNDAÇÃO DE CULTURA/MS

                           Hélio Serejo, à direita


Nasce em Nioaque, Hélio Serejo. Viveu a infância, a juventude e maioridade na fronteira, mais precisamente em Ponta Porã, onde produziu a maior parte de sua
obra. Escritor, cronista, contista, memoralista e poeta, publicou ao longo de sua carreira cerca de 60 livros. Pertenceu a várias entidades, entre outras, ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, a Academia Matogrossense de Letras e a Academia Sul-Matogrossense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 30.

Para Geraldo Ramon Ferreira, seu confrade na ASL, Serejo, "construiu a sua consistente obra literária nas sendas da fronteira guarani, nas lides ervateiras da região, nas paragens nativas no Sul do então Mato Grosso, num ambiente de mestiçagem assim descrita pelo historiador Lenine Póvoas:

Indios, donos da terra, falando guarani; povos de origem espanhola; gaúchos fugidos das lutas de chimangos e maragatos, elementos que desciam da baixada cuiabana; mineiros que se alongavam à procura de campos para criar; todos se amalgamaram, misturando seu sangue, seus costumes, seus idiomas, suas tradições, seu folclore, sua música, daí resultando uma civilização fronteiriça de características inconfundíveis.

Sua obra completa em 11 volumes, foi republicada em 2008 pelo Instituto Histórico de Mato Grosso do Sul.

Por muitos anos residiu em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, mudando-se para Campo Grande, em 2005, onde faleceu em 8 de outubro de 2007.

A ponte rodoviária da BR-267, que liga o Porto XV de Novembro (MS) e Santo Anastácio (SP) tem o seu nome.


FONTE: Geraldo Ramon Pereira, (artigo), Correio do Estado, 26/06/2022.




1° de junho


1951 - Prefeito de Coxim é assassinado em Campo Grande







Às 22 horas é assassinado no Hotel Estação, em Campo Grande, Manoel Lino D'Ávila, o Manoel Mariano, prefeito de Coxim (UDN). Em sua edição de 3 de junho, o jornal O Estado de Mato Grosso, de Cuiabá, sob o título Assassinado em Campo Grande o prefeito de Coxim, a seguinte notícia:

Circulou ontem à noite pela cidade a notícia procedente de Campo Grande, que divulgamos em primeira mão, de haver sido assassinado naquela cidade, o prefeito de Coxim, sr. Manoel Lino d'Ávila, mais conhecido por Manoel Mariano, com 12 tiros e nove facadas.

Não se conhece maiores detalhes sobre a dolorosa tragédia em que tombou sem vida o prefeito de Coxim, Manoel Lino d'Ávila, da UDN, cidadão respeitável e que gozava do melhor conceito na sociedade coxinense.

No próximo número daremos circunstanciado relato da tragédia

Tido a princípio como crime político, chegando a causar animosidade entre moradores do distrito de Rio Verde, onde residia a vítima, e de Coxim, descobriu-se tratar-se de latrocínio. Epaminondas Gomes de Arruda, que na época do homicídio servia o exército em Campo Grande, entrevistado anos depois pelo jornal "Correio do Povo", de Coxim, esclareceu o episódio:

Seis meses após sua posse, Mané Mariano foi a Campo Grande para receber o dinheiro de uma boiada. Lá ele tinha uma amante e esta um filho.

O filho da prostituta encontrou o prefeito e lhe pediu dinheiro emprestado. Mané Mariano respondeu-lhe que no momento não tinha. Depois disso Mané foi ao frigorífico para o acerto final, retornando ao hotel em que se hospedara. Ao chegar foi recepcionado pelo rapaz, com uma faca na mão.

O rapaz sangrou Mané Mariano e foi para a rua Aquidauana, onde escondeu a faca e em seguida foi encontrar sua amante, na rua 7, passando a pagar uma rodada de cerveja para as moças da casa.

A PRI-7, a todo o momento, noticiava o crime.

O prefeito tinha um sobrinho que era 3° sargento do exército; servíamos na mesma companhia. Ele respondia pelo comando da guarnição naquele dia. Pedi-lhe algumas horas de licença, gentilmente concedida. Eu também tinha uma namorada polaca na rua 7. Tinha recebido o pagamento e fui visitá-la encontrando a rodada. Peguei a polaca, pedi uma cerveja e sentamo-nos na mesa ao lado.

O rapaz estava no banheiro e quando chegou esbravejou e gritou passando a agredir-me. Foi quando tirei um cabo de aço que carregava na cintura e dei-lhe uma surra desarmando-o.

Em seguida baicou a cavalaria e tive que fugir. Em casa passei a observar o revólver; era um Smith & Wesson 32, dos pequenos. Logo concluí que o malandro não tinha condições de ter uma arma igual aquela. Fui bater na delegacia onde narrei o acontecido. Em seguida o delegado determinou a três policiais que me acompanhassem para trazer o rapaz à delegacia. Prendemos Mário Silvestre, e, ao retornarmos à delegacia, o delegado nos comunicou que o o revólver era produto de roubo.

O rapaz, recolhidos à cela "paraíso dos inocentes", confessou o crime, entregando o relógio, a guaiaca e o restante do dinheiro roubado.

Mário Silvestre dos Santos era o nome do assassino.

Latrocínio foi a tipificação criminal.




FONTE: João Ferreira Neto, Raízes de Coxim, Editora UFMS, Campo Grande, 2004, página 192. 

FOTO:
 gentilmente cedida por familiares da vítima.




1° de junho

1959 - Grupo separatista do Sul do Estado publica manifesto



Lançado no início do ano em Campo Grande, o grupo intitulado Movimento Divisionista de Mato Grosso (MDM) lança manifesto à população. O documento tem os seguintes signatários: Anísio de Barros, Nelson Benedito Neto, Cícero de Castro Faria, Adauto Ferreira, Diomedes Rosa França, José Fragelli, Salviano Mendes Fontoura, Paulo Jorge Simões Correa, Oclécio Barbosa Martins, Diomedes Rosa Pires, Eduardo Machado Metelo, Martinho Marques, Carlos de Sousa Medeiros, Nestor Muzzi, Nelson Mendes Fontoura, Lício Proença Borralho e Nelson Borges de Barros.

Essa campanha, sob o lema "Dividir para multiplicar" e simbolizada por uma tesoura cortando o mapa de Mato Grosso, teve existência efêmera, como explica a historiadora:

"O Manifesto foi propagandeado no final da década, ocasião em que Jânio Quadros, um matogrossense de nascimento, foi candidato a presidente da República. Esperando obter a sua concordância quando ele se hospedou em uma chácara em Campo Grande, pouco antes da campanha eleitoral, uma comissão de separatistas o procurou, mas assim que tomou conhecimento do símbolo do movimento, uma tesoura que cortava o mapa de Mato Grosso em duas partes, teria dito: 'Esta tesoura corta o meu coração'. Suas palavras foram água na fervura".


FONTE: Marisa Bittar, Mato Grosso do Sul, a construção de um Estado, Editora UFMS, Campo Grande, 209, página 289. 

  

31 de maio

31 de maio


1925 Siqueira Campos combate em Rio Pardo

http://www.estacoesferroviarias.com.br/ms_nob/fotos/ribas22.jpg
Estação de Ribas do Rio Pardo em 1922



Estacionado desde o dia anterior na ponte da ferrovia, nas proximidades da vila de Ribas do Rio Pardo, o destacamento da Coluna Prestes, sob o comando de Siqueira Campos, faz “um reconhecimento ofensivo sobre a estação de Rio Pardo, conseguindo ocupá-la depois de cerrado tiroteio, destruindo-a então. Era uma demonstração de força que visava a atrair para aquele ponto todas as forças governistas que guarneciam o eixo da Noroeste. A manobra deu resultado,conseguindo toda a divisão, sem maiores problemas, alcançar a vila de Jaraguari, a 4 de junho, a apenas oito léguas de Campo Grande".¹

Otávio Gonçalves Gomes, em sua infância, testemunhou a invasão de Rio Pardo, descrita em seu livro "Onde cantam as seriemas":

A noite decorreu sem novidade, mas sob intensa atividade militar. Quando o dia vinha clareando, disse meu pai : - Não vieram até agora, não vêm mais. Dessa nós estamos livres.

Foi a conta. No mesmo instante começou o tiroteio. Os revoltosos atacaram pelo triângulo, onde viravam as locomotivas, e era o lenheiro, na esplanada da estação da Noroeste do Brasil.

Abriram duas alas tentando cercar a estação que era o ponto vital de comunicações.

Ao contornar a Olaria dos Gomes, esbarraram com um brejo que não dava passagem.

Os mineiros, destemidos defensores da vila, se haviam entrincheirado por trás do lenheiro, e cerraram fogo nos revoltosos.

Contam que um preto, muito forte e destemido, avançou até poucos metros da trincheira com um revólver na mão e com a mala na outra e gritava: - Abram a porteira que lá vai o Touro.

Nesse instante, a única metralhadora existente engasgou... e o Touro avançou... foi morrer nas barbas dos valentes mineiros que não arredaram pé.

A salvação da vila foi um rapazinho, jovem franzino, mas calmo e valente. Entrincheirou-se atrás do forno da casa do Zé Domingos e de costas para a estação, mas guarnecendo a retaguarda, foi matando os atacantes que conseguiam com muita dificuldade passar o brejo, as cercas de arame e surgiam por trás.

O mineirinho foi derrubando os atacantes que surgiam aos poucos, um a um.

O ataque foi furioso, mas a resistência, tenaz. Os revoltosos, numerosos não esperavam por isso. Eles costumavam atacar de surpresa, roubavam, destruíam e desapareciam. Nunca persistiam quando encontravam resistência.

No aceso da luta, meus tios mais afoitos tentavam abrir uma fresta na janela do sobrado para ver os revoltosos que estavam atirando do alto, junto da igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Cada vez que alguém tentava abrir um vãozinho da janela, as balas zuniam, batiam nas paredes, zumbiam na aroeira dos esteios do sobrado, ricocheteando no ar.

Eles estavam atentos ao ponto estratégico que era o sobrado, que, por sinal a tropa não soube aproveitar.

No meio dessa confusão toda, sempre havia um menino bisbilhotando e querendo ver o que estava ocorrendo. Quantas vezes foi preciso o meu pai nos ameaçar de bater, porque estávamos querendo ver, e as balas andavam zumbindo por toda parte.

Foi assim que transcorreu o primeiro combate a bala a que assisti em minha vida.

Não tendo noção do perigo, aquilo para mim foi mais uma divertida brincadeira de bang bang.² 



FONTE: ¹Glauco Carneiro, O revolucionário Siqueira Campos, Record Editora, Rio, 1966, página 374. ²Otávio Gonçalves Gomes, Onde cantam as seriemas, (2ª edição), edição do autor, Campo Grande, 1988, página 83.

30 de maio

30 de maio


1834A Rusga explode em violência


Movimento nativista, hostil aos portugueses, também chamados adotivos, surgido com a abdicação de D. Pedro I, atinge o seu ponto máximo de ebulição em Cuiabá e várias cidades do Estado:

Pelas ruas até então silenciosas de Cuiabá, propaga-se a anarquia desenfreada, em berreiro macabramente capadoçal, a que se misturavam o sinal de alarma, o estrondo de portas e janelas, que se arrombam a golpes de alavancas e coices de armas, o hino da desordem, os tiros e as deprecações das vítimas.
Rapidamente se espalhou a notícia dos primeiros assassínios e danos materiais causados aos inimigos.


A nevrose arruaceira cedo atingiu ao paroxismo, ganhando alento nas lojas entregues ao saque onde se embebedava a soldadesca viciada.
O atentado inicial contra os adotivos, degenerava em desordem mais grave, a cujos golpes não se forravam os maiores personagens de Cuiabá
¹.


Jornal do Rio de Janeiro da detalhes do episódio, no seguinte editorial:

Perseguir a tirania portuguesa é unânime opinião brasileira, e com tais fins se erigiu nesta cidade do Cuiabá uma Sociedade, cujo timbre, já malicioso é - Zelosa da Independência do Cuiabá! - A ela se uniram honrados e incautos cidadãos;porém dirigindo seus trabalhos sedentes monstros de figura humana em secretas sessões traçaram os negredados planos que postos em prática enlutaram esta infeliz cidade. No dia 30 de maio pp. reunidos no Campo do Ourique os chefes e satélites de tão infernal associação, a título de guardas nacionais, combinados com Sebastião Rodrigues da Costa então no quartel da cidade, retiveram neste até as 10 horas da noite a patrulha que de ordem do juiz de paz devia rondar a cidade; a essa hora vendo esses celerados que seus planos não podiam falhar, fazem tocar a rebate, a saque e a degola: aterrado o povo com tais toques, e com o horror da noite, buscava um centro para unir-se e não o achava, pois infelizmente o governo estava inteiramente coacto, e pérfidos conselhos chefes da anarquia, ladeavam o vice-presidente João Poupino Caldas, que cheio de amargura viu praticar essa horda de bárbaros as maiores atrocidades espezinhando a Constituição e os mais sagrados e invioláveis direitos que unem os brasileiros em associação civil. Soltam-se os facinorosos presos das cadeias e com eles as horrorosas vozes de morte aos adotivos, cujas casas são arrombadas e barbaramente assassinados quantos são encontrados, no seio de suas pacíficas famílias, e só se ouviam por todos os lados da cidade dispersos tiros e horrorosa carnificina. Debalde procurou o vice-presidente unido ao Ex. Bispo, acomodar os faciosos, porque estes longe de atenderem a estas respeitáveis autoridades, as insultaram e tudo se julgou então perdido. Foram assassinados nesta noite três adotivos e no seguinte dia um brasileiro nato, aos quais ainda vivos lhes foram cortadas as orelhas e partes genitais, atravessados os ouvidos com baionetas e lançado fogo sobre seus agonizantes cadáveres, que arrastaram à rua; tais martírios sofreu o capitão João Cardoso de Carvalho, que depois se confessou a pode ainda despedir-se de sua infeliz mulher e inocentes filhos, sendo a sua casa assim como de todos os adotivos sujeitas ao mais terrível saque e reduzidas suas tristes famílias à mais apurada indigência. Senhores das armas e do quartel esses tiranos faziam sair escoltas à custa dos dinheiros nacionais atrás do miseráveis que fugiam e dos que sendo lavradores moravam em suas fazendas, onde além de sacrificarem a seus brutais apetites as desgraçadas esposas e filhas à vista de seus maridos e pais, que assim desonrados receberam por fim crudelíssima morte e suas orelhas eram conduzidas ao quartel onde se recebiam em grande aplauso, chegando a tal excesso a ferocidade desses bárbaros que assavam e comiam essas orelhas, mofando assim dos homens e zombando da justiça divina. Ainda aqui não param as barbaridades, obrigam as viúvas desses mártires e enramarem a frente de suas saqueadas casas, e iluminarem suas portas de janelas, em sinal de aplauso de sua indigente viuvez e priva-se-lhe o luto, e para cúmulo de horror até lhes é vedado a dar sepultura aos tristes restos de seus inocentes e desditosos esposos; a pena recusa escrever tantos horrores e o coração se oprime de aflitiva dor; porém é necessário arrematar este fúnebre mas verdadeiro quadro. Ao tenente coronel José Antonio de Lima e Abreu que fugia e foi alcançado por uma das escoltas depois de sofrer afrontosa morte pois foi sangrado como um porco, abrem-lhe a barriga e tiram as banhas com que untou o famigerado Euzébio Luiz de Brito o lombo de seu cavalo para matar o piolho. Oh! monstro fúria do inferno; nada temem esses esfaimados tigres; porém aqui não para ainda a perversidade destas feras, que arrogando a si o poder de matar e perdoar dão perdões a infelizes septuagenários a peso de ouro. Chegou enfim o momento de tocar o maior dos crimes dos canibais; chegou enfim! o sangue se gela oh! perversidade! Oh! Crime dos crimes; foram todos estes horrendos atentados praticados em o Sagrado Nome da Exma. Regência que em nome do Nosso Amado e Inocente Imperador, feliz e sabiamente nos rege: foi assim que esses antropófagos profanaram os mais caros penhores da nação brasileira; sua punição pois deverá servir de exemplo ao mundo inteiro. Tocados ligeiramente os acontecimentos até a época em que o honrado vice-presidente coronel João Poupino Caldas se apoderou das armas e do quartel, só resta dizer que a não ser a resolução deste ilustre patriota, não tomaria posse o exmo. presidente e as cenas de horror e barbaridades continuariam até hoje, que graças a Divina Providência e as sábias e enérgicas medidas que se tem tomado, gozamos felizmente de alguma tranquilidade, e esta de todo se restabelecerá se a exma. regência lançar sobre esta infeliz província olhos de sublime piedade.²

Em 1867, Taunay conheceu em Miranda, Alexandre Manuel de Souza, o Patová, que dirigira “a 30 de maio de 1834, em Miranda, a célebre matança dos portugueses, pelo que fora constrangido a fugir para os lados de Camapuã e Corredor (no sertão entre aquele ponto e Santana do Paranaíba) e lá ficou 30 anos homiziado”.³

FONTE: ¹ Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, XXIV. Página 14; ²Jornal O defensor da legalidade (RJ) 23 de janeiro de 1835,  ³Taunay, Em Mato Grosso invadido, Edições Melhoramentos, SP, sd. Página 34.

FOTO: Poupino Caldas, no governo na noite da Rusga.






30 de maio


1851Nasce José Alves Ribeiro



Nasce em Miranda, José Alves Ribeiro. Passou a infância na fazenda Taboco. Iniciou seus estudos e Cuiabá, transferindo-se em seguida para o Rio de Janeiro. A guerra do Paraguai prende-lhe no litoral, de onde volta ao Taboco já no final do conflito, retomando suas atividades na velha fazenda. Tornou-se líder político, rivalizando com outros chefes regionais, entre eles Jango Mascarenhas e Bento Xavier.¹ Chegou a deputado estadual na legislatura de 1903 a 1905.²

O coronel Jejé, como ficou conhecido, era pai do coronel Joselito, outro importante chefe político da região Sudoeste do Estado. Morreu a 1º de setembro de 1927.



FONTES: ¹Renato Alves Ribeiro, Taboco, 150 anos, balaio de recordações, edição do autor, 1984. Página 63; ²Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembléia Legislativo, Cuiabá, 1967. Página 82.

FOTO: acervo de Paulo Coelho Machado.


30 de maio

1870 - Jornal defende mudança da capital de Mato Grosso para Corumbá

O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, um dos mais influentes jornais do país, através de seu representante em Buenos Aires (Argentina), defende a mudança da capital da provincia de Mato Grosso para Cuiabá, sob a seguinte justificação:

"Em uma das anteriores já chamei a atenção do Império para este assunto, aconselhando até que se faça a mudança da capital de nossa província de Mato Grosso para Corumbá, que pode ser um empório para atrair o comércio da Bolívia para Santo Corazão. A ideia desse novo ferro-carril argentino, para o qual há muito boas razões, porque será muito menos dispendioso do que o que se empreende de Corbova a Tucuman em comunicação fácil com Buenos Aires, chamaria inevitavelmente para esta república o comércio da Bolívia.

Eu portanto insisto hoje na ideia que já anteriormente insisti, a respeito da mudança da capital de Mato Grosso para Corumbá, e da fundação de um arsenal de Marinha brasileira naquele ponto. Essa ideia tem grande alcance atualmente. Muitos de nossos depósitos em Assunção podem ser podem ser transportados para Corumbá com mais facilidade que para o Rio de Janeiro. Nossas forças seriam acompanhadas desse comércio ambulante que os habituou a acompanhar o exército do Brasil e a ganhar-lhe as libras. Fora uma colonização para Mato Grosso, sem despesa nenhuma e suavemente feita. Estabelecida depois nesse ponto a correnteza do comércio da Bolívia, que infelizmente não tem senão um péssimo porto no oceano Pacífico, e faz o transporte de seus produtos para a nossa cidade de Vila Maria, estabelecia, digo, essa correnteza comercial, melhoradas as estrada de Santo Corazão e assentados os meios de transporte, dificilmente procurariam depois os bolivianos outro caminho para venda de seus produtos e para compra das mercadorias estrangeiras. Então não os animaria a república Argentina a empreender, com a mira nesse comércio, nem a navegação do rio Bermejo, nem a tal estrada de ferro, cujo plano me foi revelado outro dia, como disse".

FONTE: Jornal do Comércio (RJ), 30 de maio de 1870.




30 de maio

1913 - Morre prefeito de Dourados

Faleceu em Ponta Porã, onde estava licenciado do cargo, por problemas de saúde, o primeiro prefeito eleito de Dourados, Álvaro Brandão. Nascido em 8 de julho de 1880, em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, era filho de Bernardo Barbosa Pinto Brandão e Andrelina Brandão. No Sul de Mato Grosso, trabalhou na Companhia Mat Larangeira. Residiu primeiro em Ponta Porã, onde exerceu várias atividades sociais e profissionais. Em 1920 exerceu as funções de delegado de polícia e coletor estadual.

Em Dourados, estabeleceu-se como comerciante, com uma loja na avenida Marcelino Pires, esquina com a avenida Presidente Vargas. Com o fional do mandato do primeiro prefeito nomeado do município, João Vicente Ferreira, entrou na política local e venceu o primeira eleição direta para prefeito do novo município, pelo Partido Evolucionista, cujo líder estadual era Vespasiano Barbosa Martins. Na prefeitura, foi substituído  por Frankiln Azambuja e Jaime Moreira e Souza.

FONTE: Rozemar Matos Souza, Dourados seus pioneiros, sua História, Centro Cívico, Histórico e Cultural 20 de Dezembro, Dourados, 2003, página 96.


30 de maio


1925Coluna Prestes no rio Pardo



Depois do célebre combate do Apa, no dia 14 de maio, os destacamentos de João Alberto e Siqueira Campos romperam o contato e “alcançaram Amambaí, infletindo então para Nordeste, em direção a Vacaria, onde deveriam reunir-se com o restante dos revolucionários. Fazendo a partir daí a vanguarda da Divisão, Siqueira Campos (foto) transpôs os rios Anhanduí, Anhanduizinho, Lontra e São Felix, alcançando ao anoitecer de 30 de maio de 1925, o ponto de Rio Pardo em que o mesmo é atravessado pela ferrovia Noroeste"¹.

No dia seguinte, 31 de maio, sob renhido combate com forças legalistas, Siqueira Campos toma e ocupa a estação ferroviária de Ribas do Rio Pardo.

Da passagem de Siqueira Campos pela fazenda São Pedro, na Vacaria, o ex-governador Wilson Barbosa Martins, então com oito anos, lembra o seguinte episódio:

Naquele final de tarde em que avistamos a tropa chegando à fazenda, conosco estava Godofredo Barbosa, o Tinô, primo mais velho que eu, curando-se de maleita. Em instantes, chegaram ao galpão os comandantes, outros oficiais e, a seguir, todo o regimento formado por centenas de cavalarianos. Informamos à chefia que o dono da fazenda, Henrique, se achava em viagem e que a sua senhora teria o prazer de recebê-los para café ou refresco.

Minha mãe os acolheu com serenidade e simpatia,dizendo-lhes que estava só com os filhos e pedia-lhes garantia. Ofereceu-lhes pequeno lanche e prontificou-se a preparar o jantar e a arrumar o quarto de hóspedes para que ali descansassem durante a noite.

Retornei ao contato da tropa e vi quando um dos soldados se apropriou do arreio de meu pai que se achava no galpão,levando-o para o lugar onde se alojara. Nada eu lhe disse, mas fui direto à procura de Siqueira Campos e narrei-lhe o fato. Siqueira me perguntou se eu sabia qual era o soldado e onde se encontrava, e eu lhe respondi que sim. Saímos os dois juntos e fomos ao local em que o mesmo se achava. Momentos passados, toda a tralha era devolvida a casa e, melhor ainda, guardas foram postos armados em cada canto do prédio, para vigiá-lo.

Com respeito ao comportamento dos rebeldes, Wilson depõe:

No que tocou a nós da fazenda São Pedro, a conduta dos comandantes revolucionários foi impecável. Foi com saudade de sua breve passagem que os vimos prosseguir na manhã seguinte para novos destinos.
"Sofremos apenas a perda de nossas vacas leiteiras, especialmente para nós meninos, a ausência da Laranjinha, mansa e boa de leite. O abate desses animais se destinou à alimentação dos homens que compunham o Regimento²

FONTE: ¹Glauco Carneiro, O revolucionário Siqueira Campos, Record Editora, Rio, 1966, página 374; ²Wilson Barbosa Martins, Memória Janela da História, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010, página 77.


30 de maio

1938 - Nasce Levy Dias,  último prefeito de Campo Grande antes da divisão




Filho de Filho de Virgílio Dias e Zila Cândido Dias, nasceu em Aquidauana, Levy Dias. Sargento do Exercito, em Campo Grande, concluiu o ensino médio. No período (1963-1966) foi presidente da UCE, União Campograndense de Estudantes, tendo construído a sede própria da entidade, na rua 25 de Dezembro. A obra que o levou à política, foi o estádio Pedro Pedrossian (o Morenão), a qual administrou. Advogado, ingressou na vida pública pelas mãos do governador Pedro Pedrossian. Em 1966 candidato a prefeito de Campo Grande por uma sub-legenda da Arena. Perdeu a eleição para o peemedebista Plínio Barbosa Martins. Em 1970 elege-se deputado estadual e, em 1972, chega à prefeitura de Campo Grande pela Arena, com decisivo apoio de Pedrossian.

Sua gestão deu prioridade à educação, com a construção de modernas unidades educacionais e a implantação do Projeto Salve, sigla de saúde, alimentação e vestimenta, que preocupou-se com a assistência sanitária, merenda escolar, uniforme e material escolar para o corpo discente das escolas públicas. Na infra-estrutura, construiu o mini-anel rodoviário e preparou a cidade para ser a capital do novo Estado.

Em 1978 elegeu-se deputado federal e em 1980, nomeado pelo governador Pedro Pedrossian, assume a prefeitura de Campo Grande pela segunda vez. Em 1982 reelege-se deputado federal, pelo PDS, com a maior votação do Estado. Em 1985 tenta voltar à prefeitura, mas perde para Juvêncio César da Fonseca, do PMDB. Em 1986, elege-se deputado federal constituinte. Em 1990 chega ao Senado, numa chapa com Pedrossian para governador.

Em 1994 tenta o governo do Estado e é derrotado por Wilson Barbosa Martins. Em 1996 volta a disputar a prefeitura de Campo Grande, mas não consegue chegar ao segundo turno.

FONTE: Câmara dos Deputados e Senado Federal.


OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

  22 de janeiro 1918 – Dom Aquino assume o governo do Estado Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, qu...