4 de agosto
1864 - Quilombos preocupam elite cuiabana
A proliferação de quilombos na região de Cuiabá preocupa fazendeiros e donos de escravos em Cuiabá. A manifestação é exposta no editorial de um dos jornais da capital da província:
"Não muitas léguas distantes desta capital, nas proximidades mesmo de algumas de nossas freguesias e vilas, mansa e pacificamente folgam milhares de escravos fugidos de cavolta, segundo dizem, com desertores e com não pequeno comércio com os índios.
É com efeito lamentável que quando a lavoura geme na deficiência de braços, quando o valor de um escravo sobe a dois contos de réis, estejam por tal modo inutilizados no seio das matas tantos braços e seus senhores privados dos serviços que lhes podiam eles prestar, serviços cuja utilidade reverte em benefício público, pois é inegável que a abundância dos produtos agrícolas, na razão direta das forças empregadas, muito contribui para o aumento das rendas.
Não é esse só o motivo do nosso reclamo.
O exemplo da impunidade povoa mais de dia em dia os tais quilombos e desfalca os proprietários rurais e urbanos de seus escravos.
Uma leve consideração sobre os constantes e multiplicados anúncios que pelos dois periódicos da província se têm feito sobre escravos fugidos, não deve ter escapado às nossas autoridades; e quando esses quilombos, além de grandes prejuízos que causam aos particulares e ao público, ameaçam também a tranquilidade e a segurança de vida dos habitantes das freguesias e vilas que ficam próximas, não podemos ser indiferentes a um brado em favor do aniquilamento deles.
O governo da província fará um serviço importante à causa pública se tentar e conseguir com os Snrs. e proprietários de escravos fugidos a extinção dos sobreditos quilombos.
A lavoura verá crescer as suas forças, o exército recuperará seus trânsfugas, as rendas se aumentarão, as fugas diminuirão, os habitantes de serra acima e abaixo mais tranquilos dormirão; os indígenas perderão parte de seu insolência e atrevimento e menos incômodos pesarão sobre a justiça.
Se o preceito do mestre Horácio tivesse sido adotado já em remotas eras, hoje não julgaríamos tão grave a cura do mal que nos aflige.
Não o foi, mais daqui não se infira que deva ficar o enfermo (o bem público) entregue ao abandono, a natureza muitas vezes zombando dos esforços humanos e das regras da medicina produz fenômenos admiráveis com uma reação inesperada; providencie-se a extinção dos quilombos; não se deixem dormindo os particulares que lá tem escravos, enquanto o governo trabalhar ajudem-no todos os fazendeiros e estamos convencidos que o mal não resistirá à cura".
FONTE: A Imprensa de Cuyabá, 4 de agosto de 1864.
4 de agosto
1889 – Nasce na Vacaria, Vespasiano Barbosa Martins
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Busto de Vespasiano em frente à catedral de Campo Grande |
Filho de Henrique Pires Martins e Marcelina Barbosa, nasce na Vacaria, Vespasiano Barbosa Martins. Neto de Inácio Barbosa Marques, o patriarca dos Barbosas no Sul de Mato Grosso, Vespasiano foi o mais ilustre descendentes dos pioneiros do Sul de Mato Grosso. Formado em medicina, dedicou-se à atividade política, iniciando como prefeito de Campo Grande. Em 1932 é nomeado interventor no Estado, por indicação do general Klinger, comandante da revolução constitucionalista de São Paulo, da qual o Sul de Mato Grosso foi o único aliado. Em 1934, coordenou o movimento divisionista, sendo o primeiro subscritor do abaixo-assinado separatista, encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Em 1935 é eleito pela Assembleia Legislativa senador da República, mandato interrompido pelo golpe do Estado novo que fechou o Congresso Nacional em 1937. Em 1945, por eleição direta, retorna ao Senado, onde encerra sua carreira política. Faleceu a 14 de janeiro de 1965, em Campo Grande.
FONTE: Ledir Marques Pedrosa, Origem, histórico e bravura dos Barbosas, edição da autora, Campo Grande, 1980, página 109.
4 de agosto
1941 - Presidente Getúlio Vargas visita Campo Grande
Em seu programa de viagem ao Estado, depois de estada em Corumbá e
agenda em Assunção com o governo paraguaio, o presidente Getúlio Vargas chega a
Campo Grande. O Jornal do Brasil (RJ), com notícias da Agência Nacional, deu
cobertura à visita do chefe da Nação à cidade morena, iniciando com o seu
desembarque no aeroporto militar da cidade:
Em Campo Grande, sede da 9a. Região Militar, chefiada pelo general Pinto
Guedes, encontram-se aquartelados o 18° batalhão de Caçadores, a 2a. Companhia
Independente de Transmissões e o 2° esquadrão de um Grupo de Dorso. O
Presidente Getúlio Vargas, à sua chegada, passou em revista aquelas unidades,
recebendo as continências de estilo. O interventor Júlio Müller e o general
Pinto Guedes receberam o chefe do governo, em companhia de outras autyoridades.
Do aeródromo rumou o presidente para a cidade, onde a população o aguardava
para homenageá-lo. As ruas estavam embandeiradas, e, ao passar o carro
presidencial, milhares de escolares formados lançaram flores sobre o mesmo,
durante todo o percurso, de sorte que, ao chegar em frente ao Quartel General o
presidente tinha o seu carro repleto de flores. Também formaram os
trabalhadores, tendo-se assim a impressão do civismo e da comunhão nacional em
que estão integradas aquelas populações. O povo, seguindo o carro em que
viajava o presidente, formou um grande cortejo até o Quartel General, onde se
iniciou o desfile. Surgiram primeiramente os trabalhadores, empunhando dísticos
sobre a legislação social brasileira. A lei das 8 horas, a sindicalização, de
férias, de aposentadorias e da justiça do trabalho e de todas as grandes
realizações que alcançamos no terreno social, eram apontadas como marcos da
obra nacionalista do governo do sr. Getúlio Vargas. Veio depois o desfile
escolar. Cinco mil crianças de todos os colégios, passaram diante da tribuna
presidencial, arrancando estripitosas palmas da assistência. De quando em vez
os alunos entregavam ramalhetes de flores ao presidente, que saudava os
estudantes, dirigindo-lhes algumas palavras de agradecimento e estímulo. Foi
este o maior desfile escolar já realizado em Mato Grosso.
Finalmente desfilam as forças militares, sob o comando do coronel Caiado de
Castro. Vem primeiro o batalhão de Caçadores,seguido da companhia de
Transmissões, grupo de Dorso e do 2° Esquadrão. Durante a parada ouviam-se
frequentes aclamações populares à figura do chefe do governo.
Deixando o palanque presidencial o sr. Getúlio Vargas recebe uma homenagem dos
escolares, que cerraram fileiras em torno do primeiro magistrado.
O Hino Nacional, cantado pelos escolares e pela massa popular, encerra as
manifestações de civismo tributadas ao presidente, oferecendo um espetáculo de
grandiosa emoção patriótica. Momentos após o presidente retira-se para repousar.
AGENDA - O
presidente Vargas cumpriu vasta agenda em Campo Grande: inauguração do
leprosário São Julião, inspeção às obras do ramal de Ponta Porã da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil e visita às guarnições militares da cidade.
A inauguração do São Julião ocorreu à tarde. O presidente "foi recebido
pelo sr. Ernani Agrícola, que o conduziu a visitar todos os departamentos a
visitar todos os departamentos do moderníssimo estabelecimento de cura. Ao
mesmo tempo explicava o sr. Ernani Agrícola ao presidente da República todos os
detalhes da construção e do aparelhamento. O Leprosário São Julião, construído
com todos os rigores da moderna ciência médica,fora dotado, pelo governo,com
200 leitos, amplos jardins e parques de repouso, laboratórios, salas de
clínicas, casas para doentes, etc.
A visita do presidente Getúlio Vargas foi demorada, permitindo não só fossem
examinadas meticulosamente todas as suas dependências e instalações como fossem
prestadas ao chefe do governo as informações mais completas. Ao chegar e ao
sair, horas depois, o presidente da República foi cumprimentado por numerosas
pessoas, que lhe agradeceram, ainda o haver proporcionado a Mato Grosso as
possibilidades para realizar obra de tão grande vulto e destinada a prestar os
mais assinalados serviços à população do Estado".
Na manhã seguinte, dando continuidade à sua programação em Campo Grande, o
presidente da República visitou as obras do ramal da estrada de ferro para
Ponta Porã:
Campo Grande 6, - O Presidente Getúlio Vargas excursionou na manhã de hoje
pelo ramal da estrada de ferro que ligará Campo Grande a Ponta Porã, ramal que,
como já acentuara aos jornalistas paraguaios, se destina, principalmente, a dar
ao Paraguai uma nova via de comunicação ferroviária. Esse ramal de grande
importância economica para esta região de Mato Grosso e para todo o território
paraguaio terá uma extensão de 320 quilômetros, dos quais 60 já estão
construídos e em tráfego. Mais noventa quilômetros estão já com os trilhos
assentados e cerca de 100 quilômetros com o terreno aplainado. Os demais
quilômetros já estão sendo atacados com o serviço preliminar de desbravamento.
A excursão do presidente Getúlio Vargas foi das mais interessantes possíveis. O
chefe do governo fez-se acompanhar do interventor Júlio Müller e demais
autoridades que aqui se incorporaram à sua comitiva. O trem presidencial
percorreu inicialmente, cerca de 15 quilômetros que vai de Campo Grande a Porto
Esperança. Na altura da estação Indubrasil tomou o ramal para Ponta Porã, que
aí tem início. Foi demorada a viagem. Ainda nos arredores da estação a linha
férrea como que circunda edifícios onde estão aquarteladas várias unidades do
Exército. O coronel Gustavo Cordeiro de Farias e o coronel Caiado Castro
explicaram então, ao chefe do governo, detalhes da construção desses edifícios e
da vida das unidades que os ocupam.
Mais adiante a linha férrea corta uma colônia japonesa onde se pratica a
horticultura racional. Depois uma colônia portuguesa que se dedica à pequena
indústria de madeira. O interventor Júlio Müller aproveita a todo momento a
oportunidade para informar ao chefe do governo sobre detalhes da vida de Mato
Grosso. À certa altura dá-lhe interessante informação. O trem presidencial
passava no momento em terras de um novo município matogrossense onde se
encontram magníficas fontes de águas termais. Já o dotara o governo de um
patronato agrícola, campos de trigo, uma rodovia moderna de 40 quilômetros. À
certa altura da viagem o trem para. Os engenheiros construtores cercam o
presidente Getúlio Vargas, e durante muito tempo, prestam-lhe as mais
detalhadas informações sobre a construção. Chega-se, enfim, ao termo da viagem.
É a estação "Bolicho Seco". O presidente da República caminha durante
muito tempo pelo leito ainda não definitivamente construído. Os engenheiros são
agora a sua comitiva e seus informantes.
Getúlio
Vargas encerrou sua estada a Campo Grande com uma visita às guarnições locais
do Exército, seguindo para Cuiabá.
FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 6 de agosto de 1941.
FOTO: acervo do Arca, Arquivo Municipal de Campo Grande.