sábado, 5 de março de 2011

10 de agosto

10 de agosto


1886 - Bispo recebe homenagem de vereadores de Miranda






Na primeira visita de um prelado ao Sul do Estado, dom Luis, bispo de Cuiabá, em Miranda desde o dia anterior, recebe homenagem do poder legislativo:

Exmo. e Revmo. Sr. - A vila Nossa Senhora do Carmo, de Miranda, representada por seu legítimo órgão - a Municipalidade -, vem toda cheia do mais vivo prazer cumprir o agradável dever de manifestar a V. Exa. Rvma. os sentimentos jubilosos de seus habitantes pela feliz chegada de V. Exa. Revma. a esta comarca, depositando nas sagradas mãos de V. Exa. Revma. a mais respeitosa homenagem de amor filial e submissão que tributam a V. Exa. Revma. como o Supremo Chefe da Igreja Cuiabana. Nesse inefável prazer se juntam as ações de graças que dirigem ao Todo Poderoso, pelos benéficos resultados que toda esta vasta comarca há de infalivelmente colher de Vossa Divina Missão, pois que, a maioria dos habitantes sabem apenas por tradição pertencerem à vossa Diocese, e vós sois o primeiro bispo que pisais as terras desta grande e esperançosa parte de Mato Grosso. Felizmente sabem todos que pertencem à mesma religião, estejam ou não ao redor do Chefe. Aqui nos guia um digno ministro, nosso bom vigário, o vosso Delegado. Assim acontece, em toda a organização social, máxime tendo como base essencial de sua estabilidade, como ligamento que une todos os membros de uma mesma associação política: a Religião seja ela qual for. A nossa, felizmente, é aquela que já professamos, quando tão docemente nos foi imposta pela sábia constituição do império. Sendo por isso certo, que nenhum cidadão verdadeiramente brasileiro, deixará de se esforçar pela conservação dos dois poderes essenciais para a felicidade do país: Altar e Trono. Altar, por que foi sempre a pedra angular de todo o edifício social; se ele é destruído, estremece a sociedade até os seus fundamentos e este abala e conduz à dissolução, visto como é sabido que, desde as primeiras idades do mundo, quando ainda as nações existiam no embrião da tribo, quando o Patriarca era ao mesmo tempo Sacerdote e Chefe, o altar era o centro comum em roda do qual se reunia o povo, para pedir ou agradecer, para se ligar por deveres mútuos e finalmente para perdoar as ofensas.


Assim é que a existência do homem tem sempre andado ligada a um elemento que é primordial à mesma existência, e sem o qual não tem podido existir que individual quer coletivamente. Este elemento tão essencial assim à natureza e existência humana é a religião. O Trono porque nele paira a mais firme estabilidade de união do governo do Grande Império Brasileiro. Resultando pelo exposto que toda manifestação ou provas da adesão nossa, reverterá sempre em nosso benefício, em nossa própria felicidade. Exmo. e Revmo. Sr., é também do dever da edilidade assegurar à V. Exa. Rvma. que se o adiantamento da civilização ainda não atingiu aqui o ponto desejável, para que as demonstrações de rigozijo fossem maiores e iguais ao vosso elevado merecimento, todavia os nossos munícipes são verdadeiros cristãos e submissos a tudo quanto manda a Santa Madre Igreja. É esta a mais verdadeira e sincera homenagem que nos cumpre fielmente depositar em vossas sagradas mãos em nome daqueles que representamos. 


Digne-se V. Exa. Rvma. aceitar e crer também que esperamos de vossa amável quão respeitável visita, uma nova e mais brilhante época para os habitantes deste extenso município, vossos humildes filhos em Jesus Cristo Nosso Senhor. 


Miranda, 10 de agosto de 1886.


À V. Exa. Rvma. Sr. Bispo Diocesano D. Carlos Luiz D’Amour. O presidente, Tibério Augusto de Arruda, o vice-presidente, Luiz Generoso da Silva Albuquerque, Luiz da Costa Leite Falcão, Francisco Eugênio Moreira Serra, Miguel João da Costa, Joaquim da Costa Pereira.




FONTE: Luis-Philippe Pereira Leite, Bispo do Império, edição do autor, Cuiabá, sd., página 149.


10 de agosto

1915 - Criação de Rondonópolis

Rua principal de Rondonópolis em foto de 1953


Tendo surgido com a chegada às margens do rio Vermelho de diversas famílias procedentes de Minas Gerais e Cuiabá, foi formalmente fundada a cidade de Rondonópolis, por decreto do governador Costa Marques, que reserva 2.000 hectares de terra para o povoado nascente.

Distrito criado, com a denominação de Rondonópolis, pela Resolução Estadual n.º 814, de 08-10-1920, subordinado ao município de Cuiabá.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de Rondonópolis figura no município de Cuiabá, assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937.

Pelo Decreto-lei Estadual n.º 208, de 26-10-1938, o distrito de Rondonópolis foi transferido do município de Cuiabá para constituir o novo município de Poxoréo.

No quadro fixado para vigorar no período de 1939 a 1943 o distrito de Rondonópolis figura no município de Poxoréo, assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1950.

Elevado à categoria de município com a denominação de Rondonópolis, pela Lei Estadual n.º 666, de 10-12-1953, sendo desmembrado do município de Poxoréo. Sede no antigo distrito de Rondonópolis. Constituído de 2 distritos: Rondonópolis e Ponte de Pedra, ambos desmembrados do município de Poxoréo. Instalado em 01-01-1954.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1955 o município é constituído de 2 distritos: Rondonópolis e Ponte de Pedra.

Pela Lei Estadual n.º 1.119, de 17-11-1958, é criado o distrito de Petrovina e anexado ao município de Rondonópolis.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1960 o município é constituído de 3 distritos: Rondonópolis, Petrovina e Ponte de Pedra.

Pela Lei Estadual n.º 2.133, de 21-01-1964, é criado o distrito de Pedra Preta e anexado ao município de Rondonópolis.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1960 o município é constituído de 4 distritos: Rondonópolis, Petrovina, Pedra Preta e Ponte de Pedra.

Pela Lei Estadual n.º 2.130, de 21-01-1964, é criado o distrito de Anhumas e anexado ao município de Rondonópolis.

Pela Lei Estadual n.º 2.814, de 06-12-1967, retificado pela Lei Estadual n.º 3.753, de 16-05-1976, é alterada a denominação do distrito de Petrovina para Nova Galiléia.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1968, o município é constituído de 5 distritos: Rondonópolis, Anhumas, Nova Galiléia, Pedra Preta e Ponte de Pedra.

Pela Lei Estadual n.º 3.729, de 04-06-1976, é criado o distrito de Boa Vista e anexado ao município de Rondonópolis.

Pela Lei Estadual n.º 3.733, de 04-06-1976, é criado o distrito de São José do Povo e anexado ao município de Rondonópolis.

Pela Lei Estadual n.º 3.766, de 30-06-1976, é criado o distrito de Vila Operária e anexado ao município de Rondonópolis.

Pela Lei Estadual n.º 3.688, de 13-05-1976, são desmembrados do município de Rondonópolis os distritos de Pedra Preta e Ponte de Pedra, para constituírem o novo município de Pedra Preta.

Em divisão territorial datada de 1-I-1979 o município é constituído de 6 distritos: Rondonópolis, Anhumas, Boa Vista, Nova Galiléia, São José do Povo e Vila Operaria. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1988.

Pela Lei Estadual n.º 5.486, de 04-07-1989, é desmembrado do município de Rondonópolis o distrito de São José do Povo, elevado à categoria de município.

Em divisão territorial datada de 1995 o município é constituído de 5 distritos: Rondonópolis, Anhumas, Boa Vista, Nova Galiléia, e Vila Operária. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2014.

FONTE: IBGE.


10 de agosto

1924 - Ponta Porã: censurado, jornal suspende circulação

Em protesto à censura imposta pelo comandante da circunscrição militar o semanário O Progresso, do jornalista e advogado Rangel Torres, suspende temporariamente sua circulação, com a seguinte comunicação:

"AVISO - Tendo sido determinado pelo Exmo. General Comandante da Circunscrição Militar ao sr. Delegado de Polícia a censura deste semanário em virtude do movimento sedicioso de São Paulo, resolvemos suspender, a contar de hoje sua publicação, até que o país volte à sua tranquilidade, pela qual fazemos sinceros votos.

Tomamos essa deliberação por entendermos que, não tendo sido decretado estado de sítio para o território matogrossense, não pode a liberdade de imprensa ser cerceada por medida dessa natureza, em vista do dispositivo constitucional (art. 72 § 12°). O momento não comporta comentários".

O movimento sedicioso de que trata a publicação, refere-se à rebelião paulista, chefiada pelo general Osório, que no Estado, amotinou guarnições do exército em Bela Vista e Corumbá.

FONTE: O Progresso (Ponta Porã), 10/08/1924)


9 de agosto

9 de agosto


1884Floriano, nomeado presidente de Mato Grosso



Herói da guerra do Paraguai, brigadeiro, que depois chegaria a marechal e presidente da República, Floriano Peixoto é nomeado presidente da província de Mato Grosso:

Eu, o Imperador Constitucional e Perpétuo do Brasil, vos envio muito saudar.


Atendendo ao vosso distinto merecimento e patriotismo hei por bem nomear-vos presidente da província de Mato Grosso. E vós, depois de prestardes juramento nos termos da Carta de Lei de 30 de outubro de 1834; estareis no exercício daquele cargo e fareis observar religiosamente as leis para liberdade, segurança e prosperidade dos povos de dita província, transmitindo à respectiva Secretaria de Estado os esclarecimentos exigidos na circular de 11 de março de 1884.


Escrita no Palácio do Rio de Janeiro, em nove de agosto de mil oitocentos e oitenta e quatro, sexagésimo terceiro da Independência e do Império. (a) O Imperador.¹


Tendo tomado posse no dia 13 de outubro de 1884, Floriano permaneceu menos de um ano no governo, passando-o ao seu vice, Joaquim Ramos Ferreira.


FONTE: ¹Generoso Ponce Filho, Generoso Ponce um chefe, Pongetti, Rio, 1952, página 53. ²Demosthenes Martins, História de Mato Grosso, Vaner Bícego Editora, São Paulo, sd, página 47.




9 de agosto


1886Bispo de Cuiabá chega a Miranda


Praça da matriz de Miranda o início do século XX. (foto Album Gráphico de
Mato Grosso, Corumbá, 1914)
Em sua primeira visita ao Sul do Estado, dom Luis chega a Miranda, momento lembrado pelo cônego Bento Severiano da Luz, secretário da comitiva:

“Pelas 5,00 horas da tarde o Alfa lançou ferro no porto de Miranda. Ali se achavam o Rvmo. vigário padre Julião Urquia, os membros da municipalidade, o comandante militar, autoridades, policiais e muita gente miúda. Esgotada a fraseologia dos cumprimentos, S. Exa. Rvma. dirigiu-se a pé para o povoado, havendo durante esse tempo música, fogos e repiques de sinos. Serviu de residência episcopal uma velha casa de sobrado, onde a Câmara Municipal e o Júri davam suas secções. Consorciaram-se nos arranjos da recepção os srs. capitães Luiz Generoso da Silva Albuquerque e Tibério Augusto de Arruda e o advogado João Augusto da Costa Leite; mas quem tomou a direção de tudo foi o sr. Albuquerque. Apesar do pouco tempo que tiveram para preparar-se as coisas correram bem que nada pode faltar ao prelado, quanto mais ao pessoal de sua comitiva. Não à falta de aviso em tempo, mas a quase certeza em que estavam de que o bispo não empreenderia uma tal visita cercada de privações de todos os gêneros, eis o que os colocou e a todos nas circunstâncias de passarem por tão grata surpresa. Ficaram porém conhecendo que o virtuoso pastor tem uma constância de ferro e que a nada se acovarda seu ânimo, quando se propõe a empresas tais como a de espalhar pelo bispado os incalculáveis bens de uma visita pastoral.” 




FONTE: Luis-Philippe Pereira Leite, Bispo do Império, edição do autor, Cuiabá, sd. página 148.


9 de agosto

1900 - Morre em Corumbá, o empresário Manoel Cavassa


Anuncio de M.Cavassa no Album Gráfico de Mato Grosso, 1914


Aos 78 anos morre em Corumbá o comerciante italiano Manoel Cavassa. Em Corumbá desde 1857, prosperou rapidamente, comercializando com os habitantes da vila e de outra localidades como Cáceres, Cuiabá, Miranda, Coxim, com as fazendas ribeirinhas e com os índios das aldeias espalhadas ao longo do rio Paraguai e seus tributários.

Com a invasão paraguaia, em 1865, perdeu tudo, além da liberdade, ao ser enviado com a família a Assunção, de onde é libertado após o término da guerra, recomeçando em Corumbá sua vida de comerciante, com a fundação da empresa Manoel Cavassa, filhos & Cia. Torna-se agente do Banco do Brasil, representante da Brazil Land, dono de várias embarcações que faziam a linha internacional e interiorana, restabelece as finanças e volta a ser um expoente no meio empresarial da cidade.

Casado com Carlota Cavassa, também italiana, teve com ela doze filhos, sendo que onze nasceram em Corumbá.

É autor de Memorandum de 1894,dirigido ao presidente da República, cobrando indenização pelos prejuízos materiais sofridos durante a guerra do Paraguai.

A rua do casario do porto em Corumbá tem o seu nome.


FONTE: Augusto César Proença, Corumbá de todas as graças, Fundação de Cultura MS, Campo Grande, sd., página 79.

 


8 de agosto

8 de agosto

1875 - Nasce Eduardo Olímpio Machado



Nasce em Xique-Xique na Bahia, Eduardo Olímpio Machado. Em sua cidade natal concluiu o curso primário. Em 1887, órfão de pai, muda-se para Salvador com o objetivo de concluir seus estudos, formando-se em Ciências Jurídicas.  Em 1902 assume o cargo de promotor de Ilhéus em seu Estado, ano em que encontra-se com o ministro Joaquim Murtinho, que o convida para integrar a magistratura de Mato Grosso, aceita o convite e assume a comarca de Corumbá em 1903. No ano seguinte, por desavença política com o governador Totó Paes, demite-se do cargo de juiz de direito e muda-se para Nioaque, onde passa a exercer a advocacia.Em 18 de setembro de 1905 casa-se com Elvira, filha de Antonio Rodrigues Coelho, proprietário da fazenda Esperança, com quem tem três filhos, Eunice, Iná e Paulo Coelho Machado.

Em 1911 vence a eleição para 2º vice-presidente do Estado de Mato Grosso na chapa encabeçada por Costa Marques. Em 1912 muda-se com a família para Campo Grande. Apoiou a revolução de 30 e rompeu com Vargas em 1932, quando participou com Vespasiano Barbosa Martins da revolução constitucionalista ao lado dos paulistas.

Em 1926 participou da criação da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande, sendo eleito o seu primeiro presidente.

Com a volta do regime democrático, candidata-se a prefeito de Campo Grande em 1936 e vence o médico Antonio Boaventura, também da Bahia. Assume a prefeitura em 28 de março de 1937. A 10 de novembro, Getúlio Vargas dá o golpe do Estado Novo e o país volta à ditadura. Eduardo Olímpio foi mantido no cargo, mesmo sem explicitar apoio ao ditador. Sua prioridade foi o saneamento básico da cidade e resultou no primeiro programa de planejamento urbano de Campo Grande, encomendado ao Escritório Saturnino de Brito, do Rio de Janeiro.

A 12 de agosto de 1941 renunciou ao mandato, sendo nomeado para substituí-lo o secretário da prefeitura Demósthenes Martins. Faleceu em Campo Grande em 17 de novembro de 1968.

Eduardo Olímpio Machado era pai do advogado, político e historiador Paulo Coelho Machado.


FONTES: Alisolete Antonia dos Santos Weingärtner, Eduardo Olímpio Machado - Austeridade e visão progressista na atuação política, in Campo Grande: Personalidades históricas, Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2012, página 125; Antonio Lopes Lins, Eduardo Olímpio Machado - o homem, o meio, seu tempo, Vaner Bícego-Editora, São Paulo, sd, páginas 101 e 141.



8 de agosto


1905 Rondon em Campo Grande

Rua 7 de Setembro, no início do século passado



Em sua viagem de exploração ao Sul de Mato Grosso, Rondon e sua comitiva “depois de passar na fazenda Lajeado, de propriedade da viúva Pereira, tia de Inocência, a doce protagonista do romance de Taunay”, chegam a Campo Grande, vila a qual dedica algumas linhas em seu diário:

“Hospedou-nos o Tte. Gomes, sub-delegado e comandante do destacamento policial. Recebemos manifestações de agrado, com banda de música e foguetório. Com sua polícia bem vestida, limpa e disciplinada, mantinha o Tte. Gomes perfeita ordem na povoação, sobretudo depois que obrigou o famigerado Sebastião Lima a se render, depondo armas e dissolvendo a sua turma de assassinos. Bela fotografia tiramos – o povo saindo da igreja. Eram duas promissoras cidades do sul de Mato Grosso – Campo Grande e Aquidauana. Muito feliz me senti por verificar a marcha do povoamento e do progresso desta zona do meu Estado”. 



FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969. Página 196.






7 de agosto

7 de agosto

1826 - Expedição Langsdorff chega a Urubupungá





A expedição científica russa, com destino ao Mato Grosso e Amazônia, sob o comando do conde de Langsdorff, chega ao salto de Urubupungá, no rio Paraná:

Partida do Itapira para o Paraná,1¹/4 légua, e de lá para o salto de Urubupungá, que normalmente se chama Urubupungá (que quer dizer urubu em pé ou empinado). Tão logo chegamos, corremos todos para ver esse belo espetáculo da natureza. Poucos antes de se precipitar no abismo, correndo sobre pedras, o rio de repente se vê espremido e cai com forte estrondo, ora em camadas sobre os degraus formados pelas rochas, ora em perpendicular, transformando essa grande massa de água em poeira e nuvens de água, que enchem a a atmosfera e se espalham numa área de cerca de 10 braças, tal é a força com que são arremessadas. É quase como um vale de águas, para onde convergem, de todos os lados, as águas desse rio caudaloso, formando, no final, um anfiteatro de uma beleza incrível e arrepiante, impossível de se descrever. A terra treme por causa da força da queda. O estrondo compara-se ao de um trovão contínuo.

FONTE: Georg Heinrich Langsdorff, Os diários de Langsdorff, volume 2, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 1997, página 177. 



1886Bispo de Cuiabá enfrenta o Pantanal


Em sua viagem ao Sul do Estado, dom Luis, bispo de Cuiabá, encontra-se em pleno Pantanal, entre Corumbá e Miranda, de onde dá notícia:

Deixamos o Barranco Vermelho pelas 6,00 horas e um quarto da manhã e depois de hora e meia de marcha o vapor encalhou, dando muito que fazer para sair da perigosa posição em que se achava. Pelas 10,00 horas foi que continuou a andar e se antes era vagaroso, parece que ficou ainda mais. (...) Além disto foram se tornando de mais a mais freqüentes os encontros ao barranco; contavam-se pelas voltas que o rio fazia. Quando o vapor dava o sinal de ir por a proa aqui ou ali, gritava-se e fazia-se a bordo um escarcéu de abalar meio mundo; era um chover de pára, atrás, adiante, mais força, etc. Numa destas um dos tripulantes achou-se inesperadamente metido num cipoal e tão comprimido foi, que não sei como não saiu-lhe mal a brincadeira. Talvez não visse nunca de tão perto a morte. Foi caso verdadeiramente admirável, que todos entenderam não podia ser senão por efeito da presença do sr. bispo que acompanhou com os olhos e de certo com fervorosa oração o perigo do pobre marinheiro.


Assim navegando a trancos e barrancos sobreveio a noite e vimo-nos forçados a parar. S. Exa. Revma. se achava extraordinariamente mortificado pelo cansaço, pois além dos azedos dessa viagem aziaga, se uma tal expressão me é permitida, o calor fora ardentíssimo durante o dia. Contudo mostrara-se S. Exa. muito contente e como o afinado e extremoso de sua paciência suportava resignadamente tantos incômodos.


Não ficaram nisto as contrariedades. Fundeado que foi o vapor, instalaram-se a bordo os mosquitos e ninguém mais pode pregar olho nessa noite. O capitão Alencar procurou a tolda e lá armou uma cama abrigada por um mosquiteiro sui generis; mas nem por isso ficou livre das soveladas, porque os ditos lá se introduziram com arte admirável. Também me atormentaram horrivelmente julgando que tinha sangue demais.



FONTE:Luis-Philippe Ferreira Leite, Bispo do Império,edição do autor, Cuiabá, sd., página 146.





7 de agosto


1932 - Tropas legalistas ocupam Paranaíba



Odilo Dennys, comandante das forças legalistas

Na revolução paulista, forças do governo, procedentes de Goiás, após tomar o Porto Alencastro no dia anterior, com fraca resistência dos rebeldes, ocupam a vila, abandonada pelo inimigo. Lindolpho Emiliano dos Passos, que participou dessa operação militar descreve-a:

A cidade de Santana de Paranaíba estava próxima mas subsistia dúvidas sobre o paradeiro do inimigo. Por isso o sr. Mário [Mancini], prefeito da cidade, resolveu pessoalmente penetrar na mesma e colher informações sobre a destinação dos revoltosos. Ao retorno, trouxe-nos a alvissareira notícia de que o inimigo, na parte da manhã, havia abandonado a cidade rumando para o rio Santa Quitéria a 72 quilômetros, na estrada de rodagem que liga a cidade a Três Lagoas. Ocupando Santana o contingente ficou acantonado em prédios particulares. A noite o prefeito ofereceu um jantar aos oficiais em sua residência; para as praças distribuiram-se também refeições. Às 21 horas, mais ou menos, ouvimos roncos de motores: era o capitão Odilio Denys que chegava de carro, com dois caminhões. No dia seguinte, sob o comando do 2° tenente em comissão Antonio Varanda, chefe do serviço de transporte, toda a frota de veículos já estava na cidade.



FONTE: Rodolpho Emiliano Passos, Goiás de ontem, edição do autor, Goiânia, 1987, página 96.


7 de agosto

1941 - Aviões da Panair chegam a Corumbá

É inaugurada a linha aérea entre Rio e Corumbá:

"Dando cumprimento ao decreto presidencial de 26 de julho último, a Panair do Brasil, que ainda ontem iniciou uma nova linha entre o Rio de Janeiro e Assunção, com escalas por São Paulo, Curitiba e Foz do Iguassu, iniciou um novo serviço entre o Rio de Janeiro e Corumbá, com escalas por São Paulo, Bauru, Três Lagoas e Campo Grande.

Esta nova linha, por enquanto semanal, será servida pelos aviões Lodestars, as mais rápidas aeronaves de transporte existentes em tráfego no Brasil e em todos os países do continente".

Em Corumbá os aviões da Panair passaram a fazer conexão com a Panagra, empresa norte-americana, responsável pela linha Lima-La Paz-Santa Cruz, na primeira ligação aérea entre o Atlântico e o Pacífico".


FONTE: Correio Paulistano, 08/08/1941.


6 de agosto

6 de agosto


1905 Rondon em Rio Brilhante


Palacete de Domingos Barbosa Martins (Gato Preto), construção do início do século XX. 

Em viagem de inspeção e reconhecimento ao Sul do Estado, após completar a ligação telegráfica, com a inauguração da estação de Bela Vista, Rondon chega a Rio Brilhante, então, Entre Rios:

Prosseguia a exploração de S. Tomás em direção a Vacaria, através de fazendas e cabeceiras, cujos nomes o guia em geral ignorava como ignorava às vezes, qual a melhor direção a tomar. Na margem esquerda do Brilhante perdi o meu guampo – um belo copo de chifre com lavores de prata – que usava desde 1894.


Depois passamos pela fazenda Boa Vista, de um gaúcho simpático que, a meu ver, um governo clarividente aproveitaria para chefe político desta zona.
Continuamos a explorar rios, varar cabeceiras, passar em fazendas, tirando fotografias em todo o percurso.


Perto da cabeceira do Pulador, viam-se uns blocos de pedras grés – pedras brancas. Fotografei-me em cima desse bloco, pensando no esforço que faz cada um de nós para ser o melhor instrumento possível na obra de elevação da espécie, pensando no grande regenerador e na necessidade de se difundirem seus ensinamentos, para favorecer aquela elevação...


Chegamos a 6 de agosto ao novíssimo povoado de Entre Rios, fundado em 1º de janeiro de 1904 pelo sr. Chico Cardoso. O povoamento começara, realmente, em setembro e fora tão rápido que as observações astronômicas já haviam sido feitas na frente da casa da escola. Ocupado nesse serviço, não me fora possível receber pessoas que me vieram visitar. Tirei depois fotografias da escola e dos habitantes da povoação.




FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 195.


FOTO: do livro Memória janela da História, de Wilson Barbosa Martins



6 de agosto

1920 - Suspensão de crédito bancário paralisa venda de gado em Corumbá

A suspensão dos financiamentos bancários em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso, paralisa a comercialização de venda de gado na região pantaneira. A Associação Comercial de Corumbá, recorre à interferência de sua coirmã no Rio de Janeiro:

"Diante da situação cada vez mais aflitiva com que vem lutando esta e outras praças do Estado, por escassez de numerários, agora agravada pela falta de entradas de boiadeiros de Minas e São Paulo, que consta não têm podido conseguir numerários dos bancos daquelas praças para fazerem suas compras de animais, de gado neste Estado, somos obrigados, em tão difíceis emergências, solicitar uma vez mais o seu valioso concurso junto ao Exmo. Sr. ministro da Fazenda, no sentido de ser levado a efeito, com possível urgência, transformação do Banco do Brasil em aparelho emissor e resdesconto, única solução prática no conceito geral, capaz de solucionar tão premente situação, no sentido, aliás, manifestado por outras nossas coirmãs, como nós, empenhadas efetividade daquela bem orientada patriótica medida do governo - Maciel, presidente - Estevão Silva - secretário".





1929 - Criado o Centro da Colônia Boliviana em Campo Grande

Por ocasião das comemorações do dia da independência de seu país, cidadãos bolivianos residentes em Campo Grande decidem criar o Centro Boliviano em Campo Grande. O evento é destaque no Jornal do Commercio:

"A comemoração da data de 6 de agosto, inesquecível para todos os bolivianos, foi feita este ano entusiasticamente pela laboriosa e honrada colônia boliviana domiciliada entre nós.

Deliberaram os bolivianos escolher a data inolvidável da emancipação política de sua grande Pátria para a solene fundação do Centro da Colônia Boliviana, o que foi realizado com tocante simplicidade e grande concorrência.

Assistiu a colônia, inocrporada e conduzindo o estandarte social com as gloriosas cores nacionais da Bolívia, a uma missa na igreja matriz, em que oficiou o rev. Pe Caitano Patané o qual lançou a bênção católica ao pavilhão do Centro da Colônia Boliviana, que era conduzido pelo sr. José Santos Zabella.

Em seguida imigram-se todos os bolivianos, acompanhados pelo respectivo vice consul sr. dr. Jayme F. de Vasconcelos e pelo rev pe. Patané para o edifício do vice-consulado de Bolívia, onde, depois de terem sido tiradas algumas fotografias, lhes foi servido café, biscoitos e vinho do Porto.

Nessa ocasião, o sr. vice-cônsul em rápidas mas expressivas palavras, congratulou-se com a colônia boliviana pela eloquente prova de seu patriotismo que estava dando, naquela comemoração festiva da grande data da independência da gloriosa Bolívia, que disse ter orgulho em representar, pela incompatível nobreza das suas altivas atitudes, como também se sentia desvanecido em dirigir a colônia boliviana de Campo Grande, pela sua operosidade e honradez. Terminou convidando todos os bolivianos a terem sempre bem vivo, dentro d'alma e dos corações o mais nobre de todos os sentimentos humanos e acendrado amor da Pátria, e convidou a todos a acompanharem-no num caloroso via a Bolívia".

FONTE: Jornal do Commercio (Campo Grande), 8 de agosto de 1929.

 

6 de agosto


1932Sob censura, filme de Campo Grande estréia no Rio de Janeiro

 
 
Alexandre Wulfes,apoiado no tripé, a atriz Conceição Ferreira, 
o produtor Líbero Luxardo e o galã Egon Adolfo




















































                   
Depois da sessão especial para a imprensa em 19 de julho, é exibido no cine Eldorado, com grande sucesso de público, Alma do Brasil, totalmente filmado no Sul de Mato Grosso e produzido em Campo Grande. A exibição há menos de um mês do início da guerra civil paulista, resultaria no corte das cenas onde aparecia o general Bertoldo Klinger, comandante das forças rebeldes. Essa censura omitida pela imprensa e minimizada pelos diretores do filme, seria confirmada cinquenta anos depois por seu produtor Alexandre Wulfes, numa entrevista ao pesquisador José Octávio Guizzo:

Como o filme tinha sido gravado em Vitaphone, em disco, nós estávamos em plena revolução de 32, e o Klinger tinha sido preso, né, aquela situação toda, ele não podia aparecer, então o filme foi apreendido em plena exibição, enquanto estava no Eldorado, então recebemos cópia e apelamos,então em todo trecho em que aparecia o Gen. Bertoldo Klinger teve que ser cortado, mas não podia ser cortado simplesmente porque era sincronizado em disco e não gravado na fita, então saia fora do sincronismo, os ruídos, então a ínica coisa que consegui fazer foi convencer a polícia da época, que eu podia, que não queria me dar prejuízo também nessaocasião, o deputado Generoso Ponce, que naturalmente tinha muito prestígio e o Filinto Muller que era matogrossense aquela turma toda que era da polícia, todo mundo intervieram e chegamos à conclusão que nos trechos em que tinham sido cortados do filme, eu coloquei uma viragem, botei um quadros pretos, mas como uma viragem, uma divisão de quadros em que deixei um riscozinho vermelho, para que o público notasse que ali essa cena falava,e porincrível que pareça toda vez que entrava uma cena cortada em que aparecia o risco vermelho, o cinema vinha abaixo em aplausos...

A crítica, favorável desde a primeira exibição, considera o esforço dos empreendedores superior às dificuldades enfrentadas, responsáveis diretas por todos os defeitos da produção. O comentário a seguir foi publicada na edição de 10 de agosto do jornal O Globo:

A mesma pena que traça a apreciação de um filme produzido nos confortáveis e muito bem aparelhados ‘stúdios’ europeus ou americanos não pode desobrigar-se com idêntico rigor, em tendo de falar de uma película nacional, cuja indústria continua em embrião, e muito menos quando essa película tenha sido feita com a escassez de recursos e a deficiência de elementos que os empreendedores de ‘Alma do Brasil’ enfrentaram. Pode rebater-se em contraposição a benevolência que é exigida neste caso com o argumento de ter sido, então, preferível não confeccionar tal filme. Sem recursos de ordem técnica, além dos mais elementares, melhor seria não fazer, a fazer trabalho que deixa de resistir a uma análise mesmo superficial, só vivendo da benevolência e do patriotismo de quem vá assisti-lo. Não deixamos de concordar com os que assim pensam, mas repugna-nos o desencorajamento aos que tem seu ideal e sobrepondo-se a todas as contrariedades conseguem levá-lo de vencida. É o caso de ‘Alma do Brasil’, e aí está porque, feitas as devidas reservas, o consideramos uma iniciativa louvável.


Só ontem pudemos assistir esta obra de tenacidade, valendo por um bom documento da energia, da perseverança e da fé dos que sonham em fazer cinema nesta terra. Todos os defeitos desse trabalho – desde a morosidade do entrecho, passando pela fotografia deficiente e indo até o trabalho bisonho dos intérpretes – ficam sumidos diante do esforço dos homens que realizaram esse filme, que ainda assim nos dão algo de interessante na reconstituição no feito imortal da Retirada da Laguna e a cooperação das tropas do exército à filmagem.


"Alma do Brasil" levanta a hipótese do que serão as películas de propaganda inteligente de nosso país, traçadas com amplos recursos de toda a espécie, inclusive a colaboração do elemento oficial, a exemplo do que é feito nos Estados Unidos, onde anualmente se fabricam uns tantos filmes de sua exclusiva propaganda.


O Eldorado apresenta "Alma do Brasil" com os habituais números de palco, tão ao sabor do seu público e vem obtendo boas casas – C.





FONTE: José Octávio Guizzo, Alma do Brasil, edição do autor, Campo Grande, 1984, páginas 21 e 69.


5 de agosto


5 de agosto

1866 Taunay no Taboco







Integrando a comissão de engenheiros da força expedicionária brasileira, rumo à Miranda, Nioaque e fronteira Brasil-Paraguai, o tenente Taunay, à frente das tropas, escreve ao seu pai no Rio, da margem direita do rio Taboco:

...vou fazer-lhe um pequeno resumo da minha existência aventurosa desde 13 de fevereiro, dia em que saímos de Coxim, deixando todos nossos colegas aterrados com a viagem que o comandante nos fazia empreender na estação a mais perigosa das águas. A 25 do mesmo mês, estávamos no rio Negro de onde começamos a enviar desenhos e informações sobre a possibilidade da marcha das forças. Até então tudo correra bem, apesar da detestável alimentação e as chuvas torrenciais que dia e noite nos encharcaram.


Deixando à esquerda os pântanos que eram intransponíveis, começamos a seguir a base da grande cadeia de Maracaju, que vem de Cuiabá e vai ligar-se ao sistema de montanhas do Paraná.


Era uma tentativa para abrir caminho praticável às forças durante os meses de abril e maio, que são ainda chuvosos. Reconhecemos logo nos primeiros dias de exploração, e imediatamente, quanto era aventuroso estender-se até as montanhas e por causa da pouca firmeza de tal solo está o caminho inçado de grandes dificuldades.


Após três dias de penosa marcha nossas provisões inutilizadas em consequência de dias de contínuas chuvaradas desapareceram e vimo-nos às voltas com o mais terrível tormento, a fome.


Só havia um meio de salvação: avançarmos o mais depressa possível. Todos se conduziram com incrível coragem. A vista de um coqueiro (e nós só os encontrávamos de dez em dez léguas senão mais) excitava manifestações de alegria, pelo fato de nos permitir comer o miolo dos cocos e beber o líquido sacarino que encerravam. Tudo contra nós conspirava: os mosquitos cujas picadas nos atravessavam até os ossos, os animais que nos escapavam por dois e três dias e fugiam perseguidos pelas muriçocas, as chuvas que nos encharcavam a bagagem e enfim mil contrariedades que faziam desesperar os mais resolutos. Sustemo-nos sorvendo pequenas xícaras de chá, marchando dias inteiros para vencer uma, duas léguas no rumo direto. Era horrível! Após oito dias da mais completa abstinência pudemos matar uma vaca. Enfim já me comparava a Jagurtha a quem algum romano compassivo apresentasse magnífico filé. 


Dele apenas comi alguns bocados. O estômago esquecera suas funções, a falta de apetite era-me extrema, sentia sede e a água me provocava terríveis náuseas.


No entanto estávamos salvos. Após 14 dias de boas marchas na estrada batida que apanháramos entramos na aldeia da Piraninha.


No dia seguinte estávamos entre os fugitivos de Miranda no alto da serra que domina o Aquidauana; onde ainda se acham os paraguaios.


Depois de um mês de repouso exploramos a margem direita desse rio importante, fazendo mesmo incursões na margem esquerda onde os inimigos exercem muita vigilância. Fomos sempre felizes, achando sinais evidentes da passagem de uma tropa de cavalaria, poucas horas antes de nossa chegada. De volta ao mesmo bom rancho de palha preparamos novos mapas e relatórios que mereceram pomposo elogio dos comandantes das forças em ordem do dia, o que foi comunicado ao governo com a enumeração de nossos serviços ‘altamente importantes’.



FONTE: Taunay, Cartas de Campanha de Mato Grosso (1866), in Mensário do Jornal do Commercio, Rio, janeiro de 1943, página 166.

FOTO: Desenho de Taunay, acervo de Renato Alves Ribeiro, fazenda Taboco.





5 de agosto


1892 Ponce agradece participação de Nioaque no cotragolpe 


Em carta enviada ao coronel Jango Mascarenhas, o chefe da revolta vitoriosa contra o golpe militar de janeiro, agradece a participação da região Sul no movimento que restabeleceu a normalidade política no Estado, com o retorno ao poder do presidente Manoel Murtinho:

Ilustres membros do Diretório Republicano de Nioac.
Congratulo-me com os bons amigos e com a heróica população do município de Nioac pelo nobre exemplo de civismo que acaba de dar ao país, erguendo-se para esmagar a anarquia e reivindicar os direitos do povo quase ao mesmo tempo em que os seus irmãos do norte do Estado, à custa de algum sangue derramado, reconquistara a liberdade da pátria matogrossense, restituída hoje ao domínio da legalidade pela vontade soberana de seus filhos.


Parabéns aos denodados patriotas do Sul, que, tão dignos se mostraram na defesa da integridade da Nação, repelindo os mercadores do nosso solo pátrio.


Generoso Paes Leme de Souza Ponce.



FONTE: Generoso Ponce Filho, Generoso Ponce um chefe, Pongetti, Rio, 1952, página 126.




4 de agosto

4 de agosto

1864 - Quilombos preocupam elite cuiabana

A proliferação de quilombos na região de Cuiabá preocupa fazendeiros e donos de escravos em Cuiabá. A manifestação é exposta no editorial de um dos jornais da capital da província:

"Não muitas léguas distantes desta capital, nas proximidades mesmo de algumas de nossas freguesias e vilas, mansa e pacificamente folgam milhares de escravos fugidos de cavolta, segundo dizem, com desertores e com não pequeno comércio com os índios.

É com efeito lamentável que quando a lavoura geme na deficiência de braços, quando o valor de um escravo sobe a dois contos de réis, estejam por tal modo inutilizados no seio das matas tantos braços e seus senhores privados dos serviços que lhes podiam eles prestar, serviços cuja utilidade reverte em benefício público, pois é inegável que a abundância dos produtos agrícolas, na razão direta das forças empregadas, muito contribui para o aumento das rendas.

Não é esse só o motivo do nosso reclamo.

O exemplo da impunidade povoa mais de dia em dia os tais quilombos e desfalca os proprietários rurais e urbanos de seus escravos.

Uma leve consideração sobre os constantes e multiplicados anúncios que pelos dois periódicos da província se têm feito sobre escravos fugidos, não deve ter escapado às nossas autoridades; e quando esses quilombos, além de grandes prejuízos que causam aos particulares e ao público, ameaçam também a tranquilidade e a segurança de vida dos habitantes das freguesias e vilas que ficam próximas, não podemos ser indiferentes a um brado em favor do aniquilamento deles.

O governo da província fará um serviço importante à causa pública se tentar e conseguir com os Snrs. e proprietários de escravos fugidos a extinção dos sobreditos quilombos.

A lavoura verá crescer as suas forças, o exército recuperará seus trânsfugas, as rendas se aumentarão, as fugas diminuirão, os habitantes de serra acima e abaixo mais tranquilos dormirão; os indígenas perderão parte de seu insolência e atrevimento e menos incômodos pesarão sobre a justiça.

Se o preceito do mestre Horácio tivesse sido adotado já em remotas eras, hoje não julgaríamos tão grave a cura do mal que nos aflige.

Não o foi, mais daqui não se infira que deva ficar o enfermo (o bem público) entregue ao abandono, a natureza muitas vezes zombando dos esforços humanos e das regras da medicina produz fenômenos admiráveis com uma reação inesperada; providencie-se a extinção dos quilombos; não se deixem dormindo os particulares que lá tem escravos, enquanto o governo trabalhar ajudem-no todos os fazendeiros e estamos convencidos que o mal não resistirá à cura".


FONTE: A Imprensa de Cuyabá, 4 de agosto de 1864.


4 de agosto 


1889 Nasce na Vacaria, Vespasiano Barbosa Martins


Busto de Vespasiano em frente à catedral de Campo Grande



Filho de Henrique Pires Martins e Marcelina Barbosa, nasce na Vacaria, Vespasiano Barbosa Martins. Neto de Inácio Barbosa Marques, o patriarca dos Barbosas no Sul de Mato Grosso, Vespasiano foi o mais ilustre descendentes dos pioneiros do Sul de Mato Grosso. Formado em medicina, dedicou-se à atividade política, iniciando como prefeito de Campo Grande. Em 1932 é nomeado interventor no Estado, por indicação do general Klinger, comandante da revolução constitucionalista de São Paulo, da qual o Sul de Mato Grosso foi o único aliado. Em 1934, coordenou o movimento divisionista, sendo o primeiro subscritor do abaixo-assinado separatista, encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Em 1935 é eleito pela Assembleia Legislativa senador da República, mandato interrompido pelo golpe do Estado novo que fechou o Congresso Nacional em 1937. Em 1945, por eleição direta, retorna ao Senado, onde encerra sua carreira política. Faleceu a 14 de janeiro de 1965, em Campo Grande. 




FONTE: Ledir Marques Pedrosa, Origem, histórico e bravura dos Barbosas,  edição da autora, Campo Grande, 1980, página 109.



4 de agosto


1941 - Presidente Getúlio Vargas visita Campo Grande






Em seu programa de viagem ao Estado, depois de estada em Corumbá e agenda em Assunção com o governo paraguaio, o presidente Getúlio Vargas chega a Campo Grande. O Jornal do Brasil (RJ), com notícias da Agência Nacional, deu cobertura à visita do chefe da Nação à cidade morena, iniciando com o seu desembarque no aeroporto militar da cidade:

Em Campo Grande, sede da 9a. Região Militar, chefiada pelo general Pinto Guedes, encontram-se aquartelados o 18° batalhão de Caçadores, a 2a. Companhia Independente de Transmissões e o 2° esquadrão de um Grupo de Dorso. O Presidente Getúlio Vargas, à sua chegada, passou em revista aquelas unidades, recebendo as continências de estilo. O interventor Júlio Müller e o general Pinto Guedes receberam o chefe do governo, em companhia de outras autyoridades.

Do aeródromo rumou o presidente para a cidade, onde a população o aguardava para homenageá-lo. As ruas estavam embandeiradas, e, ao passar o carro presidencial, milhares de escolares formados lançaram flores sobre o mesmo, durante todo o percurso, de sorte que, ao chegar em frente ao Quartel General o presidente tinha o seu carro repleto de flores. Também formaram os trabalhadores, tendo-se assim a impressão do civismo e da comunhão nacional em que estão integradas aquelas populações. O povo, seguindo o carro em que viajava o presidente, formou um grande cortejo até o Quartel General, onde se iniciou o desfile. Surgiram primeiramente os trabalhadores, empunhando dísticos sobre a legislação social brasileira. A lei das 8 horas, a sindicalização, de férias, de aposentadorias e da justiça do trabalho e de todas as grandes realizações que alcançamos no terreno social, eram apontadas como marcos da obra nacionalista do governo do sr. Getúlio Vargas. Veio depois o desfile escolar. Cinco mil crianças de todos os colégios, passaram diante da tribuna presidencial, arrancando estripitosas palmas da assistência. De quando em vez os alunos entregavam ramalhetes de flores ao presidente, que saudava os estudantes, dirigindo-lhes algumas palavras de agradecimento e estímulo. Foi este o maior desfile escolar já realizado em Mato Grosso.

Finalmente desfilam as forças militares, sob o comando do coronel Caiado de Castro. Vem primeiro o batalhão de Caçadores,seguido da companhia de Transmissões, grupo de Dorso e do 2° Esquadrão. Durante a parada ouviam-se frequentes aclamações populares à figura do chefe do governo.

Deixando o palanque presidencial o sr. Getúlio Vargas recebe uma homenagem dos escolares, que cerraram fileiras em torno do primeiro magistrado.

O Hino Nacional, cantado pelos escolares e pela massa popular, encerra as manifestações de civismo tributadas ao presidente, oferecendo um espetáculo de grandiosa emoção patriótica. Momentos após o presidente retira-se para repousar
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AGENDA - O presidente Vargas cumpriu vasta agenda em Campo Grande: inauguração do leprosário São Julião, inspeção às obras do ramal de Ponta Porã da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e visita às guarnições militares da cidade. 

A inauguração do São Julião ocorreu à tarde. O presidente "foi recebido pelo sr. Ernani Agrícola, que o conduziu a visitar todos os departamentos a visitar todos os departamentos do moderníssimo estabelecimento de cura. Ao mesmo tempo explicava o sr. Ernani Agrícola ao presidente da República todos os detalhes da construção e do aparelhamento. O Leprosário São Julião, construído com todos os rigores da moderna ciência médica,fora dotado, pelo governo,com 200 leitos, amplos jardins e parques de repouso, laboratórios, salas de clínicas, casas para doentes, etc.

A visita do presidente Getúlio Vargas foi demorada, permitindo não só fossem examinadas meticulosamente todas as suas dependências e instalações como fossem prestadas ao chefe do governo as informações mais completas. Ao chegar e ao sair, horas depois, o presidente da República foi cumprimentado por numerosas pessoas, que lhe agradeceram, ainda o haver proporcionado a Mato Grosso as possibilidades para realizar obra de tão grande vulto e destinada a prestar os mais assinalados serviços à população do Estado".

Na manhã seguinte, dando continuidade à sua programação em Campo Grande, o presidente da República visitou as obras do ramal da estrada de ferro para Ponta Porã:

Campo Grande 6, - O Presidente Getúlio Vargas excursionou na manhã de hoje pelo ramal da estrada de ferro que ligará Campo Grande a Ponta Porã, ramal que, como já acentuara aos jornalistas paraguaios, se destina, principalmente, a dar ao Paraguai uma nova via de comunicação ferroviária. Esse ramal de grande importância economica para esta região de Mato Grosso e para todo o território paraguaio terá uma extensão de 320 quilômetros, dos quais 60 já estão construídos e em tráfego. Mais noventa quilômetros estão já com os trilhos assentados  e cerca de 100 quilômetros com o terreno aplainado. Os demais quilômetros já estão sendo atacados com o serviço preliminar de desbravamento. A excursão do presidente Getúlio Vargas foi das mais interessantes possíveis. O chefe do governo fez-se acompanhar do interventor Júlio Müller e demais autoridades que aqui se incorporaram à sua comitiva. O trem presidencial percorreu inicialmente, cerca de 15 quilômetros que vai de Campo Grande a Porto Esperança. Na altura da estação Indubrasil tomou o ramal para Ponta Porã, que aí tem início. Foi demorada a viagem. Ainda nos arredores da estação a linha férrea como que circunda edifícios onde estão aquarteladas várias unidades do Exército. O coronel Gustavo Cordeiro de Farias e o coronel Caiado Castro explicaram então, ao chefe do governo, detalhes da construção desses edifícios e da vida das unidades que os ocupam. 

Mais adiante a linha férrea corta uma colônia japonesa onde se pratica a horticultura racional. Depois uma colônia portuguesa que se dedica à pequena indústria de madeira. O interventor Júlio Müller aproveita a todo momento a oportunidade para informar ao chefe do governo sobre detalhes da vida de Mato Grosso. À certa altura dá-lhe interessante informação. O trem presidencial passava no momento em terras de um novo município matogrossense onde se encontram magníficas fontes de águas termais. Já o dotara o governo de um patronato agrícola, campos de trigo, uma rodovia moderna de 40 quilômetros. À certa altura da viagem o trem para. Os engenheiros construtores cercam o presidente Getúlio Vargas, e durante muito tempo, prestam-lhe as mais detalhadas informações sobre a construção. Chega-se, enfim, ao termo da viagem. É a estação "Bolicho Seco". O presidente da República caminha durante muito tempo pelo leito ainda não definitivamente construído. Os engenheiros são agora a sua comitiva e seus informantes.

Getúlio Vargas encerrou sua estada a Campo Grande com uma visita às guarnições locais do Exército, seguindo para Cuiabá.


FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 6 de agosto de 1941.


FOTO:
acervo do Arca, Arquivo Municipal de Campo Grande.

OBISPO MAIS FAMOSO DE MATO GROSSO

  22 de janeiro 1918 – Dom Aquino assume o governo do Estado Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, qu...